São Filipe Neri, São Carlos Borromeu e o Frei analfabeto

São Carlos Borromeu fundou os Oblatos de Santo Ambrósio (padroeiro da diocese de Milão), conhecidos como Oblatos de São Carlos. Foi a Roma e participou da vida comunitária no Oratório de São Filipe. Ficou edificado pelo grande zelo e a simplicidade de vida dos padres do Oratório. Voltando a Milão, e após ter redigido as Regras, pediu a Filipe que as examinasse, disposto a aceitar todas as modificações que ele sugerisse.

Filipe, na sua humildade, não aceitou o convite, mas, com a insistência do Cardeal, indicou uma pessoa iluminada que poderia fazer a revisão das Regras. Era o Frei capuchinho Félix de Cantalice, homem de imensa simplicidade e de notável virtude.
Filipe, com o Cardeal, foram ao Convento na Praça Barberini, e encontraram Félix trabalhando no jardim, reclinado sobre a terra, plantando alface. O frei ficou todo sem jeito diante do Cardeal Borromeu. São Carlos não acreditou no frei e, até achou que Filipe estava brincando. Não confiava em deixar as Regras nas mãos daquele capuchinho. Mas Filipe lhe entregou o livro das Regras de São Carlos e pediu ao frei Félix que as revisasse.
O capuchinho lhe respondeu:
“Mas, padre Filipe, o senhor sabe que eu não sei nem ler, nem escrever”.
Ao que São Filipe lhe disse: “Eu vos ordeno, em virtude de santa obediência. Um dos confrades vai ler o livro para o senhor e onde achar que precisa alguma observação, colocará um sinal; e depois nos referirá”. Assim o frei aceitou.
O Cardeal São Carlos amargurado e desiludido com “aquela triste escolha” de revisor, no entanto, não se opôs. Frei Félix, com a ajuda de um irmão, fez a revisão e sublinhou alguns pontos que precisariam ser modificados. São Carlos reconheceu válidas e sábias as observações do humilde frei capuchinho e percebeu que estava diante de uma alma verdadeiramente de Deus.
São Carlos disse a Filipe: “Indicaste-me uma pessoa sábia. Não pensava que um frei assim pudesse dar palpites tão preciosos”. Essa amizade era tão pura e fraterna que na hora da morte de Filipe, São Carlos Borromeu estava presente.
Reflexão:
Essa história nos recorda que Deus se serve dos pequenos para realizar grandes coisas. Frei Félix, por sua vez, com sua recusa humilde — "não sei ler nem escrever" — revela uma grandeza ainda maior: ele não ambiciona honrarias, não busca reconhecimento. Obedece por amor e se permite ser instrumento de Deus, mesmo com limitações humanas. E o fruto dessa obediência humilde é admirável: suas sugestões são acolhidas como “sábias e válidas” pelo próprio São Carlos. Mas a confiança de São Filipe, que reconhece em Frei Félix a presença do Espírito Santo, nos ensina que o verdadeiro discernimento vem não da aparência exterior, mas da intimidade com Deus.
É pela humildade que se abre espaço para a graça agir. É nela que os santos caminham rumo à perfeição.

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São Felipe Neri - O apóstolo de Roma, por Prof. Felipe Aquino, editora: Cléofas, pág. 93 - 95.


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