As Sete Meditações sugeridas por São João Bosco

Excertos do livro

Desejo, meus filhos, que tenhais diariamente um pouco de meditação. Por isso, aqui ofereço alguns curtos pensamentos para cada dia da semana, e espero que os lereis com atenção, caso não tenhais outro livro mais apropriado.

Depois de vos terdes ajoelhado, dizei:

"Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração por Vos ter ofendido; peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de inflamar-me de amor por Vós.Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por mim".






DOMINGO
A finalidade do homem



1º)- Considera, meu filho, que Deus te criou à sua imagem e semelhança, que te deu uma alma e um corpo, sem que da tua parte houvesse para isso nenhum mérito. Ademais, pelo Batismo Deus te fez seu filho, te amou sempre e te ama ainda como Pai amoroso; o único fim para o qual te criou é para que O ames e sirvas a Ele nesta vida, e desse modo possas merecer um dia ser eternamente feliz com Ele no Paraíso.

Não penses que vives neste mundo para divertir-te, enriquecer-te, comer, beber e dormir, como os animais irracionais; pois o fim para o qual foste criado é infinitamente mais nobre e mais sublime; ou seja, para amar e servir a Deus nesta vida, e salvar assim a tua alma.

Se procederes desse modo, que consolo sentirás na hora da morte!... Mas, se pelo contrário não pensares seriamente em servir a Deus, que remorsos não sentirás naquele instante, em que reconhecerás claramente que as riquezas e os prazeres, que tanto procuraste na terra, só serviram para encher de amarguras teu coração, fazendo-te ver o dano que causaram à tua alma!.

Por isso, meu filho, não queiras ser daqueles que só pensam em satisfazer o corpo com atos, palavras e divertimentos censuráveis; e no fim da vida se encontrarão em grande perigo de perdição eterna.

O secretário de um rei da Inglaterra morreu exclamando: "Infeliz de mim! Gastei tanto papel para escrever as cartas de meu senhor, e não empreguei sequer uma folha de papel para anotar meus pecados e fazer uma boa confissão!".

2º)- Verás melhor a importância do teu fim se considerares que tua salvação eterna ou tua eterna condenação dependem de ti.

Se salvas tua alma, muito bem, serás feliz para sempre; mas se a perdes, perdes tudo? Alma, corpo, Céu, Deus que é teu fim... E para toda a eternidade serás desgraçado!

Não imites a loucura dos desgraçados que dizem: "Vou cometer agora este pecado, mas depois me confessarei". Não te enganes a ti mesmo com tais palavras, porque o Senhor amaldiçoa o homem que peca na esperança de obter perdão.

Lembra-te de que os condenados que estão no Inferno tinham a intenção de mais tarde se converter, e apesar disso se perderam por toda a eternidade.

Estás seguro de que Deus te concederá tempo para te confessares?

Quem te garante que não morrerás logo depois de pecar e que tua alma não será precipitada imediatamente no Inferno?

Não achas que seria loucura se te feristes gravemente, na esperança de encontrar depois um médico que te curasse?

Renuncia, pois, ao pensamento enganador de só mais tarde te consagrares ao serviço de Deus; hoje mesmo detesta e abandona o pecado, que é o maior de todos os males e que, desviando-te do teu fim último, te priva de todos os bens.

3º)- Quero também que conheças um terrível laço de que se serve o demônio para prender e levar à perdição grande número de cristãos: é deixar que se instruam na Religião, mas que depois não a pratiquem.

Sabem perfeitamente que Deus os criou para amá-Lo e servir a Ele; e no entanto empregam todo o tempo em lavrar a própria ruína eterna! De fato quantas pessoas vemos no mundo que pensam em tudo, menos na sua salvação!

Se se diz a um jovem que freqüente os Sacramentos, que faça um pouco de oração, etc., logo responde: "Tenho outras coisas que fazer, tenho que trabalhar, que me divertir...". Ó infeliz! E não tens uma alma para salvar?

Quanto a ti, jovem católico que lês estas considerações, não te deixes enganar pelo demônio; promete a Deus que de agora em diante todas as tuas palavras, pensamentos e ações se orientarão para a salvação da tua alma.

Grave loucura seria procurares com tanto afinco o que deve acabar em pouco tempo e te esqueceres da eternidade que não tem fim.

São Luís Gonzaga poderia ter gozado de todos os prazeres, honras e riquezas deste mundo, mas renunciou a todos eles dizendo: "De que me servem essas coisas para a vida eterna?".

Conclui tu também com este pensamento:

"Tenho uma alma; se a perco, perco tudo. Ainda que ganhasse o mundo inteiro à custa de minha alma, de que me aproveitaria?"

De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder sua alma?

Se chego a ser um grande homem, um ricaço, se consigo atingir a celebridade como sábio que domina todas as ciências e todas as artes do mundo, mas depois perco minha alma, de que me adiantarão todas essas coisas?

A própria sabedoria de Salomão não me valeria de nada se me condenasse. Diz, pois assim:

"Deus me criou para salvar a minha alma, e quero salvá-la a todo custo; amar a Deus e salvar minha alma serão, a partir de agora o único objetivo de todos os meus cuidados.Trata-se de ser eternamente feliz ou eternamente desgraçado; devo estar resolvido a perder tudo para me salvar.Meu Deus, perdoai os meus pecados e não permitais que jamais tenha o desgraça de Vos ofender novamente; ajudai-me com vossa santa graça para que Vos possa amar e servir fielmente.Maria, minha esperança, rogai por mim".




SEGUNDA-FEIRA
O Pecado mortal



1º)- Se soubesses, meu filho, o que fazes cometendo um pecado mortal!

Voltas às costas para Deus, que te criou e cumulou de benefícios; desprezas sua graça e sua amizade; e dizes com teus atos:

"Afastai-vos de mim, Senhor, já não Vos quero obedecer, nem servir, nem vos reconhecer por meu Deus. Não Vos servirei! Quero que meu deus seja este prazer, esta vingança, esta cólera, esta má conversação, esta blasfêmia..."

Pode-se imaginar ingratidão mais monstruosa?

Entretanto, meu filho, foi isso o que fizeste todas as vezes que ofendeste ao teu Senhor.

2º)- Essa ingratidão é mais grave porque, para cometê-la, tu te serves dos próprios dons que Deus te deu.

Ouvidos, olhos, boca, língua, mãos e pés te foram dados por Deus, e tu os empregaste para ofendê-Lo.

Ouve o que te diz o Senhor:
"Meu filho, Eu te criei do nada; Eu te dei tudo o que tens; nasceste na verdadeira Religião; Eu te concedi a graça do Batismo; podia ter-te deixado morrer quando estavas em pecado, e te conservei a vida para não te mandar ao Inferno; e tu, esquecendo tantos benefícios, queres servir-te desses meios que Eu mesmo te dei, para ofender-Me?

Como não morrer de dor diante dessa enorme injúria lançada contra um Deus tão bom e tão benéfico em relação a nós, míseras criaturas suas?

3º)- Considera ademais que esse Deus, apesar de sua bondade e misericórdia infinitas, não deixa de estar justamente indignado com tuas ofensas, e que, quanto mais continuas vivendo no pecado, tanto mais excitas contra ti sua cólera.

Deves por isso temer que o senhor te abandone, se multiplicas teus pecados. Não porque te falte sua misericórdia, mas porque não terás tempo de pedir perdão, já que não merece a misericórdia do Senhor quem abusa dela para ofendê-Lo.

Grande é o número dos pecadores que viveram no pecado com a esperança de se converterem, e a morte chegou quando menos a esperavam. Deus não lhes deu tempo perdidos para sempre.

Não tremes em pensar que pode acontecer-te o mesmo?

Depois de tantas culpas que Deus te perdoou, não poderá Ele te castigar ao primeiro pecado mortal que cometas, e precipitar-te logo no Inferno?

Dá-Lhe graças por te ter esperado até agora e toma uma firme resolução, dizendo: "Ó meu Deus, quanto Vos ofendi até o presente! Basta! Quero empregar toda a vida que me resta em Vos amar, em chorar meus pecados, arrependendo-me deles de todo o coração; meu Jesus, quero amar-vos, dai-me forças. Virgem Santíssima, Mãe de Deus, ajudai-me. Assim seja.





TERÇA-FEIRA
A morte



1º)- A morte consiste na separação da alma e do corpo, ficando absolutamente abandonadas todas as coisas deste mundo.

Considera, meu filho, que tua alma deve necessariamente separar-se do corpo, mas não sabes quando, nem onde, nem como te surpreenderá essa separação.

Não sabes se ela te apanhará na cama, no trabalho, na rua ou noutro lugar.

A ruptura de uma veia, uma infecção pulmonar, uma febre, um ferimento, um tombo, um terremoto, ou um raio são suficientes para te tirar a vida.

E isso pode acontecer-te dentro de um ano, de um mês, de uma semana, de uma hora ou talvez mal acabes de ler estas páginas.

Quantos estavam bem à noite, quando se deitaram, e foram encontrados mortos no dia seguinte! Quantos, atacados de apoplexia, morreram rapidamente. E para onde foram depois?

Se estavam na graça de Deus, felizes deles, são eternamente felizes. Se estavam no pecado, serão atormentados para todo o sempre.

E tu, meu filho, se morresses neste momento, o que seria de tua alma? Infeliz de ti se não estás preparado, porque o que não está pronto para morrer bem hoje, corre grande risco de morrer mal!

2º)- O lugar e a hora de tua morte não te são conhecidos, mas é certíssimo que ela virá.Ainda supondo que não te surpreenda uma morte repentina ou violenta, sem embargo, a última hora da tua vida há de chegar.

Nessa hora, estendido sobre o leito, assistindo por um sacerdote que rezará junto de ti as orações dos agonizantes, rodeado por tua família que chora, com o crucifixo numa mão e uma vela acesa na outra, te encontrarás às portas da eternidade.

Tua cabeça sentirá dores e não encontrará repouso; tua visão estará obscurecida; tua língua estará ardendo; tua garganta, seca, teu peito, oprimido, o sangue se gelará nas tuas veias; teu corpo será consumido pela enfermidade e teu coração transpassado por mil dores.

Quando a alma tiver abandonado o corpo, este coberto com uma mortalha, será lançado a um buraco, onde se converterá em podridão; os vermes o devorarão, e de ti só restarão alguns ossos descarnados e um pouco de pó mal cheiroso.

Abre uma tumba e observa o que restou de um jovem rico, de um homem poderoso no mundo; pó e podridão... O mesmo te acontecerá a ti.

Lê estas considerações com atenção, meu filho, e lembra-te de que elas se aplicam a ti, como a todos os outros homens.

Agora o demônio, para induzir-te a pecar, se esforça e distrair-te deste pensamento, em encobrir e escusar a culpa, dizendo-te que não há grande mal em tal prazer, em tal desobediência, em faltar à Missa nos dias festivos; mas no momento da morte te fará conhecer a gravidade das tuas faltas e as representará a todas vivamente, diante de ti.

Que farás tu naquele terrível instante? Desgraçado de quem então se encontrar em pecado mortal!

3º)- Considera também que do momento da morte depende tua felicidade ou desgraça eterna.

Estando para dar o último suspiro e à luz daquela última chama, quantas coisas veremos!

A Igreja acende duas velas por nós: uma no nosso Batismo, outra na hora da nossa morte; a primeira, para mostrar-nos os preceitos da lei de Deus, que devemos observar; a segunda no transe da nossa morte, para examinarmos se os observamos corretamente.

Por isso, meu filho, à claridade daquela última luz verá se amaste a Deus durante a tua vida ou se O desprezaste; se respeitaste seu santo Nome ou se O ofendeste com blasfêmias.

Verás as festas que profanaste, as Missas que não ouviste, as desobediências a teus superiores, os escândalos que destes a teus companheiros.

Verás aquela soberba e aquele orgulho que te enganaram; verás...

Mas (oh! meu Deus) tudo aquilo verás no momento em que se abre diante de ti o caminho da eternidade, momento do qual depende a eternidade inteira. Sim, daquele momento depende uma eternidade de glória ou de tormentos.

Compreendes bem o que te estou dizendo? Daquele momento depende para ti o Paraíso ou o Inferno; o ser para sempre feliz ou desgraçado, para sempre filho de Deus ou escravo do demônio, para sempre gozar com os Anjos e Santos no Céu ou gemer e arder para todo o sempre com os condenados no Inferno.

Teme muito por tua alma, e reflete que de uma vida santa e boa dependem a boa morte e a eterna glória.

Sem perda de tempo, põe em ordem tua consciência com uma boa Confissão, prometendo ao Senhor perdoar a teus inimigos, reparar os escândalos que deste, ser mais obedientes, abster-te de comer carne nos dias proibidos, não perder mais o tempo, santificar os dias consagrados a Deus, cumprir os deveres de teu estado.

E deste já, lançando-te aos pés de Jesus, diz a Ele:

"Meu Senhor e meu Deus, desde agora me converto a Vós; amo-Vos e quero-Vos amar e servir até à morte. Virgem Santíssima, minha Mãe, ajudai-me naquele momento terrível. Jesus, Maria e José, que minha alma expire em paz em vossos braços".






QUARTA-FEIRA
Juízo


1º)- É a sentença que o Salvador pronunciará no final da nossa vida, sentença com a qual será fixada a sorte de cada um de nós por toda a eternidade.

Quando tiver saído do corpo, a alma comparecerá imediatamente diante do divino Juiz. Esse encontro é terrível para o pecador, porque sua alma se apresenta sozinha diante de um Deus ao Qual desprezou e ofendeu, de um Deus que conhece até o último pensamento do seu coração.

Quem nos acompanhará naquele momento? Nada levaremos deste mundo, senão o bem ou o mal que tivermos feito, sejam bons, seja maus. Não haverá desculpas nem pretextos.

Santo Agostinho, falando daquele terrível instante, se exprime assim: "Ó mortal, quando compareceres diante do criador para seres julgado, tu te encontrarás diante de um Juiz cheio de indignação, os teus pecados te acusarão; os demônios estarão prontos a executar a sentença; dentro de ti mesmo terás a consciência que te agita e te atormenta; e a teus pés o Inferno estará aberto para engolir-te.Em tal aflição, para onde irás, para onde fugirás?".

Ditoso de ti, meu filho, se procedeste bem durante a vida!

2º)- Depois, o divino Juiz abrirá o livro das consciências e dará início ao exame:

- Quem és tu? Perguntarás-te o Juiz inapelável.
- Sou um cristão.
- Bem, se és cristão, verei se te comportaste como tal.

Então começará a recordar-te das promessas feitas no Batismo, pelas quais renunciaste ao demônio, ao mundo e à carne; te representará as graças que te concedeu, os Sacramentos que recebestes, as pregações, as instruções, os conselhos de teus confessores, as correções de teus pais, tudo isto te será colocado diante dos olhos.

-Mas tu, dirá o divino Juiz, apesar de tantos dons, de tantas graças, como correspondeste mal à fé que professaste! Logo que chegaste ao uso da razão, começaste a Me ofender com mentiras, com faltas de respeito na igreja, com desobediências a teus pais e com muitas outras transgressões de teus deveres. Se pelo menos te houvesses portado bem quando te tornaste mais crescido!Mas com a idade só cresceste no desprezo da minha lei. Missas perdidas, profanações de dias festivos, blasfêmias, más conversações, confissões mal feitas, Comunhões às vezes sacrílegas, escândalos dados aos teus companheiros; eis o que fizeste em vez de servir-Me!"

Ao escandaloso, Se dirigirá cheio de indignação e dirá:

- Vê aquela alma que caminha pela senda do pecado? Foste tu que lhe ensinaste a maldade com tuas palavras escandalosas; se tivesses sido bom cristão, deverias ter ensinado a teus companheiros o caminho do Céu; mas fizeste exatamente o contrário, ensinando a eles o caminho da perdição.Vês aquela alma que está no Inferno? Foste tu que ma roubaste com teus pérfidos conselhos e a entregaste ao demônio, sendo tu a causa de sua perdição eterna.  Agora tua alma pagará a perfídia daquele escândalo.

Que te parece desse exame, meu filho? Que te dirá tua consciência? Ainda tens tempo, se quiseres? pede a Deus perdão de teus pecados, prometendo sinceramente jamais voltar a ofendê-Lo, e começa hoje mesmo uma vida cristã. Assim poderás adquirir um tesouro de boas obras para quando tiveres que comparecer ante o tribunal de Jesus Cristo.

3º)- Em vista de um exame tão rigoroso pelo divino Juiz, o pecador tratará de se desculpar, dizendo que não esperava ser julgado com tanta severidade. Mas o Senhor lhe responderá:

- Não ouviste naquela pregação do catecismo, não leste naquele livro que Eu ia pedir conta de tudo?

O desgraçado se lembrará então da misericórdia divina; mas já não haverá misericórdia para ele, porque não merece misericórdia quem por tanto tempo abusou dela; com a morte acabou o tempo da misericórdia.

A alma se lembrará dos Anjos, dos Santos, de Maria Santíssima; mas Ela em nome de todos dirá:

"Queres agora a minha proteção?Não Me quiseste por Mãe durante tua vida. Agora também não te quero mais por filho; já não te conheço".

Então o pecador, encontrando-se perdido, pedirá gritando às montanhas e penhascos que o escondam; mas estes não se moverão.Invocará o Inferno, e o verá aberto diante de si.

Nesse mesmo momento, o Juiz inexorável proferirá a terrível sentença:

- Vai-te, filho infiel! Afasta-te de Mim! Meu Pai Celestial te amaldiçoa. Eu também te amaldiçoo! Vai-te par ao fogo eterno, a gemer e penar no inferno, com os demônios, por toda a eternidade!

Aquela alma desgraçada, antes de afastar-se para sempre de seu Deus, voltará uma última vez o olhar para o Céu e, no cúmulo do desespero, exclamará:

"Adeus, companheiros; adeus, amigos, que habitais no reino da glória; adeus pai, mãe, irmão, irmãs, vós gozareis eternamente, e eu serei para sempre atormentado, adeus. Anjo da minha guarda, Anjos e Santos do Paraíso, nunca vos verei, adeus, meu Salvador, Cruz santa, sangue divino derramado inutilmente por mim!Neste momento deixo de ser filho de Deus para ser no Inferno escravo do demônio".

Então aquela alma infeliz cairá nas mãos dos demônios, que a arrastarão e precipitarão nos abismos de penas, de misérias e de tormentos eternos.

Não temes, meu filho, que te aconteça o mesmo? Ah!Por amor de Jesus e de Maria, prepare-te com boas obras para merecer uma sentença favorável. Lembra-te de que, quanto mais é espantosa a sentença proferida contra o pecador, tanto mais consoladoras serão as palavras de Jesus para o homem que tenha vivido cristãmente: "Vem; vem tomar posse da glória que te preparei. Tu Me serviste com fidelidade no breve tempo da tua vida; agora serás eternamente feliz. Entra no gozo do teu Senhor".

"Meu Jesus, concedei-me a graça de ser do número desses bem-aventurados. Virgem Santíssima, ajudai-me, protegei-me na vida e na morte, e especialmente quando me apresentar no tribunal de vosso divino Filho par ser julgado!"





QUINTA-FEIRA
O Inferno


1º)- O Inferno é um local destinado pela Justiça divina para castigar com suplícios eternos os que morrem em pecado mortal.

A primeira pena que os condenados padecem no Inferno é a dos sentidos, por ser todo o seu corpo atormentado por um fogo que arde horrivelmente sem jamais diminuir.

Esse fogo penetrará pelos olhos, pela boca e por todo o corpo, e cada um do sentidos padecerá uma pena especial.

Os olhos ficarão obscurecidos pelo fumo e pelas trevas, e aterrorizados ao ver os demônios e os demais condenados.

Os ouvidos não ouvirão incessantemente senão gritos, uivos, prantos e blasfêmias.

O olfato será atormentado com o mau cheiro do enxofre e betume ardentes, que o sufocará.

A boca sofrerá sede ardentíssima e padecerá uma fome canina: "Sofrerão fome como cães" (Sl 58,7; 15).Deus permitiu que o rico Epulão, em meio aqueles tormentos, dirigisse um olhar a Lázaro, pedindo por misericórdia uma gota de água para aliviar o ardor que o consumia; mas até esta lhe foi negada.

Aqueles infelizes, em meio às chamas, devorados pela fome e sede, atormentados por um fogo que não cessa, bradam, uivam e se desesperam.

Ah!Inferno, Inferno, como são desgraçados os que caem nos teus abismos!

E tu, meu filho, que dizes?

Se tivesses que morrer neste momento, para onde irias?

Se não podes suportar agora, se gritar de dor, a ligeira chama de uma vela na mão, como poderás sofrer aquelas chamas por toda a eternidade?

2º)- considera por outro lado, meu filho, o remorso que sentirá a consciência dos condenados.Sua memória, entendimento e vontade padecerão terrivelmente tormentos.

Recordarão continuamente o motivo porque se perderam, isto é, por terem querido satisfazer uma paixão qualquer, e esse pensamento será para eles um verme roedor que jamais morrerá.

Pensarão no tempo que Deus lhe tinha concedido para salvar-se da perdição; nos bons exemplos de seus companheiros; nos propósitos formados e não postos em prática. Pensarão nas pregações ouvidas, nos conselhos de seus confessores, nas boas inspirações pra deixar o pecado... E, vendo que já não há remédio, lançarão uivos desesperados.

A vontade jamais terá nada do que deseja, sofrendo pelo contrário todos os males.

O entendimento conhecerá o bem imenso que perdeu. A alma, separada do corpo e apresentada diante do divino tribunal, entreviu a beleza de Deus, conheceu sua bondade, contemplou por um instante o esplendor do Paraíso, terá ouvido talvez os dulcíssimos e harmoniosos cantos dos Anjos e Bem-aventurados. Que dor, vendo que tudo isso lhe é arrebatado para sempre!

Que horrorosos tormentos! Quem poderá suportá-los?

3º)- Meu Filho, que agora não te preocupas em perder a Deus e o Paraíso! Esperas por acaso conhecer tua cegueira, quando tantos companheiros teus, mais ignorantes e mais pobres do que tu, estiverem gloriosos e triunfantes no reino dos céus, e tu estiveres maldito por Deus e arrojado fora daquela pátria bem-aventurada, do gozo de Deus, da companhia da Virgem Santíssima e dos Santos?

Decide-te, pois, a servir ao Senhor, e faz penitência. Não aguardes para quando não haja mais tempo. Entrega-te a Deus. Quem sabe se esta meditação não será o teu último chamado da graça!Se não correspondes a ele, tu te expõe a que Deus te abandone e te deixe cair nos eternos suplícios.

Ah! Senhor, livrai-me das penas do inferno!






SEXTA-FEIRA
A eternidade das penas


1º)- Considera, meu filho, que se caíres no Inferno, dele jamais saíras. Nele se padecem todas as penas, e todas elas para sempre.

Passarão cem anos, mil anos, e o Inferno estará apenas começando; passarão cem mil anos, cem milhões de anos, milhões de milhões de anos e de séculos... e o Inferno estará ainda apenas começando.

Se um Anjo anunciasse a um condenado que Deus haveria de livrá-lo do Inferno depois de passar tantos milhões de séculos como gotas de água que há no mar, ou folhas de árvores e grãos de areia no mundo, essa notícia lhe causaria logo um consolo indizível. "É certo, exclamaria, que é imenso o número de séculos que sofrerei, afinal, haverá um dia em que eles acabarão".

Mas, ai! passarão esses milhões de séculos e uma infinidade de outros, e o Inferno estará sempre apenas começando.

Cada condenado quereria poder dizer a Deus: "Senhor, aumentai quanto quiserdes minhas penas, e fazei-me permanecer aqui o tempo que quiserdes, contanto que me deis a esperança de ver este suplício acabar um dia! "Mas não! Esse término e essa esperança jamais chegarão.

2º)- Se ao menos o condenado pudesse iludir-se a si mesmo, pensando consigo: "Quem sabe se Deus algum dia terá piedade de mim e me tirará deste abismo!"

Mas, não!Jamais abrigará esta esperança! O condenado terá sempre presente a sentença de sua condenação eterna: "Este tormentos, este fogo, estes horríveis gritos, eu os terei para sempre".

Sempre! verá escrito nas chamas que o devoram. Sempre! na ponta das espadas que o transpassam; Sempre!, nas horríveis fisionomias dos demônios que o atormentam; Sempre!, naquelas portas fechadas que jamais se abrirão para ele!

Ó eternidade, ó abismo sem fundo! Ó mar sem limites! Ó caverna sem saída! Quem não tremerá pensando em ti? Ó maldito pecado, que tremendos suplícios preparas para quem te comete!Ah!Basta de pecados, basta de pecados em toda a minha vida!

3º)- O que deve encher-te de espanto é pensar que essa horrível fornalha está sempre aberta debaixo de teus pés e que basta um único pecado mortal para cair nela.

Compreendes, meu filho, isto que lês? Um pecado que cometes com tanta facilidade merece uma pena eterna.Uma blasfêmia, uma profanação dos dias festivos, um furto, um ódio, uma palavra, um ato, um pensamento obsceno, bastam para condenar-te às penas do Inferno.

Ah! meu filho, ouve atentamente o meu conselho; se a consciência te censura de algum pecado, vai imediatamente confessar-te para principiar logo uma boa vida; põe em prática todos os conselhos do teu confessor e se for necessário faz uma confissão geral; promete fugir das ocasiões perigosas, das más companhias, e se deus te chamar a deixar o mundo, obedece-Lhe com prontidão.

Tudo o que se faz para evitar uma eternidade de tormentos é pouco, é nada: "nenhuma segurança é excessiva quando está em jogo a eternidade", escreveu São Bernardo.

Oh! quantos jovens na flor da idade abandonaram o mundo, a pátria, a família e foram sepultar-se nas grutas e desertos, não vivendo senão de pão e água, às vezes só de algumas raízes!... E tudo isso para evitarem o Inferno!

E tu, o que fazes, depois de merecer tantas vezes o Inferno pelo pecado?

Lança-te aos pés de teu Deus e diz a Ele: "Senhor, vede-me pronto a fazer tudo o que quiserdes; já Vos ofendi demais até agora; de hoje em diante não Vos quero mais ofender; enviai-me, se preciso, todos os males nesta vida, desde que possa salvar minha alma".






SÁBADO
O Paraíso



1º)- Quanto mais espanta a consideração do Inferno, tanto mais consola a do Paraíso, que foi preparado por Deus para todos os que O amam e servem na vida presente.


Para fazeres uma idéia dele, imagina uma noite serena.

Que belo é o céu, com tanta multidão e variedade de estrelas!

Umas são maiores que outras; enquanto algumas delas aparecem pelo Oriente, outras desaparecem no Ocidente, sendo muito variadas no que diz respeito ao tamanho, cor, etc.

Mas todas elas se movem, na imensidão do espaço, com admirável harmonia e segundo a vontade de Deus, seu Criador.

Imagina ademais que a luz do sol te deixe ver durante um belo dia a lua e as estrelas que há no firmamento; imagina também tudo o que há de precioso no mar, na terra, nos diversos países, nas cidades e nos palácios dos reis e monarcas de todo o mundo; acrescenta a isto as mais finas bebidas, os alimentos mais saborosos, a música mais doce, a harmonia mais suave... Pois tudo isso é nada, comparado com a excelência dos bens e dos gozos do Paraíso!

Quanto devemos desejar a posse daquele lugar, onde se gozam todos os bens, sem mescla alguma de mal!

A alma bem-aventurada só poderá exclamar: "Eu me saciarei com a visão da vossa glória" (Sl 16,15).

2º)- Considera, ademais, a alegria que tua alma sentirá ao entrar no Paraíso.

Sairão a recebê-la teus parentes e amigos, e ali verás a nobreza e beleza dos Querubins e Serafins, de todos nos Anjos e de todos os Santos, que em multidão louvam a seu Criador.

Verás também os Apóstolos, o imenso número de Mártires, Confessores e Virgens, e ademais uma grande multidão de jovens que se conservaram puros e por isso cantam a Deus um hino de glória inefável.

Oh! quanto gozam naquele Reino os bem-aventurados! Estão sempre alegres, pois não padecem o menos sofrimento, nem penas que venham turbar sua paz e contentamento.

3º)- Observa ademais, filho, que tudo isso não é nada em comparação com o grande consolo que sentirá a alma ao ver a Deus.

Ele consola os Bem-aventurados com seu olhar amoroso e derrama em seu coração torrentes de delícias.

Assim como o sol ilumina e embeleza todos os objetos aonde chega sua luz, assim Deus ilumina com sua presença todo o Paraíso e cumula seus felizes habitantes com prazeres inexprimíveis.

NEle, como num espelho, verás todas as coisas, gozarás de todos os prazeres da mente e do coração.

Quanto, no Monte Tabor, São Pedro viu uma única vez o rosto de Jesus radiante de luz, foi cumulado de tanta doçura, que fora de si exclamou: "É bom para nós estar aqui!" (Lc 9,33)

Que alegria será então o contemplar, não por um instante, mas para sempre, a vista daquela face divina que apaixona os Anjos e os santos, e que embeleza todo o Paraíso!

E a formosura e a amabilidade de Maria, de quanto gozo inundará o coração dos bem-aventurados! "Como são amáveis as tuas moradas, Senhor Deus dos Exércitos!" (Sl 83,2).

Por isso, todos os coros de Anjos e todos os Bem-aventurados cantarão a sua glória, dizendo: "Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos! A Ele toda a honra e toda a glória, por todos os séculos dos séculos".

Coragem, pois, meu filho! Algo terás que sofrer neste mundo, mas não importa! O prêmio que te espera no Paraíso compensará infinitamente todos os males que tenhas padecido na vida presente.

Que consolo será o teu quando te encontrares no Céu em companhia de parentes e amigos, dos Santos e dos Bem-aventurados, e puderes exclamar: "Estou salvo e estarei para sempre com o Senhor!"

Então bendirás o momento em que deixaste o pecado, em que fizeste uma boa confissão e começaste e freqüentar os Sacramentos.

Bendirás o dia em que, deixando as más companhias, te entregaste à virtude. E, cheio de gratidão, te voltarás a teu Deus e Lhe cantarás louvores e glórias por todos os séculos dos séculos. Assim seja.




OBS: Agradeço à alma generosa que enviou o texto.

Confissão Frequente


Excertos do Livro
Santo Afonso Maria de Ligório



"A verdadeira dor não está em senti-la mas em querê-la. Todo o mérito das virtudes está na vontade!"
"Não falamos aqui das confissões das pessoas incursas em pecados mortais. Entretanto não deixaremos de dar muitos avisos concernentes às ocasiões próximas e às confissões sacrílegas. Mas queremos falar principalmente das confissões das almas timoratas, que amam a perfeição e procuram purificar-se cada vez mais das manchas dos pecados veniais.


UTILIDADE DA CONFISSÃO FREQUENTE

Refere Cesário que um santo sacerdote mandou da parte de Deus a um demônio que lhe tinha aparecido, lhe dissesse o que mais o maltratava; e o inimigo lhe respondeu que nada o contrariava nem o desgostava tanto, como a confissão frequente. - Mas ouçamos o que Jesus Cristo disse a Sta. Brígida: "Aquele que quer conservar o fervor, deve purificar-se frequentemente com a confissão na qual se acuse de todos os seus defeitos e negligências em servir-me." - Cassiano ensina que a alma que aspira à perfeição, deve cuidar de ter uma grande pureza de consciência, porque assim é que se adquire o perfeito amor de Deus, que não se dá senão às almas puras; de sorte que o divino amor corresponde à pureza do coração.

- É preciso, porém entender que nos homens, segundo o estado presente, esta pureza não consiste em uma isenção absoluta de toda a falta; porque, exceto nosso divino Salvador e sua divina Mãe, não houve nem haverá no mundo nenhuma alma sem suas manchas. Todos nós nascemos em pecado e caímos em muitas faltas, diz S. Tiago.


- Consiste em duas coisas, que são velar atentamente para que não entre no coração nenhuma falta deliberada, por leve que seja, e ter cuidado de purificar-se imediatamente de qualquer falta que nele possa ter entrado.


- Estes são justamente os dois bons efeitos que produz a confissão freqüente.

Primeiramente, pela confissão frequente, uma pessoa se purifica das manchas contraídas. - A este propósito, narra S. João Clímaco que um jovem, desejando corrigir-se da má vida, que levava no século, foi-se fazer religioso em certo mosteiro. Antes de recebê-lo, o abade quis prová-lo; e lhe disse que, se queria ser admitido, fosse confessar em público todos os seus pecados. Deveras resolvido a se entregar inteiramente a Deus, o jovem obedeceu; mas, enquanto expunha suas faltas diante da comunidade, um santo religioso que fazia parte desta, viu um homem de aspecto venerando, que a medida que o moço ia declarando seus pecados, os apagava de um papel que tinha na mão, onde estavam escritos; de sorte que, acabada a confissão, todos estavam apagados.

O que, neste caso, aconteceu visivelmente, sucede invisivelmente toda a vez que um se confessa com as devidas disposições.

A confissão, porém, além de purificar a alma de suas máculas, dá-lhe também força para não recair. -Segundo o doutor angélico, a virtude da penitência faz que a falta cometida seja destruída e também que não volte mais.

- A tal propósito S.Bernardo refere um fato da vida de S. MalaquiasUma mulher tinha o hábito de se impacientar e de se irritar a tal ponto que se tornara insuportávelS. Malaquias, ouvindo dela mesma quenunca se houvera confessado de tais impaciênciasexcitou-a a fazer uma confissão exata dessas faltas.Depois disto, tornou-se tão paciente e tão branda, que parecia incapaz de se enfadar por qualquer trabalho ou mau trato que a importunasse.É por isso que muitos santos, para adquirirem a pureza de consciência, costumavam confessar-se todos os dias. Assim praticavam Sta. Catarina de Senna, Sta. Brígida, a Beata Collecta, e também S. Carlos Borromeo, Sto. Inácio de Loiola e muitos outros. S. Francisco de Borgia não se contentava com uma só vez, confessava-se duas vezes por dia.

Se os homens do mundo tem horror de aparecer com uma mancha no rosto diante de seus amigosque se há de estranhar que as almas amigas de Deus procurem purificar-se cada vez mais, para se tornarem cada vez mais agradáveis aos olhos de Nosso Senhor.


- De resto, não pretendemos aqui obrigar as religiosas que frequentam a comunhão, a confessar-se toda a vez que comungam. Entretanto é conveniente que se confessem duas vezes ou ao menos uma vez por semana, e além disso quando houverem cometido alguma culpa com advertência.


DO EXAME, DA DOR OU CONTRIÇÃO E DO BOM PROPÓSITO


- Sabe-se que, para fazer uma boa confissão, três coisas se requeremO exame de consciênciaa dor de ter pecado, e o propósito de se corrigir.

1. Quanto ao exame, aos que frequentam os sacramentos, não é necessário que quebrem a cabeça em indagar todos os pormenores das faltas veniais. É preferível que se apliquem mais a descobrir as causas e raízes de seus apegos e de suas negligências. Digo isto para as religiosas que vão se confessar, com a cabeça cheia de coisas ouvidas na grade, e não fazem outra coisa que repetir, de cada vez, a recitação das mesmas faltas, como uma cantilena, sem arrependimento e sem propósito de emenda. Para as almas espirituais, que se confessam amiúde e tem cuidado de evitar os pecados veniais deliberados, o exame não exige muito tempo; pois não têm necessidade de indagar sobre as faltas graves, porque se a sua consciência estivesse sobrecarregada de um só pecado mortal, este se daria logo a conhecer por si mesmo. Quanto aos pecados veniais, se fosse plenamente voluntários, se manifestariam também de um modo sensível de pena que causariam; aliás não há obrigação de confessar todas as faltas leves que se tem na consciência, e por conseguinte também não há obrigação de fazer um exame exato e menos ainda de escrutar o número e circunstâncias, ou se recordar como e porque se cometeram.Basta declarar as faltas leves que pesam mais e são mais opostas a perfeição, e acusar as outras em termos gerais.

Quando não há matéria certa depois da confissão última, diga-se algum pecado da vida passada, de que se tenha mais dor, por exemplo: Eu me acuso especialmente de todas as culpas cometidas no passado contra a caridade, a pureza ou a obediência.

- É bastante consolador o que sobre este ponto escreve S. Francisco de Sales: "Não vos inquieteis, se não vos lembrardes de todas as vossas faltinhas para confessá-las; porque assim como muitas vezes cais sem advertência, assim também muitas vezes vos levantareis sem percebê-lo; a saber, pelos atos de amor ou outros atos bons que as almas devotas soem fazer".

2. É necessária, em segundo lugar, a dor ou contrição, e é o que se requer principalmente para obter a remissão dos pecados. As confissões mais longas não são as melhores, mas as em que há mais dor. O sinal de uma boa confissão, diz S. Gregório, não se acha no grande número de palavras do penitente, mas no arrependimento que demonstra.

- De resto, as religiosas que se confessam amiúde e tem horror até as culpas veniais, desfazem as dúvidas se tem ou não verdadeira contrição. Quereriam, cada vez que se confessam, ter lágrimas de enternecimento; e como apesar dos seus esforços e de toda a violência que fazem, não podem tê-las, estão sempre inquietas sobre suas confissões. É preciso que se persuadam que a verdadeira dor não está em senti-la mas em querê-la. Todo o mérito das virtudes está na vontade. É por isso que Gerson, falando da fé, assegura que aquele que quer crer, algumas vezes tem mais mérito do que aquele que crê.

- Mas S. Tomás ensinou a mesma coisa antes dele, falando precisamente da contrição. Diz ele que a dor essencial, necessária para a confissão, é a detestação do pecado cometido, e que esta dor não está na parte sensitiva, mas na vontade; visto que a dor sensível é um efeito do desprazer da vontade o que nem sempre está em nosso poder, porque a parte inferior nem sempre segue a parte superior.

Assim, pois, toda a vez que, na vontade, a displicência da culpa cometida é acima de todos os males, a confissão é boa.

Abstende-vos, portanto, de fazer esforços para sentir a dor. - Falando dos atos internos, sabei que os melhores são os que se fazem com menor violência e maior suavidade, visto que o Espírito Santo ordena tudo com doçura e tranquilidade.

Pelo que, o santo rei Ezequias, falando do arrependimento que tinha de seus pecados, dizia sentir deles dor muito amarga mas em paz.

Quando quiserdes receber a absolvição, fazei assim: No aparelhar-vos para a confissão, começai por pedir a Jesus Cristo e a Virgem das Dores uma verdadeira dor de vossos pecados; em seguida fazei brevemente o exame, como acima dissemos; e depois, para a contrição, basta que façais um ato como este: "Meu Deus, eu vos amo acima de todas as coisas; espero, pelos merecimentos do sangue de Jesus Cristo, o perdão de todos os meus pecados, dos quais me arrependo de todo o coração, por ter ofendido e desgostado a vossa infinita bondade, e os aborreço mais do que todos os males; e uno este meu aborrecimento ao aborrecimento que deles teve o meu Jesus no horto de Getsêmani. Proponho não vos ofender mais, com a vossa graça".Uma vez que tenhais querido pronunciar este ato com sinceridade, ide tranqüilamente receber a absolvição, sem temor e sem escrúpulo. - Sta. Teresa para tirar as angústias a este respeito, dava um outro bom sinal de contrição: "Vede, dizia ela, se tendes um verdadeiro propósito de não cometer mais os pecados que ides confessar. Se tendes este propósito, não duvideis de ter também a verdadeira dor".

3. É necessário enfim o bom propósito. O propósito exigido para a confissão, para ser bom, deve ser firme, universal e eficazPrimeiramente, deve ser firme. Há alguns que dizem: eu não quereria cometer mais este pecado; eu não quereria mais ofender a Deus. - Mas ai! este eu quereria denota que o propósito não é firme. Para que o seja, é necessário dizer com vontade resoluta: Não quero mais ofender a Deus deliberadamente. Em segundo lugar, deve ser universal, isto é, deve o penitente propor-se a evitar todos os pecados sem exceção. Isto, porém, só se entende dos pecados mortais.

Quanto aos pecados veniais, basta, para o valor do sacramento, que o arrependimento e o propósito recaiam sobre uma só espécie de pecado; mas as pessoas mais espirituais devem propor se evitar todos os pecados veniais deliberados; e quanto aos indeliberados, visto que é impossível evitá-los todos, basta que se proponham fazê-lo quanto for possívelEm terceiro lugar, deve ser eficaz, isto é, capaz de determinar o penitente a empregar os meios necessários para não cometer mais as faltas de que se acusa, e especialmente a fugir das ocasiões próximas de recair. Por ocasião próxima se entende aquela em que a pessoa caiu muitas vezes em pecados graves, ou, sem justa causa, induziu outros a caírem.Neste caso não basta propor-se somente evitar o pecado, mas é necessário também propor tirar a ocasião, aliás as suas confissões serão todas nulas, embora receba mil absolviçõespois não querer remover a ocasião próxima de pecado grave já é por si culpa grave. E assim como temos demonstrado na nossa obra de teologia moral, quem recebe a absolvição sem o propósito de tirar a ocasião próxima, comete um novo pecado mortal de sacrilégio."