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24 de Março - Mês Dedicado a São José

Vai São José com a Virgem e seu Filho a Jerusalém;
Fica o Menino Jesus oculto no templo três dias;
No fim deles, acham-no disputando com os doutores e recolhem-se a Nazaré

FONTE

            Como religioso observador da Lei, ia todos os anos o gloriosíssimo São José ao Templo de Jerusalém celebrar as solenes festividades, que Deus instituíra no povo de Israel; e, ainda que este preceito não obrigava as mulheres, a piedosíssima Virgem sempre acompanhava, nestas romarias a seu Santo Esposo.
            Contava já o Menino doze anos de idade; e, levando-o seus santíssimos pais consigo para assistir à Festa da Páscoa, que era das mais solenes que se faziam, acabados os sete dias daquela sagrada função, retiraram-se para Nazaré São José e a Virgem Maria, cada um em grupo diferente, e imaginavam que Jesus, como era costume dos mais meninos, viria na companhia de um deles; de sorte que à Virgem Maria parecia-lhe, por uma conjectura provável, que seu amado Filho viria com São José, e este julgava que teria vindo com a Virgem; o Menino, porém, deixou-se ficar em Jerusalém.
            Tinham andado os Divinos Esposos a distância percorrida em um dia, até que chegando à pousada, onde se haviam de ajuntar todos, procurando ao Menino, não o acharam. A aflição e sentimento, que o Santo Patriarca e sua Divina Esposa tiveram na perda de seu Filho Santíssimo, foi imensa. Esta pena foi uma das espadas, que Simeão lhe havia profetizado que transpassaria seu coração. Foi tão cruel este tormento, que, não podendo expressá-lo o Evangelista com palavras, usara de enfáticas admirações.
            Com toda a diligência tratou logo o Santo de procurar o Menino, correndo por uma e outra parte, cheio de grande pena, lágrimas e fadiga; e houvera chegado sua vida a manifesto perigo, se a mão do Senhor o não confortara e a prudentíssima Virgem o não consolasse e persuadisse a descansar algum pouco; porque o verdadeiro e grande afeto, que São José tinha ao Menino Deus, o incitava, com veemência, a buscá-lo, sem se lembrar de alimentar a vida, nem socorrer a natureza debilitada, e isso por espaço de três dias em que o procurou.
            Depois de três dias contínuos de amarga ausência e diligente desvelo, buscando São José e Maria Santíssima o inocente Cordeiro de Deus, já na sua pátria, já entre os amigos e parentes, tornaram, enfim, a Jerusalém, e, por indícios, foram achá-lo no Templo, sentado no ínfimo degrau e sobre as esteiras do pavimento, entre os Doutores da Lei, como era costume, disputando matérias concernentes à vinda do prometido Messias, combinando com tanto acerto e magistério as Profecias e Escrituras referentes às condições dos seus diferentes Adventos, que causava admiração aos mais sábios e soberbos Rabinos.
            Chegaram nesta ocasião os aflitos pai, e, absortos ambos com a amável presença de seu querido Filho, foi incomparável o gozo e alegria, que receberam aqueles dois magoados corações; não há palavras que possam explicar bem o contentamento que tiveram. Esperaram que se acabasse a controvérsia e desfizesse o maior concurso; então, talvez ouvindo a muitos gabar a habilidade do Menino e vendo a outros o abraçarem, chegando-se a Virgem a ele, lhe disse: Filho, que é isto, que nos fizestes? Vosso pai e eu aflitos e lastimados vos andamos buscando até agora.
             A Virgem soberana, que sabia muito bem haver concebido do Espírito Santo, deu a seu esposo São José o nome de pai de Cristo, não só para o honrar como cabeça de sua casa, mas, porque, nomeando-o de outra maneira entre os que tinham a Cristo por Filho natural de São José, não o julgassem por espúrio. Tão grande estima fazia de São José, seu santo esposo, a Rainha do céu, que nem ainda no nome se lhe antepunha. Recolhendo-se, finalmente, para Nazaré, alegres e contentes com o Menino, a Senhora o levava pela mão da parte direita e São José da parte esquerda, como receando que do Menino se tornassem a perder outra vez.
            Sucintamente prossegue o Evangelista São Lucas esta história, pois, diz, nestas poucas palavras, que a Virgem e seu Esposo voltaram para Nazaré com o Menino, e que ele vivia sujeito e obediente às determinações de seus pais. São Bernardo, suspenso na desigualdade infinita desta obediência de Cristo, exclama e diz: “É possível que Deus, a quem os Anjos e todas as Potestades obedecem, esteja sujeito a Maria, e não só a Maria, mas também a José?! Admirai destes dois prodígios qual quiserdes, ou a profundíssima benignidade do Filho de Deus, ou dos pais venturosos o altíssimo privilégio. De uma e outra parte na há senão pasmar”.
            Atônito de tão admirável resignação, exclama também o grande Cancellario de Paris: “Aquele Deus, a cuja presença se inclinam os mais eminentes Santos da Igreja triunfante; aquele que é só e único Senhor do Universo, este (oh maravilha!) se inclina, serve e corteja, de noite e de dia, no dilatado progresso de trinta anos, a quando e quanto quer?! Mas não é muito de admirar que Jesus Cristo quisesse fazer-se súdito de São José e de Maria Santíssima, com ser o mesmo Senhor do céu e da terra, se veio ao mundo para exclamar da obediência e humildade.
            De tal sorte, obedecia o Filho de Deus a São José, e estava sujeito ao seu mandado, como Filho obediente a seu pai, que, quando o Santo dizia, ou lhe mandava fazer alguma coisa, logo ele a executava, porque de tal maneira trazia oculto o poder da sua Divindade, que o não descobria. Confirma este inefável domínio da parte do pai e obediência do Filho o que se lê na história dos Católicos Orientais: “Eu (dizia Cristo) conversava e tratava com José em tudo, como se fora como seu Filho semelhante a ele, e assim lhe obedecia como os filhos obedecem a seus pais, sem nunca transgredir na mínima palavra, amando-o tanto como a menina dos meus olhos”.
            O mesmo afirma São Bernardino de Sena, dizendo que São José publicamente se havia e portava com Cristo nas ações, no trato e no domínio, e Jesus na obediência e sujeição, como se ele fora verdadeiro pai de Cristo, e Cristo seu Filho verdadeiro. Estava-lhe o Menino tão obediente, pondera outro autor, e tratava a seu pai com tanta reverência, que, quando o Santo o mandava a algum recado, ou comprar alguma coisa, ao voltar para casa, se punha de joelhos e lhe pedia a mão para beijá-la. Recusava-o São José com grande humildade, e instava o Menino, dizendo que viera ao mundo dar exemplo e ensinar como deviam ser tratados e servidos os pais. Então, estando o Menino de joelhos, o ditosíssimo São José com grande respeito e tremendo, lhe dava a mão, e o Divino Infante a beijava. Oh! Excesso de profunda humildade e obediência de Jesus Cristo!
            Tanta era a veneração e respeito, que o Filho de Deus, feito homem, tinha ao ditoso São José, que a título de sujeição filial, quando lhe falava, era sempre inclinando a cabeça com grande reverência e acatamento, e lhe falava sempre com meia inclinação; São José, porém, como verdadeiramente conhecia quanto Jesus lhe era superior, não deixava também de lhe falar com temor e reverência. Esta sujeição e obediência, que o Menino tinha a São José, foi, certamente, a suma das suas grandezas e de suas honras, pois não pode cogitar-se maior sublimidade, que obedecer a um homem aquele a quem obedecem todas as coisas do Universo.
            Cresce a glória e a honra de São José, dizendo-nos muitos Santos e Varões pios, não sem profunda admiração, que, no exercício da sua arte, o ajudava também Cristo para ganhar o sustento cotidiano, serrando, ou preparando madeiras aquele mesmo artífice que fabricou o Universo com uma só palavra, e que, depois, segundo a ponderação de Vieira, ajuntava e levava os cavacos à Mãe, para que dos suores de ambos guisasse o de que se haviam de sustentar todos três.
            E ainda que alguns quiseram negar esta honra ao venturoso São José, o mais provável foi que o Senhor, unindo a via contemplativa com a ativa, servia de grande adjutório a seu pai na laboriosa ocupação do seu ofício, já lhe dando o formão, a encho, a serra e o martelo, ou outros quaisquer instrumentos do seu ministério, como Filho submisso e natural de São José no conceito dos que ignoravam o Mistério da Encarnação, e assim fazer outras coisas próprias à sua pessoa, para que também tivessem parte no trabalho do nosso Santo as mãos sacrossantas do que fabricou os céus e sustenta com três dedos a maquina do mundo, sem que isto o pudesse distrair da contemplação celestial em que andava continuamente.
            Os que vos viram, Senhor, na oficina de São José, obedecendo-lhe como seu Filho, e ajudando-o no seu trabalho a serrar e aplainar madeiras, vos desprezariam por serdes filho de um carpinteiro e oficial do mesmo ofício; mas essa ocupação não era nova para vós, porque havia anos que tínheis recomendado aos vossos Profetas o ofício de aplainar e cortar o áspero e supérfluo dos homens para se poderem ajustar com lisura de Deus; mas porque vistes o pouco, que aproveitaram eles, viestes a exercer o mesmo trabalho, e fazer o que víeis fazer a vosso pai. Agistes como Filho de homem o mesmo que dissestes como Filho de Deus.
            Eu não duvido, diz São Bernardo de Salles, que os Anjos absortos de admiração viessem, em formosas turmas, a considerar e admirar o Divino Menino na pobre oficina de São José, onde exercitava seu ofício para sustentar o Filho e a Mãe, que lhe estavam confiados. Esta companhia e assistência dos Anjos é mui conforme ao que também escreveu a Venerável Madre de Ágreda, donde é natural, que, vendo-se o Menino entre aqueles instrumentos e madeiras do seu ofício, começasse a notar não só progresso da sua Paixão, mas os danos, que havia de pagar naquele doce Lenho da Cruz, em desconto da desobediência de Adão na árvore do Paraíso; assim o canta a Igreja.
            Não causaria menor admiração aos Anjos, nem deixa menos absortos aos entendimentos humanos, considerando, segundo o revelou a Senhora a Santa Brígida, não só a Cristo ajudando nas ocupações fabris a São José, mas também administrando à sua mesma pessoa; e assim não se desprezaria de lhe dar águas às mãos, administrar-lhes a toalha para se enxugar, e chegar-lhe o banco para se assentar à mesa, usando o venturo Santo da política Divina do Pai Eterno, o qual, dando no céu a seu Unigênito o lugar da destra, como diz Davi no Salmo 109, é crível que São José, sentando-se à mesa, daria o mesmo lugar a Jesus Cristo, dizendo-lhe: Filho, sentai-vos à minha mão direita.
            Quem se não admira, pois, de tal grandeza e dignidade que São José, homem mortal, tivesse a Cristo verdadeiro Deus por seu súdito, e ele obedecesse aos seus preceitos como a verdadeiro pai, participando, cada vez mais intensamente, dos incomparáveis favores, que lhe comunicava tão celestial companhia? Por isso, se fora São José arrebatado ao céu, e lá estivesse entre os coros dos Anjos, ouvindo-lhes cantar pelo espaço de trinta anos louvores a Deus, não aproveitaria mais do que se utilizou, ouvindo a Cristo e a Maria Santíssima em todo o tempo, que com eles viveu no mundo.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927

23 de Março - Mês Dedicado a São José

Retira-se São José do Egito com a Virgem e o Menino, e voltam para Nazaré

FONTE

               Havendo-se completado aquele misterioso desterro da Sagrada Família no Egito pelo espaço de sete anos e tendo fim as crueldades de Herodes na perseguição do Filho de Deus com a morte infame de Rei tão ímpio, apareceu o Anjo a São José, estando ainda no Egito, e lhe disse que, levando consigo ao Menino e sua Mãe, voltasse outra vez para as terras de Israel, porque já eram mortos os que o perseguiam.
            Determinou logo São José partir com a sua amada Família, e nesta disposição de jornada se descobre uma grande excelência do nosso Santo, pois, sendo o Menino Jesus verdadeiro Deus e sua Santíssima Mãe tão superior em santidade a São José, não quis o Altíssimo que a disposição desta jornada para a Galileia viesse do Filho nem da Mãe, e sim da sábia providência de São José, como cabeça de família.
            Preparou-se, pois, São José para a viagem. Mas antes que prossigamos, é para ponderar as saudades que causaria esta ausência aos egípcios, seus vizinhos e conhecidos, que, por tantos anos, gozaram da amável presença e companhia de Jesus, Maria e José, e a quem o Santo havia alumiado com os raios da sua doutrina, declarando-lhes, no seu próprio idioma, como quem tinha o dom das línguas, muitas coisas da verdadeira Religião, e dispondo-os para receber a Fé de Cristo com o seu exemplo, como é provável!
            Despedidos, finalmente, os Divinos Forasteiros, começaram a experimentar nesta nova jornada novos trabalhos e tribulações. Oh! Quantas vezes conhecia São José, por aqueles ermos da Palestina, que o Menino Jesus ia com fome, e ele, desprovido de pão, atravessava o bosque para tirar de suas árvores algum fruto silvestre, com que pudesse alimentá-lo! Quantas vezes, entre os ardores e durezas de tão inclemente clima, ia o Menino estalando à sede, e, achando-se distante dos rios, corria ao cimo dos montes para ver se achava nos cálices das plantas alguma água com que o pudesse saciar!
            Muitas vezes ia o Menino tão fatigado, que não podia dar um passo; então São José, tomando-o nos braços ou sobre seus ombros, qual outro Atlante, o levava grande espaço de caminho, parecendo-lhe que só ia descansado, quando lograva o excessivo gosto de que não penasse o Menino; e, quando ele assim caminhava nos braços de São José, iam ambos mais seguros, pois, à vista de tanta piedade, até o irracional e o insensível lhe dariam passo obsequioso, e, reverentes, se apartariam os perigos.
            Algumas vezes, apanhou-os a noite em solitária charneca, e São José, cuidadoso aio de Jesus e de Maria, compunha com sua roupa um pequeno pavilhão para os cobrir e abrigar do rígido sereno. Este era o desvelo, com que São José, verdadeiro Anjo da guarda de Jesus, guiava e guardava aquelas duas preciosíssimas prendas celestes, que Deus lhe confiara.
            Chegando os Celestes Peregrinos ao Reino de Israel, que estava dividido em várias Províncias e Governos, encaminhava São José a sua derrota para Jerusalém, ou por entender ser mais conveniente ao Filho de Deus, que vinha comunicar-se aos homens, o habitar na principal e mais populosa cidade, ou porque, estando próxima a Festa da Páscoa, quisesse ir assistir a ela no Templo e render a Deus as graças pela mercê que lhe fizera de o aliviar daquele degredo do Egito.
            Ouvindo, porém, dizer que, tanto que morrera Herodes, fora logo aclamado Rei da Judéia seu filho Arquelau, e que herdara do pai o mesmo gênio tirano, receou São José, como varão prudente, continuar a jornada para Jerusalém, que era a capital de Judéia, por se lhe não ir meter nas mãos. Nesta dúvida, admoestou-o em sonhos o Anjo, dizendo-lhe que fosse para Galileia, a cujo aviso obedeceu o Santo, mudando de caminho e retirando-se para Nazaré, que era Cidade sujeita a Herodes Antipas, que governava a Galileia pacificamente, onde podia viver seguro, por ser ali mais conhecido; e para que também se cumprisse, como diz São Mateus, o que tinham dito os Profetas – que Cristo se havia de chamar Nazareno.
            Nesta Cidade felicíssima se estabeleceu para viver a Família mais augusta e venerável, que havia no mundo como compêndio de toda a santidade. Ali se via a verdadeira Arca do Testamento representada na pessoa da Virgem, e ali descansava Deus sobre os querubins, que eram os braços de São José. Glorie-se muito embora a Sinagoga de lhe ter Salomão edificado um Templo, em que aparecia a glória de Deus, porque, nesta casa, ainda que pobre, mas melhor Templo que o de Salomão rico, onde habitava a insigne Família de José, se viam, com a presença de Jesus e de Maria, vivas e verdadeiras espécies de tudo, que os hebreus lograram somente em figura. Era esta casa de Nazaré um céu místico, onde resplandeciam os melhores três astros, Cristo como Sol, a Virgem Maria como Lua e São José como Estrela.
            Do Menino se não lê coisa alguma até a idade de doze anos. Conta-se, porém, e é verossímil, que o Menino Jesus ia buscar água a uma fonte, que ainda existe, e, humilde, o Senhor do Universo ajudava a seus pais, porque não tinham outrem que os servisse.
            Sem embargo do Evangelho não declarar também coisa algum da vida que fez o bem-aventurado Santo neste tempo, pode-se bem inferir quão edificante seria ele nos exercícios de piedade, principalmente dizendo-nos São João Crisóstomo que o Santo com a Virgem se erguiam pela meia noite, a louvar a Deus religiosamente, e que esse era o seu costume. Consta mais por tradição que ele subia de Nazaré ao Monte Carmelo, que lhe ficava na distância de duas léguas, não só para visitar os seus Religiosos habitantes, como os devotos lugares do Santo Monte, o que fazia principalmente aos sábados e nos princípios dos meses, em que os povos circunvizinhos costumavam concorrer ao Carmelo, levando o Santo consigo, como piamente se crê, ao Menino Jesus e sua querida Esposa.
            A estes pios e devotos exercícios acrescentava São José outros de excelentes virtudes, que o constituíam em uma perene contemplação do céu, concorrendo juntamente com o suor do seu rosto para alimentar ao mesmo Filho de Deus e a sua Mãe Santíssima, a qual tomava também por sua conta servi-lo e cuidar da sua pobre comida com incomparável atenção e benevolência.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927.

22 de Março - Mês Dedicado a São José

Da estada do glorioso São José no Egito com a Virgem e o Menino Deus




            Depois que os Celestes Forasteiros passaram por várias povoações no Egito, chegaram finalmente ao lugar denominado Mathuréa, distante dez mil passos de Heliópolis, hoje, Cairo, e ali fixaram sua residência, acomodando-se em uma pobre casinha, hoje reduzida a Igreja, que os Cristãos Gofitos possuem, e os devotos peregrinos, que por ali passam, muito veneram. Os Mouros têm este sítio em grande estimação, não só pela horta de bálsamo, que ali há, mas pela fonte deliciosa, que a fertiliza, sendo entre eles tradição antiquíssima ter ela nascido milagrosamente para saciar a sede à Virgem e seu Santo Esposo.

            Aqui se estabeleceu o Santo e Peregrino Esposo, com a sua Santíssima Esposa e Deus Menino, desterrados da sua pátria para serem moradores em um país não só estranho, mas inimigo dos israelitas. Que desejo não teria São José de sair desta terra pelos contínuos temores que lhe podia causar esta gente má e perversa? O pesar de não saber quando sairia daquele desterro sem dúvida afligia e atormentava grandemente seu coração; mas não obstante se conservou sempre o mesmo, sempre afável, e sujeito ao beneplácito divino, do qual se deixou totalmente governar, porque, como era Justo, tinha sempre sua vontade unida e conforme a de Deus.
            Durante os três primeiros dias, não teve a Rainha do Céu para si e seu Unigênito mais alimento, que o que pedia de esmola seu Esposo fidelíssimo José, até que com o seu trabalho começou a granjear algum sustento, e pôde também fazer uma cama, em que se reclinava a Mãe de Deus, e o berço do Menino, porque o Santo Esposo não tinha outra cama mais que a terra dura. Logo no dia seguinte ao da sua chegada, fora o solícito São José comprar instrumentos do seu ofício para uso fabril do seu trabalho, e a Virgem Maria também buscou cuidadosa em que pudesse ajudá-lo com o labor das suas preciosas mãos.
            Ao Santo se lhe originara uma grande perseguição da vizinhança pela manobra da sua arte, porque mal acostumados aqueles moradores egípcios a sentir o áspero ruído da serra, do martelo e da enxó, com que o Santo trabalhava, o criminaram de perturbador; porém a humildade e a modéstia de São José o defendeu e livrou de tal sorte da impostura, convertendo a acusação em benevolência, que o Juiz o fez conservar na própria casa.
            Mas verdadeiro trabalho foi o que padeceu São José, quando via que os egípcios adoravam os ídolos infames, e deixava de conhecer ao verdadeiro Deus, que tinham entre si, lastimando também não pouco os opróbrios e maus tratamentos, que daquela gente perversa padecia a Virgem Sacratíssima; porém recompensava o glorioso Patriarca São José estes e outros contratempos com a incomparável dita, que recebia, quando tomava em seus braços ao Divino Infante; quando, com profunda submissão, lhe fazia aquelas afetuosas carícias, de que a inocente infância se deleita. A Virgem Maria, para fazer os ofícios domésticos, entregava o Menino ao Esposo Santo, para que o entretivesse, e o Esposo para isto suspendia o seu trabalho. É de considerar que regalos receberia, quando o tomava e tratava! Quão suaves seriam seus abraços! A graça, que acharia nos inocentes atos peculiares à infância!
            Que júbilo e alegrias não experimentaria seu coração, quando ouvia ao Menino Jesus pronunciar ainda com a língua balbuciante a primeira palavra, que foi chamar-lhe Pai! Esta primeira palavra do Menino Deus, como cheia de eficácia Divina, infundia no coração de São José novo amor e reverência. Pôs-se de joelhos aos pés do Infante Jesus com humildade profunda, e deu-lhe graças, porque a primeira voz, que lhe tinha ouvido, fora a denominação de Pai.
            Não era São José pai natural de Cristo, mas só adotivo; porém o singular amor, que lhe tinha, excedia, incomparavelmente, a todo o afeto, com que os pais naturais amam a seus filhos, e por este amor incomparável e recíproco na relação de pai a filho se há de inserir o excesso de alegria, em que se viu a sua alma, ouvindo-se chamar repetidas vezes pai do mesmo Filho do Pai Eterno. Já São José era nas excelências grande antes que o Menino Deus lhe pudesse chamar pai e a Sacratíssima Virgem esposo; mas, depois que o amor social o juntou a ambos e o uniu com o amor de um e outro, a que eminente grandeza não subiu? Não há vozes humanas, que possam explicar, devidamente, esta prerrogativa de São José.
            Como o nosso glorioso Santo foi ab aeterno constituído por Deus para a alta dignidade de vigilante pedagogo e nutrício de seu unigênito Filho, é naturalmente crível que o Santo o ensinaria a andar, e para isso o tomaria pela mão, alternando o Menino os lugares, ora da esquerda, ora da direita, com os passos dúbios, e ainda trêmulos e titubeantes. Estas e outras ações, ainda que pueris, a que o sumo Deus e Verbo Eterno se quis sujeitar por nosso amor, eram de grande ponderação e júbilo para São José.
            Algumas vezes o Menino se entretinha com as ferramentas na oficina de São José, pedindo que lhas pusesse ao ombro para as levar, por graça misteriosa, de uma para outra parte, até que, cansadinho, se lançaria aos braços de pai, onde recostado adormeceria, e o Santo, com afetuosa ternura acalentando-o, lhe cantaria novos e doces hinos.
            Não seria de pequeno contentamento para o glorioso São José, quando visse também que as egípcias atraídas pela singular beleza do Menino e da amável forasteira sua Esposa, iam fazer-lhe companhia alguns espaços de tempo, levando-lhe suas galantarias e mimos, e tendo por boa dita beijaram-lhe os pés e as mãos de branca neve. Desta sorte, suavizava São José ditosíssimo os trabalhos do seu desterro, ganhando o sustento para si e para aquele soberano Aluno, que todas as coisas sustenta, o qual, para maior excelência do Santo, é crível que algumas vezes lhe pediria pão como faz o filho ao pai, e dele o receberia com reverência. Oh! Que graciosa alternativa! O pai com a sua educação conservava ao Filho, e o Filho servia ao pai; mas como Senhor de tudo alimentava ao mesmo, que lhe dava o alimento.
            Que gozo, finalmente, não encheria o coração de São José ver a Mãe de Deus ao seu lado entretida também em tecer a lã, ou o linho, para coser, ajudando assim a sustentação de sua casa; e ao Filho querido sentado junto a ela, dando a seu coração alívio com seus divinos colóquios? Desta forma se ia criando o Verbo Eterno, alimentado entre os dois lírios, ou cândidas açucenas da pureza de São José e da Virgem Maria no penoso desterro da sua pátria.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927.

21 de Março - Mês Dedicado a São José

São José com a Virgem Santíssima e o Menino Deus fogem para o Egito da perseguição de Herodes


            Satisfeito os misteriosos atos da Apresentação do Infante Jesus e Purificação de Maria Virgem, voltou a Sagrada Família para Nazaré. Desde logo se começou a divulgar e crescer a fama das maravilhas, que, em Belém e no Templo, haviam sucedido, até que, chegando o seu rumor aos ouvidos do cruel Herodes, se excitou neste a indignação contra Jesus, mandando, furiosamente, com lei bárbara e desumana, matar todos os meninos que havia em Belém e seus contornos até a idade de dois anos. Achava-se o fidelíssimo José dormindo, quando, aparecendo-lhe em sonhos o Arcanjo São Gabriel, lhe declarou o ímpio projeto e a iminente perseguição de Herodes, e lhe disse: Levanta-te e com o Menino e sua Mãe foge para o Egito, onde estarás até que eu outra vez te avise, porque Herodes há de buscar o Menino para lhe tirar a vida.
            Era o Egito província cômoda e oportuna para aquele refúgio, por ficar nos confins da Palestina e estar sujeita ao domínio de outro Príncipe. E, como não era ainda tempo do Senhor padecer, mas sim de se cumprir a profecia de Oséias no capítulo 2, foi aquela fuga mistério e não temor. Frustrar-se-ia em Cristo Senhor Nosso toda a causa da redenção do mundo, se permitisse que, em idade tão tenra, executassem nele os seus inimigos todo o ódio e crueldade.
            Despertou e levantou-se São José cheio de cuidado com a admoestação do Anjo e, dando logo parte à Virgem Maria daquele aviso, se sujeitou obediente e humilde aos ocultos decretos da Providência.
            Sem perda de tempo e sem socorro nem provisão alguma para tão longa jornada mais que a viva fé na mesma providência do Altíssimo, partiram. “Olhai, diz São Francisco de Salles, falando de São José, como parte logo sem dizer palavra: não se inquieta, nem pergunta ao Anjo que caminho tomará. Quem nos há de sustentar? Quem nos receberá? Ele sai à ventura carregado das suas ferramentas para ganhar sua pobre vida e a de sua família com o suor do seu rosto”. Tomaram os divinos Peregrinos a derrota do Egito pelo caminho menos trilhado, por ser mais oculto e, por isso, mais penoso. Partiram de Nazaré até Jerusalém percorrendo vinte e sete léguas, de Jerusalém à cidade de Hebron oito, passando por junto de Belém, onde diz a tradição pia que entrara São José para fazer algum provimento para jornada tão dilatada; de Hebron à Gaza é jornada de um dia; de Gaza até o Cairo há setenta léguas das quais cinquenta são desertas, e por este cálculo vieram a caminhar muito mais de cem léguas, indo sempre São José a pé e a Virgem Maria com o Menino ao colo, montada em jumenta na Palestina e em camelo nos desertos.
            Este caminho tão dilatado foi muito penoso para os perseguidos caminhantes, por ser a maior parte dele deserto e cheio de areias ardentes, sem água e infestado de animais ferozes. Que sustos não passariam a Virgem Santíssima e seu solícito Esposo com o receio de que podia cair nas mãos dos verdugos e assassinos de Herodes o divino Infante! Quantas vezes as pulsações mais apressadas de seus corações não lhes pareceriam ser o tropel dos seus perseguidores!
            Sendo esta jornada nos princípios de Fevereiro, a todos os incômodos da viagem acrescia o frio intenso, com falta de casas em que pudessem agasalhar-se.
            Oh! Quanto neste cuidado servia a Cristo o ditoso São José! São José não morreu por Cristo, mas defendeu a Cristo, e nesta defesa, conservando-o, deu-lhe nova vida. Dar a vida pelo Senhor não parece que seria tanto, como foi conservar ao Senhor a vida; porque quanto mais valia a vida de Cristo, que a de José, tanto parece que fez mais em conservar aquela vida preciosa, do que fizera em desamparar por seu amor a própria; e ainda, se bem reparamos, tudo fez São José, porque não defendeu a vida de Jesus Cristo sem expor a própria a evidentes perigos.
            Foi São José nesta fuga o verdadeiro Anjo Rafael para com Cristo, pois o livrou das garras e astúcias do tirano Herodes, guiando-o pelos caminhos mais seguros e menos arriscados.
            Em tudo parece que, para defesa de Cristo nesta perseguição, não quis o Céu auxiliá-lo, para que tudo se devesse á cuidadosa proteção de São José.
            Não tinha o tenro Menino mais abrigo e comodidade nesta longa jornada, que os braços da Virgem e os de seu Santíssimo Esposo, cumprindo-se assim o que profetizara Isaias, que entraria o Senhor pelas terras do Egito em uma nuvem ligeira, a qual era Maria Santíssima e o glorioso São José.
            Prosseguindo os celestes Peregrinos a sua dilatada jornada, chegaram, enfim, às terras do Egito, e, assim que passavam, os ídolos caiam de seus pedestais, quebrados em pedaços, realizando-se o que havia profetizado Isaias, quando disse que entraria o Senhor no Egito e seriam comovidos seus simulacros, com particularidade no templo de Hermopolis, edificado nas margens do Nilo, no qual, entrando a Virgem e seu santo Esposo com o Menino, caíram por terra seus malditos ídolos. Teve São José a gloriosa felicidade de presenciar estes prodigiosos efeitos na ruína da idolatria, um dos fins para que mandou o Anjo que fosse com o Menino ao Egito.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927.

20 de Março - Mês Dedicado a São José

Adoração dos pastores.
Circuncisão do Menino Deus e o
Santíssimo Nome de Jesus que São José lhe pôs.
Adoração dos Magos.
Apresentação no templo

FONTE 

            Diz o Evangelista São Lucas que naquela hora, em que Jesus nascera, que foi à meia noite de 25 de Dezembro, estavam os pastores vigiando o seu gado, em um lugar distante de Belém, mil passos para o Oriente, recolhidos da chuva em um edifício abandonado, chamado Torre Ader ou de Rebanho, e, chegando a eles o Anjo Gabriel, cercando-os de claridade extraordinária, lhes anunciou o Mistério do nascimento de Cristo. Eles, admirados da novidade, partiram a toda pressa para verem aquele prodígio e, entrando na gruta onde estava o Menino, se prostraram por terra, com grande humildade e reverência, e adoraram o Salvador, o Messias prometido, oferecendo-lhe seus rústicos holocaustos, louvando a Sagrada Virgem e a seu Santíssimo Esposo pelo que acabavam de presenciar e voltaram para seus campos, glorificando a Deus pelo que tinham visto.
            No oitavo dia depois de nascido Cristo, diz São Lucas que chegara o tempo de ser circuncidado o Menino. Quis o divino Verbo conformar-se com os mais homens, sujeitando-se a este preceito da Lei, que o não obrigava, não só por ser Deus, e como tal superior a todas as leis, mas por não ser concebido segundo os demais homens; porém sujeitou-se a ela para começar logo a derramar sangue pelos homens; para que não tivesse escusa a incredulidade dos judeus; para provar que era da descendência de Abraão; para não se singularizar; e por outras causas.
            Para a operação deste Sacramento da lei antiga não havia Ministro determinado; o mesmo pai e mãe podiam ser os executores. Assim foi São José que praticou a circuncisão do Menino Deus, dando-lhe o nome de Jesus.
            Daqui se deduzem três excelências de São José: ser substituto do Pai Eterno em tudo, que não é geração; ter dado o nome a Jesus; e ser o primeiro que o nomeou juntamente com a Virgem Maria.
            Verdadeiramente, se tanta consolação e tanto alívio sente a nossa alma cada vez que proferimos com a boca este suavíssimo e dulcíssimo Nome, que suavidade e júbilo experimentaria São José a primeira vez que o pronunciou?
            Oh! Como se arrebataria em doce contemplação, penetrando as altíssimas maravilhas do Nome sobre todo nome onipotente, amável e virtuosíssimo! Oh! Como o repetiria mil vezes prostrado com reverência por terra, e com ele sua Santíssima Esposa!
            Louvado seja eternamente o admirável nome de Jesus, que, com tanta glória de São José, e com tanta utilidade para o mundo, quis o Altíssimo que fosse o nosso Santo quem nos ensinasse a pronunciar, invocar e suplicar Nome tão soberano em cuja doce pronunciação está virtualmente depositada toda a nossa luz, medicina e salvação; e assim como o abecedário, que só tem 25 letras, encerra em si todos os livros, que se tem escrito, e hão de escrever-se até o fim do mundo, assim, nestas cinco letras de Jesus, se compreendem todos os mistérios dos outros nomes de Deus.
            O lugar em que se fez esta cerimônia da lei foi na Gruta do nascimento e não no Templo de Jerusalém, como indicam alguns pintores, pois a Santíssima Virgem não saiu de Belém antes do dia da sua Purificação.
            Três Régulos ou Potentados gentílicos, a que a Escritura dá o título de Magos, dedicados ao estudo da astronomia, em que eram insignes, habitando na parte da Arábia, que fica entre a Mesopotâmia e a Palestina, admirados de uma nova estrela, que observaram no Oriente, e entendendo, ou porque Deus lho revelou, ou pela profecia de Balaão, ser aquele o sinal de haver nascido o verdadeiro Rei dos judeus, se dispuseram a vir adorá-lo com grande aparato e trem de camelos e dromedários. Partiram de suas terras, levando sempre diante dos olhos, como farol, o resplendor da estrela, que os guiava, e, chegando a Jerusalém, ali souberam dos Sacerdotes que em Belém havia de nascer o Messias segundo profetizara Miquéias; e, continuando logo a sua derrota por direção luminosa da mesma estrela, deixando assustado Herodes e toda a sua corte, chegaram finalmente ao lugar, onde estava o Salvador do Mundo, que era na gruta o Presépio onde havia nascido, e ali, com profunda humildade, mais prostrados que de joelhos, adoraram a Deus Menino, treze dias depois do seu nascimento.
            Como o Evangelista São Mateus diz que os Magos entraram na casa, e não na gruta, pensam alguns que São José, depois do desafogo da cidade pela retirada dos que vieram inscrever seus nomes em obediência ao Edito, melhorara de habitação, porém os historiadores eclesiásticos dizem que todos aqueles quarenta dias, entre o Santíssimo Parto e a Purificação, não se afastara a Virgem e seu Santíssimo Esposo da gruta, onde o Menino nascera, por entender que aquele humilde tugúrio, que Deus havia escolhido e consagrado com o seu nascimento, se avantajara incomparavelmente aos maiores palácios dos reis.
            Não diz o Evangelho se assistira São José a esta adoração dos Magos, antes do seu silêncio se deve supor a ausência, talvez motivada para que os Magos, que sabiam que o Messias nasceria de uma Virgem, não se escandalizassem com a presença de seu suposto Esposo, sem poder aprofundar no mistério da concepção da Virgem.
            Depois dos felicíssimos Santos Magos adorarem reverentemente ao Filho de Deus, ofereceram-lhe seus tesouros que tinham mística significação: incenso, por ser Deus, ouro por ser Rei e mirra por ser homem. São José dera ao Menino o incenso, à Virgem o ouro e para si escolhera a mirra.
            É de crer que os Magos tivessem recebido em recompensa da Virgem Maria maravilhosas coisas do céu.
            Passados quarenta dias depois do nascimento de Cristo, levaram os Santíssimos Esposos o Menino Jesus ao Templo de Jerusalém, para o oferecer ao Senhor, segundo mandava a lei da Purificação do Levítico, e nesta jornada é crível que iriam sumamente alegres José e Maria não só por ser a primeira vez que levavam em público ao Rei da Glória para ser no mundo conhecido por suas criaturas, mas por irem oferecer ao Pai Eterno a Hóstia viva de seu Unigênito humanado. E como levariam alternadamente em seus braços São José e a Virgem aquela doce prenda, de valor inestimável! Que suave se lhes faria aquela carga amorosa, que sustenta todo o peso do universo! Em que altíssimas contemplações se empregariam por todo o espaço de duas léguas, que distava Jerusalém da cidade de Belém!
            Assim que entraram no Templo, ofereceu Maria Santíssima o Menino ao Sacerdote, e o glorioso São José, acomodando-se à lei dos pobres, ofereceu um par de pombinhos ou de rolas.
            A lei de Moisés mandava também que os ricos, quando se tratasse de menino, sacrificasse a Deus um cordeiro manso e, como os Santos Esposos tinham repartido pelos pobres o ouro, que os Magos lhes deram, é possível que não tivessem os meios de comprar o cordeiro; mas de qualquer modo era oferecido o Cordeiro místico e o verdadeiro que foi o mesmo Cristo.
            Também era lei particular que os primogênitos, não sendo filhos de Levitas, fossem redimidos por cinco ciclos e, posto que o Evangelho guarde nisto silêncio, é sem dúvida que os Santíssimos Pais resgataram com os cinco ciclos a seu Filho Jesus Cristo, como dizem os Expositores, do que resulta uma grande glória a Maria e a São José, Esposos puríssimos, pois mereceram deste modo redimir a seu mesmo Redentor, em cuja ação não só se viu verificada a significação do glorioso nome de José, que na língua hebraica significa Salvador, mas nobremente desempenhado na oferta dos cinco ciclos, que o nosso Santo satisfez no Templo para remir ao Redentor do mundo, que depois o resgatou com as suas preciosíssimas cinco chagas.
            O Sumo Sacerdote, que era o velho Simeão, inspirado pelo Espírito Santo, ao receber o Menino em seus braços, foi-lhe revelado ser aquele o Redentor de Israel, a quem esperava ver antes de sua morte. Devotamente o beijou e abençoou, entoando o misterioso cântico: “Nunc dimittes...”; e, entregando aquela estimadíssima prenda do Pai Eterno a Virgem Puríssima, sua Mãe, lhe profetizou a dor tão penetrante, como de espada aguda, que havia de transpassar sua alma na Paixão de seu Filho, anunciando-lhe também o remédio, que ele vinha trazer com a redenção do mundo.
            Destes afetos participou igualmente São José; ele e a Virgem, recebendo do Sacerdote a benção, e ficando reconhecidos por pais de Jesus Cristo, se retiraram do Templo.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves. 1927