Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953
Quarta Porta do Inferno
A Embriaguez
Quarta Porta do Inferno
A Embriaguez
“Não erreis: os bêbados não herdarão
o reino de Deus”, diz S. Paulo. A embriaguez é um dos vícios mais vergonhosos e funestos. O seu efeito imediato é privar o
homem do uso da razão e até de seus membros. Este pecado ultraja a Deus porque mancha
e apaga no homem a imagem de Deus. Pela sua alma o homem é a imagem de Deus. Como
Deus, a alma conhece, ama e quer. Vede agora o escravo da bebida. Onde está a
imagem de Deus? O embriagado é incapaz de formar uma ideia. Semelhante ao
animal, não é capaz de exprimir seu pensamento. Onde estão seus sentimentos? Só
tem instinto de bruto. Onde está sua liberdade? Faz o que não quer e não faz o
que quer. Chega a ponto de não poder ficar de pé, de não poder dirigir seus
passos, de cair. Um dia, um bêbado caiu numa sarjeta. Chega um cão, olha, fareja-o
festejando-o com a cauda. O cachorro parecia satisfeito por encontrar um colega.
Mas depois o cachorro foi-se embora, e o bêbado ficou deitado na lama, porque não
podia arredar-se do lugar. Deus fez o homem grande, diz a Escritura, mas, pelo vício,
o homem nivelou-se ao bruto.
O alcoólico é inimigo de sua alma, porque calca aos pés todos os
mandamentos da lei de Deus. Amai a Deus sobre todas as coisas, diz o primeiro mandamento. O
escravo da embriaguez é do número daqueles que S. Paulo estigmatiza, quando
diz: “Seu ventre é seu Deus”. O
bêbado blasfema frequentemente, roga pragas, jura falso, profana o dia do Senhor,
é mau filho, mau pai, mau esposo, briga, fere, às vezes mata. Como é raro dois
embriagados separarem-se sem trocar uns murros e se estragar a cara.
Quanto ao sexto mandamento, são obscenidades de toda espécie, pensamentos,
desejos, palavras, olhares, ações, brutalidades que os próprios irracionais ignoram.
No vinho está a luxúria, diz o
Espírito Santo.
O alcoólico é inimigo de seu corpo. O álcool é um veneno, acaba sempre por
estragar e matar. Exerce um efeito funesto sobre o estômago, o coração, os
rins. Os médicos contam até vinte doenças quase todas mortais, causadas pelo álcool. De 120.000
pessoas que morrem cada dia, 20.000 morrem diretamente pelos excessos alcoólicos.
O alcoólico é inimigo de sua família. Uma boa moça regozijava-se na doce
esperança de em breve achar-se ao lado de um moço, o preferido do seu coração, para levar
com ele uma vida cheia de alegria e de felicidade. Por ele deixou pai e mãe, a ele
dá sua mocidade, seu coração, suas forças, seu trabalho, sua vida. E o moço lhe
promete torná-la feliz, promete-o, jura-o, até, ao pé do altar. E, agora,
escravo da embriaguez chega em casa bêbado, envergonha sua esposa, a contrista, a descompõe, a
maltrata, e, às vezes, deixa-lhe faltar o estrito necessário. Que ingratidão, que
traição!
Este pecado levanta contra ele um brado de maldição, arrancado de um
coração esmagado. O eco desta maldição subirá até ao trono de Deus, para bradar
vingança contra o violador do amor conjugal.
Mau esposo, talvez pai pior ainda. Filhos idiotas, raquíticos, epilépticos,
eis, geralmente, a descendência do alcoólico. E estas pobres criaturas
geralmente nascem predispostas ao vício. O fruto não cai longe da árvore,
diziam os antigos. Que educação dará aliás tal pai a seus filhos? Que ouvem os
filhos? Palavras obscenas, conversas ímpias. Que veem? brigas, escândalos. Pai
miserável, que responderás no dia do juízo, quando Deus te perguntar qual o
exemplo que deste a teus filhos?
Renunciai ao vício, cristãos, e gozareis as satisfações da virtude e da
abundância, os encantos da vida de família, tão puros e tão santos. Que alegria ver-se objeto
da afeição de uma esposa, ter filhos sadios e bem educados!
Fugi, pois, do maldito vício da embriaguez. Rezai, frequentai os sacramentos,
afastai-vos da ocasião, principalmente, lembrai-vos da palavra de S. Paulo: “Os bebedores
não entrarão no céu”.
não entrarão no céu”.
Continuará com a...