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Os Sete Pecados Capitais

Segundo São Gregório Magno
e
São Tomás de Aquino



São João revela-nos, na sua I epístola, a existência de três concupiscências como fonte de todos os pecados, especialmente dos sete pecados capitais: "Tudo o que está no mundo é ou concupiscência da carne, ou concupiscência dos olhos, ou orgulho da vida" (I Jo 2,16).
Da concupiscência da carne nascem: a gula, a luxúria e a preguiça.
Da concupiscência dos olhos nasce: a avareza (e também a curiosidade, que não é um pecado capital, mas que pode servir todas as concupiscência).
Do orgulho da vida nascem: o orgulho ou amor da vã glória, a inveja e a cólera.
O quadro seguinte pode-nos esclarecer sobre as consequências para a alma dos sete pecados capitais e encoraja-nos a fazer "jejum do pecado", que deve necessariamente acompanhar as nossas penitências (oração, jejum, esmola).

I - ORGULHO OU VÃ GLÓRIA
"Paixão que nos leva a sobre-estimar e a procurar de modo exagerado a glória"
GERA:

  • Ø Jactância - Coloca-se a si mesmo à frente e dá-se valor por presunção...
  • Ø Afetação das novidades - ou querendo causar admiração e impressionar pelas suas atitudes audaciosas ou rebuscadas (modas, idéias, etc.)
  • Ø Hipocrisia - ou ainda, simulando a posse de certas qualidades, para parecer o que na verdade não é.
  • Ø Obstinação - Distingue-se dos outros pela teimosia do seu espírito...
  • Ø Discórdia - ou pela sua vontade de desacordo, onde os corações deviam estar unidos...
  • Ø Contenção - Impõe-se os outros por palavras duras.
  • Ø Desobediência - manifesta-se desde a insubmissão à revolta.


II - INVEJA
"Tristeza com o bem de outrem, porque esse bem é entendido como uma diminuição da sua própria excelência pessoal"
GERA:

  • Ø Cochichos - Procurar rebaixar a glória de alguém falando em segredo.
  • Ø Maledicência - em seguida, fere-se a sua reputação, dizendo abertamente mal.
  • Ø Alegria com o mal de outrem - Se o mal chega a alguém: "É bem feito!".
  • Ø Tristeza pelo seu bem - Inveja-se a pessoa pelos seus bens materiais e espirituais (este último ponto é um pecado contra o Espírito Santo).
  • Ø Rancor pelo próximo - Deseja-se mal ao próximo.


III - CÓLERA
"Paixão desregrada que nos leva a vingarmo-nos do que nos ofende".

GERA:

  • Ø Indignação - No coração: irritação ao pensamento de quem nos fez mal...
  • Ø Fúria do espírito - Enche-se o espírito de perturbação para encontrar meio de se vingar.
  • Ø Clamor - Nas palavras, manifesta-se a cólera levantando a voz.
  • Ø Injúria - As palavras tornam-se ultrajes contra o próximo...
  • Ø Blasfêmia - Contra Deus, para jurar, clamando vingança.
  • Ø Rixa - a querela passa aos atos: violência física.


IV - AVAREZA
"Amor desregrado pelo dinheiro e bens materiais"
GERA:

  • Ø Dureza de coração - Desejo excessivo de conservar o dinheiro; o coração deixa de se abrir às necessidades dos outros.
  • Ø Inquietação - Desejo excessivo de obter dinheiro, o que leva a cuidados e preocupações exageradas.
  • Ø  Violência - Para se apoderar do seu bem, seja abertamente pela força...
  • Ø  Embuste - Seja de modo disfarçado pela artimanha - por palavras...
  • Ø  Perjúrio - (agravo pelo falso juramento)...
  • Ø  Fraude - Por atos.
  • Ø  Traição - Violação dos segredos do próximo, com o fim de ganho de dinheiro (Judas).


V - GULA
"Procura desordenada do prazer no beber e no comer"
GERA:

  • Ø Estupidez - A inteligência indisposta pelos vapores que sobe à cabeça e que impedem a reflexão, a oração, etc.
  • Ø Alegria vã - A razão perde a sua ascendência sobre a vontade; já não manda, porque “o vinho faz crer que tudo é bem estar e felicidade".
  • Ø  Loquacidade - Desordem nas palavras: "a língua agita-se a torto e a direito".
  • Ø  Palhaçada - Desordem dos gestos: "tudo é bom para rir".
  • Ø Impureza - Desordem do corpo: a falta de asseio, falta de reserva e todas as espécies de excessos.


VI- PREGUIÇA
"Procura desordenada do repouso e do prazer em nada fazer, negligenciando o seu bem espiritual"
GERA:

  • Ø  Desespero - Renuncia ao fim que o faz triste, o bem divino.
  • Ø  Pusilanimidade - Falta de coragem em relação aos meios de perfeição, que parecem muito penosos.
  • Ø  Indolência - os mandamentos comuns a todos são uma fonte de tristeza e são negligenciados.
  • Ø  Rancor - Ressentimento contra aqueles que nos querem conduzir a caminhos mais perfeitos.
  • Ø  Malícia - Desprezo pelos próprios bens espirituais.
  • Ø  Desvio para as coisas interditas - Procura de outros bens interditos, para preencher o vazio afetivo.


VII - LUXÚRIA
"Procura desordenada do prazer da carne"
GERA:

  • Ø  Cegueira
  • Ø  Precipitação
  • Ø  Inconsideração
  • Ø  Inconstância - As quatro atingem a inteligência:
1)- Apreensão: "O amor é cego".
2)- Deliberação: Sem autocontrole, não existe reflexão.
3)- Julgamento: Erro, ilusão, decisões inflexíveis.
4)- Resolução: Indecisão, tergiversações.

  • Ø  Egoísmo - Deu as desordens da vontade:
1)- Escolha do fim: "Quero o meu prazer, ainda que desordenado...
2)- Aversão a Deus - ...mesmo que Deus mo proíba..."
3)- Amor da vida presente e horror da vida futura
4)- Escolha dos meios: "Nada me interessa mais do que as alegrias da vida presente!"




Sobre a obra de Hieronymus Bosch
Os Sete Pecados Capitais
(obra de 1480 – Museo del Prado, Madrid)
Não se sabe ao certo qual a origem desta obra. Talvez provenha da encomenda de uma ordem monástica da época. Sabe-se apenas que posteriormente passou a compor a coleção rei espanhol Felipe II, juntamente com outras obras do artista.
Bosch escolhia para seus temas moralistas personagens de lendas, provérbios e superstições populares, dando-lhes um aspecto alegórico na representação – como também vemos em “A Morte do Avarento”. Com isso ele criou uma iconografia fantástica própria, que lhe permitiu abordar desde os pecados humanos até sua terrível consequência, o inferno. Bosch demonstrou sua preocupação com o homem, mostrou de forma contundente e sem rodeios sua percepção apocalíptica da condição humana.
Na obra Sete Pecados Capitais, Jesus Cristo se encontra no centro do painel, cercado por um largo anel dourado no qual está inscrito em latim: "Cuidado, cuidado, Deus vê". A esfera central tem a aparência de um olho humano, e Cristo estaria dentro da pupila. A imagem remete ao significado do olho de Deus, que tudo vê. No restante, temos a representação de cada um dos sete pecados capitais (avareza, soberba, gula, ira, inveja, preguiça e luxúria) em cenas que poderiam ser vistas no cotidiano de sua região. Nos quatro cantos do painel encontramos círculos, dentro dos quais estão representados: a morte, o juízo final, o inferno e a glória.

As Sete Petições do Pai-Nosso

     A oração mais excelente é o Pai-Nosso; porque nos foi ensinado pelo próprio Jesus Cristo. No Pai-Nosso há sete petições e é a oração cristã fundamental e mais perfeita.
    Quando for rezar o Pai-Nosso, esteja atento ao que diz e ao que pede, para que sua oração seja mais autêntica.


































Qual é a oração mais excelente?
A oração mais excelente é o Pai Nosso, que nos foi ensinado pelo próprio Jesus Cristo, porque nela pedimos tudo o que podemos desejar.

Por que chamamos a Deus de Pai?
Chamamos Deus de Pai porque, pelo Batismo, somos verdadeiros filhos de Deus.

Que objeto tem as três primeiras petições do Pai Nosso?
As três primeiras petições do Pai Nosso têm por objeto a Glória do Pai: a santificação de seu Nome, a vinda de Seu Reino e o cumprimento de sua vontade.

Que objeto tem as outras quatro petições?
As outras quatro petições têm por objeto nossa vida: para alimentá-la e para curá-la do pecado; e pedimos também ajuda em nosso combate pela vitória do Bem sobre o Mal.

Por que ao final dizemos "Amém"?
Ao final dizemos "Amém", expressando nosso desejo de que se cumpra o que pedimos nas sete petições. Assim seja.



As Petições do Pai-Nosso

 Lendo os Evangelhos encontramos duas versões da Oração do Pai-Nosso:

 Uma mais longa em Mateus, com sete pedidos(6,7-15); e outra no Evangelho de Lucas, mais curta, com cinco pedidos(11,2-4). 

  A Oração do Pai-Nosso do texto de hoje, consta de sete pedidos:

1 - Na primeira petição: santificado seja o vosso nome, pedimos que Deus seja conhecido, amado, honrado e servido por todos os homens, e por nós em particular.

 2 - Na segunda petição: Por reino de Deus entendemos um tríplice reino espiritual, a saber: o reino de Deus em nós, ou o reino da graça; o reino de Deus na terra, isto é, a Santa Igreja Católica; e o reino de Deus nos céus, ou o Paraíso.

 3 - Na terceira petição: seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu, pedimos a graça de fazer em todas as coisas a vontade de Deus, obedecendo aos seus santos Mandamentos tão prontamente como os Anjos e os Santos Lhe obedecem no Céu. Pedimos, além disso, a graça de corresponder às inspirações divinas e de viver resignados à Vontade de Deus, quando Ele nos manda tribulações.

 4 - Na quarta petição: o pão nosso de cada dia nos dai hoje, pedimos a Deus o que nos é necessário cada dia para a alma (pedimos a Deus o sustento da vida espiritual, isto é, pedimos
ao Senhor que nos dê a sua graça, da qual a todo o instante temos necessidade) e para o corpo (pedimos o que é necessário para o sustento da vida temporal).

 5 - Na quinta petição: perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores, pedimos a Deus que nos perdoe os nossos pecados, como nós perdoamos aos que nos ofendem.

 6 - Na sexta petição: e não nos deixeis cair em tentação, pedimos a Deus que nos livre das tentações, ou não permitindo que sejamos serrados, ou dando-nos graças para não sermos vencidos.

 7 - Na sétima petição: mas livrai-nos do mal, pedimos a Deus que nos livre dos males passados, presentes, futuros, e especialmente do sumo mal, que é o pecado, da condenação eterna, que é o seu castigo.

Amém quer dizer: assim seja, assim desejo. assim peço ao Senhor e assim espero.


 Para se alcançarem as graças pedidas no Padre-Nosso é necessário rezá-lo sem precipitação, com atenção e acompanhá-lo com o coração.
 Devemos rezar o Padre-Nosso todos os dias, por que todos os dias temos necessidade do auxílio de Deus.

Os Sete Dons do Espírito Santo

São os dons que nos acompanham e operam em nós as maravilhas de Deus, sempre que não colocamos obstáculos à graça, pois Deus respeita a nossa liberdade. Esses dons nos são dados para nossa santificação e para a edificação de sua glória.

SABEDORIA: Pelo dom da sabedoria buscamos não a sabedoria do mundo, mas aquela Verdade que se identifica com o Sumo Bem e que nos torna felizes, porque nos enche de alegria o coração, como disse Jesus: Quando fordes presos, não vos preocupeis nem com a maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer. Porque não sereis vós quem falareis, mas é o Espírito do vosso Pai que falará em vós (Mt 10,19-20).




ENTENDIMENTO: É o dom divino pelo qual aceitamos as verdades reveladas por Deus. Mesmo não compreendendo todo o Mistério, entendemos que ali está a certeza de nossa salvação porque é verdade que procede de Deus infalível. Disse Deus pelo profeta: Eu vos darei um coração capaz de conhecer-me, e de saber que sou Eu o Senhor. Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus, porque de todo o coração se voltarão para mim (Jr 24,7).




CONSELHO: É a luz que o Espírito nos dá para distinguir-mos o certo do errado, o verdadeiro do falso, e assim orientarmos acertadamente a nossa vida e a de quem nos pede conselho. Sobre Jesus repousou o Espírito Santo, e lhe deu em plenitude esse dom, como havia profetizado Isaías: Ele não julgará pelas aparências, e não decidirá pelo que ouvir dizer, mas julgará os fracos com equidade e fará justiça aos pobres da terra . . . (Is 11,3-4).






FORTALEZA: É o dom da coragem para se viver fielmente a fé no dia-a-dia, e até diante do martírio se for preciso. Nada temas ante o que hás de sofrer. Por estes dias o demônio vai lançar alguns de vós na prisão, para pôr-vos à prova. Tereis tribulações durante algum tempo. Sê fiel até à morte, e te darei a coroa da vida (Ap 2,10).







CIÊNCIA: Não é a ciência do mundo, mas a ciência de Deus. A Verdade que é Vida. Por esse dom o Espírito Santo nos indica o caminho a seguir na realização de nossa vocação, pois o Espírito penetra tudo, mesmo as profundezas de Deus . . . As coisas de Deus ninguém as conhece a não ser o Espírito de Deus (1 Cor 2,10-11).





PIEDADE: É o dom pelo qual o Espírito Santo nos dá o gosto de amar e servir a Deus com alegria. Por ser o Amor do Pai e do Filho, o Espírito Santo nos dá o sabor das coisas de Deus. São Paulo escreveu: A respeito dos dons espirituais, irmãos, não quero que vocês permaneçam na ignorância. Vocês bem sabem que, quando vocês eram pagãos, eram facilmente atraídos para os ídolos mudos. Por isso eu lhes declaro: todo aquele que é agora conduzido pelo Espírito de Deus não pode blasfemar contra Jesus. Bem como ninguém poderá dizer convictamente Jesus é o Senhor, a não ser movido pelo Espírito Santo (1 Cor 12,1-3).




TEMOR DE DEUS: Este dom do Espírito Santo não significa medo de Deus, mas um amor tão grande que queima o coração de respeito por Deus. Não é um pavor pela justiça divina, mas o receio de ofender ou de desagradar a Deus. Por isso Jesus teve sempre o cuidado de fazer em tudo a vontade de seu Pai, como Isaías havia profetizado: Sobre Ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento. Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor do Senhor (Is 11,2).


Regras no Ministério de Distribuir Esmolas.

Santo Inácio de Loyola
Exercícios Espirituais


1. regra: Se distribuo esmolas a parentes, amigos ou pessoas as quais me sinto afeiçoado, tenho de observar quatro coisas.

A primeira é que o amor que me leva a dar esmolas a essas pessoas desça do alto, do amor de Deus Nosso Senhor, de forma que eu sinta antes em mim que o amor mais ou menos vivo que lhes tenho é por Deus, e que Deus resplandeça no motivo que me leva a amá-las mais.



2. regra: Imaginarei um homem que nunca vi nem conheci e a quem desejo toda a perfeição no seu ministério e no seu estado. Farei, nem mais ou menos, aquilo que desejaria que ele fizesse na distribuição das esmolas,tomando para mim a regra e a medida que desejaria que ele adotasse e que considero meio mais conforme a maior glória de Deus e a maior perfeição de sua alma.



3. regra: Examinarei, como se estivesse na hora da morte, que maneira de proceder e que medida desejaria ter adotado no exercício da minha administração. E em conformidade com isto, guardarei a mesma medida na distribuição das minhas esmolas



4. regra: Considerando como me acharei no dia do juízo, examinarei bem como desejaria então ter usado deste ofício e ter desempenhado este ministério. E seguirei agora a mesma regra que quereria ter seguido, no dia do juízo.



5. regra: Quando alguém se sente inclinado ou afeiçoado a algumas pessoas as quais quer distribuir esmolas, detenha-se e reflita bem as quatro regras precedentes, examinando e verificando, a luz delas, a sua afeição.

E não de esmola até que tenha totalmente tirado de si, conforme a estas regras, a sua afeição desordenada.



6. regra: Ainda que não haja culpa em aceitar os bens de Deus Nosso Senhor para distribuir, quando a pessoa é chamada para este ministério, contudo no determinar a proporção e a quantidade do que deve tomar e reservar para si mesmo ou dar a outros pode haver dúvida de falta ou de excesso. Por isso, pode-se reformar em sua vida e estado pelas regras precedentes.



7. regra: Pelas razões acima expostas e por muitas outras, no que concerne a própria pessoa e ao regime da casa procederemos sempre de uma maneira, tanto melhor e mais segura, quanto mais restringirmos e reduzirmos os gastos e quanto mais nos parecermos com o Pontífice Supremo, nossa regra e nosso modelo que Cristo nosso Senhor.



Foi em conformidade com esta regra que o 3. Concílio de Cartago, ao qual assistiu Sto. Agostinho, determinou e ordenou que a mobília do bispo fosse comum e pobre.

Isto deve aplicar-se a todos os estados, guardadas as proporções e tendo em conta a condição e nível das pessoas. Assim no estado matrimonial temos o exemplo de S. Joaquim e Sta Ana, que dividiam os bens em três partes:uma, davam-na aos pobres; outra, ao culto e ao serviço do Templo; e a terceira reservavam-na para a manutenção de si mesmos e de sua família.

Mortificação Externa - III

por Santo Afonso Maria de Ligório

Parte III

Prática da mortificação externa


Aquelas penitências extraordinárias podem ser praticadas por poucos cristãos, chamados por Deus para um tal modo de vida. Mas todos nós devemos manter o nosso corpo em rigoroso regime, porque somos pecadores. E, para isso, cada um de nós tem os meios. Podemos praticar a mortificação externa no uso de todos os nossos sentidos, em todas as nossos ações, em todos os passos e condições de nossa vida.

Para isso, basta abraçar aquilo que é difícil à nossa natureza. Por exemplo, de manhã, levantar-se a uma hora fixa, entregando-se com pontualidade à oração;assistir o Santo Sacrifício da Missa; renunciar a um prazer proibido ou a uma leitura perigosa; obedecer prontamente às ordens dos pais ou superiores; cumprir principalmente com fidelidade os deveres e os trabalhos cotidianos; suportar com paciência tribulações e sofrimentos: são, essas coisas todas, mortificações que, praticadas com pura intenção, são muito agradáveis a Deus e mui meritórias para o Céu.

Falaremos aqui, alma cristã, de várias mortificações pequenas aque te podes sujeitar sem perigo para tua saúde e com sumo proveito para tua alma.

1. Mortificação da vista

As primeiras setas que ferem uma alma casta e, às vezes, a matam, entram pelos olhos. Por meio dos olhos entram no espírito os maus pensamentos. "Não se deseja o que não se vê", diz São Francisco de Sales. Não leias, por isso, nunca, livros proibidos ou perigosos. Renuncia, de vez em quando, ao prazer de ver coisas extraordinárias, ainda que sejam inteiramente decorosas.

Segundo São Jerônimo (Ep. ad Fur.), é o rosto o espelho da alma e os olhos castos dão testemunho da castidade do coração.

2. Mortificação do ouvido

Evita ouvir conversas inconvenientes ou difamações, e mesmo conversas mundanas sem necessidade, pois estas enchem nossa cabeça com uma multidão de pensamentos e imaginações que nos distraem e perturbam mais tarde nas nossas orações e exercícios de piedade. Se assistires a conversas inúteis, procura quanto possível dar-lhes outra direção, propondo, por exemplo, uma importante questão. Se isso não der resultado, procura retirar-te ou, ao menos, cala-te e baixa os olhos para mostrar que não achas gosto em tais conversas.

3. Mortificação do olfato

Renuncia a todos os vãos perfumes, sejam quais forem; suporta, antes, de boa vontade, o mau cheiro que reina em geral nos quartos dos doentes. Imita o exemplo dos Santos que, animados pelo espírito de caridade e mortificação, sentiam tanto gosto no ar corrompido das enfermarias, como se estivessem em jardins de flores odoríferas.

4. Mortificação do tato

Quanto ao tato, esforça-te por evitar qualquer falta, pois cada falta neste sentido contêm um perigo de morte eterna para a alma. Emprega toda modéstia e cuidado não só a respeito dos outro, mas também de ti mesmo, para conservar a bela jóia da pureza. Procura, quanto possível, refrear pela mortificação esse sentido.

São João da Cruz dizia que, se alguém ensinasse que a mortificação do tato não é necessária, não se lhe deveria dar crédito, ainda que operasse milagres. Jesus Cristo mesmo disse uma vez à Madre Maria de Jesus, carmelita: "O mundo precipitou-se no abismo por causa do prazer, e não da mortificação".

Se não temos coragem de crucificar a nossa carne com penitências, ao menos esforcemo-nos por suportar com paciência as pequenas contrariedades que Deus mesmo nos envia, como doenças, calor, frio, etc. Digamos com S. Bernardo (Medit., c. 15): "O desprezador de Deus deve ser esmagado; ele merece a morte: deve ser crucificado". Sim, meu Deus, é justo que quem Vos desprezou seja castigado; eu mereço a morte eterna; seja eu, pois, crucificado neste mundo, para que não sofra eternamente no outro.

5. Mortificação do paladar

Quanto à mortificação do paladar, será bom desenvolver mais a fundo a necessidade e a maneira de nos mortificarmos nesse sentido.

§5.1- Santo André Avelino diz que quem deseja alcançar a perfeição, deve começar com uma séria mortificação do paladar. Antes dele já o afirmara São Gregório Magno (Mor., 1. 30, c. 26): "Para se poder dispor para o combate espiritual, deve-se reprimir a gula". O comer, porém, satisfaz necessariamente ao paladar: não nos será, pois, lícito, comer coisa alguma?

Certamente devemos comer: Deus mesmo quer que, por esse meio, conservemos a vida do corpo para O servirmos enquanto nos permite ficar no mundo. Devemos, porém, cuidar de nosso corpo do mesmo modo, diz o padre Vicente Carafa, como o faria um rei poderoso com um animal que ele, com as próprias mãos, tivesse de tratar várias vezes durante o dia; seguramente cumpriria o seu dever; mas, como? Contrariado e desgostoso e o mais depressa possível. "Deve-se comer para viver, diz S. Francisco de Sales, e não viver para comer".

Parece, contudo, que muitos vivem só para comer, como os irracionais. O homem assemelha-se ao animal, diz S. Bernardo, e deixa de ser espiritual e racional, se gosta da comida como o animal. Assim assemelhou-se aos animais o infeliz Adão, comendo do fruto proibido. Se os animais tivessem tido o uso da razão, acrescenta o mesmo Santo (In Cant., s. 35), ao verem Adão se esquecer de Deus e de sua salvação eterna por causa do miserável desejo de uma fruta, certamente haveriam de exclamar: "Vede, Adão se tornou um animal como nós!" Isso levou Santa Catarina de Sena a dizer: "É impossível que aquele que se não mortifica no comer, conserve a inocência, visato que Adão a perdeu em razão de seu gosto de comer". Como é triste ver homens "cujo Deus é o ventre" (Filip 3, 19).

Tomemos cuidado para que não sejamos subjugados por esse vício animal. É verdade que nos devemos alimentar para a conservação da vida, diz Sto. Agostinho; mas devem-se tomar os alimentos como os remédios, isto é, só tanto quanto necessário, e nada mais. A intemperança no comer prejudica a alma e o corpo. Quanto ao corpo, é fora de dúvida que grande número de doenças provêm desse vício: apoplexia, dor de cabeça, dores de estômago e outros males. As doenças do corpo, porém, são o menor mal; um mal muito pior são as doenças da alma que disso se originam.

Primeiramente, obscurece esse vício o entendiemnto, como ensina S. Tomás, e o torna imprestável para os exercícios espirituais, particularmente para a oração. Assim como o jejum dispõe a alma para a meditação de Deus e dos bens eternos, assim a intemperança retrai disso. Segundo S. João Crisóstomo, aquele que enche o estômago com comidas é semelhante a um navio muito carregado, que apenas se pode mover do lugar: ele se acha em grande perigo de afundar, se uma tempestade de tentações lhe advêm.

Além disso, quem concede toda a liberdade a seu paladar, facilmente estenderá a mesma liberdade aos outros sentidos, pois, se o recolhimento de espírito desapareceu, facilmente se cometem ainda outras faltas por palavras e obras. O pior é que, pela intemperança no comer e beber, expõe-se a castidade a um grande perigo. "Excessiva saciedade produz lascívia", diz S. Jerônimo (Adv. Jovin., 1. 2). E Cassiano afirma que é simplesmente impossível ficar livre de tentações impuras, enchendo-se o estômago de comidas.

Os Santos, justamente porque queriam conservar a castidade, eram tão rigorosos na mortificação do paladar. "Se o demônio é vencido nas tentações de intemperança, diz o Doutor Angélico, não nos continua a nos tentar à impureza".

Os que cuidam em mortificar o paladar fazem contínuos progressos na vida espiritual. Adquirem mais facilidade em mortificar os outros sentidos e em praticar as outras virtudes. Pelo jejum, assim se exprime a Santa Igreja em suas orações, concede o Senhor à nossa alma a força de superar os vícios, de se elevar acima das coisas terrenas, de praticar a virtude e adquirir merecimentos infinitos (Praef. Quadrag.).

Os homens sensuais objetam que Deus criou os alimentos para que nos utilizemos deles. Mas os cristãos fervorosos são da opinião do venerável padre Vicente Carafa, que diz, como notamos acima, que Deus nos deu as coisas deste mundo não só para nosso gozo, mas também para que tivéssemos ocasião de Lhe fazer um sacrifício. Quem é dado à gulodice e não se esforça por se mortificar nesse ponto, nunca fará um progresso notável na vida interior. Regularmente, se come várias vezes durante o dia; quem, pois, não procura mortificar o desejo de comer, cometerá quotidianamente muitas faltas.

§5.2- Vejamos agora o modo como devemos mortificar o nosso paladar.

a) Quanto à qualidade das comidas, diz São Boaventura, que não se devem escolher comidas muito especiais, mas contentar-se com pratos simples.Segundo o mesmo Santo, é sinal de alguém estar muito atrasado na vida espiritual não ficar contente com as comidas que se lhes apresentem e desejar outras que agradem mais ao paladar, ou requerer que sejam preparadas de um modo particular. Mui diversamente procede quem é mortificado: contenta-se com o que se lhe dá e, se diferentes pratos são trazidos, certamente escolherá aqueles que menos satisfazem ao paladar, contanto que não lhe façam mal.

É muito recomendável privar-se, por mortificação, de temperos desnecessários, que só servem para lisonjear o paladar. O tempero de que usavam os Santos era a cinza e o absinto. Não exijo de ti, alma cristã, tais mortificações, nem tampouco muitos jejuns extraordinários. Não sou, de forma alguma, contrário a que jejues com todo o rigor em certos dias particulares, como na sexta-feira ou no sábado, ou nas vésperas das festas de Nosso Senhor ou em dias semelhantes, pois isso costumam fazer os cristãos verdadeiramente piedosos.Se, porém, não possuis tanta piedade ou se tuas enfermidades não te permitem guardar rigorosos jejuns, deves ao menos te contentar com o que te servirem e não te queixar das comidas.

b) Quanto à quantidade das comidas, diz São Boaventura: "Não deves comer mais, nem mais vezes, do que te é necessário para sustentar, e não para agravar, teu corpo". Por isso, é uma regra, para todos os que querem levar uma vida devota, não comer nunca até à saciedade, como São Jerônimo aconselhava à virgem Santa Eustóquio, escrevendo-lhe: "Sê sóbria no comer e nunca enchas o estômago". Alguns jejuam num dia e comem demais no dia seguinte; é melhor, segundo S. Jerônimo, tomar regularmente a alimentação necessária, do que comer demasiadamente depois do jejum. Com razão dizia um Padre do deserto: "Quem come mais vezes, tendo, apesar disso, sempre fome, receberá uma recompensa maior do que aquele que come raras vezes, mas até à saciedade". "Uma temperança constante e regrada, diz S. Francisco de Sales, é melhor que um rigoroso jejum de vez em quando, ao qual se faz seguir uma falta de mortificação" (Filotéia, p. 3, c. 23).

Se alguém quer reduzir seu sustento à justa medida, convém que o faça pouco a pouco, até que conheça, pela experiência, até onde pode ir na mortificação sem se causar sensível dano.

Contudo, todos devem tomar como regra o comer pouco à noite, mesmo quando lhes parecer que necessitam de mais; a fome de noite é, muitas vezes, só aparente e, se se passa um pouco só da justa medida, sente-se muito incômodo na manhã seguinte: sente-se dor de cabeça, dores de estômago, está-se indisposto, e até incapaz de qualquer trabalho espiritual.

Quanto à medida que se deve guardar no beber, sem perigo algum para tua saúde, podes te impôr a mortificação de nada beberes fora da refeição, a não ser que devas ceder a um especial impulso da natureza, para não te causares algum dano, como pode acontecer no verão. São Lourenço Justiniano, porém, nunca bebia coisa alguma fora da refeição, mesmo nos dias de maior calor, e quando se lhe perguntava como podia suportar a sede, respondia: "Como poderei suportar as chamas do Purgatório, se não puder suportar agora esta privação?"

Referindo-se ao vinho, diz a Sagrada Escritura: "Não dês vinho aos reis" (Prov 31, 4). Sob essa expressão de reis, não se entendem os que reinam sobre nações, mas todos os homens que domam suas paixões e as submetem à razão. Infelizes daqueles que são dados ao vício da embriaguês, diz a Sagrada Escritura (Prov 23, 29). E por quê? Porque o vinho torna o homem luxurioso (Prov 20,1). Por isso escreveu S. Jerônimo à virgem Eustóquio: "Se quiseres permanecer pura, como deve ser uma esposa de Jesus Cristo, evita o vinho como veneno: vinho e mocidade são duas iscas" (Ep. 22 ad Eust.).

De tudo isso devemos deduzir que aqueles que não possuem virtude ou saúde suficiente para renunciar por completo ao vinho, devem ao menos servir-se dele com grande sobriedade, para não serem atormentados por mui fortes tentações impuras.

c) Sobre a questão de quando e como se deve comer, São Boaventura nos ensina o seguinte:

Primeiro, não se deve comer fora de hora, isto é, fora da hora da refeição comum. Um penitente de São Filipe Néri tinha esse defeito. O Santo o corrigiu com as palavras: "Meu filho, se não te emendares dessas falta, nunca chegarás a ter uma vida espiritual".

Segundo: nunca se deve comer desregradamente, isto é, com avidez, por exemplo, enchendo a boca demais, com tal pressa que antes de se engolir um bocado já se leva outro à boca. "Não sejas glutão em banquete algum" (Ecli 37, 22), diz-nos o Espírito Santo. Além disso, deves tomar os alimentos com a boa intenção de conservar as forças do corpo, para podermos servir ao Senhor.

A justa medida no comer exclui também um jejum imoderado, pelo qual um se torna incapaz de cumprir com seus deveres de estado. Cometem muitas vezes essa falta os principiantes: levados por aquele zelo sensível que Deus costuma conceder-lhes no princípio para animá-los no caminho da perfeição, impõem-se privações e jejuns excessivos, que tem por resultado transtornar-lhes a saúde e fazê-los abandonar tudo. O patrão que entrega seu cavalo a um criado para que o trate, certamente não só o repreenderá não só se nada der ao cavalo, como se der demais.



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Excerto do livro: Escola da Perfeição Cristã - Santo Afonso Maria de Ligório - Livro de 1955