Para relembrar.... EM QUE CONSISTE A PERFEIÇÃO CRISTÃ

Do Livro
D. Lorenzo Scúpoli

Capítulo I
Para conquistá-la é preciso combater.
Quatro coisas necessárias para este combate

Se queres, filha amantíssima em Cristo, alcançar o cume da perfeição, chegar ao teu Deus, e te unires a Ele – empreendimento mais nobre que quantos outros se possam imaginar – deve primeiro conhecer em que consiste a verdadeira vida espiritual.
Muitos, sem pensar, julgam que ela consiste na austeridade de vida, no castigo da carne, nos cilícios, nos açoites, nas longas vigílias, nos jejuns, em outras penitências e fadigas corporais.
Outras pessoas, mulheres especialmente, pensam ter chegado a grande perfeição, quando rezam muito, ouvem muitas missas e longos ofícios, frequentam as Igrejas e a Sagrada Comunhão.
Outros, ainda, e entre eles, certamente muito religioso de convento, chegaram à conclusão de que a perfeição consiste na frequência ao coro, no silêncio, na solidão e na disciplina.
E assim variam as opiniões, e uns colocam a perfeição nisto e outros, naquilo.
A verdade, porém, é muito outra. Tais ações são, às vezes, meios de adquirir o espírito, e, às vezes, frutos do espírito. Não se pode, porém, dizer que somente nestas coisas consista a perfeição cristã e o verdadeiro espírito.
Sem dúvida são poderosíssimos meios para o espírito, quando delas nos utilizamos com discrição. Dão força à nossa alma contra a nossa maldade e fragilidade; fortalecem-na contra os assaltos e as insídias do inimigo; alcançam-nos auxílios espirituais, tão necessários aos servos de Deus, máxime aos que principiam.
Estas práticas são também fruto do espírito, nas pessoas espirituais que castigam o corpo, por ter este, ofendido o Criador e recolhem-se longe do mundo para se dedicarem ao serviço divino e não ofenderem em nada o Senhor. Dedicam-se ao culto divino e às orações, meditam a Vida e a Paixão de Nosso Senhor, não por curiosidade e gosto sensível, mas para conhecerem sempre mais a própria maldade, a bondade e misericórdia de Deus, e mais se inflamarem no amor divino e no ódio de si mesmo. Seguem com grande abnegação, e com sua cruz às costas, o Filho de Deus, frequentam os santos sacramentos, para a glória de sua Divina Majestade, para mais se unirem com Deus e para adquirirem novas forças contra o inimigo.
Se, porém, põe todo o fundamento de sua virtude nas ações exteriores, estas ações, por não serem defeituosas, pois são santíssimas, mas pelo defeito de quem as usa, serão às vezes, mais que os próprios pecados, a causa de sua ruína. Pois estas almas apenas prestam atenção às suas ações, largam o coração às suas inclinações naturais e ao demônio oculto. Este, reparando já estar aquela alma fora do caminho, deixa-a continuar com deleites naqueles exercícios e embala-a com o pensamento das delícias do paraíso. A alma logo se persuade já estar nos coros angélicos e possuir Deus em sua alma. Embevecendo-se em altas meditações, em curiosos e deleitantes pensamentos, e, quase esquecida do mundo e das criaturas, pensa estar no terceiro céu.
Está, porém, envenenada e longe da perfeição. Pela vida e pelos costumes destas pessoas, muito facilmente poderemos deduzi-lo.
Querem sempre, nas coisas pequenas e nas grandes, ser os preferidos. Querem que sua opinião e sua vontade sejam sempre respeitadas. Não reparam nos próprios defeitos e observam e criticam os defeitos do outros. Querem que os outros façam dele excelente juízo e se comprazem nisto. Mas se tocas de leve em sua reputação, ou se falas da devoção que exibem, logo se alteram e muito se inquietam.
E se Deus, para levá-los ao conhecimento verdadeiro deles mesmos e ir à estrada da perfeição, manda-lhes trabalhos e enfermidades, ou permite perseguições (que nunca vêm sem a vontade divina, que, às vezes, o permite, e são a pedra de toque com que Ele examina a lealdade de seus servos), então se descobre a base falsa da sua devoção. Vê-se que tem o interior corrompido pela soberba, porque, nas diversas circunstâncias, sejam alegres ou tristes, não se humilham perante a vontade divina, respeitando os justos e secretos juízos de Deus. Nem a exemplo de Jesus Cristo abaixam-se perante as criaturas, têm por amigos caros, os perseguidores, e entendem que eles são instrumentos da divina bondade e meios de mortificação, de perfeição e de salvação.
Estes estão em grave perigo de cair, porque têm o olhar interno obscurecido. É com este olhar que contemplam a si mesmos e suas obras externas boas, atribuindo-se muitos graus de perfeição. E, ensoberbecidos, julgam os outros.
A não ser um auxílio extraordinário de Deus, nada os converterá.
Por isso, mais facilmente se converte e se dá ao bem, o pecador manifesto, que o oculto e coberto com o manto das virtudes aparentes.
Vês, pois, claramente, que a vida espiritual, como declarei acima, não consiste nestas coisas.
A virtude outra coisa não é, senão o conhecimento da bondade e grandeza de Deus, e da nossa nulidade e inclinação ao mal; o amor de Deus e o ódio de nós mesmos; a sujeição, não somente a Ele, mas, por seu amor, a toda a criatura; o desapropriamento da nossa vontade e o acatamento total de suas divinas disposições; por fim querer e fazer tudo isso, para a glória de Deus, para seu agrado, e porque Ele quer e merece ser amado e servido.
Esta é a lei do amor, expressa pela mão de Deus nos corações de seus servos fiéis.
Esta é a negação de nós mesmos, que Ele exige de nós. Este é o jugo suave e o ônus leve.
Esta é a obediência a que nosso divino Redentor e Mestre nos chama com sua voz e com seu exemplo.
Se aspiras a tanta perfeição, deves fazer contínua violência a ti mesma, para combateres generosamente e aniquilar todas as tuas vontades, grandes e pequenas. Para isso é necessário que, com grande prontidão de ânimo, te aparelhes para esta batalha, pois só é coroado o soldado valoroso.
Este combate é difícil, mais que nenhum outro, pois combatemos contra nós mesmos. Por maior, porém, que seja a batalha, mais gloriosa, e mais cara a Deus, será a vitória.
Se tratares de sufocar todos os teus apetites desordenados, teus desejos e vontades, mesmo muito pequenas, maior serviço farás a Deus do que se te flagelares até o sangue, jejuares mais que os antigos eremitas e anacoretas, converteres milhares de almas, guardando vivos, voluntariamente, alguns destes apetites.
Naturalmente, o Senhor aprecia mais a conversão das almas do que a mortificação de uma pequenina vontade. Apesar disto, não deves querer nem obrar, senão aquilo que o Senhor restritamente quer de ti. E sem dúvida Ele mais se compraz em que te canses em mortificar as tuas paixões do que em O servires em algum trabalho, por grande e necessário que seja, guardando viva em ti, advertida e voluntariamente, alguma paixão.

Agora que vês, filha, em que consiste a perfeição cristã e como, para a conquistar é preciso empenhar uma contínua e duríssima guerra contra ti mesma, necessitas de quatro coisas como armas seguríssimas e muito necessárias, para vencer nesta batalha espiritual.
São as seguintes:
A desconfiança em ti mesma, a confiança em Deus, o exercício e a oração.
Com a ajuda divina, algo diremos, sucintamente, sobre estes assuntos.

ORAÇÃO MARIANA DO SÉCULO III


Fragmento Papiráceo
  
Em síntese: Em 1917 a Biblioteca John Ryland, de Manchester, adquiriu no Egito um pequeno papiro, cujo conteúdo foi identificado em 1939; é o texto de uma oração dirigida a Maria Santíssima invocada como Theotókos (Mãe de Deus) no século III. Quando em 431 o Concilio de Éfeso proclamou Maria Theotókos, fez eco a uma tradição cujo primeiro termo conhecido remonta a Orígenes (243).

Em 1917 a Biblioteca John Ryland, de Manchester (Inglaterra), adquiriu no Egito um pequeno fragmento de papiro de 18 x 9,4 cm, que foi catalogado como Ryl. III, 470. Esse papiro apresenta uma oração mariana de grande importância tanto por seus dizeres como por sua data.

Examinaremos, a seguir, o conteúdo do papiro e a respectiva datação.

1. O conteúdo do papiro

O texto do fragmento papiráceo foi editado em 1938, sem que se tivessem até então identificado os seus dizeres. Isto só foi feito no ano seguinte por F. Mercenier: este pesquisador verificou que se tratava da oração mariana conhecida e recitada ainda hoje com as palavras iniciais "Sob a vossa proteção" (Sub tuum praesidium... em latim). Embora o texto não esteja completo, mas deteriorado pelas intempéries dos séculos (coisa normal entre os papiros), o sentido das palavras pode ser depreendido com clareza e segurança. Eis, a seguir, uma reprodução do papiro e a reconstrução do seu conteúdo. Entre colchetes estão coloca- das as letras gregas subentendidas para dar significado ao texto:


O texto, devidamente reconstituído, diz o seguinte :


Sob a tua misericórdia nos refugiamos. Mãe de Deus!
Não deixes de considerar as nossas súplicas em nossas dificuldades, Mas livra-nos do perigo, Única casta e bendita!


A oração, redigida na primeira pessoa do plural, parece ser, por isto mesmo, pertinente ao uso da Liturgia. Comentemo-la, levando em conta as traduções da mesma existentes nas diversas tradições litúrgicas.

Sob a tua misericórdia nos refugiamos... Uma das diferenças mais notáveis quando consideramos as versões recentes, está em que o antigo orante se refugiava debaixo da misericórdia de Maria, ao passo que o texto latino diz praesidium, proteção, asilo, defesa - o que parece ser mais sóbrio. A expressão "sob a tua misericórdia" se encontra nas versões bizantina, copta e ambrosiana, ao passo que a Liturgia síria reza mais enfaticamente ainda: "sob o manto da tua misericórdia". Por sua vez, o rito etíope diz: "sob a sombra de tuas asas".

Alguns manuscritos latinos do século X traduzem literalmente: sub tuis visceribus, isto é, em tuas entranhas nos refugiamos. Esta versão faz ressoar um semitismo bíblico: a misericórdia é comparada às entranhas de uma mãe, que em seu íntimo defende e abriga seu filho. Na verdade, o vocábulo grego eusplanchían significa boas entranhas. Como se vê, o texto original põe em relevo a confiança filial e a índole afetiva das relações entre o cristão orante e a Santa Mãe de Deus.

Theotókos. O título que comumente se traduz por "Mãe de Deus", quer dizer, ao pé da letra: "Aquela que deu à luz Deus", em latim Deipara. Este título professa que a pessoa que Maria deu à luz, é a pessoa do Filho de Deus ou a segunda Pessoa da SSma. Trindade na medida em que quis assumir a carne humana. Note-se que o vocábulo Theotóke é forma de vocativo; donde se depreende que a oração é dirigida a Maria, como expressão da grande antiguidade da devoção mariana no povo de Deus.

Não deixes de considerar as nossas súplicas em nossas dificuldades. Ao pé da letra, o fiel pede a Maria: "não afastes de nossas súplicas o teu olhar". Basta, pois, que a Mãe de Deus esteja atenta às nossas súplicas para que estejamos seguros. Não se trata, porém, de qualquer súplica, mas daquelas que brotam das dificuldades.

Mas livra-nos do perigo. Observe-se que o texto atual desta prece menciona "os perigos", ao passo que o papiro fala "do perigo". Quem recua até o ambiente egípcio do século III, verifica que o perigo por antonomásia eram as perseguições movidas pelo Império Romano contra os cristãos. O historiador Eusébio de Cesaréia (+339), em sua História da Igreja, descreve a grande crueldade das perseguições havidas no Egito. Por conseguinte, pode-se crer que a comunidade que compôs tal oração, em tempo de perseguição, recorria à proteção da misericórdia da Mãe de Deus. Se tal suposição é correta, vê-se que a oração refletia dramaticamente a alma do povo de Deus.

Única casta e bendita! A exclamação final professa a virgindade de Maria Santíssima. O termo agne significa pura, casta, santa; além da virgindade, proclama a fidelidade de Maria à vontade de Deus.

2. O problema da datação

Os estudiosos concordam entre si ao afirmar a grande antiguidade do texto, mas oscilam entre o século III e o século IV.

Os que preferem o século III valem-se de argumentos papirológicos (material sobre o qual se fez a escrita, tipo de letra, caligrafia...). Os partidários do século IV baseiam-se em razões de ordem doutrinária: o uso da expressão Theotókos, dizem, não se encontra antes do século IV. Todavia a pesquisa atenta das fontes literárias ou patrísticas leva a concluir claramente em favor do século III. Eis o que se pode apurar:

Por volta de 428 Nestório, Patriarca de Constantinopla, rejeitou o costume, arraigado no povo cristão, de chamar Maria Theotókos; preferia falar de Christotókos (a que deu à luz o Cristo). Com isto Nestório queria pretensamente salvaguardar a humanidade completa de Cristo, mas na verdade estava separando o divino e o humano em Jesus e negando a verdadeira Encarnação. A réplica a Nestório não se fez esperar. São Cirilo, Bispo de Alexandria, sede tradicionalmente oposta a Constantinopla em questões cristológicas, assumiu a defesa do título Theotókos. O Concilio geral de Éfeso em 431, valendo-se das palavras de Cirilo, declarou que os Santos Padres "não duvidaram chamar Theotókos à SSma. Virgem" - o que não queria dizer que a Divindade começou a existir a partir de Maria, mas que Aquele que nasceu de Maria, desde o seio materno está unido hipostaticamente ao Verbo de Deus.

A controvérsia assim oriunda tem suas raízes em épocas anteriores. Com efeito; quando Nestório se pôs a negar o título Theotókos, encontrou-o já inveterado no povo de Deus, principalmente no Egito ou na região de Alexandria. Retrocedendo ao século IV encontramos o grande Bispo Atanásio de Alexandria, que por volta de 340 atribuiu algumas vezes o título Theotókos a Maria SSma., tanto nos seus escritos contra os arianos quanto na sua Vida de Antão.

O antecessor de Atanásio na sede alexandrina, S. Alexandre, também usou tal título: numa de suas cartas afirma que o Verbo assumiu um corpo verdadeiro, e não aparente, de Maria, aTheotókos (PG 18, 568c).

Em 300 foi eleito Bispo de Alexandria Pedro I: ao referir-se ao mistério da Encarnação, chama duas vezes Maria Theotókos (PG 18,517b). Nem Pedro nem Alexandre nem Atanásio sentem a necessidade de justificar ou explicar o título - o que mostra que era tranquilamente aceito pelo povo de Deus.

Entrando agora no século III, notemos que o mártir alexandrino Piero (+300) cognominado Orígenes Júnior, escreveu um tratado sobre a Theotókos (Peri tes Theotókou), como refere Filipe de Side.

Recuando mais ainda, registra-se uma observação do historiador Sócrates, o Escolástico, na sua História da Igreja: afirma que Orígenes de Alexandria (+254) no início do seu comentário sobre a epístola aos Romanos (redigido por volta de 243), elaborou ampla explicação do sentido que tem o termo Theotókos; em tal caso pode-se crer que Orígenes sentia a necessidade de explicar o título mariano. Infelizmente, porém, esse comentário da epístola aos Romanos se perdeu. O vocábulo Theotókos ocorre ainda em alguns textos de Orígenes cuja autenticidade é discutida (o fragmento 80 sobre Lucas é tido geralmente como genuíno). Há certamente algumas afirmações de Orígenes, em suas homílias sobre São Lucas, que sugerem tenha Orígenes, já na primeira metade do século III, chamado Maria SSma. Theotókos.

Este título ocorre outrossim na obra As Bênçãos dos Patriarcas, de Hipólito de Roma (+235), que pode datar de fins do século II (julga-se, porém, que a referência ao título é devida a uma interpolação e não pertence à integridade do texto).

Como quer que seja, pode-se reconstituir a série de autores alexandrinos que aplicam a Maria a designação Theotókos: Orígenes, Piero, Pedro I, Alexandre e Atanásio; tal série vai de 243 a 340, evidenciando a antiguidade do texto.

Estes dados de literatura patrística são assaz significativos para que se possa atribuir a oração em pauta ao século III. Ela é testemunho de que a piedade mariana desde remotas épocas existe no povo de Deus, pondo em relevo a figura maternal de Maria: Mãe de Deus feito homem e Mãe dos homens que seguem a Cristo perseguido e vencedor da morte.

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Dom Estêvão Bettencourt (OSB)

MARIA MODELO DA MULHER NOS SEUS DEVERES DE ESPOSA


Tais foram as virtudes de MARIA que a sua vida pode servir de regra a todas as vidas
S. Ambrósio
PRIMEIRO COLÓQUIO
A esposa em face de Deus
Missus est ad virginem desponsatam viro cui nomen Joseph.
0 anjo Gabriel foi enviado a uma virgem cujo esposo se chamava José.
Mudando de condição, Maria não muda de sentimentos. Esposa do casto José, continua a ser em Nazaré o que era no templo no meio das jovens virgens suas companheiras, a serva fiel do Senhor. Eis o vosso modelo, esposas cristãs que vos decidistes a contrair uma união que só a morte poderá romper. Fazei calar a vossa imaginação, ponde de lado os vossos sonhos de donzela, não vades julgar-vos destinada a tornar-vos uma das mulheres sempre adoradas e sempre adoráveis, segundo a frase de Fénelon, que são muito numerosas nos romances. Lembrai-vos, pelo contrário, de que o caminho da cruz é o único que leva à vida. Recordai-vos de que se todos os homens devem pagar neste mundo o seu tributo de sofrimentos e de submissão, o cristianismo fez dele, sobretudo o apanágio especial da mulher; escutai os avisos que vos dá uma mulher que parece haver expressamente escrito para vós as palavras seguintes: 1 
Desde os primeiros dias do seu casamento, a esposa cristã deve aplicar-se a compreender e a encarar a sua posição no seu conjunto, e ocupar-se em harmonizar as suas exigências com as da fé. Colocar-se sob um ponto de vista assaz baixo para aperceber detalhadamente os deveres multiplicados e minuciosos, cujo conjunto forma o seu dever, e assaz elevado para isolar-se desse aparato de seduções que a cerca, e compreender que esta espécie de nuvem de poesia, cujos vapores se espalham por sobre ela, se diluirão a breve trecho numa realidade vulgar e prosaica.
Obreira precoce e madrugadora lançai a mão à charrua e não olheis para trás. Esquecei os sonhos da vossa infância, olvidai as delícias da vossa despreocupação de donzela, e essa vida de repouso e de prazeres que já talvez vos encontrasse muito difícil, ou, se vós vos recordais que isto seja para dizer como S. Paulo: Quando eu era criança, falava como criança, julgava como criança, raciocinava como criança; mas, tornando-me homem, acho-me desapossado de tudo o que tinha da infância. E dizei isto sem pensamento reservado, com a resolução sincera de não recuar diante de nenhum sacrifício ou de nenhuma fadiga, de não recuar mesmo diante da humilhação, nem diante da obediência; dizei-o com uma determinação franca e tenaz de caminhar sempre para a frente, apesar das insinuações da preguiça. Dizei-o, enfim, com a intenção generosa de nada recusardes a Deus, nem mesmo a vossa vontade, nem mesmo os gozos mais puros das vossas legítimas afeições.
Haveis de mostrar assim que realmente vos tornastes homem; o homem de Deus, seu vassalo devotado e sempre fiel. Certamente, aquele que vos fez o que sois, diz Santo Agostinho, tem bem o direito de exigir que sejais todas dele.
Não há dúvida, pois, que deveis sempre pertencer-lhe, mas trata-se d’ora avante de uma doação mais completa e mais reflexa. Éreis dele, em criancinha, quando não o conhecendo ainda, os vossos gritos o imploravam sem o saber. Éreis dele, em menina, quando, gozando alegremente os vossos primeiros dias belos, interrompíeis os vossos jogos e brinquedos, ao sinal d’uma mãe, para erguer as mãos e rezar; mas não o servíeis senão sem o saber, e ao levar-vos a ele, a vossa mãe fazia apenas um ato reflexo. Éreis dele, na adolescência, quando pela primeira vez quis habitar dentro em vós; oh! nesse belo dia vós pertencíeis inteiramente a Deus. Contudo, cheia ainda da inconstância da vossa idade, revestida tanto da sua leviandade como da sua inocência, tendes sentido mais as doçuras do dom de Deus que compreendido as obrigações que vos eram impostas; talvez mesmo tenhais esquecido depois estas doçuras e estas obrigações.
Éreis de Deus, quando donzela, pois que, dando os primeiros passos no meio do mundo cujo aspecto vos seduzia, vós prometíeis constantemente nunca o preferir a Jesus Cristo; mas tínheis antes a confiança presunçosa d’uma inocência não experimentada do que a força do devotamento; éreis de Deus, em donzela, quando, não obstante as seduções das aparências e as revoltas internas tão frequentes na idade juvenil continuastes a servi-lo e a amá-lo; mas então, abrigada debaixo da asa materna rodeada de conselhos e de vigilância, a vossa virtude estava especada de todos os lados, e tinha as suas raízes mais em santos costumes do que em solidas resoluções. Éreis de Deus, em donzela, quando, tremendo à ideia d’uma mudança de posição, vos lançastes nos seus braços para lhe pedir socorro e luz; mas então a grandiosidade da empresa, o assombro do vosso coração vos faziam assaz sentir não só a vossa fraqueza mas também a necessidade do seu apoio.
Mas d’ora avante, deveis ser de Deus não somente em virtude do seu soberano domínio sobre toda a criatura, não somente como a criança que lhe reza sem o conhecer, e não por hábito ou por capricho, nem por fraqueza ou por medo; deveis ser dele por uma doação voluntária e total, com o conhecimento inteiro dos vossos deveres e dos vossos perigos, como com uma firme confiança no seu amor e na sua bondade.
Já não é o sinal d’uma mãe que deveis esperar para o servir e rezar-lhe; mas à vossa voz agora, outras deverão aprender a fazê-lo. Não é somente nos momentos de fervor e de pesar que deveis pensar nele; mas é sempre, porque sempre, se ele não estiver ao vosso lado, sentir-vos-eis fraquejar debaixo do peso da cruz e da pressão d’uma enorme responsabilidade.
Já não é exclusivamente nos solenes instantes das decisões difíceis que é preciso abandonar-vos à sua direção, e entregar-lhe as chaves do império cujo cetro vós possuís; mas é todos os dias, é a cada conduta e a cada passo, porque todos os vossos dias estão semeados de dificuldades, porque os vossos passos, e as vossas condutas tem adquirido um certo grau de importância de que vós não podeis encarregar-vos sozinhas; ficai-o então sabendo, não cessamos de vo-lo dizer, tendes precisão de Deus.
Desde os primeiros dias da vossa união, ponde-vos de joelhos, pela manhã e à noite; é mister que o vosso marido saiba bem que sois cristã, a omissão das vossas preces seria para ele uma causa de admiração, e mais tarde havia de servos difícil prosseguir as práticas que haveis interrompido.
Durante o dia, subtrai alguns desses instantes, tantas vezes desperdiçados no mundo, para vos recolher, escutar a voz de Deus, e responder-lhe. Conservai os vossos piedosos costumes de donzela; dai a esta oração, cujo incenso sobe direito para Deus, para tornar a descer em chuva de graças, as primícias do dia. E haveis de ver como todas as vossas ações serão abençoadas em seguida; como as horas que se seguirem serão impregnadas dos perfumes queimados pela manhã; como a vossa alma cem paz com Deus estará mais facilmente com todos; como a sua recordação vos seguirá docemente para inspirar-vos a força, aonde a força for necessária, e ensinar-vos a descendência no ponto aonde a condescendência se tornar útil.

PRÁTICA
Recordai que a nossa condição pode mudar, mas que o dever de servir a Deus não varia nunca.

ORAÇÃO
Oh Maria! Vós, a quem eu sou feliz por chamar Minha Mãe, amai-me sempre como vosso filho, velai por mim no meio dos perigos que me cercam, amparai-me no cumprimento dos meus deveres, protegei-me contra a minha própria fraqueza, obtende-me a graça de perseverar até à morte no vosso amor e no amor do vosso Divino Filho.
Assim seja.

RAMO ESPIRITUAL
A Santa Escritura representa-nos a SS. Virgem sob o emblema de um jardim fechado, hortus conclusus.
Sim, diz S. Bernardo, Maria é esse florido canteiro fechado ao espírito impuro, cheio de divinos aromas, cultivado por uma Mão Celeste e ornado das flores deleitáveis de todas as virtudes; entre as mais belas, três sobretudo nos arrebatam de admiração e enchem a casa do Senhor do mais suave perfume: a violeta da humildade, o lírio da virgindade, e a rosa da caridade.
Esposa cristã, possais vós aparecer aos olhos de Deus como aos olhos do mundo, ataviada de todas as virtudes, a exemplo de Maria; é assim que vós glorificareis o vosso Pai celeste.

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1 - Mulher Cristã, por Mme. M. de M.

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Excertos do livro: A Mulher na Escola de Maria, 1903 - M.J. Larfeuil

As pessoas que desejarem servir-se deste livro para os exercícios piedosos do mês de Maria, devem ler no primeiro dia a instrução transcrita AQUI


O tempo é um tesouro que só se acha nesta vida

Valor do tempo


Fili, conserva tempus.
Filho, aproveita o tempo (Sr 4,23)

PONTO I

Diligencia, meu filho, — diz o Espírito Santo, —  em empregar bem o tempo, porque é a coisa mais preciosa, riquíssimo dom que Deus concede ao homem mortal. Até os próprios gentios tinham conhecimento de seu valor. Sêneca dizia que nada pode equivaler ao valor do tempo. Com maior estimação ainda o apreciaram os Santos. Afirma São Bernardino  de Sena  que um só momento vale tanto como Deus,  porque nesse instante, com um ato de contrição ou de amor perfeito, pode o homem adquirir a graça divina e a glória eterna.
O tempo é um tesouro que só se acha nesta vida, mas não na outra, nem no céu, nem no inferno. É este o grito dos condenados: Oh! Se tivéssemos uma hora!... Por todo o preço comprariam uma hora a fim de reparar sua ruína; porém, esta hora jamais lhes será dada. No céu não há pranto; mas se os bem-aventurados pudessem sofrer, chorariam o tempo perdido na sua vida mortal, o qual lhes poderia ter servido para alcançar grau mais elevado na glória; porém, já se passou a época de merecer. Uma religiosa beneditina, depois da morte, apareceu radiante de glória a uma pessoa e lhe revelou que gozava plena felicidade, mas, se algo pudesse desejar, seria unicamente voltar ao mundo para sofrer mais e assim alcançar maior mérito. Acrescentou que de boa vontade sofreria até ao dia do juízo a dolorosa enfermidade que a levou à morte, contanto que conseguisse a glória que corresponde ao mérito de uma só Ave-Maria.
E tu, meu irmão, em que empregas o tempo?...  Por que sempre adias para amanhã o que podes fazer hoje? Reflete que o tempo passado desapareceu e já não te pertence; que o futuro não depende de ti.
Só dispões do tempo presente para agir... Ó infeliz! — adverte São Bernardo, — por que ousas contar com o vindouro, como se Deus tivesse posto o tempo em seu poder?”. E Santo Agostinho disse:  Como te podes prometer o dia de amanhã, se não dispões de uma hora de vida? “Daí conclui Santa Teresa: “Se não estiveres preparado hoje para morrer, teme morrer mal...

PONTO II

Nada há mais precioso que o tempo e não há coisa menos estimada nem mais desprezada pelos mundanos. Isto deplora São Bernardo, dizendo: "Passam rapidamente os dias de salvação, e ninguém reflete que esses dias desaparecem e jamais voltam”. Vede aquele jogador que perde dias e noites na tavolagem. Perguntai-lhe o que fez e responderá: “Passar o tempo”. Vede o ocioso que se entretém horas inteiras na rua a ver quem passa, ou a falar em coisas obscenas ou inúteis. Se lhe perguntam o que está fazendo, dirá que não faz mais do que passar o tempo. Pobres cegos, que assim vão perdendo tantos dias, dias que nunca mais voltam! Ó tempo desprezado! tu serás a coisa que os mundanos mais desejarão no transe da morte... Queremos então dispor de mais um ano, mais um mês, mais um dia; mas não o terão, e ouvirão dizer que já não haverá mais tempo (Ap 10,6). O que não daria então cada um deles para ter mais uma semana, um dia de vida, a fim de poder melhor ajustar as contas da alma!... Ainda que fosse para alcançar só uma hora — disse São Lourenço Justiniano — dariam todos os seus bens. Mas não obterão essa hora de trégua... Pronto, dirá o sacerdote que o estiver assistindo, apressa-te a sair deste mundo; já não há mais tempo para ti.
Por isso, exorta o profeta a que nos lembremos de Deus e procuremos sua graça antes que a luz se nos extinga (Ecl 12,1-2). Que apreensão não sentirá um viajante ao notar que se transviou no caminho, quando, por ser já noite, não lhe é possível reparar o engano!... Tal será a mágoa na morte do que tiver vivido muitos anos sem empregá-los no serviço de Deus. “Virá a noite em que ninguém poderá fazer mais nada” (Jo 9,4). Então o momento da morte será para ele o tempo da noite, em que nada mais poderá fazer. “Clamou contra mim o tempo” (Lm 1,15). A consciência recordar-lhe-á todo o tempo que teve e que empregou em prejuízo de sua alma; todas as graças que recebeu de Deus para se santificar e de que não quis aproveitar; e ver-se-á depois privado de todos os meios de fazer o bem. Por isso exclamará gemendo: Como fui insensato!... Ó tempo perdido, em que podia ter-me santificado!... Mas não o fiz e agora já não é tempo de o fazer... De que servem tais suspiros e lamentações, quando a vida está prestes a terminar e a lâmpada se vai extinguindo, vendo-se o moribundo próximo do solene instante de que depende a eternidade?

PONTO III

Devemos caminhar pela via do Senhor enquanto temos vida e luz, porque esta logo desaparece na morte (Lc 12,40). Então já não é tempo para preparar-se, mas de estar pronto (Jo 12,35). Quando chega a morte, não se pode fazer nada: o que está feito está feito... Ó Deus! Se alguém soubesse que em breve se decidiria a causa de sua vida ou morte, ou de toda a sua fortuna, com que ardor não procuraria um bom advogado, diligenciaria para que os juízes conhecessem nitidamente as razões que lhe assistem, e trataria de empregar os meios para obter sentença favorável!... O que fazemos nós? Sabemos com certeza que muito brevemente, no momento em que menos o pensamos, se há de julgar a causa do maior negócio que temos, isto é, do negócio de nossa salvação eterna... e ainda perdemos tempo? Dirá talvez alguém: “Sou ainda moço; mais tarde me converterei a Deus”. Sabe — respondo — que o Senhor amaldiçoou aquela figueira que achou sem frutos, posto que não fosse estação própria, como observa o Evangelho (Mc 11,13). Com este fato quis Jesus Cristo dar-nos a entender que o homem, em todo tempo, sem excetuar a mocidade, deve produzir frutos de boas obras, senão será amaldiçoado e nunca mais dará frutos no futuro. Nunca jamais coma alguém fruto de ti (Mc 11,14). Assim falou o Redentor àquela árvore, e do mesmo modo amaldiçoa a quem ele chama e lhe resiste... Circunstância digna de admiração! Ao demônio parece breve a duração de nossa vida, e é por isso que não deixa escapar ocasião de nos tentar. “Desceu a vós o demônio com grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo” (Ap 12,12). De sorte que o inimigo não perde nem um instante para desgraçar-nos e nós não aproveitamos, o tempo para nos salvar! Outro dirá: Qual é o mal que faço?... Ó meu Deus! E já não é um mal perder o tempo em jogos e conversações inúteis, que de nada servem à nossa alma? Acaso nos dá Deus esse tempo para que assim o percamos? Não, diz o Espírito Santo: Particula boni doni non te praetereat (Ecl 14,14). Aqueles operários de que fala São Mateus não faziam nenhum mal; somente perdiam o tempo, e é por isso que o dono da vinha os repreendeu: “Que estais aqui todo o dia ociosos?” (Mt 20). No dia do juízo, Jesus Cristo nos pedirá conta de toda palavra ociosa. Todo o tempo que não é empregado para Deus, é tempo perdido. E o Senhor nos diz: “Qualquer coisa que possa fazer tua mão, fá-la com instância; porque nem obra, nem razão de sabedoria, nem ciência haverá no sepulcro, para onde caminhas célere” (Ecl 9,10). A venerável irmã Joana da Santíssima Trindade, filha de Santa Teresa, dizia que na vida dos Santos não há dia de amanhã; só o há na vida dos pecadores, que dizem sempre “mais tarde, mais tarde” e é assim que chegam à morte. “É agora o tempo favorável” (2 Cor 6,2). “Se hoje ouvirdes a sua voz, não queirais endurecer vossos corações” (Sl 94,8). Hoje Deus te chama a fazer o bem; faze-o hoje mesmo, porque amanhã talvez já não terás tempo, ou Deus não te chamará.
E, se por desgraça na vida passada empregaste o tempo em ofender a Deus, procura agora expiar essa falta no resto de tua vida mortal, como resolveu fazer o rei Ezequias: “Repassarei diante de ti todos os meus anos com a amargura de minha alma” (Is 38,15). Deus te prolonga a vida para que resgates o tempo perdido: “Recobrando o tempo, pois que os dias são maus” (Ef 5,16); ou ainda, segundo comenta Santo Anselmo: “Recuperarás o tempo se fizeres o que descuidaste de fazer”.
São Jerônimo diz de São Paulo que, não obstante ser o último dos apóstolos, tornou-se o primeiro em méritos pelos seus trabalhos depois da vocação. Consideremos ao menos que em cada instante podemos ganhar maior cópia de bens eternos. Se nos cedessem a propriedade do terreno que pudéssemos percorrer num dia, ou o dinheiro que pudéssemos contar num dia, que de esforços não faríamos! Pois, se podemos adquirir em um instante tesouros eternos, por que havemos de mal gastar o tempo? O que podes fazer hoje não diga que o farás amanhã, porque o dia de hoje se perderá e não mais voltará.
Quando São Francisco de Borja ouvia falar das coisas mundanas, elevava o coração a Deus com tão santos afetos que não sabia responder quando lhe perguntavam qual era o seu sentir acerca do que haviam dito. Repreenderam-no por isso, e ele contestou que antes preferia parecer homem rude do que perder futilmente o tempo.

 Santo Afonso Maria de Ligório




1 Cor 7, 29
"O que quero dizer é que o tempo é curto..."


"Quando penso no modo como tenho empregado 'o tempo de Deus', temo não me queira dar sua eternidade, pois ele a reserva para aqueles somente que fazem bom uso do tempo" (São Francisco de Sales)

Santa Joana de Chantal consagrara-se a Deus e era tão avara do tempo que, quando lhe perguntaram um dia por que não se dava algum repouso, respondeu: "Porque o tempo não é meu; consagrei-o a Deus, e não posso perder nem um minuto sem cometer uma injustiça contra Aquele a quem pertence".

"O mundo inteiro não é digno de um só pensamento do homem, porque só a Deus ele é devido; assim qualquer pensamento posto fora de Deus é um roubo que se lhe faz" (São João da Cruz, Ditos de Luz e Amor, 114).

"Compreendo perfeitamente aquela exclamação que São Paulo escreve aos de Corinto: 'O tempo se fez curto!' (1 Cor 7, 29), que breve é a nossa passagem pela terra! Para um cristão coerente, estas palavras soam, no mais íntimo do seu coração, como uma censura à falta de generosidade e como um convite constante a ser leal. Realmente é curto o nosso tempo para amar, para se doar, para desagravar. Não é justo, portanto, que o malbaratemos, nem que atiremos irresponsavelmente este tesouro pela janela fora. Não podemos desperdiçar esta etapa do mundo que Deus confia a cada um de nós" (São Josemaría Escrivá - Amigos de Deus, n° 39).

"O tempo vale tanto como o céu, como o Sangue de Jesus Cristo, como o mesmo Deus, porque, bem empregado, põe-nos na posse d'Ele" (São Bernardo de Claraval).

"Nada há mais precioso que o tempo e não há coisa menos estimada nem mais desprezada pelos mundanos" (Santo Afonso Maria de Ligório).

Santo Tomás de Vilanova, arcebispo de Valência e, em geral os santos todos, consideravam a perda do tempo como um furto feito a Deus

A brevidade da vida terrena (cfr. Rm 13, 11-14; 2 Pd 3, 8; 1 Jo 2, 15-17)


Março - Mês de São José - Dia 31



TRIGÉSIMO PRIMEIRO DIA

Oremos para que nos conceda uma grande devoção a São José.
São José estava constantemente ocupado.
Os Santos têm sempre alguma coisa a fazer e fazem-na sem precipitação e também sem indolência. Feliz por ter de ganhar todos os dias o pão de Jesus e de Maria, José não teria perdoado a si a mínima perda de tempo e este pensamento: Eles não teriam o que precisam, ativava-lhe a coragem e dobrava-lhe as forças. A morte o surpreendeu no trabalho e morreu, com o sorriso nos lábios escutando estas palavras de Jesus: "Empregaste bem a tua jornada: vai servo bom e fiel, vai repousar!"
Ó Jesus, assisti-me na hora da minha morte e dizei-me, como a José, essas dulcíssimas palavras de esperança que me esforçarei por merecer, empregando em vossa glória os dias que me concederdes.

EXEMPLO

A 26 de Janeiro de 1856, deu entrada no hospital das religiosas de São Carlos de Virieux-Pelussin, no Loire, uma moça, em estado quase mortal; perdera o uso de todos os membros e de todas as faculdades físicas. Dispensaram-lhe todos os cuidados e depois de oito dias de cruéis sofrimentos, manifestou pequena melhora, porém continuava ainda surda e muda. Veio nesse Ínterim o mês de São José, e a jovem o fez com as outras enfermas. No derradeiro dia, após a oração habitual e no meio do mais profundo silêncio, quando se passava a recitar a ladainha de São José, ouviu-se a jovem enferma agradecer e invocar a São José lastimando não tê-lo conhecido por tanto tempo. Repentinamente abre os olhos e diz: "Ó, meu Deus, eu vejo!" E, um instante depois, exclama: "eu ouço!" Recobrava sucessivamente o uso dos sentidos. Toda a casa acudiu aos gritos de surpresa e alegria que soltaram as pessoas presentes: "Milagre! Milagre!" Dois dias depois, a doente levantou-se perfeitamente curada.
Roguemos todos os dias ao nosso glorioso Protetor que os nossos olhos nunca se fechem à luz da divina graça, e que os nossos ouvidos se abrem dóceis às palavras de vida e de salvação!



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Retirado do livro: Mês de São José por Mons. Dr. José Basílio Pereira