“Tais foram as virtudes de MARIA que a
sua vida pode servir de regra a todas as vidas”
S. Ambrósio
PRIMEIRO COLÓQUIO
A esposa em face de
Deus
Missus
est ad virginem desponsatam viro cui nomen Joseph.
0 anjo Gabriel foi
enviado a uma virgem cujo esposo se chamava José.
Mudando de condição, Maria não
muda de sentimentos. Esposa do casto José, continua a ser em Nazaré o que era
no templo no meio das jovens virgens suas companheiras, a serva fiel do Senhor.
Eis o vosso modelo, esposas cristãs que vos decidistes a contrair uma união que
só a morte poderá romper. Fazei calar a vossa imaginação, ponde de lado os
vossos sonhos de donzela, não vades julgar-vos destinada a tornar-vos uma das
mulheres sempre adoradas e sempre adoráveis, segundo a frase de Fénelon, que
são muito numerosas nos romances. Lembrai-vos, pelo contrário, de que o caminho
da cruz é o único que leva à vida. Recordai-vos de que se todos os homens devem
pagar neste mundo o seu tributo de sofrimentos e de submissão, o cristianismo
fez dele, sobretudo o apanágio especial da mulher; escutai os avisos que vos dá
uma mulher que parece haver expressamente escrito para vós as palavras
seguintes: 1
Desde os primeiros dias do seu
casamento, a esposa cristã deve aplicar-se a compreender e a encarar a sua
posição no seu conjunto, e ocupar-se em harmonizar as suas exigências com as da
fé. Colocar-se sob um ponto de vista assaz baixo para aperceber detalhadamente
os deveres multiplicados e
minuciosos, cujo conjunto forma o seu dever, e assaz elevado para isolar-se
desse aparato de seduções que a cerca, e compreender que esta espécie de nuvem
de poesia, cujos vapores se espalham por sobre ela, se diluirão a breve trecho
numa realidade vulgar e prosaica.
Obreira precoce e madrugadora
lançai a mão à charrua e não olheis para trás. Esquecei os sonhos da vossa infância,
olvidai as delícias da vossa despreocupação de donzela, e essa vida de repouso
e de prazeres que já talvez vos encontrasse muito difícil, ou, se vós vos recordais
que isto seja para dizer como S. Paulo: Quando eu era criança, falava como criança,
julgava como criança, raciocinava como criança; mas, tornando-me homem, acho-me
desapossado de tudo o que tinha da infância. E dizei isto sem pensamento
reservado, com a resolução sincera de não recuar diante de nenhum sacrifício ou
de nenhuma fadiga, de não recuar mesmo diante da humilhação, nem diante da obediência;
dizei-o com uma determinação franca e tenaz de caminhar sempre para a frente,
apesar das insinuações da preguiça. Dizei-o, enfim, com a intenção generosa de
nada recusardes a Deus, nem mesmo a vossa vontade, nem mesmo os gozos mais
puros das vossas legítimas afeições.
Haveis de mostrar assim que
realmente vos tornastes homem; o
homem de Deus, seu vassalo devotado e sempre fiel. Certamente, aquele que vos
fez o que sois, diz Santo Agostinho, tem bem o direito de exigir que sejais
todas dele.
Não há dúvida, pois, que deveis
sempre pertencer-lhe, mas trata-se d’ora avante de uma doação mais completa e
mais reflexa. Éreis dele, em criancinha, quando não o conhecendo ainda, os
vossos gritos o imploravam sem o saber. Éreis dele, em menina, quando, gozando
alegremente os vossos primeiros dias belos, interrompíeis os vossos jogos e
brinquedos, ao sinal d’uma mãe, para erguer as mãos e rezar; mas não o servíeis
senão sem o saber, e ao levar-vos a ele, a vossa mãe fazia apenas um ato
reflexo. Éreis dele, na adolescência, quando pela primeira vez quis habitar
dentro em vós; oh! nesse belo dia vós pertencíeis inteiramente a Deus. Contudo,
cheia ainda da inconstância da vossa idade, revestida tanto da sua leviandade
como da sua inocência, tendes sentido mais as doçuras do dom de Deus que compreendido
as obrigações que vos eram impostas; talvez mesmo tenhais esquecido depois
estas doçuras e estas obrigações.
Éreis de Deus, quando donzela,
pois que, dando os primeiros passos no meio do mundo cujo aspecto vos seduzia,
vós prometíeis constantemente nunca o preferir a Jesus Cristo; mas tínheis
antes a confiança presunçosa d’uma inocência não experimentada do que a força
do devotamento; éreis de Deus, em donzela, quando, não obstante as seduções das
aparências e as revoltas internas tão frequentes na idade juvenil continuastes
a servi-lo e a amá-lo; mas então, abrigada debaixo da asa materna rodeada de
conselhos e de vigilância, a vossa virtude estava especada de todos os lados, e
tinha as suas raízes mais em santos costumes do que em solidas resoluções. Éreis
de Deus, em donzela, quando, tremendo à ideia d’uma mudança de posição, vos
lançastes nos seus braços para lhe pedir socorro e luz; mas então a grandiosidade
da empresa, o assombro do vosso coração vos faziam assaz sentir não só a vossa
fraqueza mas também a necessidade do seu apoio.
Mas d’ora avante, deveis ser de
Deus não somente em virtude do seu soberano domínio sobre toda a criatura, não
somente como a criança que lhe reza sem o conhecer, e não por hábito ou por
capricho, nem por fraqueza ou por medo; deveis ser dele por uma doação voluntária
e total, com o conhecimento inteiro dos vossos deveres e dos vossos perigos,
como com uma firme confiança no seu amor e na sua bondade.
Já não é o sinal d’uma mãe que
deveis esperar para o servir e rezar-lhe; mas à vossa voz agora, outras deverão
aprender a fazê-lo. Não é somente nos momentos de fervor e de pesar que deveis
pensar nele; mas é sempre, porque sempre, se ele não estiver ao vosso lado,
sentir-vos-eis fraquejar debaixo do peso da cruz e da pressão d’uma enorme
responsabilidade.
Já não é exclusivamente nos solenes
instantes das decisões difíceis que é preciso abandonar-vos à sua direção, e
entregar-lhe as chaves do império cujo cetro vós possuís; mas é todos os dias,
é a cada conduta e a cada passo, porque todos os vossos dias estão semeados de
dificuldades, porque os vossos passos, e as vossas condutas tem adquirido um
certo grau de importância de que vós não podeis encarregar-vos sozinhas; ficai-o
então sabendo, não cessamos de vo-lo dizer, tendes precisão de Deus.
Desde os primeiros dias da vossa
união, ponde-vos de joelhos, pela manhã e à noite; é mister que o vosso marido
saiba bem que sois cristã, a omissão das vossas preces seria para ele uma causa
de admiração, e mais tarde havia de servos difícil prosseguir as práticas que
haveis interrompido.
Durante o dia, subtrai alguns desses
instantes, tantas vezes desperdiçados no mundo, para vos recolher, escutar a
voz de Deus, e responder-lhe. Conservai os vossos piedosos costumes de donzela;
dai a esta oração, cujo incenso sobe direito para Deus, para tornar a descer em
chuva de graças, as primícias do dia. E haveis de ver como todas as vossas ações
serão abençoadas em seguida; como as horas que se seguirem serão impregnadas
dos perfumes queimados pela manhã; como a vossa alma cem paz com Deus estará
mais facilmente com todos; como a sua recordação vos seguirá docemente para
inspirar-vos a força, aonde a força for necessária, e ensinar-vos a
descendência no ponto aonde a condescendência se tornar útil.
PRÁTICA
Recordai que a nossa condição pode
mudar, mas que o dever de servir a Deus não varia nunca.
ORAÇÃO
Oh Maria! Vós, a quem eu sou
feliz por chamar Minha Mãe, amai-me sempre como vosso filho, velai por mim no
meio dos perigos que me cercam, amparai-me no cumprimento dos meus deveres,
protegei-me contra a minha própria fraqueza, obtende-me a graça de perseverar
até à morte no vosso amor e no amor do vosso Divino Filho.
Assim seja.
RAMO
ESPIRITUAL
A Santa Escritura representa-nos
a SS. Virgem sob o emblema de um jardim fechado, hortus conclusus.
Sim, diz S. Bernardo, Maria é
esse florido canteiro fechado ao espírito impuro, cheio de divinos aromas,
cultivado por uma Mão Celeste e ornado das flores deleitáveis de todas as
virtudes; entre as mais belas, três sobretudo nos arrebatam de admiração e
enchem a casa do Senhor do mais suave perfume: a violeta da humildade, o lírio
da virgindade, e a rosa da caridade.
Esposa cristã, possais vós aparecer aos olhos de
Deus como aos olhos do mundo, ataviada de todas as virtudes, a exemplo de Maria;
é assim que vós glorificareis o vosso Pai celeste._____
1 - Mulher Cristã, por Mme. M. de M.
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Excertos do livro: A Mulher na Escola de Maria, 1903 - M.J. Larfeuil
As pessoas que desejarem servir-se deste livro para os exercícios piedosos do mês de Maria, devem ler no primeiro dia a instrução transcrita AQUI