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SERMÃO DO PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA

Fontes Franciscanas
III
SANTO ANTÔNIO DE LISBOA
Volume I
Biografia e Sermões
Livro de 1998
Tradução: Frei Henrique Pinto Rema, OFM


Sermão do Primeiro Domingo da Quaresma


SUMÁRIO

Quarto Evangelho, na Quaresma: Jesus foi conduzido ao deserto
Divide-se num sermão alegórico e noutro moral.

1 – No sermão alegórico:
Em primeiro lugar trata-se do tríplice deserto. É um sermão para o Advento do Senhor: Enviai, Senhor, o cordeiro.
Um sermão sobre o ternário maldito: Joab tomou três lança.

2. No sermão moral:
Em primeiro lugar, um sermão aos claustrais: Foram dadas duas asas `a mulher; e sobre a natureza da águia e a propriedade do falcão.
Um sermão sobre o coração contrito: Com espírito impetuoso; e: O sacrifício digno de Deus.
Um sermão aos sacerdotes sobre o modo de se calar a respeito da confissão: A confissão deve ser inabitável; e: Guardai-vos de subir ao monte.
Um sermão sobre os sete vícios e propriedade do avestruz, do asno e do ouriço: Será um covil de dragões.
Um sermão aos confitentes, de que modo devem confessar os pecados e as circunstancias dos mesmos: Toma a cítara.
Um sermão sobre a confissão: Quão terrível é o lugar.
Um sermão sobre o jejum quaresmal: E tendo jejuado quarenta dias; e: Os exploradores enviados por Moisés.
Um sermão sobre as circunstancias do pecado que se devem confessar e depor: Josué tomou também Maceda.
Um sermão sobre o maldito ternário com que nos tenta o diabo: Revistamo-nos do homem novo.

Exórdio. Deserto de Engadi.

1. Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo demônio, etc1.
 Diz-se no primeiro livro dos Reis2 que David habitou no deserto de Engadi. David interpreta-se forte de mão, e significa Jesus Cristo, que debelou as potestades aéreas3 com as mãos pregadas à cruz. Eis que admirável fortaleza: vencer o próprio inimigo com as mãos ligadas! Habitou no deserto de Engadi, que se interpreta olho da tentação4. Nota que o olho da tentação é triplo. O primeiro é o da gula, de que se escreve no Gênesis5: Viu a mulher que o fruto da árvore era bom para comer, formoso aos olhos e de aspecto agradável; e tirou do fruto dela, e comeu e deu a seu marido. O segundo é o da soberba e vanglória, de que diz Job6, falando do diabo: Vê tudo o que é elevado; ele é o rei de todos os filhos da soberba. O terceiro é o da avareza, do qual escreve Zacarias7: Este é o olho deles em toda a terra. Cristo, portanto, habitou no deserto de Engadi quarenta dias e quarenta noites, em que sofreu do diabo a tentação da gula, da vanglória e da avareza.

 2. Por isso, diz-se no Evangelho de hoje: Jesus foi conduzido ao deserto etc. Nota que é triplo o deserto, a qualquer dos quais foi conduzido Jesus. O primeiro é o ventre da Virgem8, o segundo o referido no presente Evangelho, o terceiro o patíbulo da cruz9. Ao primeiro foi conduzido só por misericórdia, ao segundo para nosso exemplo, ao terceiro por obediência ao Pai.
 Do primeiro diz Isaías10: Envia, Senhor, o cordeiro dominador da terra, mandado da pedra do deserto ao monte da filha de Sião. Ó Senhor Pai, envia um cordeiro, não um leão, um dominador, não um devastador; da pedra do deserto, isto é, da Santíssima Virgem, chamada pedra do deserto: pedra, por causa do firme propósito da virgindade donde a resposta dada ao anjo: Como se fará isto, pois eu não conheço varão? 11, ou seja, propus firmemente não o conhecer12; do deserto, porque não arável, pois permaneceu virgem antes do parto, no parto e depois do parto. Envia, digo, ao monte da filha de Sião, ou seja, à excelência da Igreja, a Jerusalém celeste13.
 Do segundo escreve S. Mateus14: Jesus foi conduzido ao deserto etc.
Do terceiro S. João Batista diz em S. João15: Eu sou a voz do que brada no deserto. S. João chama-se voz, porque assim como a voz precede a palavra, assim ele precedeu o Filho de Deus16. Eu sou a voz de Cristo17 a bradar no deserto, ou seja, no patíbulo da cruz: Pai, nas tuas mãos18 etc. Neste deserto esteve todo cercado de espinhos e destituído de todo o auxílio humano.
 A tríplice tentação de Adão e de Jesus Cristo.

3. Digamos, portanto: Jesus foi conduzido ao deserto pelo Espírito. Costuma perguntar-se por quem. S. Lucas19mostra clarissimamente por quem foi conduzido: Jesus, cheio do Espírito Santo, regressou do Jordão e era conduzido pelo Espírito ao deserto. Foi conduzido por aquilo de que estava cheio. A seu respeito disse ele mesmo em Isaías20: O Espírito do Senhor está sobre mim, por me ter ungido. Por aquele espírito como que foi ungido de preferência aos seus companheiros21, por ele mesmo foi conduzido ao deserto para ser tentado pelo diabo. Porque o Filho de Deus, o nosso Zorobabel, que e interpreta mestre de Babilônia22, viera restaurar o mundo desfigurado pelos pecados, e, como médico, sarar os doentes, convinha curasse os contrários com os contrários, tal como sucede à arte da medicina em que as coisas frias se curam com as quentes e as quentes com as frias23.
 O pecado de Adão foi a destruição e a enfermidade do gênero humano. Consiste ele em três coisas: Gula, vanglória e avareza24. Donde o verso: A vanglória, a gula e a concupiscência venceram o velho Adão25. Estes três vícios aparecem no Gênesis26: Disse a serpente à mulher: no dia em que dele comeres, abrir-se-ão os vossos olhos, eis a gula; sereis como deuses, eis a vanglória; conhecendo o bem e o mal, eis a avareza27. Estas foram aquelas três lanças com que Adão foi morto juntamente com seus filhos.
 Daí o dizer-se no segundo livro dos Reis28: Tomou, pois, Joab três lanças, e traspassou com elas o coração de Absalão. Joab interpreta-se inimigo e significa bem o diabo, inimigo do gênero humano29. Este tomou na mão da falsa promessa três lanças, isto é, a gula, a vanglória e a avareza, e traspassou com elas o coração30, no qual está a fonte do calor e a vida do homem. Dele, escreve Salomão31, procede a vida. O diabo traspassa-o, a fim de extinguir o calor do amor divino e tirar de todo a vida. Traspassou o coração de Absalão, que se interpreta paz do pai32. este foi Adão, posto de propósito em lugar de paz e de delícias, para que conservasse eternamente a paz do pai, obedecendo-lhe. Mas depois de se recusar a obedecer a Deus Pai, perdeu a paz, e o diabo traspassou-lhe o coração com três espadas, e privou-o inteiramente da vida.

4.  Veio, portanto, o Filho de Deus em tempo aceitável. Obedecendo a Deus Pai, restaurou o perdido, curou os contrários com os contrários. Adão foi posto no paraíso, onde, rodeado de delícias, caiu. Jesus foi conduzido ao deserto, onde, insistindo nos jejuns, venceu o diabo. Vede o acordo entre ambas as tentações no Gênesis e em S. Mateus: Disse a serpente: No dia em que comeres. E aproximando-se o tentador, disse-lhe: Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães33: eis a gula. Depois: Sereis como deuses. Então o demônio transportou-o à cidade santa, e pô-lo sobre o pináculo do templo34: eis a vanglória. Finalmente:Conhecendo o bem e o mal. De novo o demônio o transportou a um monte muito alto, e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a sua magnificência, e disse-lhe: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares35. Quanto ele tem de perverso, tanto ele perversamente falou: eis a avareza. A sabedoria, porém, porque sempre age sapientemente, superou a tríplice tentação do demônio com a tríplice sentença do Deuteronômio36.
 Quando o diabo tentou com a gula, Jesus respondeu-lhe: Não só de pão vive o homem37; como se dissesse: Assim como o homem exterior vive do pão material, assim o interior vive do pão celeste, que é a palavra de Deus. A palavra de Deus é o Filho, Sabedoria que procedeu da boca do Altíssimo38. Sabedoria vem de sabor39; portanto, o pão da alma é o sabor da sabedoria, com que saboreia os bens do Senhor e experimenta quão suave é o mesmo Senhor40. Deste pão se diz no livro da Sabedoria41: Deste-lhe pão vindo do céu, que tinha em si toda a delícia e a suavidade de todo o sabor. É isto o que se diz: Mas de toda a palavra que procede da boca de Deus. Diz de toda, porque a Palavra, o Verbo e Sabedoria de Deus, contém a suavidade de todo o sabor: o seu sabor torna insípido o deleite da gula. Porque Adão se enfastiou deste pão, cedeu à tentação da gula. Com razão se diz, portanto: Não só de pão etc.
 Depois, quando ele o tentou com a vanglória, Jesus respondeu42: Não tentarás o Senhor teu Deus. Jesus Cristo é Senhor pela criação, Deus pela eternidade. O diabo tentou-o, quando o persuadiu a ele, criador do templo, a deitar-se abaixo do pináculo do templo, e prometeu ao Deus de todos os poderes celestes o auxílio dos anjos.Não tentarás, portanto, o Senhor teu Deus. Adão também tentou o Senhor Deus, quando não respeitou a Deus e o seu preceito, mas de ânimo leve anuiu à falsa promessa: Sereis como deuses43. Ó quanta vanglória acreditar alguém que se possa fazer Deus! Ó miserável! Por vãmente te quereres elevar acima de ti, miseravelmente te precipitarás por debaixo de ti! Não tentarás, portanto, o Senhor teu Deus.
 Finalmente, quando o tentou com a avareza, Jesus respondeu-lhe44: Adorarás o Senhor teu Deus, e a ele só servirás. Todos os que amam o dinheiro ou a glória do mundo, prostrados adoram o diabo. Mas nós, por quem Jesus Cristo desceu ao ventre duma Virgem e suportou o patíbulo duma cruz, instruídos por seu exemplo, vamos ao deserto da penitência e com o seu auxílio reprimamos o ímpeto da gula, o vento da vanglória, o incêndio da avareza. Adoremos aquele que os arcanjos adoram; sirvamos aquele a quem os anjos servem. Ele é bendito, glorioso, louvável e excelso por séculos eternos. Diga toda a criatura: Assim seja.

__________
1.Mt 4,1 (Vg. Tunc Jesus ductus est...).
2.Cf. 1Reis 24, 1-2.
3.Glo. Int., 1Reis 16, 13.
4.Glo. Int., 1Reis 24, 1.
5.Gen 3, 6 (Vg. Vidit igitur... et tulit...).
6.Job 41, 25 (Vg. imite).
7.Zac 5, 6 (Vg. Haec est...).
8.Cf. Glo. Ord., Os 13, 15.
9.Cf. Glo. Int., ibidem.
10.Is 16, 1.
11.Lc 1, 34 (Vg.... quoniam virum...).
12.Cf. Glo. Int., ibidem.
13.Cf. Glo. Ord., Is 1. c.
14.Mt 4, 1.
15.Jo 1, 23.
16.Cf. GREG., In Evangelia homilia 7, 2, PL 76, 1100.
17.Cf. Glo. Int., Jo 1. c.
18.Lc 23, 46.
19.Lc 4, 1; Mc 1, 12; cf. Glo. Ord., ibi.
20.Is 61, 1 (Vg... unxerit Dominus me...).
21.Cf. Heb 1, 9.
22.Glo. Ord., Ag 1, 1.
23.Cf. GREG., In Evang. Homilia, 32, 1, PL 76, 1232.
24.Cf. Glo. Ord., Gen 3, 5.
25.Verso de autor desconhecido.
26.Gen 3, 4.
27.gen 3, 5; cf. Glo. Ord., ibi.
28.2Reis 18, 14.
29.Glo. Ord., 2Reis 3, 17.
30.Cf. Glo. Ord., 2Reis 18, 9.
31.Prov 4, 23.
32.Glo. Ord., 2Reis 13, 14.
33.Mt 4, 3.
34.Mt 4, 5.
35.Mt 4, 8-9 (Vg... si cadens adoraveris me).
36.Cf. Deut 8, 3; 6, 16; 6, 13.
37.Mt 4, 4; cf. Deut 8, 3.
38.Cf. Ecli 24, 5.
39.ISID., Etym. X, 240, PL 82, 392.
40.Cf. Salmo 33, 9.
41.Sab 16, 20 (Vg muda, omite).
42.Mt 4, 7; Deut 6, 16.
43.Gen 3, 6.
44.Mt 4, 10; cf. Deut 6, 13; 10, 20.


OBS.: O Sermão Moral será transcrito em outra ocasião.

Os Dez Mandamentos do Mundo

Segundo S. Luís Maria Grignion de Montfort


Estes são os Mandamentos do Mundo
e
seu Verdadeiro Significado

1º. Conhecer o mundo, isto é, estar a par das finezas amaneiradas do século e demonstrar esse conhecimento.
2º. Viver honestamente, isto é, contentar-se com aparências de honestidade.
3º. Realizar seus negócios, isto é, tomar o dinheiro por fim último da vida, sem o deixar transparecer.
4º. Conservar o que é seu, isto é, ignorar a caridade, sob pretexto de direito de propriedade, interesses de família, negócios, etc.
5º. Adiantar na vida, isto é, ter ambições, ousadias, conseguir sem mérito pessoal nenhum.
6º. Fazer amigos, isto é, não desdenhar relações de nenhuma espécie, ainda à custa da consciência, para obter os desejosos fins.
7º. Frequentar altas rodas, andar atrás das pessoas eminentes ou em evidência, a fim de brilhar ao menos com a auréola dos outros.
8º. Viver confortavelmente, isto é, ter boa mesa, com pretexto de conservar a saúde, manter as relações sociais, tratar de negócios, ou saborear coisas boas para glorificar o Criador.
9º. Não ser desmancha-prazeres, isto é, cultivar o bom humor mediante toda sorte de prazeres, mesmo culpáveis, embora seja preciso negligenciar os deveres do próprio estado.
10º. Evitar singularidades, isto é, rejeitar a piedade, religião, obras de caridade, todo o “exagero” das pessoas devotas
S. Luís Maria Grignion de Montfort (A.E.S. pg. 121)


A Falsa Sabedoria do Mundo

     Deus tem sua Sabedoria. É a única e verdadeira, que há de ser amada e buscada como um grande tesouro. Mas o mundo corrompido tem igualmente sua sabedoria. E ela deve ser condenada e detestada, como falsa e perniciosa.
   A sabedoria do mundo é uma perfeita conformidade com as máximas do mundo; uma contínua tendência para as grandezas e estima; uma busca infatigável e secreta do próprio prazer e interesse próprio, não de maneira grosseira e chocante, em pecados escandalosos, mas de modo elegante, falacioso e político; porque, de outra sorte, já não seria, como diz o mundo, sabedoria, mas libertinagem.
    Um sábio do século é um homem que conhece bem seus negócios e deles sabe tirar todo proveito temporal, sem o dar a perceber; que conhece a arte de dissimular e enganar finamente, sem que os outros suspeitem; que diz ou faz uma coisa e pensa outra; que nada ignora dos ares e etiquetas mundanas; que a todos se acomoda para seus intentos, sem ponderar muito em honra e interesse de Deus; que leva a cabo um secreto mas funesto pacto da verdade com a mentira, do Evangelho com o mundo, da virtude com o pecado, de Jesus Cristo com Belial; que quer passar por honesto, mas não por devoto; que despreza, envenena ou condena facilmente todas as práticas de piedade que não se adaptam às suas. Enfim, um sábio mundano é um homem que, guiando-se somente pela luz dos sentidos e da razão humana, não pretende senão revestir-se das aparências de cristão e honesto, sem se preocupar muito em agradar a Deus e expiar pela penitência os pecados com que ofendeu a Divina Majestade.
É tríplice a sabedoria do mundo:








1. Ela é terrestre. Os bens da terra. E desta sabedoria fazem secreta profissão os sábios mundanos, quando apegam o coração ao que possuem e se empenham para tornar-se ricos. Quando intentam processos e demandas inúteis para obter dinheiro ou para conservá-los. Quando não pensam, não falam não agem, senão para alcançar ou conservar qualquer ganho terreno; a confissão, a oração, etc, que fazem superficialmente, como quem se desempenha de um ônus, a raros intervalos, e para salvar as aparências.
2. A sabedoria do mundo é carnal. O amor do prazer. E desta sabedoria fazem profissão os sábios mundanos, quando buscam apenas os prazeres dos sentidos. Quando gostam de boa mesa. Quando de si afastam tudo o que poderia mortificar ou incomodar o corpo, como os jejuns e as austeridades. Quando, ordinariamente, não pensam mais que em comer, beber, divertir-se, rir, passar agradavelmente o tempo. Quando andam em busca de leitos confortáveis, jogos que divirtam, festas agradáveis, companhias mundanas. E depois que sem escrúpulos se deram todos esses prazeres, vão atrás de um confessor “o menos escrupuloso que encontrarem”, a fim de obter assim, por pouco preço, a paz em sua vida sensual e útil, e a indulgência plenária de todos os pecados.
3. A sabedoria do mundo é diabólica. O amor da estima e das honras. E desta sabedoria fazem profissão os sábios mundanos, quando aspiram, muito embora secretamente, grandezas, honras, dignidades e cargos elevados. Quando se esforçam para serem vistos, estimados, louvados e aplaudidos pelos homens. Quando não colimam em seus estudos, trabalhos, lutas, senão a estima e louvor dos homens, a fim de que sejam tidos por honestos, sábios, grandes líderes, sábios jurisconsultos, pessoas de infinito mérito e grande consideração. Quando não podem suportar o desprezo e a repressão. Quando escondem o que têm de defeituoso e mostram o que possuem de belo.
     É preciso, com Jesus Cristo, detestar e condenar estas sabedorias falsas, a fim de obter a verdadeira, que não busca seu interesse, que não é da terra, nem se encontra no coração dos que vivem em seus cômodos, e que abomina tudo o que é grande e prestigioso aos olhos dos homens.
S. Luís Maria Grignion de Montfort (Amour de La Sagesse Eternelle, pg. 117 e ss)


Estes Mandamentos são Contrários à
Divina Sabedoria

     Todos eles se baseiam em pontos de vista naturalistas e pagãos. – questão de “honra”, “o que vão dizer”, “não fica bem”, “todos fazem assim”, “é preciso aproveitar a vida”, “ocasiões de bons negócios não se repetem”, “é preciso aparecer”, “não quero ser ridículo”, etc.
Há virtudes particulares que os mundanos canonizam, como a bravura, o destemor, a habilidade, a política, a elegância, a sociabilidade, a arte de fazer amigos...
     Como todas essas considerações são contrárias à Divina Sabedoria! Que pensa o mundo da vida da graça, da intimidade com Deus, da renúncia de si mesmo, do desprezo dos bens materiais, do critério sobrenatural na apreciação de tudo, da divina loucura do sofrimento e da cruz!
Deveras, a “Sabedoria da carne é inimiga de Deus” (Rom 8,7)


As Vaidades do Mundo



Vaidade das vaidades, tudo é vaidade, exceto amar a Deus e só a Ele servir (Ecl 1,2).
A suma sabedoria é, pelo desprezo do mundo, caminhar para o reino dos céus.
E assim vaidade é buscar riquezas perecedouras e pôr nelas a esperança.
Vaidade é também desejar honras e desvanecer-se com elas.
Vaidade é seguir os apetites da carne e desejar aquilo por onde depois hás de ser gravemente castigado.
Vaidade é desejar vida larga, e cuidar pouco de que seja boa.
Vaidade é também olhar somente a esta presente vida, e não prever a que virá depois.
Vaidade é amar o que tão depressa passa, e não buscar com fervor a felicidade que sempre dura.
Lembra-te amiúde daquele provérbio: “Não se farta a vista de ver, nem o ouvido de ouvir” (Ecl 1,8).
Procura pois desapegar o teu coração das coisas visíveis e afeiçoá-lo às invisíveis, porque os que seguem o atrativo dos sentidos mancham sua consciência e perdem a graça de Deus.
Imitação de Cristo (Liv. I, cap. 1, 3 a 5)




    Excertos do livro: Consagração a Nossa Senhora - D. Antônio Maria A. Siqueira - Ed. Santuário - 6a. Edição 1982

    É possível fazer as meditações deste livro no A Alegria da Minha Juventude, observando que não apoiamos a transcrição e uso dos textos dos livros para fins lucrativos, e não possuímos esta finalidade.


    Quarta-Feira de Cinzas

    O Porquê das Cinzas...
    O uso litúrgico das cinzas tem origem no Antigo Testamento. Elas simbolizam dor, morte e penitência. A Bíblia conta a história de Jó e mostra seu arrependimento, quando ele se veste com um saco e se cobre de cinzas (Jó 42,6). Daniel, ao profetizar a captura de Jerusalém pela Babilônia, escreveu: "Volvi-me para o Senhor Deus a fim de dirigir-lhe uma oração de súplica, jejuando e me impondo o cilício e a cinza" (Dn 9.3). No século V antes de Cristo, depois da pregação de Jonas, o povo de Nínive proclamou um jejum a todos, se vestiram de sacos, inclusive o Rei, que sentou sobre cinzas (Jn 3.5-6). Estes exemplos demonstram a prática de se utilizar as cinzas como símbolo de arrependimento.
    No Novo Testamento, o próprio Jesus fez referência ao uso das cinzas. Ele disse as pessoas que não se arrependiam de seus pecados, apesar de terem visto milagres e escutado a Boa Nova: "Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem tido feitos, em Tiro e em Sidônia, os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo elas teriam se arrependido sob o cilício e as cinzas" (Mt. 11,21).
    E a Igreja, desde o inicio, continuou a prática do uso das cinzas com o mesmo simbolismo. Com o passar do tempo, o uso das cinzas foi adotado como sinal do início do tempo da Quaresma.
    Na liturgia atual da Quarta-Feira de Cinzas, utilizam-se as cinzas feitas com os ramos de palmas distribuídos no ano anterior, no Domingo de Ramos. O sacerdote abençoa as cinzas e as impõe na fronte de cada fiel, traçando o Sinal da Cruz. dizendo: "Recorda-te que és pó e em pó te converterás"(Gn 3. 19) e/ou 'Arrepende-te e crede no Evangelho".
    Durante a Quaresma devemos orar e refletir sobre o significado das cinzas que recebemos. O arrependimento sincero e o reconhecimento de que somos fracos, limitados e pecadores, nos faz humildes de tal forma que Deus Pai vem fazer morada em nosso coração através de seu filho Jesus. Ele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
    Faça um exame de consciência e veja o que precisa ser mudado em sua vida. Não tenha medo do que você vai encontrar ou descobrir a seu respeito. Lembre-se de que o Espírito Santo está sempre contigo. Peça à Ele fé, força e coragem para enfrentar as tribulações.
    A Quarta-feira de Cinzas dá início à Quaresma, que não é um tempo de tristeza. É um tempo para reflexão, oração, jejum, penitência, esmola e caridade, na firme esperança de uma mudança radical de vida, culminando na ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, na Páscoa, acontecimento que garantiu também a nossa Páscoa definitiva.
    Pe. Eduardo, S.J.

    Lembrando à todos que:
         Na Quarta-Feira de Cinzas, bem como também na Sexta-Feira da Paixão, a Igreja nos prescreve o jejum e a abstinência de carne (excetuando-se a carne de peixes)[1].
    jejum é fazer apenas uma refeição completa por dia, e se houver necessidade tomar mais duas refeições com quantidades menores que as refeições habituais. São obrigados ao jejum os maiores de 18 anos e menores de 60 anos [2]     
     A abstinência de carne é obrigatória aos maiores de 14 anos de idade.
    As pessoas gestantes ou doentes estão dispensadas dessas formas de penitência, o que não as impede de fazer uma outra forma de sacrifício (como por exemplo, comer algo menos saboroso no lugar de algo mais apetitoso, etc). 
    [1] Código de Direito Canônico, Cânon 1250 e 1251.
    [2] Código de Direito Canônico, Cânon 1252.


    Uma Boa e Santa Quaresma à todos!


    Se Preparando para a Quaresma


    Na linguagem corrente, a Quaresma abrange os dias que vão da Quarta-feira de Cinzas até ao Sábado Santo. Contudo, a liturgia propriamente quaresmal começa com o primeiro Domingo da Quaresma e termina com o sábado antes do Domingo da Paixão.

    A Quaresma pode se considerar, no ano litúrgico, o tempo mais rico de ensinamentos. Lembra o retiro de Moisés, o longo jejum do profeta Elias e do Salvador. Foi instituída como preparação para o Mistério Pascal, que compreende a Paixão e Morte (Sexta-feira Santa), a Sepultura (Sábado Santo) e a Ressurreição de Jesus Cristo (Domingo e Oitava da Páscoa).

    Data dos tempos apostólicos a Quaresma como sinônimo de jejum observado por devoção individual na Sexta-feira e Sábado Santos, e logo estendido a toda a Semana Santa. Na segunda metade do século II, a exemplo de outras igrejas, Roma introduziu a observância quaresmal em preparação para a Páscoa, limitando porém o jejum a três semanas somente: a primeira e quarta da atual Quaresma e a Semana Santa.

    A verdadeira Quaresma com os quarenta dias de jejum e abstinência de carne, data do início do século IV, e acredita-se que, para essa instituição, tenham influído o catecumenato e a disciplina da penitência pública.

    O jejum consistia originariamente numa única refeição tomada à tardinha; por volta do século XV tornou-se uso comum o almoço ao meio-dia. Com o correr dos tempos, verificou-se que era demasiado penosa a espera de vinte e quatro horas; foi-se por isso introduzindo o uso de se tomar alguma coisa à tarde, e logo mais também pela manhã, costume que vigora ainda hoje. O jejum atual, portanto, consiste em tomar uma só refeição diária completa, na hora de costume: pela manhã, ao meio-dia ou à tarde, com duas refeições leves no restante do dia.

    A Igreja prescreve, além do jejum, também a abstinência de carne, que consiste em não comer carne ou derivados, em alguns dias do ano, que variam conforme determinação dos bispos locais.

    No Brasil são dias de jejum e abstinência a quarta-feira de cinzas e a sexta-feira santa. Por determinação do episcopado brasileiro, nas sextas-feiras do ano (inclusive as da Quaresma, exceto a Sexta-feira Santa) fica a abstinência comutada em outras formas de penitência.

    Praticar a abstinência é privar-se de algo, não só de carne. Por exemplo, se temos o hábito diário de assistir televisão, fumar, etc, vale o sacrifício de abster-se destes itens nesses dias. A obrigação de se abster de carne começa aos 15 anos. A obrigação de jejuar, limitando-se a uma refeição principal e a duas mais ligeiras no decurso do dia, vai dos 21 aos 59 anos. Quem está doente (e também as mulheres grávidas) não está obrigado a jejuar.

    "Todos pecamos, e todos precisamos fazer penitência, afirma São Paulo. A penitência é uma virtude sobrenatural intimamente ligada à virtude da justiça, que dá a cada um o que lhe pertence: de fato, a penitência tende a reparar os pecados, que são ultrajes a Deus, e por isso dívidas contraídas com a justiça divina, que requer a devida reparação e resgate. Portanto, a penitência inclina o pecador a detestar o pecado, a repará-lo dignamente e a evitá-lo no futuro.

    A obrigatoriedade da penitência nasce de quatro motivos principais, a saber:
    1º. - Do dever de justiça para com Deus, a quem devemos honra e glória, o que lhe negamos com o nosso pecado;
    2º.- da nossa incorporação com Cristo, o qual, inocente, expiou os nossos pecados; nós, culpados, devemos associar-nos a ele, no Sacrifício da Cruz, com generosidade e verdadeiro espírito de reparação.
    3º.- Do dever de caridade para com nós mesmos, que precisamos descontar as penas merecidas com os nossos pecados e que devemos, com o sacrifício, esforçar-nos por dirigir para o bem as nossas inclinações, que tentam arrastar-nos para o mal;
    4º.- do dever de caridade para com o nosso próximo, que sofreu o mau exemplo de nossos pecados, os quais, além disso, lhe impediram de receber, em maior escala, os benefícios espirituais da Comunhão dos Santos.
    Vê-se daí quão útil para o pecador aproveitar o tempo da Quaresma para multiplicar suas boas obras, e assim dispor-se para a conversão.

    Segundo os Santos Padres, a Quaresma é um período de renovação espiritual, de vida cristã mais intensa e de destruição do pecado, para uma ressurreição espiritual, que marque na Páscoa o reinício de uma vida nova em Cristo ressuscitado.

    A Quaresma tem por escopo primordial incitar-nos à oração, à instrução religiosa, ao sacrifício e à caridade fraterna. Recomenda-se por isso a frequência às pregações quaresmais, a leitura espiritual diária, particularmente da Paixão de Cristo, no Evangelho ou em outro livro de meditação.

    O jejum e abstinência de carne se fazem para que nos lembremos de mortificar os nossos sentidos, orientando-os particularmente ao sincero arrependimento e emenda de nossos pecados.

    A caridade fraterna — base do Cristianismo — inclui a esmola e todas as obras de misericórdia espirituais e corporais.

     Missal Romano


    ~*~*~*~  ... relembrando ...

    Quarta-feira de Cinzas: jejum e abstinência obrigatórios.
    Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor: jejum e abstinência obrigatórios.
    Demais dias da Quaresma, exceto os Domingos: jejum e abstinência parcial (carne permitida só na refeição principal/completa) recomendados.
    Dias assinalados pelo calendário antigo como Sextas-feiras das Têmporas: jejum e abstinência recomendados.
    Dias assinalados pelo calendário antigo como Quartas-feiras das Têmporas e Sábados das Têmporas:jejum e abstinência parcial recomendados.
    Demais sextas-feiras do ano, exceto se forem Solenidades: abstinência obrigatória, mas não o jejum. Essa abstinência pode ser trocada, a juízo do próprio fiel, por outra penitência, conforme estabelecer a conferência episcopal (no Brasil, a CNBB estabeleceu qualquer outro tipo de penitência, como orações piedosas, prática de caridade, exercícios de devoção etc).

    a partir de texto base de Dom Eugênio de Araújo Sales, Arcebispo emérito do Rio de Janeiro



    Façamos Dignos Frutos de Penitência


    Uma Boa e Santa Quaresma à todos os leitores!

    Lembretes às Filhas de Maria


    "A beleza se não for temperada pela Modéstia é uma provocadora dos ape­tites animais, que mui facilmente atacam a fortaleza da alma e a derribam em pou­co tempo"("O Decênio Crítico", por um Assistente da Ação Católica, Cap. IV, Art. II, a).

    Santo Agostinho diz às virgens cristãs: "Fugi da companhia e da palavra das mu­lheres, cuja doutrina não é conforme ao Evangelho e cuja vida é por qual­quer forma digna de censura".

    "Comporta-te com a Modéstia e a reserva que terias se contigo esti­vessem Je­sus e Ma­ria!"("Imitação de Maria", por um religioso anônimo, Liv. II, Cap. XXVIII).

    "Uma recomendação particular a vós, meninas. Sede sempre modes­tas no ves­tir, no porte e no falar; modestas em tudo, para não serdes nunca motivo de es­cândalo para ninguém. Não imiteis certas jovens descaradas, que, talvez mes­mo sem pensar, le­vam uma vida que, por le­viandade de trato, é inteiramente escanda­losa e causa de tantos pecados"(Teólogo Giuseppe Pe­rardi, "Novo Manual do Cate­quista", Part. II, n. 199).

    "A mais resplandecente pérola de uma jovem é a Modéstia, guardai-vos, pois, no vestir, no olhar, no andar, na cabeça e em todo o corpo, em casa e fora de casa; sempre e por toda a parte res­plandeça em vós esta virtude.

    São Paulo, recomendando aos fiéis a Modéstia, diz-lhes: 'Que a vossa Mo­déstia seja conheci­da de todos os homens, pois o Senhor está junto de vós'.

    A donzela vaidosa é uma enviada do Demônio, porque a vaidade é mais que irmã da impu­reza, é sua mãe"(Manual da Pia União das Filhas de Maria, Cap. IV, "5ª regra para todo o tempo", 5º Ponto, pp. 122-123, traduzido do italiano pelo Côn. Dr. Ana­nias Corrêa do Amaral, 11ª edição, Porto, 1926).

    Ao levantar-vos "vesti-vos com toda a Modéstia... À noite... despi-vos com toda a Modéstia, pensando na presença de Deus e do Anjo da Guarda, pois que, essa noite pode­rá ser a última da vossa vida, e perguntai a vós mesma: Onde apa­recerei de manhã? Con­tinuarei neste mundo como até aqui, ou aparecerei na Eter­nidade? E será no Céu ou no In­ferno?"(Manual da Pia União das Filhas de Maria, Cap. IV, "1ª regra para todos os dias", 2º e 9º Ponto, pp. 114-118, Porto, 1926).

      
    Ouveó Filhao que tenho para te dizer: 


    "Deves, é verdade, apresentar-te em sociedade; mas deves ter o cuida­do de es­tares di­ante dela dignamente. Ao estares em público, cuida que seja com Modés­tia. Apren­de de Mim tão bela virtude, porque ela te será muito necessária.

    De tal maneira tratei com as pessoas, que ninguém nunca Me olhou sem edificar-se extra­ordinariamente. Nem fui jamais imodesta nas palavras, nem imode­rada no tom de voz, nem fala­deira, nem licenciosa no andar. Nada, enfim, houve de indecoroso em Meus gestos, nem de car­rancudo em Meu olhar, nem de mal-humo­rado em Meu semblante. Em Meu convívio e conversação brilhou sempre como num espelho o esplendor da Castidade e Formosura da virtude.

    A mesma beleza de Meu corpo não foi senão uma irradiação fulgurante do Meu modesto Coração e imagem do decoro.

    Nunca ninguém teve nenhum mal pensamento vendo-me passear, re­zar, co­mer ou traba­lhar. Antes, quantos Me viam, moviam-se à edificação e ao lou­vor de Deus.

    Minha beleza, que foi extraordinária, exalava inocência e odor de Cas­tidade.

    Nunca profiras palavras imorais, porque matam a alma. Deixa de zom­barias e de piadas; de que te serve que os outros dêem risadas, se ofendes a Divi­na Ma­jestade na pessoa do teu ir­mão a quem maltratas?

    Não te distraia olhando aqui e acolá, porque isso mostra o vazio e a vaidade de teu cora­ção. Sejas moderada no teu andar, como o fazem as pessoas que vivem na presença de Deus. Não levantes muito a tua voz, nem dê fortes gar­galhadas; mas a graça da Modés­tia envolva sempre o teu semblante.

    Corrigirás melhor aos maus com a tua Modéstia do que com a abun­dância de tuas pala­vras. Se tiverdes de falar, sejam as tuas palavras como anzóis com que prendas à pie­dade aos maus que te escutarem. Sede afável com todos, e os ganha­rás a todos para Deus.

    Se todos aqueles que te virem se regozijarem e bendizerem ao Eterno Padre que está nos Céus, e os maus se comportarem na tua presença, então crê, fi­lha Mi­nha, que a Modéstia está em ti como a tocha que ilumina e vivifica. Imita-Me"("De la imitacion de la Bie­naventurada Virgem Maria Nuestra Señora", por un monje premons­tratense, Cap. III, pp. 176-177, nueva edición, Madrid, 1926).


    Ao preparar-se para vestir-se
    "Ó Deus, meu Deus, vigiando, por Vós suspiro desde o al­vor da luz" (Salm. 62)


    "Oh! Se pudesse vestir-me das virtudes que me faltam! Que fiz eu da­quela veste cândida, tão formosa e pura recebida com a inocência batismal? A per­di pelo peca­do! Mi­sericórdia e per­dão, ó meu Deus!

    E a preciosa veste da Graça Santificante, como a tenho guardado? Es­tas vestes que trago estão de acordo com meu estado, meu título de Filha de Ma­ria, estão dentro das Leis da Modéstia?

    Quando o meu Jesus, depois da cruel Flagelação retomou os seus vesti­dos, que padeci­mento o Seu, recobrindo aquelas Chagas, sofrendo em todo o Seu Cor­po! Ao lem­brar-me disto, poderei ainda ceder à vaidade? Dia virá, no qual, por outrem, hei de ser ves­tida e preparada para a sepultura... e nunca eu penso nis­to... Naquela hora, as vestes as mais simples e modestas me hão de bastar; por que, então, agora tan­ta ambição e vaida­de?

    Desejo tanto e procuro que meu traje sejam bons e bem tratados; por que não terei o mes­mo cuidado com as vestes de minha alma? a Graça, o Amor Di­vino, as santas virtu­des?

    'Senhor, purificai-me, lavai-me dessas iniquidades;

    libertai-me inteiramente do meu pecado' (Salm. 50).



    Tenho tão grande cuidado com o meu corpo e minhas mãos... quando dei­xarei de manchar a minha alma com o pecado? No Céu estarei pura, resplandes­centeisenta de qualquer mancha. Que felicidade!

    O Rosto do meu Jesus foi conspurcado e tão maltratado durante a Sua Pai­xão; to­mei parte nesses tormentos com os meus pecados contra a santa virtu­de.

    Tende compaixão de mim ó meu Deus segundo a Vossa grande misericór­dia e bondade!

    Minhas mãos, agora que estais limpas, erguei-vos ao Céu. Meu Deus Vós sois o meu tudo. Ó Maria Santíssima, Rainha concebida sem Pecado Original, ro­gai por nós"(Fr. Antonino do Sagra­do Coração de Maria, O. C. D., "Sursum Corda", pp. 15-17).

    "A Moda é caprichosa e nos seduz, mas é preciso que o bom senso nos guie para não cairmos no ridículo. Se uma moça não quer chamar a atenção sobre si, deve guardar a justa medi­da. A coquetterie demasiada é perniciosa, pois, é a es­tima excessiva de si mesma. Hoje é Moda o artifício e já passou pela censura dos catões mais severos! Fazer-se bela não é pecado, é antes agradável a si e aos ou­tros, o único mal daí é o exage­ro. O exagero desmedido parece uma provo­cação, um cartaz para afixar os encantos que se ostentam! O excesso de artifício tor­na feia a moça, tira-lhe a graça da naturalidade. Se a Moda é contra a Moral Cristã, que é a Moral da socie­dade sã, deve abster-se de usá-la a moça que se pre­za, a que quer ser respeitada. No vestuário, consultem mais a consciência do que o es­pelho. A consciência é amiga, o espelho é sempre lison­jeador"(Maroquinha Ja­cobina Ra­bello, "Carta às Moças", 5ª Cart., pp. 37-42, 1941).

    "A cristã que existe dentro de ti, leitora, tem umas perguntas a te fazer. Po­des respon­der-lhe bem baixinho, mas com toda a sinceridade. Ei-las:

    Admites que na tua toilette possa haver um problema moral; que ela inte­ressa não só à modista, mas também à Igreja?

    Em caso de intervenções Eclesiásticas, tomas a atitude de filha confi­ante e sub­missa?

    Admites que ela, tornando-te mais elegante, pode tornar-te também mais provocan­te, mais tentadora? E assim se converte numa das formas de escân­dalo?

    Dá-lhe demasiado tempo e dela fazes uma grande preocupação?

    Dá-lhe uma verba roubada à caridade, à justiça (costureiras que não são pagas!), às preci­sões da Religião?

    Admites que a liberdade de seguir as Modas tem limites nos quais se en­contra com o pu­dor alarmado?

    − bem baixinho vai à pergunta − quando notas a responsabilidade de que estás perturbando os outros, te desculpas, dizendo: Por que olham para mim?

    Não és uma herege da Palavra do Senhor, ao garantir que é impossível agradar a dois se­nhores, ao mesmo tempo, ao mundo e a Deus?” (R. Pe. Geraldo Pi­res de Souza, C. Ss. R., "Audi, Fi­lia!", Cap. XIX, 6, Ed. Vozes, 1938).


    Reflexão para antes de dormir


    "Talvez eu morra esta noite. Quem me assegura o contrário? Quantos que morreram im­previstamente em pecado, e do leito se precipitaram no Inferno? Quem sabe será esta para mim a última noite da minha vida? O que seria de ti, ó minha alma, se tal aconte­cesse? Em que estado de alma te encontras? Na Graça, ou, em pecado mortal?" (Manual da Pia União das Filhas de Maria, ob. cit., Cap. IV, p. 144).



     Memorial das Donzelas Cristãs e
    de um modo especial das Filhas de Maria


    "Será ele para ti, ó donzela, a lâmpada que ao principiar o dia te alumiará para segui­res até Deus, e a voz do Anjo da Guarda, que à noite te dirá: 'foste fiel, descansa em paz, Deus está contente contigo', ou talvez: 'esquecestes os teus deve­res, pede perdão a Deus, des­cansa ainda em paz e amanhã os cumpre melhor'.


     O que devo fazer para com Deus


    OraçõesNão apressadas, mas com recolhimento e constantes; sossega­das, serenas, resigna­das; simples, humildes, com confiança; sempre respeitosas e o mais possível afetuosas.

    Submissão: Ao meu estado e ao meu dever, vêm de Deus e me são im­postos por Deus; me unem a Deus; desprezá-los, é afastar-me do meu Deus.

    Ao guia da minha almadepois de muito bem escolhido e no que a ela res­peita: tem a luz de Deus; vem-lhe de Deus a bondade; mandará em Nome de Deus.

    À meus pais: eles têm a Autoridade de Deus.

    Aos acontecimentos: são permitidos, preparados e enviados por Deus.

    TrabalhoComeçado com alegria; continuado constantemente; interrom­pido só por necessidade e logo recomeçado com resignação.

    Descanso e cuidado do corpo: Sob a vista de Deus; sob a guarda de Deus.

     O que devo fazer para com o próximo

    Dar bom exemplo: Pelo meu porte modesto e simplicidade dos meus vesti­dos, lim­pos e gra­ves, ao mesmo tempo que graciosos, próprios da minha idade e condi­ção, mas nunca respirando qual­quer imodéstia nem vaidade.

    Por meus modos afáveis e delicados, mas sempre cautelosos e sempre receo­sos.

    Por minha fidelidade em cumprir o que me é ordenado por quem tem autorida­de para isso.

    Dizer boas palavrasDe zelo, sem afetação; de incitamento à virtude e às obras de Deus; de consolação; de paz; de alegria; de amizade. Tudo isto é possível fazer quase todos os dias.

    Fazer boas obras através: Dos serviços prestados; por minhas es­molas; por san­tas ações para fazer o bem, para levar os outros à frequência dos Sacra­mentos; por minha in­fluência, para desviar do vício e fazer praticar a virtude.

    Do mal reparado: desculpando, justificando, protegendo, defendendo, ocul­tando faltas e esque­cimentos e, se for possível, reparando-os.

    Das alegrias procuradas: ao espírito, por justas e santas consolações espiritu­ais; aocoração, por um efetivo reconhecimento para com Deus; à alma, por uma pa­lavra do Céu.

     O que devo fazer para com a minha alma

    Devo ter coragem: Nas contrariedades e provações; nos desassos­segos, nas do­enças, nos insucessos, nas humilhações.

    Nos aborrecimentos que aparecem sem causa conhecida.

    No mau humor que nasce em mim, e que evitarei para não fazer sofrer os ou­tros.

    Nas faltas cometidas, para me levantar e as reparar depressa.

    Nas tentações, para repeli-las energicamente, mas sem me perturbar.

    Devo ter ordem e regularidade: Nas ocupações: cada uma a sua hora.

    Nas distrações lícitas, para não gastar nelas demasiado tempo.

    Nos objetos materiais que são do meu uso.

    Devo renovar constantemente: Os pensamentos piedosos lidos, refleti­dos e al­gumas vezes escritos.

    As leituras proveitosas, profundas, elevadas, excitando ao amor do belo por ex­celência e do bem infinito, Deus.

    As conversas sobre coisas santas, que reanimem, aumentem e renovem a pie­dade e o fervor.

    Os passeios que descansem o espírito, fortificando o corpo"(Manual da Pia União das Filhas de Maria, ob. cit., Cap. IV, pp. 147-150).




    Espelho da Donzela Cristã


    Em casa ─ recatada e nunca ociosa.

    Na igreja ─ Anjo reverente.

    Com o próximo ─ complacente.

    Na conversação ─ moderada.

    No olhar ─ modesta.

    No pensar ─ refletida.

    No andar ─ grave e sossegada.

    No vestir ─ modesta e humilde.

    Nos trabalhos ─ a primeira.

    Nas leituras ─ receosa.

    Na companhia ─ afável.

    Com os homens ─ cautelosa.

    Com os Sacerdotes ─ respeitosa.

    Com os inferiores ─ aprazível.

    Na mesa ─ sóbria.

    Na cama ─ composta. 


    O Bom Gosto da Donzela Cristã


    O vestido mais belo ─ a candura do Batismo.

    O melhor alimento ─ a Comunhão.

    A melhor bebida ─ a água viva.

    O desporto preferido ─ a genuflexão.

    O melhor passeio ─ entrar dentro de si.

    O meu melhor amigo ─ o meu Anjo da Guarda.

    A minha melhor joia ─ o meu terço.

    A minha propriedade ─ o meu túmulo.

    A minha aspiração maior ─ salvar as almas.

    O meu fim ─ Jesus no sacrário.

    A minha alegria ─ a Virgem Maria.

    A minha tristeza ─ a perda das almas.

    O meu melhor perfume ─ o incenso.

    As minhas cores preferidas ─ a pureza e o amor.

    Em tudo ─ um olhar à Virgem Maria.


     Duas Advertências de São Felipe Nery


    Filha, não te sobrecarregues com muitas devoções; porém, escolhe as que pu­deres desempe­nhar com exatidão.

    Filha, por amor do Céu, e se não queres chorar todo o resto da tua vida, escuta: para bem escolheres o teu estado, são necessárias três coisas, a saber: tem­po, con­selho e ora­ção.

    Tempo para não fazeres as coisas com precipitação; conselho dos pais e do Confessor, des­confiando sempre das tuas luzes; enfim, oração, porque se trata de um negócio de suma im­portância, do qual depende a tua salvação.

    Finalmente, ó filha, procura que em todas as circunstâncias e em todos os tem­pos habi­tem Je­sus e Maria na tua mente, na tua boca e no teu coração (ob. cit., p. 129).


     Decálogo da Filha de Maria

     

    Leis de conduta moral, dadas por S. Em. D. Sebastião Leme,
    na Assembléia Geral do "dia da Filha de Maria"
    da Arquidiocese do Rio de Janeiro,
    em 22 de Agosto de 1937.

    1 ─ Piedade e vida interior: A Filha de Maria, onde quer que se apresente, deve ser reconheci­da pelo seu porte exterior de distinção e modéstia, reflexo de uma pie­dade sólida e de vida interior profun­da.

     Fervor Eucarístico: A piedade e a vida interior da Filha de Maria de­vem ali­mentar-se com a devoção fervorosa à Santíssima Eucaristia, concretizada principalmen­te, pela assistência à Missa e pela Comunhão frequente, e, si possível, diária.

     Devoção terníssima à Maria: Pela devoção terníssima que deve con­sagrar à sua Mãe do Céu, a Filha de Maria não deixará passar nenhuma Festa de Nossa Se­nhora sem esme­rado preparo e condigna celebração.

    ─ Devoção dos Sábados: A devoção dos Sábados, tradicionalmente consa­grados pela pieda­de católica ao culto da Virgem Maria, ocupará um lugar de destaque na vida espiritual da Filha de Maria.

     Ação Católica: No exercício pacífico da Ação Católica, cada Filha de Maria deve procurar obter um lugar de honra, quer pela sua formação primorosa, quer pela in­corporação numa das suas duas organizações fundamentais femininas.

    6 ─ O amor à Igreja e ao Papa: A Filha de Maria não cederá a ninguém o prima­do do amor à Igreja e a submissão filial ao Papa e às Autoridades Eclesiásticas.

    7 ─ Diversões e Modas: Na sua atitude em face das diversões modernas, das modas e leituras, a Filha de Maria lembrar-se-á sempre das altas exigências de sua emi­nente dignidade cristã.

    ─ Praias e Banhos: As praias de banho não serão frequentadas pela Fi­lha de Maria em trajes, horas e companhias incompatíveis com a Modéstia Cristã.

    ─ Cassinos: As responsabilidades de perfeição individual e de bom ex­emplo interdi­zem à Filha de Maria a frequência dos Cassinos e reuniões similares.

    10 ─ Rádios: O cuidado com a conservação de suas virtudes exige que a Filha de Maria não sin­tonize para as estações emissoras em horas de programas pouco es­crupulosos e incon­venientes.
      

     A Madrinha de Santa Teresinha

    A irmã mais velha de Santa Teresinha, Maria Luísa Josefina (Soror Maria do Sagrado Coração), em sua infância e juventude, “sempre ciosa de sua liberdade, não lhe agradava a moda feminina da época; ficava irritada e chorava, até, quando a queriam vestida com esmero;... dizia ela, 'todavia, nesse desprezo de toda faceirice devia haver orgulho secreto, pois, o orgulho se imiscui em toda parte, mesmo no que parece ser humilhante. Quando punha um vestido novo, isso era para mim um verdadeiro suplício' (Circular da Madre Inez de Jesus)” (“A Madrinha de Santa Teresinha”, Prefácio, p. 11, Editora Vozes Ltda, 1942)