Da glória que o Bem-aventurado São José goza no Céu entre os mais santos
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É opinião aceitável e recebida com aplauso da maior parte dos Autores, que o felicíssimo São José está no Céu em corpo e alma junto de sua amada Esposa Maria Santíssima em trono à esquerda de Jesus Cristo, pertencendo o da direita à Sua Santíssima Mãe. A razão substancial é, porque, como diz Santo Antônio, todos os Santos, na Jerusalém celeste e triunfante, se hão de colocar em suas ordens e hierarquias, de modo que nenhum deles esteja solitário.
Conforme esta suposição, é conveniente que a soberana Rainha dos Anjos tenha na sua hierarquia quem a acompanhe; e não podendo ser a humanidade de Cristo, por estar colocada no trono da Divindade, é justo que seja a amável companhia de São José, porque só a ele, como Esposo seu e estimado Pai de Cristo, lhe compete este lugar entre todos os Anjos e Santos, nenhum dos quais o excedeu em dignidade, só à puríssima Virgem semelhante.
Assim como a humanidade de Cristo Senhor nosso obteve mais abundante graça e glória, por estar mais chegada e imediata ao Verbo Divino, e depois Maria Santíssima, por estar mais próxima a seu Filho, da mesma sorte se julga, prudentemente, que o felicíssimo São José alcançou o terceiro lugar na abundância da graça, porque, depois da Virgem, foi o que esteve mais junto a Cristo, o que o tratou com mais familiaridade e teve com ele uma singularíssima união por muitos anos, além do singular parentesco, pois foi seu pai não só legítimo e próprio, mas Esposo verdadeiro de sua Mãe imaculada.
Este lugar tão distinto e especial, que o nosso Santo ocupa na glória, lhe é tão próprio, que não pode competir a nenhum dos outros Bem-aventurados, ainda que sejam dos que gozaram das primícias do Espírito Santo, quais foram os Apóstolos, porque são tão singulares os títulos e predicados de São José, e a sua dignidade é de ordem tão elevada que não podem os outros entrar em paralelo, e assim excede a todos os demais Santos.
A razão de tudo está em ser o ministério de São José comparado ao dos Apóstolos, constituído em classe separada, isto é, na ordem hipostática, ou concernente ao grande Mistério da Encarnação do Verbo Divino, que neste sentido excede a tudo.
Funda-se mais esta superioridade da glória de São José na resposta, com que Jesus Cristo negou as duas cadeiras no Reino Celeste, que a mulher de Zebedeu lhe pedia para o seus dois filhos João e Tiago, porque já estavam destinadas pelo Pai Eterno para Maria Santíssima e para São José, uma à mão direita, outra à mão esquerda do Verbo Divino.
Este excesso e vantagem, que Maria Santíssima e São José fazem aos outros Santos na glória, quis também dar a entender o Evangelista São Mateus no capítulo I, do seu Evangelho; porque piamente se pode crer, ou opinar que, pela mesma ordem, com que o Evangelista nomeia na terra estas três augustíssimas Pessoas – Jesus, Maria e José –, essa mesma guardam e observam na Bem-aventurança; donde o Doutor exímio disse bem que, ainda que não havia estado no Céu para ver a cadeira que ocupava gloriosamente São José, inferia, com graves fundamentos, que o lugar que tinha era tão superior, que dominava ao dos Apóstolos e mais Santos.
A maior dificuldade, que neste pondo se encontra, é, se este excesso de glória, com que o nosso Santo supera os Apóstolos, se deva entender também com o grande Batista, Precursor de Cristo, e por ele canonizado pelo maior entre os nascidos de mulher, e de quem há tão frequentes louvores na Escritura e Santos Padres. São José alcançou mais perfeita graça que o Batista, pois teve mais excelente ministério, maior dignidade e ocasiões mais oportunas e frequentes para aumentar a mesma graça e amor a Deus.
É certo que o verdadeiro conhecimento destas honras e distintas glórias que os Santos gozam no Céu em prêmio dos seus merecimentos e virtudes, só a Deus pertence, e que nos devemos abster destes paralelos; porém, com ânimo cheio de devoção e piedade, podemos supor sem temeridade, que, depois de Maria Santíssima, não há, no Céu, Santo que esteja mais próximo de Jesus Cristo nos graus da glória que o Bem-aventurado São José, donde o insigne Escobar proferiu esta proposição: José não é Deus, nem é Anjo; mas eu o vejo tão separado e distinto de todos os mais Santos, que constitui na Glória com sua amantíssima Esposa um coro muito especial.
Daqui procede a distinta e profunda reverência, que todos os Bem-aventurados, na Corte Celeste, tributam ao glorioso São José. De sorte que, por todos estes fundamentos e razões, compete mais ao nosso Santo um resplendor singular, que, como insígnia de sua admirável dignidade, o distinga entre os outros Celestiais Cortesãos; e este é uma coroa de doze estrelas correspondentes a outras tantas prerrogativas, que engrandecem sua glória, para que, da mesma sorte que sua imaculada Esposa Maria Santíssima está no Reino da feliz eternidade coroada de doze estrelas, como Rainha dos Céus e dos Anjos, esteja também o Esposo pelo mesmo título analogicamente coroado com outras tantas brilhantes estrelas e excelências, para se verificar nele o vaticínio do Profeta Isaías.
A primeira estrela ou excelência que se vê brilhar na coroa de São José, é a dignidade real semelhante à de sua Esposa, com quem se deve conformar em tudo que for possível. A segunda estrela é a excelência de sua digníssima eleição de pai reputado de Jesus Cristo e Esposo verdadeiro de sua Mãe. A terceira é o grande título, que o Evangelho lhe dá de Justo, que compreende em si todas as virtudes da perfeição. A quarta é a excelência de sua integridade e virginal pureza. A quinta é o amor singularíssimo, que lhe teve Maria Santíssima, sua Esposa, a sexta é o privilégio da íntima conversação e sociedade, que teve com sua Divina Esposa pelo espaço de trinta anos.
A sétima estrela da coroa do glorioso São José é a felicidade de haver ocupado sua existência com Jesus e sua Santíssima Mãe. A oitava são as incomparáveis honras, que recebeu nesta vida de Jesus e Maria. A nona é a inefável consolação, que teve com a presença do Redentor enquanto viveu. A décima é o muito que foi estimado de sua amantíssima Esposa. A undécima é a união perfeita e mística, que teve com Deus pela Fé, pela contemplação e caridade. A duodécima é a parte que em sua alma teve toda a Santíssima Trindade.
De todas estas doze brilhantes estrelas é composta a preciosíssima coroa de São José, a qual guarnecem também outras muitas resplandecentes prerrogativas, que são outros tantos júbilos de glória acidental, que o nosso Santo goza na Bem-aventurança, e com que se aumenta o resplendor formosíssimo da sua glória tão distinta entre os mais Cortesãos daquela Celestial Jerusalém.
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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado. Livraria Francisco Alves. 1927.