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Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 3

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)




DIA 3
Lembrança dos Mortos

A lembrança dos mortos é um encanto para o coração.
Uma animação para o trabalho.
Um conforto para as horas do cansaço.
Um freio para o ímpeto das paixões.
Quantas vezes, vendo um órfão crescer e desenvolver-se na inteligência e no coração, dizem os amigos da família: Oh! Se os pais o vissem, como se julgariam felizes!
Quantas vezes, também nós temos dito nessas horas em que, aflitos, não encontramos um coração que se nos abrisse e com o qual desafogássemos: ah! Se minha mãe aqui estivesse, eu não sofreria tanto! Se meu irmão, se minha irmã, se meu amigo vivesse, não estaria agora abandonado!
Qual de nós se não surpreendeu já num desses momentos de angústias que atravessam toda a existência humana, exclamando: Meu pai! Minha mãe!
Até em nossas alegrias, em nossos triunfos, acaso não ternos repetido às vezes: Se minha mãe me visse, que prazer teria!
Recordações tão caras, embora tão dolorosas, vós rejuvenesceis minha vida!
Quantas vezes, um bilhete velho de um amigo de infância, — uma carta, principalmente de pai ou mãe, demonstrando-nos sua afeição, dando um conselho, fazendo uma advertência, — carta deparada por acaso no fundo de uma gaveta, levou-nos de novo a esses dias passados em que vivemos todos juntos, trabalhando e sofrendo unidos, e ajudando-nos uns aos outros! E essas recordações nos despertaram também a de que não fomos sempre bastante indulgentes, bastante obedientes e amantes: e pusemo-nos a corrigir os erros.
Oh! Não será estéril a lembrança de hoje! Meu pai, minha mãe, vou reler vossas cartas, escutar vossas advertências, e a satisfação que não vos dei, quando estáveis a meu lado, vós a tereis agora.
Conta-se de uma mãe que, na idade em que a filho começava a compreender e sentir, o levou em frente ao retrato do pai e lhe disse: Jura que te esforçarás para ser digno dele!
O menino jurou, e, por vezes, se detinha ante o retrato que parecia olhá-lo, e assim o interpelava: Meu pai, está contente comigo?
Eis a minha promessa de hoje: Sim, eu me farei digno de vós, ó meus mortos muito amados! Vós me haveis de ver fiel a Deus, fiel a meus deveres, fiel aos vossos exemplos.


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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 2

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 2
Lembrança dos mortos

Não esqueçais vossos mortos, vós a quem eles tanto amaram!” Vi estas palavras gravadas, na porta de um cemitério, aos pés de um crucifixo, e me despertaram uma série de pensamentos de tristeza, de confusão e de remorso!
Não esqueçais vossos mortos, que tanto vos amaram! Estas palavras se deveriam escrever, não só na porta do cemitério em que repousam seus corpos, aguardando a ressurreição, mas ainda em cada um dos móveis que temos ao redor de nós e que deles recebemos.
Neste aposento. — Não foi ele, esse finado talvez já esquecido, esse pai que queria tanto; não foi ele quem o dispôs tal qual está proporcionando-nos tantas comodidades?
— Não foi nesse leito que ele exalou o último suspiro, que nos disse o derradeiro adeus e que nos deu a sua última benção?
Nestes móveis. — Não foi essa mãe, de quem talvez já não nos lembrávamos, quem os comprou para nós? Evoquemos nossas recordações: foi para a festa de nosso dia de anos: ela fizera economias, condenara-se a privações para nos adquirir esses objetos, porque uma vez lhe manifestamos vagamente o desejo de possuí-los.
Nesta cadeira. — Não é a que ela ocupou em seus últimos dias, donde tanto nos acariciava? Esse lugar junto à mesa não era o seu?
Neste oratório. — Não era aquela boa irmã, menina tão piedosa, quem o ornava? Nós vínhamos rezar ali com ela e, chamados por ela, vínhamos todos, pai, mãe, os irmãos pequenos… e agora, está abandonado talvez… como a lembrança daquela que já não pode mais orar conosco.
Neste crucifixo que guardamos como uma relíquia, — Não recebeu ele os ósculos derradeiros de um pai, de uma mãe, de um filho?
Ó meus mortos mui queridos, com que dita eu acolho estas recordações que me comovem, consolando-me? Com que prazer eu vos revejo em espírito e peço a Deus vosso alívio, vossa paz, vosso repouso eterno!
Se o tivésseis querido, Senhor, estes seres tão amados, viveriam ainda e estariam junto a nós!
Eu me resignei à vossa santa vontade: aceitai em atenção a esta resignação dolorosa, mas submissa, recebei as orações que por eles faço hoje e quero fazer todos os dias deste mês.

Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 1

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


LEMBRANÇA DAS ALMAS DO PURGATÓRIO
DIA 1 
A Vigília dos Mortos

 Acabo de ler a tocante denominação da festa de amanhã: Comemoração dos mor­tos, lembrança dos finados.
 A Igreja Católica não quer que sejamos ingratos e esquecidos, e por isso criou esta festa das recordações, festa pia dos corações amantes. 
 Sede bendita, Santa Igreja, que depois de nos terdes assistido até nossa hora derradeira e depois de nos haverdes cer­rado os olhos, ainda cuidais de nós: trazendo-nos à lembrança daqueles que em vida tanto amamos, e dando-lhes os meios de nos aliviarem e até obrigando-os a pensar em nós!
 Os hereges abandonam os seus, quando a morte lhos arrebata: desde que cessam de vê-los, não se interessam mais por eles. Para os descrentes e hereges tudo se acaba nessa hora: não podem oferecer mais nada a seus mortos e, se, no momento da separação, não ousam julgar admi­tido no céu o companheiro que perderam, desde logo cessou tudo, só lhes restam as lágrimas! 
 Ah! as lágrimas são para os vivos, desafogam o coração, mas, sem as orações, as lágrimas de nada servem aos mortos. 
Sede, pois, bendita, Santa Igreja Católica! Sede bendita por nos trazerdes, no meio das agitações de nossa vida material, como um eco de além-túmulo, esse grito tão tocante em sua simplicidade:
 «Tende compaixão de nós, vós ao menos, ó amigos de outrora, porque a mão do Senhor se descarregou sobre nós.» 
 Sede bendita Santa Igreja Católica, por nos dardes os meios de sermos úteis àque­les que Deus chamou a si. 
 Se a crença no Purgatório não existisse, o coração humano, pela voz de suas mais íntimas necessidades e de seus mais nobres instintos, o inventaria, fosse embora só para suavizar a morte e para fazer a luz na tristeza e no crepe dos funerais. Antigamente, em algumas comunidades religiosas, deixava-se desocupado na capela e no refeitório, durante quarenta dias, o lugar de um irmão que falecia: na capela faziam-se-lhe as saudações do cos­tume, como se ele fôra presente; dava-se-lhe o ósculo de paz, e se dizia em sua di­reção o requiescant in pace do ofício coral.
 No refeitório serviam-lhe sua ração diária e, todos os dias, acabada a refeição comum, vinha um pobre comê-la de joe­lhos, orando pelo finado. 
 Nós desejamos também, durante este mês, convidar-vos para o nosso lar, ó mortos queridos! queremos ocupar-nos de vós, orar convosco, trabalhar convosco! 
Daremos igualmente aos pobres, pelo repouso de vossa alma, a parte que vos tocaria em nosso labor cotidiano.
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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - INTRODUÇÃO

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


Doutrina da Igreja Católica

I - Existência do Purgatório

I. — O Purgatório é um lugar de sofrimento em que as almas dos que morrem em estado da graça, mas sem haver satis­feito à justiça divina quanto à pena tem­poral incorrida por seus pecados, acabam de se purificar, solvendo essa dívida para poderem ser admitidas no Céu, onde con­forme a Escritura, só entrará quem for puro.
II. — As provas da existência do Purgatório podem ser tomadas :
1º. DA ESCRITURA SAGRADA. O Antigo Testamento mostra-nos Judas Macabeu recolhendo doze mil dracmas, es­polio de uma vitória memorável, e remetendo-as para Jerusalém, a fim de que se oferecessem sacrifícios pelas almas dos que haviam perecido no combate, por ser, dizia ele, um pensamento pio e salutar o de orar pelos mortos para que se resgatem de suas faltas.
O Novo Testamento refere-nos estas pa­lavras de Jesus Cristo bem claras e preci­sas: Há pecados que nunca são remetidos, nem neste mundo nem no outro. (Mat. 12) Haverá, portanto, pecados que serão per­doados na outra vida. Não são menos frisantes estas outras palavras da pará­bola do credor: Há uma prisão donde não se sairá senão quando se tiver pago o ceitil derradeiro. (Mat, 18). — E estas de São Paulo: Haverá no último dia um fogo que destruirá as obras de certas almas, que só então salvar-se-ão. (Cr, 3.)
2º. DA TRADIÇÃO INTEIRA, à qual deu o Concilio de Trento esta ratificação infalível:
«Se alguém pretender que todo peca­dor penitente, quando recebe a graça da justificação, obtém a remissão da culpa e da pena eterna de tal sorte que não fica devedor de nenhuma pena temporal a so­frer na terra ou na vida futura no Pur­gatório, antes de entrar no reino dos Céus: seja anátema!» (Sess. 6.a)
3º. DA RAZÃO, finalmente, como São Boaventura com sua lucidez ordinária ex­põe nestes termos:
«O Purgatório deve existir por muitas causas:
A primeira, como observa Santo Agos­tinho, é que há três ordens de pessoas: Umas inteiramente más, e a essas não aproveitam os sufrágios da Igreja; outras inteiramente boas, que não precisam de tais sufrágios; outras, enfim, que não são de todo más, nem de todo justas e a estas cabem as penas passageiras do Purgatório, porque suas faltas são veniais.
A segunda causa é a própria justiça de Deus, porque, assim como a soberana bon­dade não sofre que o bem fique sem re­muneração, assim a suprema justiça não permite que o mal fique sem nenhuma punição…
A terceira razão para que haja um Purgatório é a sublime e santíssima dignidade da luz divina que somente olhos puros devem contemplar. É preciso, pois, que volte cada um à sua inocência batismal, antes de comparecer na presença, do Al­tíssimo.
Além disso, todo pecado ofende a Majestade Divina, — é prejudicial à Igreja — e desfigura em nós a imagem de Deus.
Ora, toda ofensa pede um castigo, todo dano uma reparação, todo mal um remédio; portanto é necessário também (neste mundo ou no outro) uma pena que cor­responda ao pecado.
Demais, os contrários ordinariamente curam-se com os contrários, e como o pecado nasce do prazer, o castigo vem a ser o seu remédio natural.
A ninguém pode aproveitar a negligên­cia, que é um defeito, e, se tal defeito não fosse punido, pareceria de vantagem para a vida futura não cuidar de fazer pe­nitência neste mundo.» (Comp. teol., 7).

II - Penas do Purgatório

A revelação que nos fala claramente da existência de um Purgatório não se ex­plica tão claramente sobre o estado em que se acham as almas que precisam de purificar-se; não podemos, portanto, saber com exatidão nem onde elas sofrem, nem o que sofrem, nem de que modo sofrem.
Só podemos afirmar que as penas do Purgatório são extremamente graves e de duas espécies: a primeira, a mais insu­portável, diz o Concílio de Florença, é a privação de Deus.
A necessidade de ver e possuir a Deus, que a alma, desprendida do corpo, com­preende ser o objeto único de sua felici­dade: essa necessidade se faz sentir a todas as nossas faculdades com uma força extraordinária.
É uma sede ardente, é uma fome devoradora, é um vazio medonho, uma espécie de asfixia produzida pela ausência de Deus, que é o alimento e o ar de nossa alma.
A segunda é uma dor que põe a alma em torturas mais cruéis do que as que os tiranos infligiam aos mártires.
A Igreja não definiu a natureza desta dor, mas permite ensinar-se geralmente que há no Purgatório, como no inferno, um fogo misterioso que envolve as almas sem consumi-las; e, diz La Luzerne, con­quanto não seja um artigo de fé, todas as autoridades dão tanto peso à doutrina de um fogo expiatório que seria temeridade desprezá-la.

III - Causas do Purgatório

São duas as causas do Purgatório:
1.a A falta de satisfação suficiente pelos pecados remetidos. É de fé que Deus, perdoando os pecados cometidos depois do batismo e a pena eterna devida a esses pecados quando são mortais, deixa ordi­nariamente ao pecador já reconciliado a dívida de uma certa pena temporal que ele há de solver nesta vida ou na outra.
2.a Os pecados veniais de que os justos podem estar maculados quando partem deste mundo.

IV - Estado das Almas do Purgatório

Conquanto padecendo os mais cruéis tormentos, não se abandonam as almas do Purgatório à impaciência nem ao desespero: estão na graça e na caridade, e sua vontade tanto se conforma com a vontade divina, que elas querem com alegria tudo o que Deus quer. — Adoram a mão que as castiga e, por mais desejos que tenham de seu livramento, não o almejam senão na ordem dos decretos divinos. Conso­lam-se com a certeza que tem de não ofender mais a Deus e de ir um dia pos­suí-lo no Céu por toda a eternidade.

V - Duração das Penas do Purgatório

Essas penas durarão pouco em relação às penas do inferno que são eternas, mas, consideradas em si mesmas, podem durar muito tempo. A Igreja autoriza os sufrágios de aniversário por muitos anos e até durante séculos: o que faz supor que as almas podem ficar todo esse tempo no Purgatório. Autores respeitáveis, entre outros Belarmino, admitem que haja peca­dores detidos no Purgatório até o fim do mundo.

VI - Boas Obras em favor das Almas do Purgatório
Há entre os fieis vivos e os fieis mor­tos comunicação das boas obras.
«A Igreja Católica, esclarecida pelo Espírito Santo, aprendeu nas divinas Es­crituras e na antiga Tradição dos Santos Padres e tem ensinado nos grandes Con­cílios que há um Purgatório e que as almas detidas nesse lugar são socorridas pelos sufrágios dos fiéis e principalmente pelo precioso Sacrifício do Altar». (Conc. Trent. sess, 25.)
O corpo místico de Jesus Cristo se com­põe de três Igrejas bem distintas:
— a Igreja triunfante no Céu,
— a Igreja padecente no Purgatório,
— a Igreja militante na terra.
Essas Igrejas, distintas em razão de sua situação diversa, compõem realmente um só corpo, do qual Jesus Cristo é a cabeça; em virtude da comunhão dos Santos, que professam no símbolo, elas se pres­tam mútuo auxilio. Tal é a magnífica harmonia do corpo da Igreja Católica.
Não poderíamos nunca, diz o catecismo romano, exaltar e agradecer devidamente a inefável bondade divina que outorgou aos homens o poder de satisfazer uns pelos outros e pagar assim o que é devido ao Senhor.

VII - As orações das Almas do Purgatório
É certo que as almas do Purgatório não podem merecer para si, mas ensinam comumente os teólogos, diz Monsenhor Devie, que se lhes pode fazer súplicas e que Deus se digna atendê-las, quando elas exercem a caridade para conosco, pedindo o que é necessário. — Os Santos no Céu, acrescenta esse prelado, não podem mere­cer para si; entretanto eles pedem por nós. É a doutrina de Belarmino, de Suarez, de Lessio e de Liguori.
«As almas que pensam, diz Belarmino, são santas, oram como os Santos; e são escutadas em razão de seus méritos an­teriores.»
«A opinião de que as almas do Purgatório oram por nós, diz Suarez, é muito pia e muito conforme à ideia que temos da bondade divina: não é em nada errônea.»
«Os mortos, observa ainda Belarmino, podem vir em nosso auxilio, porque os membros devem imitar a cabeça, o chefe Jesus Cristo… Há-de se dar a reciprocidade entre os membros de um mesmo corpo: assim como na Igreja os vivos socorrem os mortos, os mortos devem so­correr os vivos, cada um a seu modo».
Todavia, a Igreja em seu culto externo não pratica a invocação das almas do Purgatório.

VIII - Aparições das Almas do purgatório
1º. Estas aparições estão na ordem, das coisas que Deus pode permitir, e não repugnam a nenhuma das suas perfeições.
Mas as almas do Purgatório, privadas dos seus corpos, não podem por força própria entrar em comunicação com o mundo sen­sível: é preciso um prodígio para que isto se realize.
2º. A Sagrada Escritura faz menção de aparições de mortos como de Samuel a Saul, de Jeremias e do grão-sacerdote Onias a Judas Macabeu, de muitos que saíram do túmulo na morte de Jesus Cristo e foram vistos em Jerusalém.
3º. Um grande número de aparições que se contam são imaginárias, mas é certo que as tem havido verdadeiras, até mesmo em tempos não remotos. Santo Agostinho, S. Bernardo, S. Gregório Magno e S. Liguori referem várias, e seria mais do que temerário acusá-los de mentira ou de imbecilidade. S. Tomás diz: «As almas dos mortos manifestam-se algumas vezes por uma disposição particular da Providencia para se ocuparem de coisas humanas».[†]
4º. A Igreja não condenou, em tempo nenhum, esta crença. Cumpre dizer tam­bém que ela nunca sancionou com sua autoridade a autenticidade absoluta de ne­nhuma aparição citada pelos Santos.
5º. Sendo as almas do Purgatório santas, boas e caritativas conosco, quando têm de Deus a permissão de nos aparecer não é evidentemente senão para testemunhar seu amor ou invocar o nosso: longe, pois, de nos causar terror, uma aparição deveria alegrar-nos.
Assim devemos ter como alucinação fantasmagórica, conto de pura invenção, toda aparição que só tenha por fim apavorar os vivos. É uma indignidade prestar este papel a almas santas.

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[†] É portanto, contrária ao ensino da Igreja, além de humilhante e afrontosa aos destinos e condição das almas dos finados, a doutrina do espiritismo que dá aos médiuns o poder de as chamar ao mundo a fazerem revelações. A Igreja tem por várias vezes condenado esse erro e suas funestas práticas e, ainda recentemente, ocupou-se do assunto o Instituto Psicológico de Paris, nomeando para estudá-lo uma comissão que a esse fim celebrou 60 sessões, nas quais tomou parte o medium mais afamado da Europa e cujo resultado Gustavo Le Bon, que é um eminente cientista e não um clerical nos Annales de Sciences Psychiques, resume na seguinte conclusão: «O que há de certo no espiritismo é ter abalado milhares de mioleiras que já não estavam muito sólidas». (Do Trad.)

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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia


O Combate ao Amor Próprio

Excertos do Livro
O Combate Espiritual
Dom Lorenzo Scúpoli
(Clique acima, no título em azul, para obter a resenha do livro e baixá-lo)


Capítulo XXV
QUINTO AUXÍLIO À VONTADE HUMANA

O ódio a nós mesmos é também um modo de auxiliar a nossa vontade. É necessário que tenhamos este ódio, pois, sem ele, não mais nos há de socorrer o Amor Divino, autor de todo o bem.
Para adquirir este ódio, primeiramente peçamo-lo a Deus. Em seguida, meditemos sobre os danos que o amor próprio fez e ainda hoje faz aos homens. ­­­
Não houve pecado, nem no céu, nem na terra, que não proviesse do amor próprio.
Este amor tem tanta malícia que, se pudesse entrar no céu, logo a Jerusalém celeste se transformaria em uma Babilônia. Considera então, que mal este vício não faz num peito humano, durante sua vida terrena.­
Se tirarmos do mundo o amor próprio o inferno se fechará. ­
E quem haverá, tão inimigo de si mesmo, que, meditando sobre o ser, as qualidades e os efeitos do amor próprio, não se indigne contra este vício, e o odeie?­

Capítulo XXVI
COMO SE CONHECE O AMOR PRÓPRIO

Para que saibas quão grande é o amor próprio que te tens, examina tua alma. Perceberás então, as paixões com que mais se ocupa a tua vontade. (Pois não encontrarás nunca a tua vontade sem paixões). ­
Se ela ama ou deseja, ou está alegre ou triste, considera então, se a coisa amada ou desejada é virtude, e se teu amor está conforme aos preceitos divinos: ou se te alegras ou te entristeces com coisas que a Vontade Divina quer que te entristeçam ou alegrem; ou então, se a causa de todos estes sentimentos é o mundo e o apego às criaturas, por lidarmos com as coisas do mundo desnecessariamente, e não quanto era suficiente, nem como Deus quer.­­­
Se assim acontece, claro é que o amor próprio reina na tua vontade e é o seu motor em tudo.
Mas se vemos que a vontade se ocupa de coisas que dizem respeito às virtudes e que são da Vontade Divina, então devemos considerar ainda um ponto: se é a vontade de Deus que move nossa vontade ou se são nossas complacências e caprichos, que o fazem. ­­
Porque acontece muitas vezes que alguém, movido por não sei que capricho ou complacência, se dê a obras boas, como, por exemplo, às orações, jejuns, comunhões e outras obras santas. ­
Podemos nos examinar neste ponto, de duas maneiras:
A primeira será reparar se nos damos, nas diversas ocasiões que se apresentam, a todas as boas obras, indiferentemente.
 A segunda maneira será considerar se nos alegramos se tudo corre como queremos e nos inquietamos e lamentamos se sobrevém algum impedimento. ­­­­
Se virmos que é Deus o motivo de nossos atos, ainda devemos examinar qual o fim com que os fazemos. Se este for somente o agrado divino, tudo está bem.
Mas nunca poderemos garantir que tudo fazemos para agradar a Deus. O amor próprio é muito sutil e se insinua até nos atos de virtude. ­
Quando se manifesta esta fera do amor próprio, devemos persegui-la, com ódio, não somente nas coisas grandes, mas também nas pequeninas, até matá-la. ­­
Sempre se deve suspeitar das coisas ocultas. Por isso humilha-te bate ao teu peito, após uma obra boa, pedindo a Deus que te guarde do amor próprio e caso o tenhas, te perdoe.
Será bom que te dirijas ao Senhor de manhã e faças mentalmente o propósito de não ofendê-Lo mais, especialmente­ naquele dia, mas de fazer sempre a Sua vontade e com o fim de lhe agradar.
Pedirás por isso, muitas vezes, a Deus, que te socorra sempre e te proteja, afim que conheças e faças somente o que Lhe agrada e da maneira que Lhe agrada.

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Retirado do livro: O Combate Espiritual e o Caminho do Paraíso - Ven. Servo de Deus Lourenço Scúpoli - Edição de 1939
Obs.: A edição do livro disponível para download é mais recente.