Retirado do
Catecismo Maior de São Pio X
Quarta Parte
Dos Sacramentos
§ 6º - Da acusação dos pecados ao
confessor
740) Depois de vos terdes disposto bem
para a confissão com o exame, com a dor e com o propósito, que haveis de fazer?
Depois de me ter
disposto bem com o exame, com a dor e com o propósito, irei fazer ao confessor
a acusação dos meus pecados, para receber a absolvição.
741) De que pecados somos obrigados a
confessar-nos?
Somos obrigados a
confessar-nos de todos os pecados mortais; é bom, porém, confessar também os
veniais,
742) Quais são as qualidades que deve
ter a acusação dos pecados, ou confissão?
As qualidades
principais que deve ter a acusação dos pecados são cinco: deve ser humilde, íntegra,
sincera, prudente e breve.
743) Que querem dizer as palavras: a
acusação deve ser humilde?
A acusação deve ser
humilde, quer dizer que o penitente deve acusar-se diante do seu confessor sem
altivez de ânimo ou de palavras, mas com sentimentos de um réu que reconhece a
sua culpa, e comparece diante do juiz.
744) Que quer dizer: a acusação deve ser
íntegra?
A acusação deve ser
íntegra, quer dizer que se devem confessar, com as suas circunstâncias e no seu
número, todos os pecados mortais cometidos desde a última confissão bem feita,
e dos quais se tem consciência.
745) Quais são as circunstâncias que se
devem dizer para que a acusação seja íntegra?
Para que a acusação
seja íntegra, devem acusar-se as circunstâncias que mudam a espécie do pecado.
746) Quais são as circunstâncias que
mudam a espécie do pecado?
As circunstâncias
que mudam a espécie do pecado são:
1º aquelas pelas
quais uma ação pecaminosa de venial se torna mortal;
2º aquelas pelas
quais uma ação pecaminosa contém a malícia de dois ou mais pecados mortais.
747) Dai-me um exemplo de uma
circunstância que faça tornar mortal um pecado venial?
Quem, para se
desculpar, dissesse uma mentira da qual resultasse dano grave para o próximo,
deveria manifestar esta circunstância, que muda a mentira, de oficiosa em
gravemente nociva.
748) Dai-me agora exemplo de uma
circunstância pela qual uma e a mesma ação pecaminosa contém a malícia de dois
ou mais pecados?
Quem tivesse
roubado uma coisa sagrada, deveria acusar esta circunstância, que acrescenta ao
furto a malícia do sacrilégio.
749) Se uma pessoa não tiver a certeza
de ter come tido um pecado, deve confessá-lo?
Se uma pessoa não
tiver a certeza de ter cometido um pecado, não é obrigada a confessá-lo; se
porém o quiser acusar, deverá acrescentar que não tem a certeza de o ter
cometido.
750) Quem não se lembra exatamente do
número dos seus pecados, que deve fazer?
Quem não se lembra
exatamente do número dos seus pecados, deve acusar o número aproximado.
751) Quem deixou de confessar por
esquecimento um pecado mortal, ou uma circunstância necessária, fez uma boa
confissão?
Quem deixou de
confessar por esquecimento um pecado mortal, ou uma circunstância necessária,
fez uma boa confissão, contanto que tenha empregado a devida diligência no
exame de consciência.
752) Se um pecado mortal esquecido na
confissão volta depois à lembrança, somos obrigados a acusá-lo noutra
confissão?
Se um pecado mortal
esquecido na confissão volta depois à lembrança, somos obrigados, sem dúvida, a
acusá-lo na primeira vez que de novo nos confessarmos.
753) Quem por vergonha, ou por outro
motivo culpável, cala voluntariamente na confissão algum pecado mortal, que
comete?
Quem, por vergonha,
ou por qualquer outro motivo culpável, cala voluntariamente algum pecado
'mortal na confissão, profana o Sacramento e por isso torna-se réu de
gravíssimo mo sacrilégio.
754) Quem ocultou voluntariamente algum
pecado mortal na confissão, como há de conciliar a própria consciência?
Quem ocultou
culpavelmente algum pecado mortal na confissão, deve expor ao confessor o
pecado ocultado, dizer em quantas confissões o ocultou, e repetir todas as
confissões, desde a última bem feita.
755) Que deve considerar quem se vir
tentado a calar algum pecado na confissão?
Quem se vir tentado
a calar um pecado grave na confissão, deve considerar:
1º que não teve
vergonha de pecar na presença de Deus, que vê tudo;
2º que é melhor
manifestar os próprios pecados ao confessor em segredo, do que viver inquieto
no pecado, ter uma morte infeliz, e ser por isso envergonhado no dia do Juízo
universal, em face do mundo inteiro;
3º que o confessor
é obrigado ao sigilo sacramental, sob pecado gravíssimo, e com a ameaça de
severíssimas penas temporais e eternas.
756) Que significam estas palavras: a
acusação deve ser sincera?
A acusação deve ser
sincera, significa que é necessário declarar os pecados como eles são, sem os
desculpar, sem os diminuir e sem os aumentar.
757) Que significam estas palavras: a
confissão deve ser prudente?
A confissão deve
ser prudente, significa que, ao confessar os pecados, devemos servir-nos dos
termos mais modestos, e que devemos guardar-nos de descobrir os pecados alheios.
758) Que significam estas palavras: a
confissão deve ser breve?
A confissão deve
ser breve, significa que não. devemos ir falar de coisas inúteis ao confessor.
759) Mas o dever de confessar a outro
homem os próprios pecados, não será muito custoso, sobretudo se são muito
vergonhosos?
Ainda que confessar
a outro homem os próprios pecados possa ser penoso, é necessário fazê-lo,
porque é de preceito divino; e de outro modo não se pode obter o perdão dos
pecados cometidos; além disso, a dificuldade de se confessar é compensada por
muitas vantagens e grandes consolações.
§ 7º - Do modo de se confessar
760) Como vos apresentareis ao
confessor?
Ponho-me de joelhos
aos pés do confessor, e digo: Abençoai-me, Padre, porque pequei.
761) Que fareis enquanto o confessor vos
der a bênção?
Inclino-me
humildemente para receber a bênção, e faço o sinal da Cruz.
762) Depois de feito o sinal da Cruz,
que direis?
Depois de feito o
sinal da Cruz, direi: Eu me confesso a Deus todo-poderoso, à bem-aventurada
sempre Virgem Maria, a todos os Santos, e a vós, Padre, porque pequei.
763) E depois, que direis?
Depois direi: Confessei-me
em tal tempo; por graça de Deus recebi a absolvição, cumpri a penitência, e fui
à Comunhão. Em seguida faz-se a acusação dos pecados.
764) Terminada a acusação dos pecados,
que direis?
Direi: Acuso-me
ainda de todos os pecados da vida passada, especialmente contra tal ou tal
virtude, por exemplo, contra a pureza, contra o quarto Mandamento, etc.
765) Depois desta acusação, que direis
ainda?
Direi: De todos
estes pecados e de todos aqueles de que não me lembro, peço perdão a Deus de
todo o meu coração; e a vós, Padre, peço a penitência e a absolvição.
766) Concluída assim a acusação dos
pecados, que mais resta a fazer
Concluída a
acusação dos pecados, é necessário ouvir com respeito o que disser o confessor;
aceitar a penitência com sincera vontade de cumpri-la; e, enquanto ele dá a
absolvição, renovar o ato de contrição.
767) Depois de recebida a absolvição,
que há ainda a fazer?
Depois de recebida
a absolvição, é preciso agradecer a Nosso Senhor, cumprir quanto antes a penitência,
e pôr em prática os avisos do confessor.
§ 8º - Da absolvição
768) Devem os confessores dar sempre a
absolvição àqueles que se confessam?
Os confessores
devem dar a absolvição somente àqueles que julgam bem dispostos a recebê-la.
769) Podem os confessores diferir ou
negar alguma vez a absolvição?
Os confessores não
só podem, mas devem diferir ou negar a absolvição em certos casos, para não
profanar o Sacramento.
770) Quais são os penitentes que se
devem considerar mal dispostos, e aos quais se deve ordinariamente diferir ou
negar a absolvição?
Os penitentes que
se devem considerar mal dispostos são principalmente:
1º aqueles que não
sabem os mistérios principais da fé, ou não se importam de aprender os pontos
da Doutrina Cristã, que são obrigados a saber, conforme o seu estado;
2º aqueles que são
gravemente negligentes em fazer o exame de consciência ou não dão sinais de dor
e arrependimento;
3º aqueles que não
querem restituir, podendo, as coisas alheias ou a reputação roubada;
4º aqueles que não
perdoam de coração aos seus inimigos;
5º aqueles que não
querem empregar os meios para se corrigir dos seus maus hábitos;
6º aqueles que não
querem fugir das ocasiões próximas de pecado.
771) Não há excessivo rigor da parte do
confessor em diferir a absolvição ao penitente que ele não julga ainda bem
disposto?
Não. Não há excesso
de rigor no confessor que difere a absolvição do penitente, porque não o julga
ainda bem disposto; há antes caridade, pois procede como um bom médico, que
tenta todos os remédios, ainda os desagradáveis e penosos, para salvar a vida
ao doente.
772) Deverá desesperar ou afastar-se
inteiramente da confissão o pecador a quem se difere ou se nega a absolvição?
O pecador a quem se
difere ou se nega a absolvição não deve desesperar ou afastar-se inteiramente
da confissão; mas deve humilhar-se, reconhecer o seu estado deplorável,
aproveitar os bons conselhos que o confessor lhe dá, e assim pôr-se quanto antes
em estado de merecer a absolvição.
773) Que deve fazer o penitente quanto à
escolha do confessor?
O verdadeiro
penitente deve encomendar-se muito a Deus para escolher um confessor piedoso,
douto e prudente, e deve depois entregar-se às suas mãos, e submeter-se a ele
como a seu juiz e médico.
§ 9º - Da satisfação ou penitência
774) Que é a satisfação?
A satisfação, que
também se chama penitência sacramental, é um dos atos do penitente, com o qual
ele dá uma certa reparação à justiça divina pelos pecados cometidos pondo em
prática aquelas obras que o confessor lhe impõe.
775) É obrigado o penitente a aceitar a
penitência que o confessor lhe impõe?
O penitente é
obrigado a aceitar a penitência que o confessor lhe impõe, se a pode cumprir,
e, se não a pode cumprir, deve dizê-lo humildemente ao mesmo confessor, e
pedir-lhe outra.
776) Quando se deve cumprir a
penitência?
Se o confessor não
marcou tempo, a penitência deve cumprir-se quanto antes, e deve fazer-se a
diligência por cumpri-la em estado de graça.
777) Como se deve cumprir a penitência?
A penitência deve
cumprir-se na sua integridade e com devoção.
778) Porque na confissão se impõe uma
penitência?
Impõe-se uma
penitência porque de ordinário, depois da absolvição sacramental que perdoa a
culpa e a pena eterna, resta uma pena temporal a pagar neste mundo ou no
Purgatório.
779) Por que razão quis Nosso Senhor
perdoar no Sacramento do Batismo toda a pena devida aos pecados, e não no
Sacramento da penitência?
Nosso Senhor quis
perdoar no Sacramento do Batismo toda a pena devida aos pecados, e não no
Sacramento da Penitência, porque os pecados depois do Batismo são muito mais
graves, visto serem cometidos com maior conhecimento e ingratidão aos
benefícios de Deus, e também para que a obrigação de satisfazer por eles sirva de
freio para não se recair no pecado.
780) Podemos nós, com as nossas forças,
dar satisfação a Deus?
Não; com nossas
forças, não podemos dar satisfação a Deus; mas nós o podemos unindo-nos a Jesus
Cristo que, com os merecimentos da sua Paixão e morte, dá valor às nossas
ações.
781) É sempre bastante a penitência dada
pelo confessor para pagar a pena que ainda resta, devida aos pecados?
A penitência que dá
o confessor, de ordinário não é bastante para pagar a pena devida pelos
pecados; por isso deve-se fazer a diligência por suprir com outras penitências
voluntárias.
782) Quais são as obras de penitência?
As obras de
penitência podem reduzir-se a três espécies: à oração, ao jejum, à esmola.
783) Que se entende por oração?
Por oração
entende-se toda a espécie de exercícios de piedade.
784) Que se entende por jejum?
Por jejum
entende-se toda a espécie de mortificação.
785) Que se entende por esmola?
Por esmola
entende-se toda e qualquer obra de misericórdia espiritual e corporal.
786) Qual é a penitência mais meritória:
a que dá o confessor, ou a que nós fazemos por nossa escolha?
À penitência que
nos dá o confessor é mais meritória, porque, sendo parte do Sacramento, recebe
maior virtude dos merecimentos da Paixão de Jesus Cristo.
787) Vão logo para o Céu os que morrem
depois de ter recebido a absolvição, mas antes de terem satisfeito plenamente à
justiça de Deus?
Não; eles vão para
o Purgatório, para ali satisfazerem à justiça de Deus e se purificarem
inteiramente.
788) Podem as almas que estão no
Purgatório ser aliviadas por nós nas suas penas?
Sim, as almas que
estão no Purgatório podem ser aliviadas com orações, com esmolas, com todas as
demais obras boas e com as indulgências, mas sobretudo com o Santo Sacrifício
da Missa.
789) Além da penitência, que mais deve
fazer o penitente depois da confissão?
O penitente, depois
da confissão, além de cumprir a penitência, se danificou injustamente o próximo
nos bens ou na honra, ou se lhe deu escândalo, deve, o mais breve e na medida
em que for possível, restituir-lhe os bens, reparar-lhe a honra e remediar o
escândalo.
790) Como se pode reparar o escândalo
que se causou?
Pode-se reparar o
escândalo que se causou fazendo cessar a ocasião dele, e edificando com as
palavras e com o bom exemplo aqueles que se tenha escandalizado.
791) De que maneira devemos satisfazer o
próximo quando o tivermos ofendido?
Devemos satisfazer
o próximo quando o tivermos ofendido, pedindo-lhe perdão ou dando-lhe alguma
outra reparação conveniente.
792) Que frutos produz em nós uma boa
confissão?
Uma boa confissão:
1º perdoa-nos os
pecados cometidos, e dá-nos a graça de Deus;
2o restitui-nos a
paz e o sossego de consciência;
3º reabre-nos as
portas do Paraíso, e comuta a pena eterna do inferno em pena temporal;
4º preserva-nos das
recaídas, e torna-nos capazes de ganhar indulgências.
§ 10º. - Das indulgências
793) Que é a indulgência?
A indulgência é a
remissão da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa,
remissão que a Igreja concede fora do Sacramento da Penitência.
794) De quem recebeu a Igreja o poder de
conceder indulgências?
Foi de Jesus Cristo
que a Igreja recebeu o poder de conceder indulgências.
795) De que maneira nos perdoa a Igreja
a pena temporal por meio das indulgências?
A Igreja perdoa a
pena temporal por meio das indulgências, aplicando-nos as satisfações
superabundantes de Jesus Cristo, da Santíssima Virgem e dos Santos, as quais
formam o que se chama o tesouro da Igreja.
796) Quem tem o poder de conceder
indulgências?
O poder de conceder
indulgências pertence ao Papa em toda a Igreja, e ao Bispo, na sua diocese, na
medida em que lhe é concedido pelo Papa.
797) Quantas espécies há de
indulgências?
Há duas espécies de
indulgências: a indulgência plenária e a indulgência parcial.
798) Que é a indulgência plenária?
A indulgência
plenária é a que perdoa toda a pena temporal devida pelos nossos pecados. Por
isso, se alguém morresse depois de ter recebido esta indulgência, iria logo
para o céu, inteiramente isento das penas do Purgatório.
799) Que é a indulgência parcial?
A indulgência
parcial é a que perdoa só uma parte da pena temporal, devida pelos nossos
pecados.
800) Qual é a intenção da Igreja ao
conceder as indulgências?
A intenção da
Igreja ao conceder as indulgências é auxiliar a nossa incapacidade de expiar
neste mundo toda a pena temporal, fazendo-nos conseguir por meio de obras de
piedade e de caridade cristã aquilo que nos primeiros séculos Ela obtinha com o
rigor dos cânones penitenciais.
801) Em que apreço devemos ter as
indulgências?
Devemos ter as
indulgências em muito grande apreço, porque com elas se satisfaz a justiça de
Deus e mais depressa e mais facilmente se alcança a posse do céu.
802) Quais são as condições requeridas
para se ganharem as indulgências?
As condições para
se ganharem as indulgências são:
1º o estado de
graça, pelo menos ao cumprir a última obra, e o desapego mesmo das culpas
veniais cuja a pena se quer apagar;
2º o cumprimento
das obras que a Igreja prescreve para se ganhar a indulgência;
3º a intenção de
ganhá-las.
803) Podem as indulgências aplicar-se
também às almas do Purgatório?
Sim, as
indulgências podem aplicar-se também às almas do Purgatório quando quem as concede
declara que se lhes podem aplicar.
804) Que é o Jubileu?
O Jubileu, que
ordinariamente se concede todos os vinte e cinco anos, é uma indulgência
plenária, à qual estão anexos muitos privilégios e concessões particulares, como
o poder de obter-se a absolvição de alguns pecados reservados e de censuras, e
a comutação de alguns votos.
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Retirado do Catecismo Maior de São Pio X