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Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 13

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)




SOFRIMENTO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO

DIA 13
1º sofrimento — Pena dos sentidos

Ó meus caros mortos, se para meu coração toda a pena fosse a da separação, seria cruel, por certo; mas o pensamento de comunicar convosco pela oração, e ainda mais a ideia de vos tornar a ver no Céu, e de vos tornar a ver mais santos e mais amantes, aliviaria esta dor; mas, ah! este mesmo pensamento que me dá a es­perança de vos tornar a ver, leva-me a contemplar-vos nas chamas do Purgatório, sofrendo e consternados.
Não escutarei a imaginação, que poderia levar-me além da realidade; quero ouvir os santos, e o que me dizem eles acerca do que vós sofreis, é bastante para excitar a minha compaixão, e obrigar-me a so­correr-vos.
«Reuni, diz Santa Catarina de Gênova, todas as penas que os homens têm sofri­do, sofrem e sofrerão, desde o principio do mundo até o fim dos tempos; juntai todos os tormentos que os tiranos e os algozes têm feito sofrer aos mártires; será uma pálida imagem dos tormentos do Purgatório; e, se às pobres encarceradas fosse permitida a escolha, prefeririam aqueles suplícios durante mil anos a fica­rem no Purgatório mais um dia; porque, diz S. Tomás, o fogo que os envolve é o mesmo que atormenta os condenados no inferno, e esse fogo, oh, é terrível!»
Deus, escolhendo o fogo, soube achar um reparador digno de sua justiça!
Não há dor, dizem os que têm estudado a natureza desse elemento, que iguale a que ele causa.
Não objeteis que o corpo não está no Purgatório: a dor, diz S. Tomás, não é o golpe que se recebe, mas a sensação dolorosa desse golpe. Quanto mais delicadeza há nessa sensação, mais viva é a dor, e a alma, ainda sendo ferida, ela so­zinha experimenta ao mesmo tempo a aflição que lhe fariam sofrer todos os membros do corpo atacados separada­mente.
Esse fogo do Purgatório, cuja natureza não conhecemos, dotado por Deus de uma espécie de inteligência para esmerilhar nos recessos da alma e consumir todas as manchas que lhe deixou o pecado, obra ao mesmo tempo sobre a imaginação e a memória, sobre o juízo e a vontade…
Não aprofundemos mais este ponto; po­rém, fixando a atenção, escutemos o grito pungente que, do fundo desse abismo de fogo, vem até nós: Eu sofro, sofro muito no meio destas chamas: uma gota d’água! uma prece, por piedade!



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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 12

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)



DIA 12
Esperança

 «Oh! Como desconhecemos nós o coração de Deus! Quando o homem está pres­tes a morrer, o homem que ele criou por suas mãos, sobre quem velou com ternura durante a vida, a quem seguiu passo a passo, a quem tocou e iluminou para chamá-lo a si e que não atendeu a nada disto; quando está à morte, Deus se pre­para para dar-lhe o derradeiro combate, o combate do amor, o combate supremo de uma mãe que, vendo o filho quase arre­batado, fica louca, terrível, chega ao paroxismo da indignação e do amor. Desce, por isso, esse Deus de bondade; inclina-se esse pai inquieto, para o leito de dor em que vai morrer um de seus filhos.
Apela para tudo o que havia já empre­gado com o fim de o vencer, luzes, graças, ternuras, benefícios: Eu vo-los dei às mãos cheias, tê-los-eis sem medida!
Se o enfermo rende-se aos primeiros as­saltos, vê-se o triunfo, e a religião ganha a conversão de um pecador. Mas, se o homem resiste e, antes de ter cedido, cai nas sombras que precedem a morte, nem por isso termina o combate. Ao contrario, redobra de esforço, e a vitória pode ainda ser de Deus, mesmo quando não há mais para os homens nenhum meio de o saber. Quando os olhos do enfermo ficam turba­dos; quando as extremidades ficam frias; quando para verificar se ainda vive precisa-se pôr a mão sobre seu coração: se a mão do homem fosse mais sensível, sentiria a luta que continua, a luta suprema. Trata-se de obter uma palavra, nada mais do que uma simples palavra, um alento, um leve movimento! Deus trabalha para isso com a obstinação do amor: e quem não com­preende que Deus, lutador hábil, há de consegui-lo muitas vezes?
Vós dir-me-eis: Que é que sabeis, ao certo, em tudo isso? onde encontrastes a história dessa luta? Respondo: Achei-a em vosso coração. Sois pai? Sois mãe? O que eu digo, não o faríeis vós?
Então, o coração de Deus não velará o vosso?! Tereis vós a gloria de fazer por vossos filhos mais do que Deus pelos seus? Impossível. É assim, ó religião di­vina, que não há dor alguma sem conso­lação: tu as refrigeras todas na esperança.»
« Minha luz divina, — dizia Nosso Senhor a Santa Gertrudes, que lhe pedia graças para um pobre pecador falecido sem sacramentos,— minha divina luz que pene­tra no futuro, manifestando-me que vós faríeis por ele esta oração, eu lhe des­pertei no coração boas disposições que o preparassem a gozar os efeitos da vossa caridade.»
Palavras de consolação! diz o padre Blot: Na previsão de nossas orações futu­ras, Deus se digna conceder ao pecador moribundo boas disposições que assegu­rem a salvação de sua alma!
Sim, palavras consoladoras, bem pró­prias para nutrir a esperança em nossa alma.


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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 11

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)



DIA 11
Esperança

Ainda algumas palavras de esperança sobre as almas de nossos mortos. Fala o padre Bougaud em sua obra: O Cristia­nismo e os tempos presentes.
«Quem poderá narrar as misericórdias de Deus no leito de morte de seus filhos? Aí nessas sombras confusas da hora úl­tima, em que o olhar do homem nada mais distingue, quem pode saber o que se passa entre Deus e uma alma? Quando o espí­rito paira nos lábios como um ligeiro so­pro, já não mais da terra, nem ainda do Céu: no momento: em que Deus se inclina para recolher essa alma, quem poderá di­zer o que se passa? Uma mãe repeliria seu filho, ainda mesmo sendo um ingra­to? não tentará ela por todos os meios trazê-lo de novo a si? Não irá sempre ao seu encontro, até o fim? Não esgotará todos os recursos para salvá-lo, a despeito de toda a obstinação dele em fugir-lhe? Ora, Deus é mais do que a mãe.
Vede o que fez Ele para tornar impossível a perda das almas! Não lhe bastou haver-nos envolvido nessa graça que nos previne, nos segue e nos banha como uma atmosfera. Foi pouco ter estabelecido sete sacramentos, isto é, sete rios de luz e de força que inundam a vida inteira e cada um de seus períodos, como tudo isso não satisfazia ainda seu coração de pai, vede e adorai a maravilhosa invenção de seu amor.
Estais enfermo: já sentis que sobre vós estende a morte suas negras asas. Acodem-vos à memória vossos pecados, vossas fraquezas, aquele ato do qual vos disse a consciência: Isto, incontestavelmente, é um mal. O sacerdote não chega a tempo de recolher vossa confissão, oferecê-la a Deus e vos perdoar em seu nome: que fazer? Vós tendes um coração: arrancai dele um alento, um grito, uma lágrima, uma palavra de arrependimento, um ato de amor, um só! Sereis logo absolvido: ficais purificado e perdoado.
Aquele homem, prestes a morrer, ainda há pouco blasfemava; o sacerdote veio, ele o repeliu: apresentaram-lhe o Crucifixo, ele o afastou com a mão. Foi seu derra­deiro movimento; seu último ato. Os socor­ros da religião não poderão chegar mais até sua alma já profundamente mergulha­da nas sombras da morte. Mas resta-lhe o coração, e, para ser salvo, perdoado, que será preciso? Um simples ato de amor, um só desejo, um só pesar, uma só pala­vra: Meu Deus, eu vos amo!
Homens cegos, que chorais de deses­pero em redor desse leito! talvez à mesma hora os anjos conduzam essa alma com gritos de alegria.
Ela salvou-se com esse ato de amor.
O Purgatório a recebeu.
Esse homem que acaba de suicidar-se cometeu um crime sinistro. A Igreja afas­ta-se com horror de seus restos mutilados, e faz bem. Mas ensinará ela que o mísero esteja perdido sem recurso? Não, absolutamente; pois quem sabe o que fez este alma no momento em que, lacerada, partiu desse mundo? Quem sabe o que ela viu ao clarão do tiro de morte? Que revelação teve ao disparar a arma fatal? Teve muito pouco tempo! direis vós. Ah! Que impor­ta? Uma palavra, um grito, um olhar, um transporte de amor a Deus, basta para que ela saia deste mundo purificada.»


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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 10

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 10
Esperança

Um pensamento sombrio vem, talvez, lançar o terror na alma à hora em que evo­ca a lembrança de seus mortos.
«Ah! diz ela, eu me tranquilizaria, fica­ria em paz e me julgaria feliz, se pudesse contá-lo no Céu, se houvesse falecido cer­cado das preces da Igreja e purificado pe­los últimos sacramentos, Mas ah! morreu de repente, morreu longe do bom Deus a quem tinha esquecido em sua vida inteira!»
Pobre coração aflito, eu vos responderei a isto com as palavras que a Igreja me au­toriza a dizer-vos:
A Igreja não condena definitivamente a ninguém. Baixa decretos para declarações de que uma alma está no Céu e assim po­de ter culto, mas nunca expede nenhum, publicando que uma alma esteja no inferno.
São Francisco de Sales não queria que se desesperasse nunca da conversão dos pecadores até seu último suspiro, e, ainda depois de mortos, não admitia que se jul­gasse mal mesmo dos que tinham levado uma vida irregular, a não ser daqueles cuja condenação consta da Escritura. Alegava como razão disso que nem a primeira gra­ça nem a derradeira, que é a perseverança, se dá por mérito, isto é, ambas são de todo gratuitas. Entendia, portanto, que se devia presumir sempre bem da pessoa que ex­pirava, ainda não sendo sua morte edifi­cante, porque todas as nossas conjecturas só se podem firmar sobre as aparências, e essas, muitas vezes, iludem ainda os mais experientes.
«Entre o último suspiro do moribundo e a eternidade, há um abismo de miseri­córdia, » disse um bispo ilustre. — Passam- se entre Deus e a alma certos mistérios de amor que nós só conheceremos no Céu.
Que precisa este agonizante para obter o perdão? Uma luz que lhe mostre a jus­tiça e a misericórdia divinas; uma luz, ainda rápida como um relâmpago; essa luz pode produzir um sentimento de con­trição e de amor, este sentimento basta para lhe fechar o inferno e abrir o Pur­gatório.
Esta luz é Jesus, apresentando-se àquela alma e dizendo-lhe com um olhar ligeiro como o pensamento: É a mim ou ao demônio que tu queres? e a alma dizendo com a mesma rapidez: A vós, a vós, Se­nhor! e a misericórdia triunfa! Esperai pois, esperai sempre; dirigi vossas pre­ces constantes por esses mortos que vos fazem estar inquietos: ninguém pode cal­cular até que ponto essas preces podem ser atendidas.



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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 9

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)



DIA 9
Felicidade de ser útil aos mortos

«Oh, se tudo estivesse acabado para sempre, se eu não pudesse me ocupar mais dele, se não tivesse mais o prazer, não digo só, de torná-lo a ver no Céu, mas de lhe ser ainda útil durante o resto de minha vida, como seria isto cruel!» dizia uma pobre mãe junto ao corpo inanimado de seu filho.
Deveria ser muito doloroso, sim; mas consolai-vos, pobres filhos, vós podereis ainda ser úteis àqueles que a morte vos roubou, podeis ajudá-los a mais depressa ganhar o Céu! A Igreja compreendeu essa necessidade de vosso coração e deu ali­mento a vosso amor.
A morte separa: parte os laços mate­riais que nos prendiam uns aos outros; não dissolve os laços imateriais que liga­vam uma alma a outra alma, um coração a outro coração.
Está longe, não está perdido: é o grito da alma cristã, e assim, um pai, uma mãe, um filho podem sempre ocupar-se daque­les que amavam, quando os possuíam con­sigo, e que ainda prezam, mesmo sem os verem.
Os atos de dedicação, de que foram cheios os vossos dias e que tinham por objeto fazê-los felizes, podeis praticá-los ainda, e, oferecendo-os a Deus pelo re­pouso dessas almas, vós continuareis a trabalhar em sua felicidade.
O trabalho material que fazíeis por eles podeis prossegui-lo ainda em sua intenção, e o fruto lhes será aplicado pela miseri­córdia divina.
As riquezas que acumuláveis para eles, podeis juntá-las ainda, e o que em seu nome distribuirdes aos pobres, lhes há de ser comunicado por Deus de um modo muito mais útil do que vós mesmos o teríeis feito.
«Conheci, diz o Visconde Walsh, um lu­terano que, por amor de nossa crença no Purgatório, se fez católico.
Perdera um irmão querido no meio de um banquete e lembrava-se a cada instan­te, dessa passagem tão brusca de uma or­gia para o fundo de um féretro.
Ah! disse-me ele num dia de finados, por causa de meu irmão vou me fazer ca­tólico… Quando me for permitido rezar por meu irmão, então respirarei, viverei para pedir todos os dias o Céu para aquele a quem tanto estimei na terra. Vossa Igreja faz que os seres que se prezam possam ajudar-se mutuamente ainda depois da mor­te. Vossas orações tiram ao sepulcro sua mudez pavorosa, Vós conversais ainda com os que já partiram desta vida; conhecestes a fraqueza humana, essa fraqueza que não é crime, mas ainda menos é a pureza; e, entre os limites do Céu e do inferno, Deus vos revelou um lugar de expiação, o Pur­gatório.
Meu irmão está aí, talvez: eu me faço católico para libertá-lo dessa prisão para me consolar neste inundo, para me aliviar deste peso que me oprime, peso que eu não sentirei mais, quando me for dado orar.»


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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia