As Sete Portas do Inferno - Terceira Porta

Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

Terceira Porta do Inferno
A Profanação do Dia do Senhor


A santificação do domingo comporta duas coisas: a cessação do trabalho e a oração.
Aos domingos não se pode trabalhar sem necessidade ou por motivo justo: “Trabalhareis durante seis dias, disse outrora Deus aos israelitas, mas ao sétimo dia não fareis nenhum trabalho, nem vós nem vossos servos”. Trabalhar aos domingos é, pois, uma desobediência formal a Deus.
O trabalho do domingo é um desastre para o corpo, para a alma e mesmo para a
fortuna.
As máquinas de bronze e de aço não podem trabalhar semanas e meses seguidos. Forçosamente, de quando em vez, é preciso pararem, repousarem, senão arrebentam. Não somos de bronze nem de aço, somos de carne. Sem o repouso de oito em oito dias, dizem os sábios, os homens abreviam consideravelmente sua vida.
Quereis ver um povo sadio, forte, alegre? Vede as nações que respeitam o domingo. Quereis ver um povo doentio, fraco? Considerai os países em que o dia do Senhor é profanado.
Quanto à alma, o trabalho ao domingo faz que o homem nem se lembre dela. Quem trabalha sem cessar torna-se material como a terra que cultiva, como as máquinas que maneja, torna-se um animal, um bruto.
Notou-se que os revolucionários, os criminosos têm-se recrutado principalmente entre os profanadores do domingo.
Afinal nossos interesses temporais pedem que santifiquemos o domingo.
Se Deus não constrói a casa, diz o profeta, em vão trabalham os que a edificam.
O trabalho ao domingo é como o bem mal adquirido, atrasa. Deus não engana. Ora, disse aos judeus: “Guardareis o dia do Senhor e respeitareis meu santuário: se fizerdes estas coisas, eu vos darei as vossas chuvas a seu tempo e a terra e as árvores darão o seu fruto; comereis o vosso pão a fartar e habitareis seguros em vossa terra. Se, pelo contrário, rejeitardes meus mandamentos, visitar-vos-ei em minha cólera, vossas árvores, vossos campos, não darão seu fruto, farei que o céu seja como ferro e a terra como bronze, plantareis debalde a vossa semente e vossos inimigos a comerão, as feras devorarão vosso gado, mandarei a peste, a guerra, a fome”. Repousemos, pois, ao domingo e santifiquemos este dia pela oração.
A oração obrigatória é a Santa Missa, para quem não tem um motivo justo de dispensa. Estes motivos são os seguintes: doenças, cuidados de crianças ou de doentes, grande distância da igreja (mais de uma hora de caminho, a pé), falta de companhia para senhoras, pobreza tal que a gente não possa se apresentar na igreja sem se envergonhar.
As mães que têm crianças pequenas, procurem alguém que possa substituí-las, para que, pelo menos de vez em quando, possam ouvir a Santa Missa.
Não esqueçamos que faltar à Missa por descuido, por preguiça, é pecado grave. Mau sinal, péssimo sinal, perder a Missa aos domingos. Enquanto o homem aos domingos veste a roupa limpa, toma o caminho da igreja, assiste ao santo sacrifício, ouve a palavra de Deus, há esperança. Embora este homem se tenha desviado de Deus, um dia voltará para ele.
Mas, quando o homem chegou a este ponto de embrutecimento que não faz mais distinção entre dia de serviço e dia de domingo, não há mais esperança. Não é mais cristão, não é mais homem, é animal. É a perda da alma, é o inferno.
Que dizer agora dos que não só profanam o dia do Senhor pelo trabalho e a perda de Missa, senão pelo pecado propriamente dito. Infelizmente, para muitos, o domingo é o dia do pecado, da embriaguez, do jogo, do escândalo.
Que crime! Roubar a Deus o dia que ele reservou para sua glória e para nossa salvação, e consagrá-lo a Satanás pelo pecado!
O que digo do domingo, digo-o das festas que, muitas vezes, em lugar de serem festas dos santos, são festas do demônio, pela devassidão. Assim é que outrora os judeus celebravam os domingos e as festas e por isso Deus lhes disse: “Eu tenho horror de vossas festas, lançar-vos-ei em rosto as imundícies de vossas solenidades”. O que Nossa Senhora e os santos esperam de nós nos seus dias de festas não são músicas, foguetes, danças, jogos, orgias, mas orações fervorosas, confissão, comunhão. Só assim nos tornamos merecedores de seus favores.

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As Sete Portas do Inferno - Segunda Porta

Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

Segunda Porta do Inferno
O Furto

Não erreis, diz o mesmo apóstolo, os ladrões não herdarão o reino de Deus.
O furto consiste em tomar, sem razão legítima, o alheio, às escondidas do dono. A rapina é um furto praticado à força na presença do dono.
A fraude consiste em enganar no comércio, no peso, na medida, na qualidade, no preço, nos contratos. A usura, em cobrar juros excessivos.
É pecado intentar processos injustos, recorrer à chicana para apoderar-se dos bens ou dos direitos dos outros, ficar com um objeto achado quando o dono é conhecido ou pode ser conhecido facilmente, comprar cientemente coisas furtadas, causar qualquer prejuízo ao próximo em seus bens, sua lavoura, seus negócios.
Enfim, pecam contra a justiça todos os que mandam ou aconselham ou às vezes simplesmente consentem que outros causem qualquer prejuízo ao próximo.
Pois este pecado é tão abominável que deveria inspirar horror a todos os cristãos, porque atrai sobre o homem a cólera de Deus e os priva do céu.
O alheio é uma isca com que se engole o anzol pelo qual Satanás pega as almas. No entanto os homens são tão levados para os bens perecedores, que seus herdeiros disputarão e arrancarão depois da morte, que obcecados pela cobiça deixam se arrastar. Há certas pessoas que tributam, por assim dizer, honras divinas ao dinheiro e o apreciam como seu fim último. “Seus deuses são o ouro e a prata”, diz o profeta Daniel.
Verdade é, há pecados mais graves que o furto, mas nenhum torna mais difícil a eterna salvação. A razão disso é que, para alcançar o perdão dos demais pecados, basta ter deles um verdadeiro arrependimento, e confessá-los; mas não assim quando se trata do furto; o arrependimento com a confissão não é suficiente, além disso é preciso restituir. Ora, nada mais raro que a restituição. Eis a visão que teve um certo eremita: viu Lúcifer sentado no seu trono. Era a hora em que os demônios voltavam da terra aonde tinham sido mandados para tentar os homens. A um que chegou muito atrasado, Satanás perguntou qual o motivo do seu grande atraso. Respondeu que tinha trabalhado até àquela hora para impedir a um ladrão que fizesse uma restituição que lhe pesava muito na consciência. Lúcifer mandou castigá-lo, dizendo-lhe que não devia ignorar que o ladrão nunca restitui e que tinha perdido seu tempo.
Em verdade assim é.
Dir-se-ia que o alheio se converte em próprio sangue e a dor de tirar o próprio sangue para dá-lo a outro é coisa dura de se sofrer. Demonstra-o a experiência de todos os dias.
Quantos procuram iludir-se sobre a necessidade da restituição. Alega-se a pobreza... a família... deixa-se aos herdeiros o cuidado de restituir, ou, para tranquilizar a consciência, dá-se alguma esmola aos pobres, mesmo quando se conhece a quem se deve. No entanto, Santo Agostinho disse: “ou restituição ou condenação”.
Consideremos com S. Gregório que as riquezas que temos amontoado por meios injustos nos abandonarão um dia, mas que os crimes cometidos nunca nos abandonarão. Lembremo-nos que é uma extrema loucura deixar após si bens de que não teremos sido donos senão uns instantes e de carregar conosco injustiças que nos atormentarão eternamente.
Não tenhamos a insensatez de transmitir aos nossos herdeiros o fruto do nosso pecado para nos carregar de toda a pena que lhe é devida e não nos exponhamos à horrorosa desgraça de arder eternamente na outra vida por termos educado e enriquecido filhos talvez ingratos. Lembremo-nos principalmente da palavra de Jesus Cristo: “Que serve ao homem lucrar o mundo inteiro, se depois perder sua alma?

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As Sete Portas do Inferno - Primeira Porta

Excerto do Livro
O Pequeno Missionário
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

Primeira Porta do Inferno
A Impureza




Não erreis, disse São Paulo, os impuros não herdarão o céu. A impureza é o amor desregrado dos prazeres da carne. Pensar voluntariamente em coisas desonestas; desejar praticar, ver, ouvir coisas escandalosas; dizer palavras, ter conversas imorais, ler livros obscenos, olhar gravuras, espetáculos, pessoas indecentes; permitir-se consigo ou com outras pessoas liberdades criminosas; praticar no sacramento do matrimônio o que a moral cristã proíbe... são pecados contra a pureza.
Dirão alguns: isso é pecado pequenino. Pequenino? Mas é pecado mortal. Diz Santo Antonino que é tal a corrupção que faz lavrar este pecado, que nem os próprios demônios podem sofrê-lo, e acrescenta o mesmo santo que, quando se cometem semelhantes torpezas, até o demônio foge de vê-las.
Considerai agora o horror que causará a Deus aquela pessoa que, como diz São Pedro, semelhante ao suíno, se revolve no lodaçal deste pecado. Dirão ainda os escravos da impureza: Deus é misericordioso, conhece a fraqueza da carne. Pois ficai sabendo que, conforme o relata a Escritura, os mais terríveis castigos que Deus descarregou sobre o mundo foram a punição deste pecado.
Abramos, com efeito, a Escritura. O mundo está ainda no começo e já os homens estão corrompidos, carnais impudicos. Deus se arrepende de ter criado o homem e por isso toma a resolução de o exterminar. Abre as cataratas do céu, a chuva cai durante quarenta dias e quarenta noites, as águas sobem até cobrirem as montanhas mais altas, e a humanidade morre afogada, abismada nas águas do dilúvio. Só escapam oito pessoas, a família de Noé que, sozinho, guardara a castidade.
Será pecado leve? Que lemos ainda na Bíblia? Havia na Palestina cinco cidades célebres pelo seu comércio, suas riquezas, mais célebres, ainda, pela sua corrupção espantosa. Naquelas cidades cometiam-se pecados de que nem se pode dizer o nome, pecados sensuais contra a natureza, pecados horrorosos que infelizmente se cometem hoje, depois de dois mil anos de cristianismo. Que fez Deus? Mandou chover sobre aquelas cidades uma chuva, não mais de água, mas de fogo e de enxofre, que reduziu a cinzas as cidades e os habitantes.
Não satisfeito, Deus mandou à terra que se abrisse e ao inferno que engolisse os restos infames de Sodoma e Gomorra.
Que nos diz ainda a Sagrada Escritura? Que outrora Deus mandava queimar vivo a quem cometia semelhantes pecados e até aos casados que profanavam o matrimônio pelo crime horrendo do adultério. Este pecado de adultério, depois do assassínio, o mais grave de todos os pecados contra o próximo, foi sempre considerado até pelos pagãos como um crime digno de todos os castigos. Os antigos egípcios condenavam a ser queimada viva a mulher casada que tinha cometido este pecado; os saxões igualmente condenavam à fogueira a mulher casada infiel, e à forca o cúmplice de seus crimes. E há cristãos que trazem na lama do pecado o sacramento que São Paulo chama grande.
Estes são apenas os castigos para este mundo. Que será no outro mundo!
Está escrito, e a palavra de Deus não volta atrás, que os desonestos não entrarão no reino do céu. E este o pecado que arrasta para o inferno o maior número das almas. Diz São Remígio que a maior parte dos condenados estão no inferno por causa
deste pecado. O mesmo diz São Bernardo: este pecado precipita no inferno quase todo o mundo. Do mesmo modo fala Santo Isidoro: é a luxúria muito mais que qualquer outro vício que sujeita o gênero humano ao demônio. Em uma palavra, e é a doutrina de todos os santos, de cem condenados no inferno, haverá um ladrão, um assassino, um ímpio, mas noventa e nove desonestos.
Pobres pecadores. Longe de mim o infundir-vos o desespero; o que quero dizer é que, se vos achais atolados neste vicio, procurai sair quanto antes deste lodaçal imundo, senão o inferno será vossa sorte eterna.
O que deveis fazer é o seguinte:
1º. Rezar. A oração é uma chuva celestial que apaga o pecado da concupiscência.
Rezai antes de dormir, de joelhos, ao pé do leito, três Ave-Marias à pureza de Nossa Senhora.
2º. Repelir sem demora todo mau pensamento e desejo, chamando pelos nomes de Jesus e Maria.
3º. Fugir, mas fugir absolutamente, custe o que custar, da ocasião do pecado, da frequentação de tal pessoa, de tal casa, de tal divertimento, de um modo especial destas danças modernas tão imorais e escandalosas.
4º. Enfim o meio mais eficaz é a recepção frequente e piedosa dos sacramentos da confissão e comunhão.
Desenganai-vos, se agora não vos emendardes, mais tarde será tarde demais.

Continua...

As Sete Portas do Inferno - Introdução

Excerto do Livro ( Clique no link abaixo para baixá-lo)
O Pequeno Missionário
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953

DESPERTADOR DA ALMA
O inferno e as portas do inferno
O Inferno


Há um inferno.
1º. A Sagrada Escritura nos diz que há um inferno. Jesus Cristo disse: não temais os que podem matar o corpo, temei os que matam o corpo e a alma e os precipitam no inferno. — Se vosso olho, vossa mão, vosso pé vos escandalizam, — isso é, são para vós ocasião de cometerdes o pecado, — arrancai-os e lançai-os longe de vós, para não cairdes no inferno. — O rico avarento foi sepultado no inferno e do meio de seus suplícios bradava: Estou atormentado horrorosamente nas chamas devoradoras, dai-me uma gota de água para refrescar a língua. — No dia do juízo Jesus dirá aos condenados: — Ide, malditos, para o fogo eterno. — São claras estas palavras. Ou há um inferno ou o Evangelho é mentira. Há um inferno ou Jesus nos engana.
2º. A razão nos diz que há um inferno. Dois homens que seguem dois caminhos
opostos não podem se encontrar no mesmo ponto. Podem encontrar-se e ter a mesma sorte os homens que seguem, uns o caminho do bem, outros o caminho do mal? O justo e o pecador, a vítima e o assassino, a virgem e o sedutor, o mártir e o algoz, a mãe de família honesta e a mulher perdida, podem ir para o mesmo lugar? Suponhamos que São Pedro e Nero tivessem morrido no mesmo dia e que juntos comparecessem perante o tribunal de Deus. Jesus Cristo pergunta a São Pedro: Que Fizeste durante a vida? Senhor, era um pobre pescador. Vós me chamastes para ser pescador de almas. Deixei tudo e vos segui. Desde então sabeis qual foi minha vida: rezar, jejuar, pregar, batizar, converter os pecadores, salvar as almas, até que fui preso, lanhado na cadeia e crucificado por amor de vós. — Eis minha vida e minhas obras. — E tu, Nero, que fizeste? — Eu era imperador de Roma, gozei, e para gozar não recuei diante de nenhum crime. Zombei de Deus e da virtude, mandei assassinar minha mãe e meu irmão, queimar vivos milhares de cristãos, queimei a cidade de Roma. Afinal, perseguido pelo povo revoltado por meus crimes, suicidei-me. Eis minha vida e minhas obras. — Notai que são fatos históricos, coisas que realmente se passaram. E agora, quereis que Deus diga: muito bem, Pedro, muito bem, Nero, vão para o céu? Ou então que diga: vão para o inferno? Nossa razão protesta e nos diz que deve haver uma recompensa para São Pedro e um castigo para o monstro que se chamou Nero. Este castigo é o inferno. Há um inferno.
3º. A experiência nos diz que há um inferno. Dizem os libertinos: nunca ninguém
voltou do inferno para nos dizer que há um inferno. É precisamente o que o inferno tem de terrível. Dali ninguém volta. Ninguém sai do inferno, diz a Escritura.
No entanto, por uma disposição especial da Providência Divina, por exemplo, para nos instruir, isto pode acontecer e de fato tem acontecido. S. Francisco de Girólamo pregava em Nápoles, em frente de uma casa em que morava uma mulher de má vida que perturbava a missão com seus gritos e suas gargalhadas. De repente esta cai morta. O santo, logo que soube o que tinha acontecido, foi à casa dela. “Catarina, disse ele, onde estás?” E duas vezes repetiu as mesmas palavras.   Repetiu-as uma terceira vez com mais autoridade; e os olhos do cadáver se abrem, seus lábios se movem e na presença de toda a multidão, uma voz, que parecia sair do abismo, respondeu: “no inferno, no inferno!” Todos fogem, tomados de assombro, e o próprio santo, impressionado, repetia: “no inferno! Deus terrível, no inferno!” É um fato absolutamente certo, a tal ponto que serviu de milagre para a canonização do santo. Há um inferno.


Que é o Inferno

Todo o inferno está nesta palavra de Jesus Cristo: “Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno”.
1º. O inferno é a separação, a perda de Deus. “Afasta-te de mim, pecador”. É assim que Deus repele para longe de si a alma pecadora. É a perda de Deus, a perda da suma beleza, da suma bondade, do sumo bem. Enquanto nossa alma estiver presa no cárcere da carne, não poderá nunca compreender a imensidade desta desgraça que,
na frase dos santos, constitui o inferno dos infernos.
2º. O inferno é a maldição de Deus. Afasta-te, pecador maldito. A maldição eficaz de um Deus todo-poderoso. Se é terrível a maldição de um pai, de uma mãe, que será a maldição de Deus? Pecador maldito, maldito no corpo, maldito na alma. Olhos, língua, mãos, pés, inteligência, coração, vontade, tudo é maldito, porque tudo serviu de instrumento ao pecado.
3º. O inferno é o fogo. Afasta-te de mim, pecador maldito, para o fogo. Quando os profetas falam do inferno, logo se lhes apresenta à imaginação o mar, o mar sem limites e sem fundo, e os condenados, nadando e mergulhando neste abismo de fogo. O fogo os envolve, penetra-os, circula em suas veias, insinua-se até à medula dos ossos.
4º. O inferno é a eternidade. Afasta-te, pecador maldito, para o fogo eterno. A eternidade... quem pode compreendê-la! É um tempo que não acaba. Mil anos, milhões de anos, mil milhões de anos. Contai as gotas de água do oceano, os grãos de areia das praias, as folhas das árvores... a eternidade tem mais anos, mais séculos. Sempre! Nunca! Sempre queimar, sempre sofrer! Nunca o menor alívio, a menor esperança.
Se os condenados que estão no inferno pudessem voltar à terra, que fariam? Procurariam outra vez a ocasião do pecado, as danças, os espetáculos, as tavernas, as casas de perdição? Não! Correriam para a Igreja, ao pé do altar do Santíssimo Sacramento, de Nossa Senhora, ao pé do confessor principalmente, para alcançar o perdão de seus pecados. O que os condenados não podem mais, vós o podeis. Não estais no inferno, mas talvez estejais no caminho do inferno. Quanto antes, voltai para trás; talvez amanhã seja tarde.

As Portas do Inferno

É larga, disse Jesus Cristo, a porta do inferno”. Pode-se acrescentar, são muitas as portas do inferno. Com efeito, há tantas portas do inferno quantas espécies de pecados mortais; mas há entre elas algumas mais largas e mais perigosas: são as da impureza, da injustiça, da profanação do domingo, da embriaguez, da má educação dos filhos, do protestantismo, do espiritismo, da demora da conversão.

Continuará com a....

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Do Modo de Combater a NEGLIGÊNCIA

Excertos do Livro
O Combate Espiritual
Dom Lorenzo Scúpoli
(Clique acima, no título em azul, para obter a resenha do livro e baixá-lo)



Capítulo XX

Do Modo de Combater a Negligência

A negligência é um obstáculo à perfeição, pois entrega os que têm este vício, nas mãos dos inimigos. Para que não te tornes escrava deste pecado, é preciso que fujas da curiosidade, do apego aos bens terrenos e de qualquer ocupação que não convenha ao teu estado.
É preciso que faças esforço para corresponder com presteza a toda a boa inspiração e a qualquer ordem de teus superiores, fazendo tudo no seu tempo, e do modo que os superiores querem.
Não demores, por pouco que seja, a obedecer. Esta falta de diligência acarretará uma segunda, logo uma terceira e outras muitas. Os sentidos se habituam à negligência e cederás então, mais facilmente que no princípio, pois já estás presa do prazer que provaste.
E assim te irás habituando a começar teu trabalho muito tarde, ou então, deixá-lo-ás muitas vezes, como coisa merecida. Pouco a pouco, irá se formando o hábito de negligencia, que se tornará totalmente forte, que, no momento da falta, reconheceremos que somos muito negligentes, sentiremos repugnância de nós mesmos, mas somente faremos o propósito de, mais tarde, em outra ocasião, sermos solícitos e diligentes.
Esta negligência atingirá a toda a nossa alma. Seu veneno infeccionará não somente a vontade, fazendo-a aborrecer aquele trabalho, mas chegará a obcecar a inteligência, de modo tal que ela não verá como são vãos aqueles propósitos de resistir, no futuro, diligentemente, às tentações a que agora, voluntariamente, sucumbirmos.
Não basta fazer, a qualquer momento, o que devemos fazer. É preciso esperar o seu tempo, que será marcado pela hora de realizá-lo, importa fazê-lo com toda a diligência, para que seja cumprido o dever, com toda a perfeição possível.
Fazer um trabalho antes do tempo, não é diligência, mas finíssima negligência. Fazê-lo apressadamente e sem cuidado, com os olhos fitos no descanso que poderemos desfrutar depois, também não passa de negligência.
Estes atos acarretam grande mal à alma, porque não se considera o valor da obra boa, feita no seu tempo, e não se enfrenta com animo resoluto, a fadiga e as dificuldades, que o vício da negligência apresenta, sempre, aos soldados novos.
Deves lembrar-te que uma só elevação da mente a Deus e uma genuflexão em sua honra, vale mais que todos os tesouros do mundo. E que, sempre que fazemos violência a nós mesmos e às nossas paixões viciosas, os anjos nos trazem do reino dos céus uma coroa de gloriosa vitória.
Aos negligentes, Deus vai tirando as graças que lhes dava, e aos diligentes as graças vão crescendo, para que aquelas almas gozem, um dia, no Senhor.
Se nos primeiros princípios, não tens energia para reagir generosamente contra a fadiga e as dificuldades, sempre que as ocultes, para que pareçam menores do que os negligentes as dizem.
Às vezes, é preciso que faças muitos e muitos atos para conquistar uma virtude, e te afadigues muitos dias. Os inimigos te parecem então muito fortes. Começa por isso, a produzir atos, como se fizesses pouca conta deles. Imagina que é por pouco tempo que te precisas afadigar. Combate contra um inimigo, como se não te restassem outros a serem combatidos. E tem sempre uma grande confiança no auxilio que Deus te dispensará, mais forte que o poder dos inimigos. Deste modo, tua negligência começará a se enfraquecer e tua alma se irá dispondo a adquirir a virtude contrária.
Digo o mesmo a respeito da oração. Se ela, por exemplo, deve durar uma hora e isto parece pesado à tua negligência, começa a rezar como se fosse fazer somente durante um oitavo de hora. Passarás depois, com facilidade, ao segundo oitavo, ao terceiro e assim por diante. Mas se, no segundo ou em algum outro oitavo de hora, sentisses que a repugnância e a dificuldade eram fortes demais deixa para depois a oração, para não te cansares em demasia. Mas não te esqueças de retomar, pouco depois, o exercício.
Do mesmo modo deves proceder quanto aos trabalhos manuais, quando acontece que precises fazer muitas coisas e pareçam dificultosas demais, à tua negligência, e te causam aflição.
Começa o teu trabalho corajosamente, e empreende uma das obras, como se fosse a única. Cumprirás assim, todo aquele mister que, à tua negligencio, parecia de grande fadiga.
Se assim não fizeres e não combateres a negligência, prevalecerá em ti este vício, que, não somente a fadiga que sentires durante o exercício da virtude te assustará, mas temerás sempre as dificuldades que te advirão dos trabalhos futuros. E estarás sempre ansiosa, temerás sempre os futuros assaltados do inimigo e recearás a todo o momento, que alguém te venha impor alguma coisa desagradável. Viverás sempre inquieta.
E lembro-te, filha, de que este vício da negligência, pouco a pouco, com seu veneno escondido, não somente ataca as primeiras e pequeninas raízes, que fariam crescer os hábitos das virtudes, mas ferem também os hábitos já adquiridos. É perfeitamente, como o cupim. O vício vai roendo insensivelmente e consumindo o âmago da vida espiritual. O demônio arma este laço contra todos os homens, especialmente contra os mais piedosos.
Vigia, portanto, reza e pratica o bem e não te demores a tecer a fazenda para a veste nupcial, pois deves estar sempre pronta para ir ao encontro do esposo.
E lembra-te todo o dia, de que quem te dá a manhã não te promete a tarde, e quem te dá a tarde não te promete a manha.
Usa, portanto, de todos os teus segundos e minutos, de acordo com a Vontade Divina, e como se fossem os últimos momentos de tua vida. Além disto, deverás prestar conta minuciosíssima de todos os teus instantes.
Concluo, aconselhando-te a que tenhas como perdido o dia em que, mesmo se trabalhaste muito, não conseguiste muitas vitórias contra as tuas más inclinações e contra a tua vontade própria, ou não agradeceste ao Senhor dos benefícios que te concedeu, particularmente a penosa Paixão que Ele sofreu por ti, e paterno e doce castigo, com que te puniu, te fez digna do tesouro inestimável de algumas tribulações.

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Retirado do livro: O Combate Espiritual e o Caminho do Paraíso - Ven. Servo de Deus Lourenço Scúpoli - Edição de 1939