Retirado do
Catecismo Maior de São Pio X
Quarta Parte
Dos Sacramentos
Quarta Parte
Dos Sacramentos
§ 1º. - Da Penitência em geral
670) Que é o Sacramento da Penitência?
A Penitência,
chamada também Confissão, é o Sacramento instituído por Jesus Cristo para
perdoar os pecados cometidos depois do Batismo.
671) Por que se dá a este Sacramento o
nome de Penitência?
Dá-se a este
Sacramento o nome de Penitência, porque, para obter o perdão dos pecados, é
necessário detestá-los com arrependimento e porque quem cometeu uma falta deve
sujeitar-se à pena que o Sacerdote impõe.
672) Por que este Sacramento se chama
também Confissão?
Chama-se este
Sacramento também Confissão, porque, para alcançar o perdão dos pecados, não
basta i detestá-los, mas é necessário acusar-se deles ao Sacerdote, isto é,
confessá-los.
673) Quando Jesus Cristo instituiu o
Sacramento da Penitência?
Jesus Cristo
instituiu o Sacramento da Penitência no dia da sua Ressurreição, quando, depois
de entrar no cenáculo, deu solenemente aos seus Apóstolos o poder de perdoar os
pecados.
674) Como deu Jesus Cristo aos seus
Apóstolos o poder de perdoar os pecados?
Jesus Cristo deu
aos seus Apóstolos o poder de perdoar os pecados, soprando sobre eles, e
dizendo: Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão
perdoados, e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos.
675) Qual é a matéria do Sacramento da
Penitência?
Distingue-se a
matéria do Sacramento da Penitência em remota e próxima. A remota é constituída
pelos pecados cometidos pelo penitente depois do Batismo, e a matéria próxima
são os atos do próprio penitente, isto é, a contrição, a acusação e a satisfação.
676) Qual é a forma do Sacramento da
Penitência?
A forma do
Sacramento da Penitência é esta: Eu te absolvo dos teus pecados.
677) Quem é o ministro do Sacramento da
Penitência?
O ministro do
Sacramento da Penitência é o Sacerdote aprovado pelo Bispo para ouvir
confissões.
678) Por que o Sacerdote deve ser
aprovado pelo Bispo?
O Sacerdote deve
ser aprovado pelo Bispo para ouvir confissões, porque, para administrar
validamente este Sacramento, não basta o poder da Ordem, mas é necessário também
o poder de jurisdição, isto é, a faculdade de julgar, que deve ser dada pelo
Bispo.
679) Quantas são as partes do Sacramento
da Penitência?
As partes do
Sacramento da Penitência são: a contrição, a confissão e a satisfação da parte
do pecador, a absolvição da parte do sacerdote.
680) Que é a contrição ou a dor dos
pecados?
A contrição ou a
dor dos pecados é um desgosto da alma, pelo qual se detestam os pecados
cometidos, e se propõe não os tornar a cometer no futuro.
681) Que quer dizer esta palavra
contrição?
A palavra contrição
quer dizer fratura ou despedaçamento, como quando uma pedra é esmagada e
reduzida a pó.
682) Por que se dá o nome de contrição à
dor dos pecados?
Dá-se o nome de
contrição à dor dos pecados, para significar que o coração duro do pecador em
certo modo se despedaça pela dor de ter ofendido a Deus.
683) Em que consiste a confissão dos
pecados?
A confissão
consiste na acusação distinta dos nossos pecados ao confessor, para dele
recebermos a absolvição e a penitência.
684) Por que é que a confissão se chama
acusação?
Chama-se a
confissão acusação, porque não deve ser uma narração indiferente, mas sim uma
verdadeira e dolorosa manifestação dos próprios pecados.
685) Que é a satisfação ou penitência?
A satisfação ou
penitência é a oração ou outra boa obra, que o confessor impõe ao pecador em
expiação dos seus pecados.
686) Que é a absolvição?
A absolvição é a
sentença que o Sacerdote pronuncia em nome de Jesus Cristo, para perdoar os
pecados ao pecador.
687) Das partes do Sacramento da
Penitência, qual é a mais necessária?
Das partes do
Sacramento da Penitência, a mais necessária é a contrição, porque sem ela nunca
se pode obter o perdão dos pecados, e com ela só, quando é perfeita, pode
obter-se o perdão, contanto que esteja unida com o desejo, ao menos implícito,
de confessar-se.
§ 2º. - Dos efeitos e da necessidade do
Sacramento da Penitência e das disposições para bem recebê-lo
688) Quais são os efeitos do Sacramento
da Penitência?
O Sacramento da
Penitência confere a graça santificante, com a qual são perdoados os pecados
mortais e também os veniais que se confessaram e de que haja arrependimento;
comuta a pena eterna em temporal, da qual também é perdoada uma parte maior ou
menor, conforme as disposições do penitente; faz reviver o merecimento das boas
obras feitas antes de se cometer o pecado mortal; dá à alma
auxílios oportunos
para não recair no pecado e restitui a paz à consciência.
689) É o Sacramento da Penitência
necessário a todos para se salvarem?
O Sacramento da
Penitência é necessário, para se salvarem, a todos aqueles que, depois do
Batismo, cometeram algum pecado mortal.
690) É bom confessar-se com frequência?
Confessar-se com frequência
é coisa ótima, porque o Sacramento da Penitência, além de apagar os pecados, dá
as graças necessárias para evitá-los no futuro.
691) Tem o Sacramento da Penitência
virtude de per. doar todos os pecados, por muitos e grandes que sejam?
Sim, o Sacramento
da Penitência tem virtude de perdoar todos os pecados, por muitos e grandes que
sejam, contanto que se receba com as devidas disposições.
692) Quantas coisas são necessárias para
fazer uma confissão bem feita?
Para fazer uma boa
confissão, são necessárias cinco coisas:
1º exame de
consciência;
2º dor de ter
ofendido a Deus;
3º propósito de
nunca mais pecar;
4º acusação dos
próprios pecados;
5º satisfação ou
penitência.
693) Que devemos fazer, antes de tudo,
para bem nos confessarmos?
Para bem nos
confessarmos devemos, antes de tudo, pedir de todo o coração ao Senhor que nos
dê luz para conhecer todos os nossos pecados e força para os detestar.
§ 3º. - Do exame de consciência
694) Que é o exame de consciência?
O exame de
consciência é uma diligente investigação dos pecados que se cometeram, desde a
última confissão bem feita.
695) Como se faz o exame de consciência?
Faz-se o exame de
consciência trazendo diligentemente à memória, na presença de Deus, todos os
pecados ainda não confessados, cometidos por pensamentos, palavras, obras e
omissões contra os Mandamentos de Deus e da Igreja, e contra as obrigações do
próprio estado.
696) Sobre que mais coisas devemos
examinar-nos?
Devemos
examinar-nos também sobre os maus hábitos e sobre as ocasiões de pecado.
697) No exame, devemos investigar também
o número dos pecados?
No exame devemos
investigar também o número dos pecados mortais.
698) Que é necessário para que um pecado
seja mortal?
Para que um pecado
seja mortal são necessárias três coisas: matéria grave, plena advertência e
consentimento perfeito da vontade.
699) Quando há matéria grave?
Há matéria grave,
quando se trata de uma coisa notavelmente contrária à Lei de Deus e da Igreja.
700) Quando há plena advertência no
pecado?
Há plena
advertência no pecado, quando se conhece perfeitamente que se faz um mal grave.
701) Quando, no pecado, há o
consentimento perfeito da vontade?
Ha. no pecado, o
consentimento perfeito da vontade, quando se quer fazer deliberadamente uma
coisa, embora se reconheça que é culpável.
702) Que diligência se deve usar no
exame de consciência?
No exame de
consciência deve usar-se aquela diligência que se usaria em um negócio de
grande importância.
703) Quanto tempo se deve empregar no
exame de consciência?
Deve empregar-se no
exame de consciência mais ou menos tempo, conforme a necessidade, isto é,
conforme o número e a qualidade dos pecados que sobrecarregam a consciência, e
conforme o tempo decorrido desde a última confissão bem feita.
704) Como se pode facilitar o exame para
a confissão?
Facilita-se o exame
para a confissão, fazendo todas as noites o exame de consciência sobre as ações
do dia.
§ 4o - Da dor ou arrependimento
705) Que é a dor dos pecados?
A dor dos pecados
consiste num desgosto e numa detestação sincera da ofensa feita a Deus.
706) De quantas espécies é a dor?
A dor é de duas espécies:
perfeita ou de contrição; imperfeita ou de atrição.
707) Que é a dor perfeita ou de
contrição?
A dor perfeita é o
desgosto de ter ofendido a Deus, porque Deus é infinitamente bom e digno, por
Si mesmo, de ser amado sobre todas as coisas.
708) Por que se chama perfeita a dor de
contrição?
Chama-se perfeita a
dor de contrição por duas razões:
1º porque se refere
exclusivamente à bondade de Deus, e não ao nosso proveito ou prejuízo;
2º porque nos faz
alcançar imediatamente o perdão dos pecados, ficando-nos porém a obrigação de
nos confessarmos.
709) Então a dor perfeita alcança-nos o
perdão dos pecados independentemente da confissão?
A dor perfeita não
nos alcança o perdão dos pecados independentemente da confissão, porque sempre
inclui a vontade de se confessar.
710) Por que a dor perfeita, ou
contrição, produz este efeito de nos conceder o estado de graça?
A dor perfeita, ou
contrição, produz este efeito, porque procede da caridade, que não pode
encontrar-se na alma juntamente com o pecado mortal.
711) Que é a dor imperfeita ou de
atrição?
A dor imperfeita ou
de atrição é aquela pela qual nos arrependemos de ter ofendido a Deus como
nosso supremo Juiz, isto é, por temor dos castigos que merecemos e nos esperam
nesta ou na outra vida, ou pela própria fealdade do pecado.
712) Que condições deve ter a dor para
ser boa?
A dor, para ser
boa, deve ter quatro condições: deve ser interna, sobrenatural, suma e
universal.
713) Que quer dizer: a dor deve ser
interna?
Quer dizer que deve
estar no coração e na vontade, e não só nas palavras.
714) Por que a dor deve ser interna?
A dor deve ser
interna, porque a vontade, que se afastou de Deus com o pecado, deve voltar
para Deus, detestando o pecado cometido.
715) Que quer dizer: a dor deve ser
sobrenatural?
Quer dizer que deve
ser excitada em nós pela graça do Senhor, e a devemos conceber levados por
motivos que procedem da fé.
716) Por que a dor deve ser
sobrenatural?
A dor deve ser
sobrenatural, porque é sobrenatural o fim a que se dirige, isto é, o perdão de
Deus, a aquisição da graça santificante e o direito à glória eterna.
717) Explicai melhor a diferença entre a
dor sobrenatural e a natural.
Quem se arrepende
por ter ofendido a Deus infinitamente bom e digno por Si mesmo de ser amado,
por ter perdido o Paraíso e merecido o inferno, ou então pela malícia
intrínseca do pecado, tem dor sobrenatural, porque estes são os motivos
fornecidos pela fé. Quem, ao contrário, se arrependesse só pela desonra ou
castigo que lhe vem dos homens, ou por algum prejuízo puramente temporal, teria
dor natural, porque se arrependeria só por motivos humanos.
718) Por que a dor deve ser suma?
A dor deve ser
suma, porque devemos considerar e odiar o pecado como o maior de todos os males,
visto ser ofensa de Deus, sumo Bem.
719) Para ter dor dos pecados, é
porventura necessário chorar, como às vezes se chora pelas desgraças desta
vida?
Não. Não é
necessário que materialmente se chore pela dor dos pecados; mas basta que no
íntimo do coração se deplore mais o ter ofendido a Deus, do que qualquer outra
desgraça.
720) Que quer dizer que a dor deve ser
universal?
Quer dizer que se
deve estender a todos os pecados mortais cometidos.
721) Por que a dor se deve estender a
todos os pecados mortais cometidos?
Porque quem se não
arrepende, ainda que seja de um só pecado mortal, continua sendo inimigo de
Deus.
722) Que devemos fazer para ter dor dos
nossos pecados?
Para ter dor dos
nossos pecados, devemos pedi-la de todo o coração a Deus e excitá-la em nós com
a consideração do grande mal que fizemos, pecando.
723) Como fareis para vos excitardes a
detestar os pecados?
Para me excitar a
detestar os pecados considerarei:
1º o rigor da
infinita justiça de Deus, e a deformidade do pecado que enfeiou a minha alma, e
me tornou merecedor das penas eternas do inferno;
2º que perdi a
graça, a amizade e a qualidade de filho de Deus, e a herança do Paraíso;
3º que ofendi o meu
Redentor que morreu por mim, e que os meus pecados foram a causa da sua morte;
4º que desprezei o
meti Criador, o meu Deus; que Lhe voltei as costas, a Ele, meu sumo Bem, digno
de ser amado sobre todas as coisas, e servido fielmente.
724) Devemos ter grande empenho, quando
nos vamos confessar, em ter verdadeira dor dos nossos pecados?
Sim, quando nos
vamos confessar, devemos ter muito empenho em ter verdadeira dor dos nossos
pecados, porque esta é a coisa mais importante de todas; e, se falta a dor, a
confissão não é válida.
725) Quem se confessa só de pecados
veniais, deve ter dor de todos?
Quem se confessa só
de pecados veniais, para se confessar validamente, basta que se arrependa de
algum deles; mas, para alcançar o perdão de todos, é necessário que se
arrependa de todos os que reconhece ter cometido.
726) Quem se confessa só de pecados
veniais, e não está arrependido nem sequer de um só, faz uma boa confissão?
Quem se confessa só
de pecados veniais, e não está arrependido nem sequer de um só, faz uma
confissão nula; a confissão além disso é sacrílega, se adverte que lhe falta a
dor.
727) Que convém fazer para tornar mais
segura a confissão só de pecados veniais?
Para tornar mais
segura a confissão só de pecados veniais, é prudente acusar, com verdadeira
dor, também algum pecado mais grave da vida passada, ainda que já confessado
outras vezes.
728) É bom fazer com freqüência o ato de
contrição?
É coisa boa e muito
útil fazer, com freqüência, o ato de contrição, principalmente antes de se deitar,
e quando se tem certeza ou se duvida de ter caído em pecado mortal, para
recuperar mais depressa a graça de Deus; é útil, sobretudo, para alcançar mais
facilmente de Deus a graça de fazer semelhante ato na ocasião de maior
necessidade, isto é, em perigo de morte.
§ 5º - Do propósito
729) Em que consiste o propósito?
O propósito
consiste em uma vontade determinada de nunca mais cometer o pecado, e de
empregar todos os meios necessários para o
evitar.
730) Que condições deve ter esta
resolução, para ser um bom propósito?
Para ser um bom
propósito, esta resolução deve ter principalmente três condições: deve ser
absoluta, universal e eficaz.
731) Que quer dizer: o bom propósito
deve ser absoluto?
Quer dizer que o
propósito deve ser sem condição alguma de tempo, de lugar ou de pessoa.
732) Que quer dizer: o bom propósito
deve ser universal?
O bom propósito
deve ser universal, quer dizer que devemos ter a vontade de evitar todos os
pecados mortais, tanto os que já tenhamos cometido no passado, como os que
poderíamos cometer ainda.
733) Que quer dizer: o bom propósito
deve ser eficaz?
O bom propósito
deve ser eficaz, quer dizer que é necessário termos uma vontade decidida de
perder todas as coisas antes que cometer um novo pecado, de fugir das ocasiões
perigosas de pecar, de destruir os maus hábitos, e de satisfazer a todas as
obrigações lícitas contraídas em conseqüência dos nossos pecados.
734) Que é que se entende por mau
hábito?
Por mau hábito
entende-se a disposição adquirida para cair com facilidade naqueles pecados aos
quais nos acostumamos.
735) Que devemos fazer para corrigir os
maus hábitos?
Para corrigir os
maus hábitos, devemos vigiar sobre nós mesmos, fazer muita oração, confessar-nos
com freqüência, ter um bom diretor sem mudá-lo, e pôr em prática os conselhos e
os remédios que ele nos propõe.
736) Que se entende por ocasiões
perigosas de pecar?
Por ocasiões
perigosas de pecar entendem-se todas aquelas circunstâncias de tempo, de lugar,
de pessoas ou de coisas, que, pela sua própria natureza, ou pela nossa
fragilidade, nos induzem a cometer o pecado.
737) Somos gravemente obrigados a evitar
todas as ocasiões perigosas?
Somos gravemente
obrigados a evitar as ocasiões perigosas que de ordinário nos levam a cometer o
pecado mortal, e que se chamam ocasiões próximas de pecado.
738) Que deve fazer quem não pode evitar
alguma ocasião de pecado?
Quem não pode
evitar alguma ocasião de pecado diga-o ao confessor, e siga os conselhos dele.
739) Que considerações nos auxiliam a
fazer o propósito?
Para fazer o
propósito auxiliam-nos as mesmas considerações que servem para excitar a dor,
isto é, a consideração dos motivos que temos para temer a justiça de Deus, e
para amar a sua infinita bondade.