Excerto do Livro
Pe. Guilherme Vaessen
Livro de 1953
Quinta Porta do Inferno
Quantos pais se perdem e perdem a seus filhos porque não os educam no temor
e
amor de Deus, não cumprindo os cinco deveres principais que lhes impõe a paternidade, o amor, a correção, a instrução, a vigilância e o bom exemplo.
amor de Deus, não cumprindo os cinco deveres principais que lhes impõe a paternidade, o amor, a correção, a instrução, a vigilância e o bom exemplo.
Má pais que não amam os filhos como devem amá-los. Certos homens não
merecem o belo título de pais. Desperdiçam no jogo, na bebida, na devassidão o dinheiro
que ganham, deixando faltar aos filhos o estrito necessário. Pais monstruosos,
piores que os irracionais, que sabem passar fome para dar de comer a seus
filhos. Há mães que amam aos filhos, mas só a parte material, o corpo. Quanto à
alma, pouco ou nada se ocupam dela. Adiam o batismo semanas e meses, deixando o
filho entregue a Satanás e em perigo de morrer pagão. Quantas almas perdidas e
quantas outras estragadas para sempre. Quanto mais Satanás se demora no coração
do filho, mais o estraga. Toda a preocupação, todos os cuidados para com o corpo,
até o luxo, até as modas mais indecentes, e quase nada para a alma.
Que será daquela filha a quem a mãe procura inspirar só vaidade, a quem
fala só de beleza, a quem enfeita como uma divindade? Será uma moça vaidosa, orgulhosa. Ai do moço que a tomar por esposa, porque será uma esposa leviana, exigente, cuja
paixão do luxo nada poderá satisfazer. Será daqui a pouco a desavença, a
suspeita, a briga, o abandono, a ruína do lar.
Quantos pais, quantas mães mormente perdem a si mesmos porque não cumprem o dever da correção. O homem nasce inclinado ao vício, diz a Escritura. No
coração da criança madrugam os maus instintos. Bem cedo é preciso reprimi-los, corrigir os
filhos, dai a pouco será tarde, impossível.
Como corrigir? A força de gritos e descomposturas? Isso só serve para
ensinar tudo quanto há de palavras feias. A força de pancadas? Isso avilta e
embrutece. Em primeiro lugar é preciso avisar: — “Meu filho, não faças isso, não andes em tal companhia, não convém, não
pode ser, não consinto.” — Às vezes
este aviso será suficiente. Em caso de reincidência na mesma falta, é necessário
repreender energicamente e ameaçar e, enfim, no caso de nova reincidência, castigar
severamente.
Até quando os pais têm obrigação de corrigir os filhos? Não se esqueçam
que, enquanto filhos, não há grandes, nem velhos, não há filhos de barba
branca. O filho, enquanto tiver filho, sempre será pai, e ai do pai que não
avisa, repreende e corrige seu filho, e ai do filho que não atende às justas recomendações
de seu pai.
Cedo também deve começar a instrução, porque tudo depende do começo, tudo
depende pois, principalmente, da mãe. Feliz, mil vezes feliz quem teve uma mãe
cristã e piedosa. Tal a mãe de S. Luís, rei da França. Tendo nos braços seu
filhinho, dizia: “Meu filho, eu te amo
muito, mas tu tens no céu um Pai, uma Mãe que te amam ainda mais; cuidado, não
faças nada que possa ofendê-los, não cometas pecado. Antes quisera ver-te agora
mesmo morrer em meus braços, que ver-te mais tarde, rei da França, cometer um
só pecado mortal.” Mãe, o coração dessa criança, vosso filho, é um papel
branco em que podeis escrever o que quiserdes. Gravai nele ódio ao pecado, amor
a Deus, devoção a Maria Santíssima.
Ensinai e mandai ensinar-lhe o catecismo. É uma obrigação gravíssima. A mãe
que não manda seu filho ao catecismo, onde é possível, é indigna de absolvição.
Meninos e meninas de dez, doze anos, moços e moças que nunca apreenderam uma
palavra de catecismo, nada sabem de religião e de suas obrigações, e por isso
não se confessam, não comungam, vivem no pecado, é o que encontramos todos os
dias. Os culpados são os pais. Quantas moças põem o pé no inferno no dia em que
casam, porque assumem uma obrigação que são incapazes de cumprir, ensinar aos
filhos a amarem e servirem a Deus. Que responsabilidade e como poderão salvar-se?
Perdem a si e a seus filhos.
Mandai vossos filhos à escola, para que aprendam pelo menos a ler e
escrever. Depois do pecado a coisa mais triste e funesta é a ignorância. Mas,
cuidado! Vede bem que escola, que colégio, que mestres. Há escolas e colégios
sem religião. Dali sairão vossos filhos sem fé e sem costumes. Não faltam as
escolas e os colégios católicos. Vigilância neste ponto.
Vigilância em todos os sentidos. O maior bem que os pais possam deixar a
seus filhos não são muitas riquezas, terras, dinheiro, mas a inocência e os bons costumes.
Por isso seu grande empenho deve ser conservar-lhes este tesouro. Tarefa
difícil em um mundo em que tudo é escândalo. Só uma grande vigilância. Os pais
devem trazer os filhos presos debaixo de seus olhos. Sem esta sentinela de
vista não escapam à corrupção. Vigilância, pais e mães, que vossos filhos não
vejam nunca nada, nem em casa nem fora de casa, nem de dia nem de noite, nada
capaz de ofender a inocência. Mas quantos pais, diz um santo, têm mais cuidado
com seus animais, suas criações, que com seus filhos! Quantos pais deixam seus
filhos andarem aonde e com quem querem, quantas mães deixam meninos e meninas brincarem
longe de seus olhos. Quantas crianças saem de casa inocentes e voltam culpados;
quantos moços e moças acham sua perdição em noites de festas, de volta por
estradas escuras e desertas! Quantos desastres! Pais e mães, onde andam vossos filhos
e filhas, que casa, que pessoas, que divertimentos frequentam? Examinai vossa consciência,
condenai-vos, antes que Deus a examine e vos condene.
Se é um grande pecado dos pais não afastarem os filhos do pecado, é um
crime enorme levá-los ao pecado pelo mau exemplo. Tal pai, tal filho; tal mãe,
tal filha. Filho de peixe sabe nadar, diz o adágio. Nada mais eficazmente
funesto que o mau exemplo dos pais. Os pais não rezam, o pai não se confessa, a
mãe não vai à Missa aos domingos, os filhos hão de fatalmente imitar seu
procedimento. Por que rezar? — disse um
dia uma menina à sua professora — eu nunca
vejo papai nem mamãe rezarem. Que dizer dos pais que oferecem aos filhos o
espetáculo positivo do vício e do pecado, pais que se embriagam, brigam,
blasfemam; certas mães cuja vida é o pecado... os filhos o sabem e se
envergonham, o que não os impedirá de, mais tarde, trilharem o mesmo caminho.
“Ai do homem, disse Jesus Cristo, que dá escândalo, isso é, dá mau exemplo”;
por conseguinte, mil vezes ai dos pais que escandalizam seus filhos: “seria melhor lhes
amarrar ao pescoço uma pedra e serem lançados ao mar.”
amarrar ao pescoço uma pedra e serem lançados ao mar.”
“Maldito seja meu pai, disse um
condenado à morte, à hora de subir ao cadafalso, a ele é que devo a minha desgraça; nunca me ensinou meus deveres para com Deus e
os homens, deixou-me frequentar más companhias, deu-me em tudo o mau exemplo.”
Faz horror pensar que no inferno muitos filhos amaldiçoam aos pais e muitos
pais aos filhos, porque foram uns para outros causadores de sua condenação.
Pais e mães, amai a vossos filhos com amor cristão, educai-os no amor e
temor de Deus, afastai-os do mal e dai-lhes em tudo o bom exemplo, e vossos filhos vos
darão gosto, neste mundo serão vossa consolação e no outro vossa coroa.