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22/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943


11. CONCLUSÃO 
A Sagrada Escritura nos ensina que o povo de Deus, ao sair do Egito, levou consigo os ossos de José, por gratidão para com aquele que seu benfeitor (Ex 13, 19). Devem os cristãos menos gratidão a São José? Por certo, lhe devemos muito mais. Paguemos a nossa dívida por uma filial devoção ao nosso glorioso benfeitor.

21/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943


10. JOSÉ, “FILHO QUE CRESCE” 
Como vimos, são José está inseparavelmente unido à pessoa e a vida do Salvador. Está, portanto ligado    à própria origem, à base do cristianismo. Destarte, ele não podia deixar de receber,na Igreja, honras e culto correspondentes à sua dignidade. Esse culto tem suas raízesno relato do Evangelho, e desenvolveu-se maravilhosamente: o grão de mostarda tornou-se árvore magnífica. Essa lei de progresso lento, de crescimento apenas perceptível, é uma lei do cristianismo. Se ela se aplica a todo cristão, e ao próprio Salvador, então se verifica particularmente no que concerne ao pai nutrício de Jesus. No culto de São José poderíamos distinguir, de alguma sorte, diversas estações, como o fazemos com os meses do ano: poderíamos reconhecer um período preparatório, uma primavera, um verão.

20/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943


9.   O PADROEIRO DA BOA MORTE
Numerosos são os males, múltiplos os sofrimentos do homem neste mundo. Entre esses sofrimentos, um há a que ninguém escapa: todos nós devemos morrer, porque todos nós pecamos. A morte é o estipêndio do pecado.

19/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943


8.   O PADROEIRO DAS ALMAS ATRIBULADAS 
Tudo neste mundo está sujeito à lei do sofrimento. Não há ninguém que não tenha de sofrer. A dor prendeu-se ao homem; segue-o por toda parte. No fundo, a história da humanidade não passa de uma grande tragédia em que o sofrimento, sob mil formas diversas, representa o papel principal. O sofrimento começou com o pecado; só termina com a morte. Cumpre, pois, que assim seja: Deus, infinitamente bom e infinitamente sábio, viu um bem na provação. Pelo sofrimento é que fomos remidos; é pelo sofrimento que colhemos os frutos da Redenção. Muitos homens são levados à compreensão e salvos, só mesmo pelo sofrimento. A cruz é, pois, a partilha de todas as almas. Os santos não escapam a essa lei.

18/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943




7.   O PADROEIRO DA FAMÍLIA
Quando nós representamos São José, vêmo-lo sempre em companhia de Jesus e de Maria. Vemo-lo fundando a Sagrada Família, dirigindo-a, velando por ela. Efetivamente, foi ela o cenário da sua missão, do seu trabalho e da sua morte.

17/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943



6.   O HOMEM DA VIDA EXTERIOR
A vida do homem não é nem exclusivamente interior, nem exclusivamente exterior. Composto de corpo e alma, o homem é chamado a exercer a sua atividade numa dupla esfera. Além disto ele não vive isolado, mas em sociedade, entrando forçosamente em relações com seus semelhantes. A sua vida é, pois, mista, isto é conjuntamente exterior e interior.

16/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943




5.   O HOMEM DA VIDA OCULTA E DA VIDA INTERIOR
Como tivemos ensejo de observar, São José é um santo oculto. Sua vida exterior passa-se na sombra e no silêncio. A sua vida interior — aquela em que ele é particularmente admirável — também é sombra e obscuridade. Nele, a sombra atrai a sombra.

15/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943


4.   O HOMEM SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS
Há um outro título que damos a São José: chamamo-lo “o homem segundo o coração de Deus”, “o homem da dextra de Deus”, isto é, o homem da Providência divina. E estes títulos convidam a estudar com mais minúcia as relações de São José com o Espírito Santo.

14/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943




3.   O ESPOSO DE MARIA
A Sagrada Escritura insiste neste ponto: São José é o esposo de Maria. “E Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus que é chamado Cristo” (Mt 1,16). E tem razão. Daí procedem, para José, consequências extremamente importantes; dentre elas, em primeiro lugar, a tríplice relação que o une a Maria.

13/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943



2.   O SANTO DA INFÂNCIA DE JESUS
Depois do Pai Celeste, contemplamos seu Divino Filho, que Ele enviou ao mundo, reachamo-nos em presença do grande mistério da Encarnação, em presença do Homem-Deus. Quais são as relações de São José com esse mistério? Para compreendê-las, examinaremos duas coisas: em que e como contribuiu S. José para esse mistério?
De três maneiras concorreu ele para o mistério da Encarnação.

12/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943



1.   A SOMBRA DO PAI CELESTE
Sombra do Pai celeste! É um nome que os autores espirituais gostam de dar ao nosso santo. A imagem é belíssima, e não menos exata. Ela resume muito bem a missão e a grandeza de São José. Antes de tudo, não e ele o pai do Salvador? O Pai Celeste é o exemplar e o princípio de toda paternidade no céu e na terra (Ef 3,15). Um pai, seja qual for, é sempre o representante dessa paternidade augusta. Mas não pertence esta glória muito especialmente a São José? Ela é a sua glória sob um tríplice ponto de vista.

11/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943

SEGUNDA PARTE
A VIDA DE SÃO JOSÉ NA IGREJA
 A vida de São José na terra estava terminada. Era o fim do seu ministério junto à pessoa divina do Verbo Encarnado. Mas o santo patriarca sobreviveu a si mesmo até neste mundo. Na Igreja, que é o corpo místico de Jesus Cristo, seu papel prossegue através das honras que o cercam, das virtudes de que ele nos deu o exemplo, da eficácia da sua intercessão, do poder do seu patrocínio. Hánisso, para as almas, uma força, uma lição, um consolo. Para os fiéis,são esses outros tantos motivos de honrar o nosso santo e de trabalhar para lhe imitar as virtudes.
A glória de São José, no céu, é certamente grande. Está em relação com a sua dignidade e merecimentos, como com a gratidão e a liberalidade do Salvador. Nesta terra, ele deu sem medida, pois inspirava-o a caridade mais ardente; e o Senhor, por sua vez, dá-lhe na glória “uma boa medida”, calcada e acogulada (Lc6,38). Para recompensar esse servo bom e fiel, estabeleceu-o “sobre todos os seus bens” (Mt 24, 47). Colocou o trono de seu pai nutrício junto ao trono de sua Mãe puríssima. Tanta glória excede a nossa compreensão. Um dia, na eternidade, ela fará a nossa alegria. Mas, já neste mundo, nos é dado contemplar-lhe de alguma sorte o reflexo na Igreja, no reino terrestre de Jesus Cristo.
Estudemos essa ação de São José na Igreja. Vejamos por que tributo de honra e de gratidão os fiéis se esforçam afim de parar a sua dívida para com ele. A ordem a seguir está indicada: estudemos primeiro as honras e os privilégios fundados nos laços que unem São José à pessoa do Salvador, porquanto eles projetam uma viva luz sobre a excelência das suas virtudes, lhe asseguram a homenagem e a veneração dos fiéis e estimulam as almas à imitação das suas virtudes.

10/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943



9.A MORTE DE SÃO JOSÉ

A tranquila ventura dessa vida em Nazaré foi interrompida pelo falecimento de São José. Nada sabemos de certo sobre as circunstâncias dessa morte. Parece que José já deixara esta terra quando o Salvador, na idade de cerca de trinta anos, principiou a sua vida pública. Não o achamos entre os convidados das bodas de Caná. É que provavelmente já havia morrido, do contrário seria mencionado com Jesus e Maria. Não está também entre os que, no Calvário, rodeiam o Salvador crucificado; do contrário, não teria Jesus confiado Maria aos cuidados de São João. Pode-se admitir que José morreu quando o Homem-Deus, chegado à idade adulta, ficou em condições de cuidar de si mesmo e de sua Mãe.

09/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943



8.   A VIDA FELIZ E TRANQUILA E FELIZ DE SÃO JOSÉ
Depois dessa Páscoa inolvidável, a vida de São José transcorreu na calma, na paz e na felicidade. É a “vida oculta em Nazaré”. O que o Evangelho nos diz do divino Salvador entende-se igualmente de José. Recolhamos esses episódios e tentemos representar-nos o santo patriarca durante esse período da sua vida.

08/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943

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6.     À PROCURA DE JESUS EM JERUSALÉM

Depois da tormenta da perseguição, depois das tristezas do exílio, eis que principiou a vida oculta do Salvador, período de calma, de tranquila doçura, de felicidade doméstica para a família de São José. Uma única vezes a paz foi perturbada por um sofrimento pungente — quando Jesus atingiu os seus doze anos.

07/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943



6.     FUGA PARA O EGITO

A paz, entretanto, não tardaria a ser perturbada. Na mesma noite, “um anjo do Senhor apareceu, em sonho, a José e lhe disse: Levanta-te; toma o menino e sua mãe, foge para o Egito, e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar” (Mt 2,13).

06/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943

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5.   OS SANTOS REIS MAGOS
Após a apresentação de Jesus no templo, José voltou a Nazaré com Maria e o Menino (Lc 2,39). Mas logo, sem dúvida, a Sagrada Família tornou a Belém para ali se estabelecer de vez. Na realidade, Belém era a pátria de Jesus, o lugar do seu nascimento. Belém ficava próxima de Jerusalém e, a mais de um título, essa proximidade oferecia vantagens. Sabe-se que, posteriormente, na volta do Egito, José cogitou de fixar-se em Belém.

05/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
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4.     NO TEMPLO DE JERUSALÉM
Decorridos quarenta dias do nascimento de Jesus em Belém, chegou o momento em que o Menino devia ser apresentado ao Senhor no templo e Maria sua mãe devia oferecer um sacrifício para a sua própria purificação.

04/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943



3.     EM BELÉM
Aproximava-se o momento em que a Virgem daria ao mundo o Salvador. Por esse mesmo tempo foi publicado um edito de César Augusto exigindo que, em todos os reinos submetidos a Roma — e a Judéia era desse número, — todos os habitantes se fizessem inscrever. O recenseamento ordenado por Sulpício Quirino, governador da província romana da Síria, efetuou-o Herodes e, conforme o antigo uso, por tribos e famílias.

03/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943



1.     ESPOSO DE MARIA 

Homem da dextra de Deus”, São José não se perturbava nem preocupava com planos e projetos relativos ao futuro. De antemão, estava resolvido a observar a lei divina, a cumprir fielmente todos os seus deveres. Aguardava, confiante, as indicações da Providência. Eis a melhor maneira de se preparar para uma vocação verdadeiramente divina. De fato, chegado o momento, a Providência não hesitou em pronunciar-se.

02/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943

PRIMEIRA PARTE
SÃO JOSÉ NA VIDA DE CRISTO


1.     A PÁTRIA E A FAMÍLIA DE SÃO JOSÉ

São José teve por pátria a Terra prometida, a Terra Santa. Partindo do Hermon, cujos píncaros alcandorados se revestem de neve, e dividida longitudinalmente em duas partes pelo curso do Jordão, estende-se a Terra Santa entre o Mediterrâneo e o deserto, apresentando alternativamente montanhas e planícies, pastos viçosos e vales sombrios, formando como que uma linda península, de norte a sul.

01/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943


INTRODUÇÃO
Dá-se com os santos o que se dá com os homens e as paisagens. Qual a fisionomia tal o ponto de vista que revelam. Alguns ao primeiro lance dos olhos manifestam o que têm de belo e de grande e arrancam-nos imediatamente admiração ou simpatia. Outros pelo contrário só patenteiam seu valor após estudos sérios. Deve-se descobrir o seu mérito pela observação. Só então se nos antolha o seu valor, sua beleza e sua magnificência. Pode mesmo acontecer que o seu encanto consista primordialmente nessa singeleza essa espécie de mistério que os envolve.

Quem te ocupa mais? A glória de Deus ou seus interesses?

Excerto retirado do
Manual da Almas Interiores
Compêndio de Opúsculos Inéditos
Pe. Grou
Livro de 1932 - 428 págs


Do Aniquilamento
O meu ser está diante de Vós como o que não é. (David)

Quando nos falam de renunciarmos a nós mesmos, de aniquilar-nos; quando nos dizem ser esse o fundo da moral cristã, consistir nisso a adoração em espírito e verdade, tal palavra nos parece dura e até injusta: não queremos ouvi-la e repelimos quem no-lo prega da parte de Deus. Convençamo-nos, uma vez por todas, de que esse preceito nada de injusto encerra e na prática é mais suave do que pensamos. Em seguida, humilhemo-nos se nos faltar coragem para pô-lo em prática e, ao invés de condená-lo condenemos a nós mesmos.
 Que nos pede o Senhor, ordenando que nos aniquilemos? Pede fazermos justiça a nós mesmos, colocarmo-nos em nosso lugar e reconhecermo-nos tais quais somos. Quando mesmo tivéssemos nascido e vivido sempre na inocência, quando jamais houvéssemos perdido a graça original, outra coisa não seríamos, por nós mesmos, senão nada; não poderíamos consider-nos de outro modo sem nos desconhecermos e injustos seríamos pretendendo que diversamente Deus ou os homens nos tratassem. Que se pode dever ao que nada é? Que pode exigir o que nada é? Se a sua própria existência é uma graça, também e com razão maior é tudo quanto tem.
Há, portanto, injustiça formal da nossa parte em recusarmos ser tratados e tratar-nos a nós mesmos como verdadeiros nadas.
 Diz-se nada custar e ser justa essa confissão em relação a Deus; mas que assim não é a respeito dos homens, porquanto estes, nada sendo, como nós, não têm título algum para obrigar-nos a tal confissão e às suas consequências. A confissão nada custa em relação a Deus, se nos limitamos a fazê-la de boca; porém, quando faz-se mister procedermos de acordo com ela, deixarmos que Ele se arrogue e exerça sobre nós todos os direitos que Lhe pertencem, consentirmos em que disponha ao Seu talante de nosso coração, de todo o nosso coração, de todo o nosso ser, custa-nos infinitamente e com grande dificuldade não chamamos ser injustiça. Ele, todavia, poupa a nossa fraqueza, não usa dos Seus direitos com todo o rigor, jamais nos expõe a certas provas aniquiladoras, sem ter obtido o nosso consentimento.
 Quanto aos homens, concordo não terem por si mesmos domínio algum sobre nós e que injusto é da sua parte qualquer desprezo, humilhação ou ultraje. Mas nem por isso temos direito de nos queixarmos dessa injustiça, porque no fundo não é injustiça a nós, que nada somos, a quem nada é devido, mas para com Deus, cujo mandamento violam desprezando-nos, humilhando-nos, ultrajando-nos.  É, pois, o Senhor quem deve ressentir-Se da injúria que Lhe fazem maltratando-nos e não nós, que em tudo quanto nos acontece não devemos ser sensíveis senão à injúria feita a Deus. Meu próximo despreza-me; não tem razão, porque não é mais do que eu e Deus lho proíbe. Mas não terá ele razão porque eu sou verdadeiramente digno de estima, porque em mim nada há merecedor de desprezo? Não, porque se ele arrebata meus bens, mancha a minha reputação, atenta contra a minha vida, é certamente culpado e muito culpado para com Deus; mas será também para comigo? Estarei autorizado a querer-lhe mal, a vingar-me?
 Não: porque tudo quanto possuo, tudo quanto sou, não pertence propriamente a mim; que só tenho de meu o nada e a quem nada se pode tirar. Se assim encarássemos, sempre do lado de Deus e jamais do nosso, tudo que nos acontece, não seríamos tão melindrosos, tão sensíveis, tão sujeitos a nos queixarmos e irritarmos. Toda a desordem vem sempre de supormos que somos alguma coisa, de nos arrogarmos direitos que nos falecem, de em tudo começarmos sempre por nos considerarmos diretamente e não prestarmos atenção aos direitos e aos interesses de Deus, os únicos lesados no que nos concerne.
 Confesso que isso é de prática muito difícil e para consegui-lo faz-se mister renunciarmos, absoluta e completamente, a nós mesmos. Mas, em suma, é justo e a razão coisa alguma pode opor.
 Deus, portanto, nada exige de nós que não seja razoável, quando a Seu respeito e a respeito do próximo quer que nos portemos como nada sendo, nada tendo, nada pretendendo.
Isto como já se disse, seria justo, quando mesmo tivéssemos conservado a nossa primeira inocência. Mas, se nascemos culpados, se estamos inteiramente cobertos de pecados pessoais, se contraímos infinitas dívidas para com a justiça divina, se merecemos não sei quantas vezes a condenação eterna, não é para nós castigo demasiado brando só sermos tratados como nadas?  E não deve o pecador colocar-se infinitamente abaixo do que nada é? Se qual for a provação imposta a ele por Deus, sejam quais forem os maus tratos suportados do próximo, terá direito de se queixar? Poderá acusar de rigor excessivo a Deus ou de injustiça os homens? Não deve, antes, considerar-se muito feliz em resgatar, com alguma pena temporal, tormentos eternos? Se a religião não é uma ilusão, se é verdade o que a fé nos ensina acerca do pecado e dos suplícios que lhe estão reservados, como pode entrar no espírito de um pecador - a quem Deus se dispõe a perdoar - que não merece tudo quanto se possa suportar de males neste mundo, embora dure sua vida milhões de séculos? Sim, é injustiça soberana, é monstruosa ingratidão de quem ofendeu a Deus (e quem de nós não O ofendeu?) não aceitar de boamente, em reconhecimento, por amor, por dedicação aos interesses de Deus, tudo quanto de sofrimentos, se essas humilhações aprouver à divina bondade enviar-lhe. E que será se tais sofrimentos, se essas humilhações passageiras são, não só a compensação do inferno, mas o preço de uma felicidade eterna, o preço da posse eterna de Deus; se no céu seremos glorificados na proporção do nosso aniquilamento aqui na terra? Teremos ainda horror a nos aniquilarmos?  Pensaremos que é nos fazer mal, quando, por sermos pecadores e para emergirmos do nada, exige-se a renúncia completa do nosso eu, com a promessa de uma recompensa que sempre durará?
 Acrescento que semelhante forma de aniquilamento, contra a qual a natureza tanto se insurge e clama, ao invés de tão penosa como imaginamos, é até suave, porque antes de tudo Jesus Cristo a declarou tal: Tomai sobre vós o meu jugo, disse Ele; é doce e leve. Por mais pesado que seja esse jugo, Deus o suaviza para os que o tomam de boa vontade e consentem em carregá-lo por Seu amor. O amor não nos impede de sofrer, mas faz como que amemos o sofrimento e torna-o preferível e a todos os prazeres.
 A recompensa presente do aniquilamento é a paz do coração, a calma das paixões, a cessação de todas as agitações do espírito, das murmurações, das revoltas interiores.
 Vejamos, em pormenores, a prova disto. Qual é o maior mal do sofrimento? Não é a própria dor, é a revolta, a sublevação interior que a acompanha. A alma aniquilada sofreria todos os males imagináveis sem perder o repouso conexo ao seu estado: é fato de experiência. Custa-nos conseguir o nosso aniquilamento, temos que fazer grandes esforços sobre nós mesmos: mas também gozamos da paz na proporção das vitórias alcançadas.
 O hábito de renunciarmos a nós mesmos, de não atendermos ao nosso eu, torna-se cada dia mais fácil; admiramo-nos de que não nos faça mais sofrer, no fim de certo tempo, aquilo que nos parecia intolerável, assustava a imaginação, sublevava as paixões e punha a natureza em estado violento.
 Nos desprezos, nas calúnias, humilhações, o que no-las torna tão duras de suportar é o nosso orgulho; é o nosso desejo de ser estimados, considerados, tratados com certas atenções; é o pavor que temos das zombarias e do desprezo do próximo. Eis o que nos agita e enche de indignação, o que nos torna a vida amarga e insuportável.  Trabalhemos com afinco para aniquilar-nos; não demos alimento nenhum ao orgulho, deixemos caírem todos os artifícios de estima e amor próprio, aceitemos interiormente as pequenas mortificações que se apresentarem.
 Pouco a pouco chegaremos a não mais nos inquietarmos com o que se pensa e diz de nós, nem com o modo pelo qual nos tratam. Um morto nada sente; para ele não há honra nem reputação; os louvores e as injúrias lhe são indiferentes.
 A maior parte dos sofrimentos e desgostos por que passamos no serviço de Deus provém de não estarmos bastante aniquilados em Sua presença, de conservarmos certa vida própria no meio dos nossos exercícios, de imiscuir-se um secreto orgulho em nossa devoção. E por isso não somos indiferentes às consolações e à sua falta; sofremos quanto Deus parece afastar-Se de nós; esgotamo-nos em desejos e esforços tendentes a fazê-Lo voltar; ficamos abatidos e desolados, se o afastamento perdura muito. Por isso também temos falsos alarmes a respeito do nosso estado. Afigura-se-nos estarmos mal com Deus, porque Ele nos priva de algumas doçuras sensíveis. Julgamos más as nossas comunhões, porque as fazemos sem gosto, a mesma coisa acontecendo quanto às nossas leituras, orações e outras práticas.  Sirvamos a Deus com espírito de aniquilamento; sirvamo-Lo por Ele e não em atenção a nós; sacrifiquemos os nossos interesses à Sua glória e ao Seu bel-prazer; então, estaremos sempre contentes com o Seu modo de tratar-nos, persuadidos de que nada merecemos e de ser imensa a bondade de Sua parte, não digo aceitando, porém suportando os nossos serviços.
 Nas grandes tentações contra a pureza, a fé, a esperança,o que há de mais penoso para nós não é precisamente o temor de ofender a Deus, senão o medo de perder-nos, ofendendo-O. É o nosso interesse que nos ocupa muito mais do que a Sua glória.
 Eis a razão de ter um confessor tanta dificuldade em tranquilizar-nos e reduzir-nos à obediência. Cremos que ele nos engana, transvia e perde, porque nos obriga a deixar de lado as nossas vãs apreensões. Aniquilemos o nosso conceito; não julguemos por nós mesmos... Encontraremos a paz e paz perfeita, no esquecimento total de nós mesmos.
Nada há no céu, na terra, nem do inferno, capaz de perturbar a alma verdadeiramente aniquilada.