Meditações
Para Todos os Dias e Festas do Ano
Tiradas das obras Ascéticas de
Santo Afonso Maria de Ligório Bispo e Doutor da Igreja
pelo Pe.Thiago Maria Cristini
Tomo I
Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive
Friburgo em Brisgau, Alemanha, 1921
XXXI - Manhã
Devemos aproveitar bem o tempo
Sumário: Com razão o Espírito Santo nos exorta a que conservemos o tempo,
porquanto o tempo é não somente precioso, mas ainda de muito curta duração.
Lembra-te de como se passaram depressa os doze meses desse ano que hoje
termina. Dize-me, irmão meu, como é que até hoje tens empregado o tempo?
Esforças-te, ao menos, em resgatar o tempo perdido, empregando-o melhor para o
futuro? Quem sabe? Talvez o ano que finda, seja o último da tua vida!
I. O tempo, sobre ser a coisa mais
preciosa, porque é um tesouro que só neste mundo se acha, é ainda de mui curta
duração. Ecce breves anni transeunt.
Lembra-te de como se passaram depressa os doze meses do ano que hoje finda! É,
portanto, com razão que o Espírito Santo nos exorta a conservarmos o tempo, e
não deixarmos perder-se um só momento sem o aproveitarmos bem. Mas, ai de nós!
Quão diversamente vão as coisas! Ó tempo desprezado, tu serás a coisa que os
mundanos mais desejarão na hora da morte, quando ouvirem dizer que para eles
não haverá mais tempo: Tempus non erit amplius.
E tu, irmão meu, em que empregas o teu tempo? Deus te concedeu a graça
de teres chegado até ao dia de hoje, com preferência a tantos milhares e
milhões de pessoas, talvez da tua idade, ou mesmo mais novas, talvez fortes
como tu ou ainda mais robustos, com a mesma compleição que tu, ou talvez mais
sadia. Elas morreram e tu estás vivo! Elas estão reduzidas à podridão e cinzas
no túmulo e tu estás aqui meditando! Elas na eternidade - e muitas infelizmente
no inferno - e tu ainda no tempo! Mas como é que passas o tempo? Em que coisas
o empregaste até hoje?
Faze aqui, aos pés de Jesus Cristo, um exame geral da tua vida. Pondera,
por um lado, as inúmeras graças com que Deus te tem cumulado especialmente no
correr deste ano; por outro, recorda as faltas, as imperfeições, quiçá os
pecados, com que continuamente, desde o primeiro dia do ano até este último,
tens ofendido o Senhor, retribuindo-lhe a Sua liberalidade infinita com
ingratidão. Ah! Se não resgatares desde já o tempo inutilmente perdido, ou
quiçá mal empregado, ele te causará remorsos amargosos, quando, no leito da
morte, te achares próximo àquele grande momento do qual depende a eternidade!
II. Meu irmão, se, por
desgraça, tiveres de reconhecer que passaste na tibieza o tempo do ano que
terminou, procura passar no fervor ao menos este último dia. Agradece muitas
vezes a Deus o ter-te conservado em vida até ao dia de hoje e pede-Lhe perdão
das negligências passadas no Seu serviço. Visto que não sabes se viverás até ao
dia de amanhã e se entrarás ainda no ano novo, põe hoje mesmo em ordem as
coisas de tua consciência e purifica a tua alma por meio de uma confissão
anual. Afinal, faze um propósito firme e eficaz de servires a Deus para o
futuro com mais zelo, e de empregares melhor o ano vindouro. É assim que, no
dizer do Apóstolo, andarás no caminho da Salvação com circunspeção, e
recobrarás o tempo: Videte quomodo caute
ambuletis... redimentes tempus[1]:
"Vede como andais prudentemente... remindo o tempo."
Ó Senhor, cuja misericórdia não tem limites, cuja bondade é um tesouro
inesgotável, dou graças à Vossa Majestade piedosíssima por todos os benefícios
que me tendes feito, e em particular, pelo tempo que me concedeis para chorar
as minhas culpas, e reparar as minhas desordens. Quem sabe se o ano que hoje
finda, não será talvez o último inteiro da minha vida? Não, não quero mais
resistir aos vossos convites tão amorosos. Pesa-me, ó meu Bem supremo, de Vos
ter ofendido e proponho fazer de hoje em diante contínuos atos de amor, a fim
de compensar o tempo perdido.
Como, porém, as ocupações da vida não me permitem dirigir os meus
pensamentos sem interrupção para Vós, faço hoje o seguinte ajuste, que será válido
durante todo o ano vindouro e todo o tempo da minha vida. Cada vez que levantar
os olhos para contemplar o céu, tenho intenção de glorificar as vossas
perfeições infinitas. Quantas vezes respirar, quero oferecer-Vos a Paixão e o
Sangue de meu divino Redentor, bem como os merecimentos de todos os Santos,
para a Salvação do mundo inteiro e em satisfação dos pecados que se cometerem.
- Toda a vez que bater no peito, quero amaldiçoar e detestar cada um dos
pecados cometidos desde o princípio do mundo, e quisera poder repará-los com o
meu sangue. Finalmente, a cada movimento das mãos, ou dos pés, ou de qualquer
outra parte do corpo, tenciono submeter-me à Vossa Santíssima Vontade,
desejando que de conformidade com esta, se façam todas as coisas. Para que este
meu ajuste nunca mais seja violado, confirmo-o e selo-o com as cinco Chagas de
Jesus Cristo, e deposito-o em Vossas mãos, ó Mãe da perseverança, Maria[2].
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[1] Efésios, 5, 15.
[2] Esta fórmula de reta intenção foi composta por São Clemente Maria
Hoffbauer, C.SS.R.