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10/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943



9.A MORTE DE SÃO JOSÉ

A tranquila ventura dessa vida em Nazaré foi interrompida pelo falecimento de São José. Nada sabemos de certo sobre as circunstâncias dessa morte. Parece que José já deixara esta terra quando o Salvador, na idade de cerca de trinta anos, principiou a sua vida pública. Não o achamos entre os convidados das bodas de Caná. É que provavelmente já havia morrido, do contrário seria mencionado com Jesus e Maria. Não está também entre os que, no Calvário, rodeiam o Salvador crucificado; do contrário, não teria Jesus confiado Maria aos cuidados de São João. Pode-se admitir que José morreu quando o Homem-Deus, chegado à idade adulta, ficou em condições de cuidar de si mesmo e de sua Mãe.

Não foi, por conseguinte, o Santo testemunha das maravilhas da vida pública de Jesus. Apenas pôde imaginá-la de acordo com as profecias ou, talvez, também, através das revelações que o Salvador foi servido fazer-lhe.
Assim como outrora Moisés, na montanha, saudou de longe a Terra Prometida sem nela poder entrar, assim também José entreviu no futuro as glórias de Jesus. Tal como, em breve, São João Batista, o precursor, deveria desaparecer diante do Messias, assim também José, no plano de Deus, devia retirar-se depois de cumprida a sua missão de pai de criação do Salvador, de protetor da santa infância. Por outro lado, após as glórias do apostolado do seu bem-amado Jesus, quanto não teria sofrido o coração de José com as perseguições suscitadas pelos judeus, com o ódio dos fariseus, com a cruenta tragédia do Calvário!
Ignoramos tanto a época como o lugar da morte de São José, e as circunstâncias que o acompanharam. Teve ele, como Jesus e Maria, o privilégio de ser isento dos incômodos da doença, de estar sujeito somente aos males da natureza humana tomados em geral, como a fadiga, a morte, etc.? Quem o dirá? Geralmente se admite que sua morte causa da pela doença, mas sobretudo pelo ardor do seu amor a Jesus, a seu Deus.
Como vimos, os laços que uniam José ao Verbo Encarnado eram de natureza especial. A intimidade que deles resultava permitia àquele coração inocente, generoso e fiel compreender lições que Ele aproveitava tão bem para progredir maravilhosamente em todas as virtudes e, particularmente, na caridade.
Para nos servirmos de comparações empregadas pela Sagrada Escritura, São José era em verdade a palmeira plantada nos átrios do Senhor, o cipreste que cresce no monte Sião, a árvore que cresce à beira das águas da vida eterna e haure a vida na própria fonte divina.
Aliás, Deus é grato. Se o Salvador recompensou magnificamente os pastores, os Reis Magos, Simeão, Ana e outros mais, por terem sabido honrá-lo quando, por alguns instantes rapidíssimos, os favoreceu com a sua presença, como não recompensaria São José que, durante tantos anos, viveu na sua intimidade? Quando o Senhor considera como feita a si mesmo a menor das coisas que empreendemos por um sentimento de caridade para com o próximo, se dá o céu por um copo d’água, que fará com São José que, em toda verdade, deu asilo ao Salvador, que o alimentou, vestiu e consolou, que pôs ao seu serviço todas as suas forças físicas e toda a dedicação do seu coração, que lhe sacrificou seu repouso e, no meio das dificuldades e à custa de tantas privações, lhe testemunhou um amor incomparável?
Deus contraiu com São José uma dívida por assim dizer pessoal, e destarte compreende-se que a tenha pago concedendo ao santo graças sempre maiores, e sobretudo um progresso contínuo na caridade, que é o melhor e o mais perfeito dos seus dons. Crescendo incessantemente no coração de São José, essa caridade, pelo seu ardor, quebrou as amarras de um corpo mortal, impotente para lhe conter as aspirações. O amor daquele Menino, de seu Deus, consumiu-lhe a vida. À medida que a gravidade e a majestade do homem sucediam em Jesus às graças encantadoras do menino, o terno amor de José se recolhia, por assim dizer, ao mais profundo do seu coração, absorvendo-lhe as forças, até que enfim a alma, rompendo-lhe os últimos laços, se exalou num supremo surto de caridade.
O amor e a gratidão de um filho tão ternamente amado deviam, por certo, mostrar-se magnificamente nessa hora derradeira, e fazer da morte de São José a morte mais bela, mais edificante, mais consoladora.
E assim foi. O Senhor da vida, Aquele que tem nas mãos nosso corpo e nossa alma, Aquele que pela unção de sua graça sabe fazer das ânsias da morte e da própria morte uma alegria e um consolo — Jesus, ao lado de Maria, que é a “esperança e a doçura” de todos os filhos de Adão, assistiu José moribundo. A única coisa de que o nosso santo podia ter saudades em deixando este mundo era da presença pessoal de Jesus. Mas, ao pesar da separação sucederia, em breve, a alegria de se reverem na glória, no dia da ressurreição. O aresto que marcou o termo da sua vida foi um novo testemunho do amor e da gratidão do Salvador. No ósculo desse amor foi que José expirou. — “Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor!” “Ainda hoje estarás comigo no paraíso!” Esta palavra do Senhor a todos os servos fiéis, essa promessa que, na cruz, o Salvador faria ao ladrão penitente — não terá sido idêntica promessa que José, o pai de Jesus, ouviu então da boca de seu filho?
A alma do santo patriarca desceu ao limbo. E, para os patriarcas e profetas, para todos os justos que ali aguardavam que o céu se abrisse, foi como que a aurora de um belo dia, visto que era o anúncio do advento do Salvador.

Ignora-se onde foi sepultado o corpo de São José, se em Nazaré, se em Jerusalém,naquela mesma cidade onde, mais tarde, Jesus e, consoante a tradição, também Maria, acharam seu túmulo. Nesta última hipótese, esses três corações que se haviam tão santamente amado nesta terra, ainda teriam sido aproximados até na sepultura.

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