Fontes Franciscanas
III
SANTO ANTÔNIO DE LISBOA
Volume I
Biografia e Sermões
Livro de 1998
Tradução: Frei Henrique Pinto Rema, OFM
Sermão do Domingo da Quinquagésima
SUMÁRIO
Terceiro
Evangelho, na Quinquagésima: Estava
sentado à borda da estrada um cego.
Em primeiro lugar, um sermão aos pregadores: Tomou Samuel.
Um sermão contra o soberbo: Estava sentado um cego; e acerca da propriedade do vinho e do sangue
menstrual.
Um sermão contra os tíbios e os luxuriosos: Aconteceu que um dia.
Um sermão sobre a Paixão de Cristo: Tira as entranhas ao peixe, etc.
Um sermão aos prelados da Igreja: Os lábios do sacerdote.
Um sermão sobre a Paixão de Cristo:: Porque será entregue aos gentios, etc.
Exórdio. Sermão aos pregadores.
1. Estava sentado à borda da
estrada um cego. E clamava: Filho de David, tem piedade de mim!1
Diz-se no
primeiro livro dos Reis2:
Samuel tomou uma lentícula de óleo e derramou-o sobre a cabeça de Saul.Samuel
interpreta-se postulado3,
e significa o pregador, postulado com as preces da Igreja por Jesus Cristo, que
diz no Evangelho4: Rogai
ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe. Este deve tomar uma
lentícula5 de óleo, que é
um vaso quadrangular6
como o é a doutrina evangélica. Diz-se quadrangular, por causa dos quatro
evangelistas7. E dela
deve derramar o óleo da pregação sobre a cabeça de Saul, isto é, sobre o
entendimento do pecador. Saul interpreta-se o que abusa8, e significa bem o pecador, que abusa dos dons da
graça e da natureza.
E nota que o
óleo unge e ilumina. Assim o pecador unge a pele inveterada dos dias maus9 e endurecida pelos
pecados, a saber, unge a consciência do pecador e torna-a suave ao tato; ou
então, unge o atleta de Cristo e envia-o para a batalha a vencer as potestades
aéreas. Esta é a razão por que se diz no terceiro livro dos Reis10que Sadoc ungiu Salomão em
Gion. Sadoc interpreta-se justo11
e significa o pregador, que, à semelhança do sacerdote, oferece um sacrifício
de justiça na ara da Paixão do Senhor. Ele ungiu Salomão, que se interpreta
pacífico12, em Gion, que
se interpreta luta13; o
pregador, de fato, com o óleo da pregação deve ungir o pecador convertido na
luta, para que não consinta na sugestão do diabo, esmague a carne sedutora,
despreze o mundo enganador. O óleo também ilumina, porque a pregação ilumina o
olho da razão, a fim de poder ver o raio do verdadeiro sol. Em nome, portanto,
de Jesus Cristo, receberei a lentícula desde santo Evangelho, e dele derramarei
o óleo da pregação, com que serão iluminados os olhos deste cego, do qual se
escreve: Um cego estava sentado etc.
2. Neste domingo diz-se o Evangelho
da cura do cego, e nele se menciona a Paixão de Cristo; e lê-se e canta-se a
história da viagem de Abrãao e da imolação do seu filho Isaac. E lê-se no
Intróito da missa: Sê para mim um Deus protetor14. Reza-se a Epístola de S. Paulo aos Coríntios15: Se falar a língua dos
homens e dos anjos, etc. Portanto, para honra de Deus e iluminação da vossa
alma, concordemos tudo isso.
I – A cegueira das almas.
3. Um cego estava sentado etc.
Omitidos todos os outros cegos curados, só queremos mencionar três: o primeiro
é o cego de nascença do Evangelho16,
curado com lodo e saliva; o segundo é Tobias17 que cegou com excremento de andorinhas, e se curou
com fel de peixe; o terceiro é o bispo de Laodicéia, ao qual diz o Senhor no
Apocalipse18: Não sabes
que és um infeliz e miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que me compres
ouro provado no fogo, para te fazeres rico, e te vestires com roupas brancas, e
não se descubra a verginha da tua nudez, e unge os teus olhos com um colírio,
para que vejas. Vejamos o que significa cada uma destas coisas.
O cego de
nascença significa, no sentido alegórico19,
o gênero humano, tornado cego nos protoparentes. Jesus restituiu-lhe a vista,
quando cuspiu em terra e lhe esfregou os olhos com lodo. A saliva, descendo da
cabeça, significa a divindade, a terra, a humanidade; a união da saliva e da
terra é a união da natureza humana e divina, com que foi curado o gênero humano20 E estas duas coisas
significam as palavras do cego sentado à borda do caminho e a clamar: Tem
piedade de mim (o que diz respeito à divindade), Filho de David (o que se
refere à humanidade).
4. No sentido moral, o cego
significa o soberbo. A este respeito lemos no profeta Abdias21: Ainda que te eleves como
a águia e ponhas o teu ninho entre os astros, eu te arrancarei de lá, diz o
Senhor. A águia, voando mais alto que todas as aves, significa o soberbo, que
deseja a todos parecer mais alto com as duas asas da arrogância e da vanglória.
É a ele que se diz: Se entre os astros, isto é, entre os santos, que neste
lugar tenebroso22 brilham
como astros no firmamento, puseres o teu ninho, isto é, a tua vida, dali te
arrancarei, diz o Senhor. O soberbo, pois, esforça-se por colocar o ninho da
sua vida na companhia dos santos. Donde a palavra de Job23: A pena do avestruz, isto é, do hipócrita24, é semelhantes às penas
da cegonha e do falcão, isto é, do homem justo25. E nota que o ninho em si tem três caracteres: No
interior é forrado de matérias brandas; externamente é construído de matérias
duras e ásperas; é colocado em lugar incerto, exposto ao vento. Assim a vida do
soberbo tem interiormente a brandura do deleite carnal, mas é rodeada no
exterior por espinhos e lenhas secas, isto é, por obras mortas; também está
colocada em lugar incerto, exposta ao vento da vaidade, porque não sabe se de
tarde, se de manhã desaparecerá. E isto é o que se conclui: De lá eu te
arrancarei, ou seja, arrancar-te-ei para te lançar no fundo do inferno, diz o
Senhor. Por isso, escreve-se no Apocalipse26:Quanto
ela se glorificou e viveu em delícias, tanto lhe daí de tormentos.
5. E nota que este cego soberbo é
curado com saliva e lodo. Saliva é o sêmen do pai derramado na lodosa matriz da
mãe, onde se gera o homem miserável. A soberba não o cegaria se atendesse ao
modo tão triste da sua concepção. Daí a fala de Isaías27: Considerai a rocha donde fostes tirados. A rocha é o
nosso pai carnal; a caverna do lago é a matriz da nossa mãe. Daquele fomos
cortados no fétido derrame do sêmen; desta fomos tirados no doloroso parto.
Por que te
ensoberbeces, portanto, ó mísero homem, gerado de tão vil saliva, criado em tão
horrível lago e ali mesmo nutrido durante nove meses pelo sangue menstrual? 28 Se os cereais forem
tocados por esse sangue não germinarão, o vinho novo azedará, as erva morrerão,
as árvores perderão os frutos, a ferrugem corroerá o ferro, enegrecerão os
bronzes e se dele comerem os cães, tornar-se-ão raivosos, e com as suas
mordeduras farão enlouquecer as pessoas. Além disso, as próprias mulheres, que
têm menos necessidade quando se encontram nas suas regras, não observam os
homens com olhares inocentes. Sujam os espelhos com o demasiado uso, ao ponto
de enfraquecer o fulgor da vista e o esplendor apagado do rosto perder o ciúme
natural, e a face, duma esplendência baça, cobrir-se duma espécie de caligem29. Ó homem infeliz, ó
soberbo cego, se observares, de espírito atento, estas coisas e te considerares
nascido de lodo e de saliva, verdadeiramente, verdadeiramente serás curado,
verdadeiramente te humilharás.
E que a
sobredita sentença de Isaías se entenda da geração carnal, mui abertamente se
mostra quando se ajunta: Lançai os olhos para Abraão, vosso pai, e para Sara,
que vos deu à luz30. A
este soberbo cego manda o Senhor: Saí da tua terra e da tua parentela e da casa
de teu pai31 etc. Nota
aqui três gêneros de soberba: contra o inferior, contra o igual e contra o
superior. O soberbo conculca, despreza e ultraja. Conculca o inferior, como se
fosse terra – que vem de tero, teris32,
esmagar; despreza o igual, como se fosse da parentela, pois o soberbo despreza
e escandaliza facilmente os parentes e afins; ultraja também o superior, como
se fosse a casa do pai. O superior chama-se casa do pai, porque debaixo dele o
súdito, como filho em casa paterna, deve esconder-se da chuva da concupiscência
carnal, da tempestade da perseguição demoníaca, do ardor da prosperidade
mundana. Mas o cego soberbo, com o insulto feito de nariz enrugado33, ultraja o superior. Diz,
portanto, o Senhor: Sai, ó soberbo cego, da tua terra, para não conculcares o
inferior, sai da tua parentela, para não desprezares o igual; sai da casa do
teu pai, para não ultrajares o superior.
6. Segue: E vai para a terra que eu
te mostrar34. A terra é a
humanidade de Jesus Cristo, de que diz o Senhor a Moisés no Êxodo35: Tira o calçado dos teus
pés, porque o lugar em que estás é terra santa. O calçado são as obras mortas36, que deves tirar dos pés,
isto é, dos afetos37 da
tua alma; porque a terra, ou seja, a humanidade de Jesus Cristo, em que estás
pela fé, é santa e te santifica a ti, pecador. Vai, portanto, ó soberbo, para
esta terra, considera a humanidade de Cristo, atende à sua humildade, espreme o
tumor do teu coração. Caminha, sim, com os passos do amor38, aproxima-te com a humildade do coração, dizendo com
o Profeta39: Na tua
verdade me humilhaste. Ó Pai, na tua verdade, isto é, no teu Filho, humilhado,
pobre e peregrino, me humilhaste; humilhado, sim, no ventre da Virgem; pobre,
no curral de gado; peregrino, no patíbulo da cruz. De fato, nada humilha tanto
o pecador soberbo como a humilhação da humanidade de Jesus Cristo. Donde Isaías40: Oxalá romperas tu os
céus e desceras de lá! Os montes se derreteriam diante da tua face. Diante da
sua face, quer dizer, da presença da humanidade de Jesus Cristo, os montes, ou
seja, os soberbos41,
desaparecem e desfalecem, quando consideram a divina cabeça inclinada no ventre
da Virgem Mãe.
Vai,
portanto, para a terra que te mostrei a dedo no rio Jordão, dizendo: Este é o
meu Filho amado, em que pus as minhas complacências42. Serás também tu filho amado, em que pus as minhas
complacências, filho adotivo pela graça, se, com o exemplo do meu Filho, igual
a mim, fores humilhado; mostrei-to, para que do modelo da sua vida regules o
modo do teu viver, e assim formado recebas luz e assim posas ouvir: Olha, a tua
fé te salvou43, te curou.
7. O segundo cego, feito tal pelo
excremento de andorinhas, mas curado com fel de peixe, é Tobias44, de que se diz no livro
do mesmo: Sucedeu um dia que, cansado da sepultura45, indo para sua casa, deitou-se junto duma parede e
adormeceu, e enquanto dormia caiu-lhe dum ninho de andorinhas um pouco de esterco46sobre os olhos, e ficou
cego. Vejamos brevemente o que significam Tobias, a sepultura, a casa, a
parede, o dormir, o ninho, as andorinhas e o seu esterco. Tobias é o justo
tíbio; a sepultura, a penitência; a casa, a satisfação da carne; a parede, a
sua voluptuosidade; o dormir, o torpor da negligência; as andorinhas, os
demônios; o ninho, o consentimento do espírito efeminado; o esterco, a gula e a
luxúria. Digamos, portanto: Tobias, fatigado da sepultura, etc.
Tobias
significa o justo tíbio47,
do qual diz o Senhor no Apocalipse48:
Porque não és frio pelo temor da pena, nem quente pelo amor da graça, mas
porque és tíbio, por isso te começarei a vomitar da minha boca. Assim como a
água morna49 provoca o
vômito, assim a tibieza e a negligência expulsam do ventre da divina
misericórdia o ocioso e o tíbio. Maldito, diz Jeremias50, o que fizer a obra do Senhor com negligência.
Este homem
fatigado de enterrar mortos vem para casa, quando se aborrece do trabalho da
penitência, na qual e debaixo da qual deve esconder os defuntos, isto é, os
pecados mortais, para deles se dizer: Felizes aqueles cujos pecados são
encobertos51. E então
volta-se, abrasado em desejos, para a satisfação do corpo, contra a advertência
do Apóstolo52.
Por isso,
ajunta-se: Deitou-se junto da parede. A parede é o prazer carnal. Assim como na
construção duma parede se põe pedra sobre pedra e se ajusta com argamassa,
também no prazer carnal, o pecado de vista se junta ao pecado do ouvido, e o
pecado do ouvido ao pecado do gosto, e assim por diante, e se liga fortemente à
argamassa do mau hábito. E assim dorme profundamente, alquebrado pelo torpor da
negligência. E então cai o esterco das andorinhas sobre os olhos do adormecido.
As
andorinhas, por causa do seu voo rapidíssimo, significam os demônios, cuja
soberba quis sobrevoar os astros do céu, a altura das nuvens, até se igualar
com o Pai e assemelhar-se com o Filho53.
O ninho dos
demônios é o consentimento do espírito efeminado, construído com as plumas da
vanglória e o lodo da lascívia. De tal ninho cai esterco de gula e luxúria
sobre os olhos do adormecido Tobias, e desta maneira se cegam os olhos, ou
seja, a razão e a inteligência da infeliz alma.
8. Atendei, caríssimos, e
acautelai-vos de tão infeliz procedimento, pois do tédio de enterrar mortos,
isto é, do tédio da penitência, se chega à casa da satisfação carnal, colocada,
a pretexto de necessidade, junto da parede do prazer, no qual, ao mesmo tempo
que se abate com o sono da negligência, se cega com o esterco da luxúria. Donde
o Poeta54: Pergunta-se
por que é que Egisto cometeu adultério. A causa é evidente: vivia ocioso.
Clama, portanto, ó Tobias tíbio, ó cego luxurioso, que estás deitado junto da
parede: Tem piedade de mim, Filho de David.
Eis a razão
porque este cego pede no Intróito da missa de hoje seja iluminado, dizendo: Sê
para mim um Deus protetor55
etc. Nota que pede quatro coisas: Primeira, quando diz: Sê para mim um Deus
protetor, para que, de braços estendidos na cruz, me protejas e defendas, como
a galinha protege e defende os pintainhos debaixo das asas; a segunda, quando
diz: E um lugar de refúgio, para que no teu lado, traspassado pela lança,
encontre lugar de refúgio, onde possa esconder-me da face do inimigo; a
terceira, quando diz: Porque tu és o meu firmamento, para não cair, e o meu
refúgio, a fim de que, se cair, me abrigue junto de ti e não junto de outrem; a
quarta, quando diz: E por causa do teu nome, Que e Filho de David, serás para
mim, que sou cego,guia, porque me darás a mão da misericórdia, e me alimentarás
com o leite da tua graça. Tem, portanto, piedade de mim, Filho de David.
II – A Paixão de Cristo.
9. O Filho de Deus e de David, Anjo
do grande conselho, medicina e médico do gênero humano, no mesmo livro56 aconselha-te com as
palavras: Tira as entranhas ao peixe e extrai o fel, unge os olhos e desta
forma poderás recuperar a vista. O peixe, no sentido alegórico, é Cristo, por
nós assado na grelha da cruz57.
O seu fel é a amargura da Paixão. Com ela recuperarás a vista, se forem ungidos
os olhos da tua alma. Com efeito, a amargura da Paixão do Senhor afasta a
cegueira da luxúria e todo o esterco da concupiscência carnal. Daí a afirmação
de um sábio58: A memória
do Crucificado crucifica os vícios. Lê-se no livro de Rute59: Molha o teu bocado no vinagre. O bocado é o
deleitezinho momentâneo da mísera carne, que deves molhar no vinagre, isto é,
na amargura da Paixão de Jesus Cristo.
Eis porque o
Senhor te manda o que mandou a Abrãao na história do presente domingo: Toma
Isaac, teu filho único, a quem amas, e vai à terra da visão, e aí oferece-mo em
holocausto60. Isaac
interpreta-se riso ou gozo61,
e significa, no sentido moral, a nossa carne que ri, quando realiza seus
desejos. Destas duas coisas diz Salomão no Eclesiastes62: Considerai o riso, isto é, as coisas temporais, um
erro, porque fazem errar do caminho da verdade; e o gozo da carne disse: Porque
te enganas assim vãmente?
Toma,
portanto, o teu filho, a tua carne, que amas, que tão afetuosamente nutre, e, ó
miserável, ignoras que não há peste mais prejudicial do que o inimigo que vive
dentro de ti? Quem desde a meninice, diz Salomão63, alimenta delicadamente o seu servo, experimentá-lo-á
contumaz. Tira-o, portanto, tira-o, crucifica-o, crucifica-o64. É réu de morte65. Responde Pilatos, isto
é, o afeto carnal: Que mal fez ele66?
Oh, quantos males provocou o teu riso, provocou o teu filho! Desprezou a Deus,
escandalizou o próximo, deu morte à própria alma. E tu dizes: Que mal fez ele?
Toma-o, portanto, e vai para a terra da visão.
10. Jerusalém foi chamada terra de
visão. Dela se diz no Evangelho de hoje: Jesus tomou os seus doze discípulos em
segredo e disse-lhes: Eis que vamos a Jerusalém67. Toma também tu o teu filho e sobe com Jesus e os
Apóstolos a Jerusalém e aí, sobre o altar, isto é, meditando na Paixão do
Senhor e na cruz da penitência, oferece em holocausto o teu corpo. E nota que
diz em holocausto. Holocausto vem de holon
(todo) e cauma (abrasamento).
Holocausto, portanto, quer dizer queimado todo inteiro68 Oferece, pois, todo o teu filho, todo o teu corpo a
Jesus Cristo, que todo se ofereceu a Deus Pai, a fim de destruir todo o corpo
do pecado69.
Nota que
assim como o corpo humano consta de quatro elementos, fogo, ar, água e terra:
fogo nos olhos, ar na boca, água nos rins, terra nas mãos e pés70, também no corpo do
pecador, que serve o pecado, há fogo nos olhos pela curiosidade, ar na boca
pela loquacidade, água nos rins pela luxúria, terra nas mãos e nos pés pela
crueldade71. Mas o Filho
de Deus teve velada a face, para a qual desejam os anjos olhar72, a fim de reprimir a tua
curiosidade. E calou-se, não digo diante de quem o tosquiava, mas de quem o
matava; e ao ser maltratado, não abriu a boca73, para refrear a tua loquacidade. Uma lança abriu-lhe
o lado, para te tirar o humor da luxúria. Prenderam-no de mãos e pés com
pregos, para tirar das tuas mãos e pés a crueldade. Toma, portanto, o teu
filho, o teu riso, a tua carne, e oferece-o inteiro em holocausto, para que
inteiro ardas em caridade. Ela cobre uma multidão de pecados74.
Dela diz o
Apóstolo75 na Epístola de
hoje: Se falar a língua dos homens e dos anjos, mas não tiver caridade, sou
como bronze que soa ou como címbalo que tine. Diz S. Agostinho76: “Chamo caridade ao
movimento que o ânimo possui para fruir Deus por causa de si mesmo, e fruir-se
a si mesmo e ao próximo por causa de Deus”.
Quem não a
possui, ainda que faça muito bem, bem verdadeiro, trabalha em vão; e, por isso,
diz o Apóstolo: Se falar a língua dos homens etc. A caridade de Deus conduziu
seu Filho ao patíbulo da cruz; donde o dizer-se nos Cânticos77: O amor é forte como a
morte. Comentário de S. Bernardo78:
Ó caridade, quão forte é o teu vínculo! Com ela até o Senhor se pôde ligar!
Toma, portanto, o teu filho e oferece-o no altar da Paixão de Jesus Cristo. Com
o seu fel, ou amargura, serás curado e merecerás ouvir: Olha, a tua fé te
salvou79, te curou.
11. Por outras palavras: Tobias foi
curado com fel de peixe. A carne de peixe é doce; o fel é amargo. Se a carne de
peixe dele se embebe, toda se transforma em amargura. A carne de peixe é o
deleite da luxúria; o fel, escondido dentro, é a amargura da morte eterna. Por
isso, em sentido semelhante, ainda que usando outras palavras, diz Job80: O seu alimento é a raiz
de juníperos. Nota que a raiz do junípero é doce e comestível, mas por folhas
tem espinhos; também o deleite da luxúria, que é alimento dos carnais, no
momento presente parece doce, mas no fim dará à luz picadelas de morte eterna81.
Tira,
portanto, as entranhas ao peixe, isto é, considera quão vil é o deleite do pecado.
Extrai o fel, isto é, atende como é interminável e cheia de miséria a pena
devida ao pecado, e desta forma poderás converter em amargura toda a doçura da
tua carne.
12. O terceiro cego foi o anjo de
Laodicéia, curado com o colírio. Laodicéia interpreta-se tribo amável ao Senhor82, e significa a Santa
Igreja, por amor da qual derramou o seu sangue. E dela, como da tribo de Judá,
escolheu um sacerdócio real83.
O anjo, portanto, de Laodicéia, é o bispo ou prelado da Santa Igreja, que se
chama com razão Anjo, por causa da dignidade do seu ofício. A seu respeito
escreve o profeta Malaquias84:
Os lábios do sacerdote guardam a ciência, e da sua boca se aprende a lei,
porque ele é o anjo do Senhor dos exércitos.
Nota que
nesta sentença se verificam cinco coisas muito necessárias ao bispo ou prelado
da Igreja: a vida, a fama, a ciência, a abundância da caridade, a túnica talar
da pureza. Os lábios do sacerdote são a vida e a fama, que devem guardar a
ciência, para que a vida em relação a si e a ciência em relação ao próximo
guarde o que sabe e prega. Destes dois lábios, de fato, procede a ciência da
pregação frutuosa. E se estas três coisas existirem antes no prelado, da sua
boca os súditos aprenderão a lei, isto é, a caridade, a respeito da qual
escreve o Apóstolo85:
Levai os fardos uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo, isto é, a
caridade, que só por caridade carregou em seu corpo, sobre o madeiro, os fardos
dos nossos pecados86. A
lei é a caridade que os súditos87
aprendem, primeiro na prática, a fim de que eles mesmos a recebam depois mais
suave e frutuosamente da boca do prelado, pois Jesus começou a fazer e ensinar88. Efetivamente, era
poderoso em obras e em palavras89.
13. Segue: Porque ele é o anjo do
Senhor dos exércitos. Eis a estola da pureza interior. Viver na carne para além
da carne, como diz S. Jerônimo90,
é próprio não de natureza humana mas celeste. O Senhor, porém, impropera o anjo
de Laodicéia, ou seja, o prelado da Igreja, precisado destas cinco virtudes,
quando ajunta: És um infeliz e miserável, pobre, cego e nu91. És infeliz na vida, miserável na fama, cego na
ciência, pobre na caridade, nu na túnica talar da pureza. Mas porque o Senhor
sabe curar os contrários com os contrários92,
e ao corrigir ensina, e ao ferir põe unguento, por isso, aconselha ao cego
bispo de Laodicéia, ajuntando: Aconselho-te a que me compres ouro provado no
fogo, para te fazeres rico e te vestires de roupas brancas e não se descubra a
vergonha da tua nudez, e unge os teus olhos com um colírio, para que vejas93. Aconselho-te, diz, a
comprar a mim, não ao mundo, com o preço da boa vontade94, o ouro da vida preciosa, contra a escória da tua
vida infeliz; ouro provado no fogo pela caridade, contra a miséria da tua
pobreza; ouro provado no fole da boa fama, contra o fedor da tua infâmia; e a
te vestires de roupas brancas, contra a nudez da tua fealdade; e com um colírio
unge os teus olhos, contra a cegueira da tua insensatez.
14. E nota que este colírio, que dá
luz aos olhos da alma, se compõe das cinco palavras da Paixão do Senhor, como
de cinco ervas. Dela diz o Evangelho de hoje95: Porque ele será entregue aos gentios e será
escarnecido e açoitado e cuspido; e depois de o açoitarem o matarão. Ai! Ai! A
liberdade dos cativos é entregue; a glória dos Anjos é escarnecida; o Deus do
universo é flagelado; o espelho sem mancha e o brilho da luz eterna96 é escarrado; a vida dos
que morrem é posta à morte. E que mais nos resta a nós, infelizes, senão ir
morrer com ele97?
Tira-nos, ó Senhor Jesus, do lodo profundo98
com o gancho da tua cruz, para que possamos correr, não digo ao perfume99, mas à amargura da tua
Paixão. Ó alma minha, arranja este colírio, chora amargamente sobre a morte do
Unigênito100, sobre a
Paixão do Crucificado! O Senhor inocente é entregue por um discípulo,
escarnecido por Herodes, flagelado por um Governador, cuspido pela plebe dos
judeus, crucificado por uma coorte de soldados. Tratemos brevemente de cada uma
destas coisas.
15. É entregue por um Seu discípulo:
Que me quereis dar, exclama, e ei vo-lo entregarei101? Que horror! Põe-se em leilão um objeto sem preço!
Ai! Ai! Deus é entregue, vendido por pouco dinheiro102! Que me quereis dar? Ó Judas, pretendes vender o
Senhor, o Filho de Deus, como se fora vil escravo, cão morto; e tu procuras
saber, não a tua vontade, mas a vontade dos compradores103. Que me quereis dar? E que te podem eles dar? Se te
dessem Jerusalém, a Galileia e a Samaria, porventura poderiam comprar Jesus? Se
te pudessem dar o céu e os anjos, a terra e os homens, o mar e tudo o que nele
existe, acaso poderiam comprar o Filho de Deus, no qual existem todos os
tesouros escondidos de sabedoria e ciência104?
Certamente que não.
O Criador
pode, acaso, ser comprado ou vendido por uma criatura? E tu dizes: Que me
quereis dar e eu vo-lo entregarei? Diz-me em que te prejudicou e que mal te
fez, porque tu dizes: e eu vo-lo entregarei? Esqueceste aquela incomparável
humildade do Filho de Deus e a sua pobreza voluntária? A sua benignidade e
afabilidade? A sua doce pregação e prodigiosos milagres? Aquelas terníssimas
lágrimas, derramadas sobre Jerusalém e a morte de Lázaro? E o privilégio de te ter escolhido para
Apóstolo e feito seu familiar e amigo? Estas e coisas semelhantes haveriam de
te abrandar o coração e provocar à piedade, para que não dissesses: e eu vo-lo
entregarei. Oh, quantos são hoje os Judas Iscariotes (que se interpreta
mercadoria) 105, que
vendem a verdade em troca de alguma vantagem temporal106, entregam o próximo com o ósculo da adulação, e desta
forma acabam por se enforcar no laço da condenação eterna!
16. Foi ainda escarnecido por
Herodes. Daí a frase em S. Lucas107:
Herodes, com os seus guardas, desprezou-o e fez escárnio dele, mandando-o
vestir com uma vestidura branca. O Filho de Deus é desprezado por Herodes, a
raposa: – Ide dizer àquela raposa108
–, e pelos seus guardas, a quem o exército dos anjos proclama com voz
incansável: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos109; a quem, como diz Daniel110, servem milhares de
milhares e assistem dez centenas de milhares. E fez escárnio dele, mandando-o
vestir com uma vestidura branca. O Pai vestiu o seu Filho Jesus com uma
vestidura branca, isto é, de carne limpa de toda a mancha do pecado111, tomada duma Virgem
Imaculada. Deis Pai glorificou o Filho desprezado por Herodes. O Pai vestiu-o
com uma vestidura branca e Herodes fez escárnio dele assim vestido.
Infelizmente, o mesmo se passa em nossos dias! Herodes interpreta-se glória da
pele112 e significa o
hipócrita, que se gloria numa vida exterior, como em pele, quanto toda a glória
da filha, isto é, da alma, do Rei celeste está no interior113. Ele despreza e escarnece Jesus: despreza-o aquele
que prega o Crucificado e não traz os estigmas do Crucificado114; escarnece-o aquele que
se esconde sob a glória da pele ou brilho do vestido, a fim de poder enganar115 os fiéis, membros de
Cristo. A flauta executa uma ária encantadora enquanto o passarinheiro apanha a
ave116. Quantos hoje se
deixam apanhar pela glória da pele herodiana!117
17. Foi ainda flagelado por Pôncio Pilatos.
Daí o dizer-se em S. João118:
Então Pilatos prendeu Jesus e flagelou-o. Escreve Isaías119: Quando passar o flagelo da inundação, ele vos
espezinhará; no momento em que ele for passando, vos arrebatará. Para que
aquele flagelo, pelo qual se entende a morte eterna ou o poder do diabo, não
nos espezinhasse, o Senhor de todas as coisas, o Filho de Deus, foi atado à
coluna como um bandido e flagelado de maneira tão atroz que o sangue manava de
toda a parte.
Ó mansidão
da piedade divina! Ó paciência da benignidade paterna! Ó profundo e
imperscrutável mistério do eterno desígnio! Vias, Pai, o teu Unigênito, igual a
ti, ser ligado à coluna como um bandido e flagelado como um homicida; e como te
pudeste conter? Nós te agradecemos, Pai Santo, por termos sido libertados das
cadeias do pecado e dos flagelos do diabo por meio das suas próprias cadeias e
flagelos. Mas, infelizmente, Pôncio Pilatos de novo flagela a Jesus Cristo.
Pôncio interpreta-se o que se afasta, Pilatos o que trabalha com o martelo ou o
que esmaga com a boca120;
significa aquele que se afasta do bom propósito e aquele que depois da promessa
volta ao vômito. Este, com a sua boca, blasfema e com o martelo da língua fere
e flagela a Cristo nos seus membros. Tendo saído, pois, com Satanás, de diante do
Senhor121, murmura da
Ordem122, chama a este
soberbo, acusa aquele de guloso, e para que ele mesmo pareça inocente, julga os
outros culpados, a fim de, encoberto pela ignomínia de muitos, conseguir paliar
a própria iniquidade.
18. Foi ainda manchado com os
escarros dos judeus. Então, diz S. Mateus 123,
cuspiram-lhe no rosto e feriram-no a punhadas; e outros deram-lhe bofetadas no
rosto. Ó Pai, cabeça do teu Filho Jesus, que faz tremer os Arcanjos, recebe
golpes de cana; a face, para a qual os Anjos desejam olhar124, conspurcam-na os judeus com escarros, ferem-na a
punhadas, arrancam-lhe a barba, esbofeteiam-na, puxam-lhe os cabelos. E tu, ó
clementíssimo, calas-te e dissimulas e preferes que Um, o teu Único, seja assim
cuspido e esbofeteado, antes que toda a nação pereça125, Louvor e glória te sejam dados, porque dos
escarros, das punhadas e das bofetadas que o teu Filho Jesus recebeu, nos
preparaste uma teriaga para expulsar o veneno da nossa alma.
Por outras
palavras, a face de Jesus Cristo são os prelados da Igreja126, através dos quais conhecemos a Deus como se fora
pela face. Nesta face cospem os pérfidos judeus, isto é, os súditos perversos,
que detraem e maldizem dos seus prelados, atitude proibida pelo Senhor ao
dizer: Não amaldiçoes o príncipe do teu povo127.
19. Igualmente foi crucificado pelos
soldados. Os soldados, diz S. João128,
depois de o terem crucificado, tomaram os seus vestidos, etc. E Jeremias129: Ó vós todos os que
passais pelo caminho, parai, atendei e vede se há dor semelhante à minha dor!
Os discípulos fogem, os conhecidos e os amigos130 afastam-se, Pedro nega, a Sinagoga coroa de
espinhos, os soldados crucificam; os judeus zombeteiros blasfemam, dão a beber
fel e vinagre. E que dor pode igualar a minha dor? Porque as suas mãos, diz a
Esposa nos Cânticos131,
feitas ao torno, de ouro e cheias de jacinto, foram traspassadas por cravos. Os
pés, a que o mar se mostrou como solo resistente132, foram pregados à Cruz. A face, que brilha como o
sol quando está na plenitude133,
transformou-se em palidez mortal. Os olhos amados, para os quais não há
criatura alguma invisível, estão fechados pelo sono da morte. E que dor poderá
igualar a minha dor? No meio de tudo isto, só o Pai prestou auxílio. Nas suas
mãos encomendou o espírito, dizendo: Pai, nas tuas mãos encomendo o meu
espírito134. E ao dizer
isto, inclinada a cabeça – Ele noutra parte disse não ter onde recliná-la -
expirou135.
Mas ai! ai!
De novo todo o corpo místico de Cristo, a Igreja136 é crucificado e posto à morte. Nele, uns são cabeça,
outros mãos, outros pés, outros corpo. A cabeça são os contemplativos; as mãos,
os ativos; os pés, os pregadores santos; o corpo, todos os verdadeiros
cristãos. Todos os dias os soldados, isto é, os demônios, crucificam o corpo
inteiro de Cristo com as suas sugestões, como se foram cravos. Os judeus, os
pagãos, os hereges blasfemam, dão-lhe a beber o fel e o vinagre da dor e da
perseguição. E não há que admirar, porque todos os que querem viver piamente em
Cristo, padecem perseguição137.
Com razão se
diz portanto: Será entregue, escarnecido, flagelado, cuspido e crucificado. E
destas cinco palavras, como de cinco preciosíssimas ervas, arranja um colírio,
ó anjo de Laodicéia, e unge os olhos da tua alma, a fim de recobrares a luz e
poderes dizer: Olha, a tua fé te salvou138.
Roguemos,
pois, e instantemente, ó caríssimos, e de espírito devoto, peçamos ao Senhor
Jesus Cristo, que restituiu a vista ao cego de nascença, a Tobias e ao anjo de
Laodicéia, se digne iluminar os olhos da nossa alma com a fé da sua Encarnação,
com o fel e o colírio da sua Paixão, para que nos esplendores dos santos, na
claridade dos anjos, mereçamos ver o mesmo Filho de Deus, luz de luz.
Auxilie-nos ele mesmo, que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo por
séculos de séculos. Assim seja.
_________
1.Cf. Lc 18, 35-38. O Evangelho da Quinquagésima
da reforma litúrgica tridentina abrangia os vv.31-43.
2.Cf. 1Reis 10, 1.
3.Glo. Ord e Int., 1Reis 1, 20.
4.Mt 9, 38 (Vg. Rorate ergo...).
5.Lentícula é pequeno vaso, de forma
quadrangular, como explica St. Antônio no texto. Tira o nome, segundo informa
CELLINI no seu Lexicon totius latinutatis, da sua semelhança com a figura da
lente.
6.Glo. Ord., 1Reis 10, 1.
7.Glo. Ord., 3Reis 6, 33.
8.JERON.,
De nominibus hebraicis, PL 23, 834.
9.Cf.Dan
13, 52.
10.Cf. 3Reis, 1, 45.
11.Glo. Int., 3Reis 1, 32.
12.Glo. Int., 3Reis 1, 32.
13.Glo. Ord., 3Reis, 1, 5.
14.Sl 30,
3.
15.1Cor 13,
1.
16.Cf. Jo
9, 1-7.
17.Cf.
Tob, 2, 11; 11, 13-15.
18.Ap 3, 17-18.
19.Cf.
Glo. Ord., Jo 9, 1.
20.Cf. Glo. Ord., Jo 9, 6.
21.Ab 1, 4 (Vg... et si inter...).
22.Cf. Glo. Ord., ibidem.
23.Job 39, 13.
24.Cf. Glo. Ord., ibidem.
25.Cf. Glo. Ord., ibidem.
26.Ap 18, 7 (Vg. muda).
27.Is 51, 1.
28.Cf. Meditationes piissimae, 3, 8, PL
184, 490.
29.C. JÚLIO SOLINO, Polyhistor toto orbe
memorabilium, 4; cf. PLÍNIO, Historia naturalis, VII (13) II, p. 341, 181 e
ISID., Etym. XI, PL 82, 414,
141.
30.Is 51,
12.
31.Gen 12,
1.
32.Cf.
ISID., Etym. XIV, 1, 1, PL 82, 495.
33.Cf.
JERÓN., Comentarioli in Psalmos, Sl 2, 4, CCh SL 72, 182.
34.Gen 1.
c. (Vg. Et veni.... monstrabo...).
35.Ex 3, 5. (Vg. Solve calcamenta...
locus enim...).
36.Glo. Int., ibidem.
37.Glo.
Int., ibidem.
38.Cf.
GREG., In Evang. Homilia 29, 11, PL 76, 1219.
39.Sl 118,
75.
40.Is 64,
1.
41.Cf.
Glo. Int., ibidem.
42.Mt 3, 17.
43.Lc 18,
42.
44.Cf.
Tob 2, 10-11.
45.Sepultura, aqui, quer dizer cansado
de enterrar mortos.
46.A Vulgata ajunta: calida (quente).
47.Cf.
Glo. Ord., Tob 2, 10.
48.Apoc 3,
15, 16.
49.O original latino é aqui mais
expressivo, por usar a mesma palavra tepidus, para significar tíbio.
50.Cf. Jer 48, 10. St. Antônio segue
aqui a tradução grega dos LXX.
51.Sl 31,
1.
52.Cf.
Rom 13, 14.
53.Cf. Is
14, 13-14.
54.OVÍDIO, Remedia amoris, 161-162.
ALANO DE LILLE, em Summa de arte praedicatoria, c. VII, PL 210, 126, leu: Quaeritis,
Aegistus...
55.Sl 30, 3-4 (Vg. muda).
56.Cf. Tob 6, 5.9.
57.Cf. Glo. Ord., Jo 21, 12.
58.Abade GUERRICO, In Dominica palmarum
sermo 2, 1, PL 185, 130.
59.Rute
2, 14.
60.Gen 22,
2 (Vg. omite, muda).
61.Glo.
Int., Gen 21, 3.
62.Ecle 2,
2.
63.Prov 29,
21.
64.Jo 19,
15 (Vg. om.).
65.Mt 26,
66.
66.Mt 27,
23; Lc 3, 22.
67.Mt 20,
17-18 (Vg. om.).
68.Cf.
ISID. Etym. VI, 19, 35, PL 82, 255.
69.Cf.
Rom 6, 6.
70.Cf. BERN., De diversis, sermo 74, PL
183, 695.
71.Cf. BERN., ibidem.
72.Cf. 1Pd 1, 12.
73.Cf. Is 53, 7; Atos 8, 32; Breviário
Romano, 1º responsório de Matinas.
74.1Pd 4,
8.
75.1Cor 13,
1.
76.Cf.
AGOST., De doctrina christiana, III, 10, 16, PL 34, 72; cf. P. LOMB., Sent. I, dist. 17, 6, p. 115.
77.Cant 8, 6.
78.Cf. Tractadus de charitate, 1, 2-4,
PL 184, 585-586. St. Antônio atribuiu-o a S. Bernardo.
79.Lc 18,
42.
80.Job 30,
4.
81.Cf.
GREG., Moralium XX, 10, 21, PL 76, 150; XX, 14, 32, PL 76, 156.
82.Glo.
Int., Ap 3, 14.
83.1Pd 2,
9.
84.Mal 2,
7 (Vg... custodient... requirent...).
85.Gal 6, 2 e Glo. Int., ibi.
86.Cf. Glo. Ord e Int., ibidem; cf. 1Pd
2, 24.
87.Glo. Int., Mal 1. c.
88.Atos 1, 1.
89.Lc 24,
19.
90.Pseudo-JERÓN.,
De Assumptione B. M. V., 6, PL 30, 126.
91.Ap 3, 17.
92.Cf.
GREG., Moralium XXIV, 2, 2, PL 76, 287.
93.Ap 3, 18.
94.Cf.
BERN., In die Paschae sermo 2, 8, PL 183, 286. Aqui a
referência é muito longínqua, apenas com assonância de termos. Segundo
verificou ANNA BURLINI CALAPAJ, Le citazioni da S. Bernardo, in Actas 1981, p. 221.
95.Lc 18,
32-33.
96.Cf.
Sab 7, 26.
97.Cf. Jo
11, 16.
98.Cf. Sl
39, 3.
99.Cf.
Cant 1, 3.
100.Cf.
Jer 6, 26 e Zac 12, 10.
101.Mt 26, 15.
102.Verso de autor desconhecido
103.Cf.
Glo. Ord., Mt 1. c.
104.Col
2, 3.
105.JERÓN.,
De nom. hebr.., PL 23, 886.
106.Cf.
Glo. Ord., Mt 26, 16.
107.Lc 23,
11.
108.Lc 13, 32 (Vg. Ite et...).
109.Cf. Breviário Romano, hino
ambrosiano (mais conhecido por Te Deum).
110.Cf.
Dan 7, 10.
111.Cf.
Glo. Ord., Lc 23, 11.
112.JERÓN.,
Lexicon origerianum, PL 23, 1279.
113.Sl 44,
14.
114.St. Antônio estará porventura a
pensar no Estigmatizado do Alverne, o seu Pai Seráfico São Francisco de Assis.
115.Nesta passagem são visados os
hereges.
116.CATÃO, Disticha, I, 27.
117.Isto é, dos hipócritas. Herodes
Antipas é o tipo do hipócrita, qualificado raposa por Jesus Cristo (cf. Lc 13, 32.)
118.Jo 19, 1 (Vg. Tunc ergo...).
119.Is 28, 18-19.
120.JERÓN., De nom. hebr., PL 23, 889;
cf. ISID., Etym. em PL 82, 289.
121.Cf. Job 2, 7.
122.Isto é, calunia os irmãos que
deixou no convento, no claustro. Trata-se de pecado que se vai repetindo ao
longo dos séculos.
123.Mt 26, 67.
124.Cf. 1Pd , 12.
125.Cf. Jo 11, 50.
126.Prelados da Igreja, na boca de St.
Antônio, são todos os sacerdotes constituídos em dignidade, principalmente
Bispos, superiores de conventos, abades e priores de casas religiosas.
127.Atos 23, 5; cf. Ex 22, 28.
128.Jo 19, 23 (Vg. Milites ergo...).
129.Lam 1, 12.
130.Cf. Job 6, 13.
131.Cant 5,
14 (Vg. Manus illius...).
132.Cf.
GREG., In Evangelia homilia 10, 2, PL 76, 1111.
133.Cf.
Apoc 1, 16.
134.Lc 23,
46.
135.Jo 19,3
30.
136.Cf.
Col 1, 24.
137.2Tim 3, 12 (Vg. muda, omite).
138.Lc 18, 32.