XI. Alma Eloquente
As almas silenciosas são as mais eloquentes, se
tomamos eloquencia pelo dom de convencer e de mover os homens. E isto porque
suas palavras, sendo raras, não aborrecem, mas vêm sempre a propósito; sendo antes
meditadas, soam sempre com a força da concentração e da convicção donde nasceram.
Esta eloquencia possuiu a alma gloriosa de Maria em grau elevado. Pois, em grau
elevado, foi ela, também, uma alma de silêncio. E não é assim? Diz algumas palavras
ao Anjo embaixador de Deus e estas palavras, ecoando pelo mundo afora, operam
maravilhas de transformação. “Eis aqui a
serva do Senhor” exclama a Virgem — e, desde então, não têm faltado legiões
de almas que fizeram de sua vida inteira um serviço exclusivo e dedicado a Deus
Nosso Senhor. Servindo-O não só em seu templo com orações e sacrifícios, mas
pelas estradas, pelos hospitais, pelas casas da pobreza e terras pagãs, na
pessoa dos infiéis, dos leprosos, dos mendigos, de todos os que sofrem. É o
verdadeiro serviço de Deus no seu duplo aspecto: vida contemplativa e vida ativa.
Santa Teresa e Santa Isabel, S. Bruno e S. Vicente de Paulo, frutos da palavra
de Maria: Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a vossa Palavra —
diz a Senhora e com esta palavra só o mundo todo começa a submeter-se à
civilização cristã. As suas palavras do “Magnificat” são de eloquencia tão
arrebatadora, tão do céu, que, ao seu lado, as vozes de um Bossuet são
balbucios apenas. E, depois, quando, em Caná, ela docemente ordena: Fazei tudo o que Ele (Jesus) vos disser,
não são somente aqueles servos das bodas que lhe obedecem, vencidos pela
eloquencia suave de sua voz, mas é toda esta interminável procissão de almas,
que no andar dos tempos fizeram da devoção esclarecida a Maria um meio de chegarem
integralmente a Jesus. Elas têm em seu estandarte o lema: Por Maria a Jesus! — E que frutos de consolo e de salvação já não
produziu o silêncio eloquente de Maria, sentada ao pé da cruz, tendo em seus
braços morto o Filho divino! É como si dissesse: “Ó vós todos que passais sofrendo
pelo caminho da vida, parai um instante e vede se há dor semelhante à minha!”