8 de Março - Mês Dedicado a São José

Vida de São José com a Virgem Maria na casa de Nazaré
       
FONTE
      Após as cerimônias do matrimônio, começou São José a preparar sua casa com aquele incomparável contentamento que recebeu na posse e companhia da soberana Senhora, na qual notava os tesouros imensos das excelências e virtudes que Deus tinha depositado em seu coração.
       Notara a providência solícita, que aplicava ao bom governo da sua casa; o alinho, a limpeza e o asseio dela, exercendo as ocupações domésticas com tal perfeição, como se toda a vida as tivera usado. Experimentava a contínua caridade com que o tratava, como se de outra coisa não cuidasse; e de tal maneira se empregava nas obras ativas, que não faltava as da religião e contemplação, concordando, sem faltar à gravidade decente e humildade profunda, a temperança prudente com a penitência exata, e assim nas demais virtudes.
            Tudo isto causara no venturoso Santo tão grande admiração e reverência, que a terra, que a Virgem pisava, tinha por digna de veneração, observando, interiormente, maravilhosos efeitos da companhia de tão santa Esposa, assim nos afetos da pureza, como no desprezo eficaz das coisas terrenas e mundanas. Causara-lhe a formosura da Virgem tantos motivos de perfeição e efeitos de virtude, que andava o bem-aventurado José todo espiritualizado, parecendo-se com aquela sarça ardente que admirou Moisés no monte Horeb, a qual ardia e não se queimava, fazendo também em 
si possível o que Salomão teve por dificultoso, que era poder alguém trazer fogo no seio sem se abrasar, isto é, habitar um homem moço com sua esposa donzela e formosa, conservando o mesmo estado virginal juntamente com o matrimônio. Esta dificuldade da fraqueza humana venceu o nosso Santo, que, com estar casado com a mesma beleza e formosura, vivendo e comendo na mesma casa com a Virgem, procedeu com tanta pureza, que não teve lugar em seu peito nem ainda um pensamento que não fosse reto e puro. Verdade seja que estava a Virgem cheia de castidade tão intensa e eficaz, que movia os corações de todos à pureza de pensamentos.
            Para corroborar mais esta pureza, em que ambos os Santos esposos desejaram permanecer heroicamente cândidos, renovaram o voto de virgindade que tinham feito, e, nesta conformidade, suplicou logo a Virgem ao Altíssimo o aumento da graça para seu Esposo, e o Senhor, condescendendo propício a tão humildes rogos, operou no espírito de São José efeitos tão divinos, que não podem reduzir a palavras. Infundiu-lhe de novo perfeitíssimos hábitos de todas as virtudes, e o confirmou em graça por modo admirável, ficando o Santo Esposo na virtude de castidade em grau mais excelente que a pureza dos Serafins.
            Quão profundamente devia estar radicada em São José aquela virtude, para conviver diariamente com sua esposa a Virgem das virgens! A virgindade, a mais nobre de todas, a mais zelosa e delicada, e tal, que toda se turbou, quando houve de falar só com um Anjo porque o viu em forma de homem! Por outro princípio, devia São José com tal cautela ser custódia de tal virgindade, que havia de dar, exteriormente, a entender ao mundo o contrário, para que o parto santíssimo de Maria não fosse reputado ilegítimo, e a Mãe não arriscasse a vida e a reputação. De quanta prudência, pois, devia ser dotado São José para negócio tão difícil? De quanta circunspecção, de quanta capacidade, de quanta advertência, de maneira que tratasse com a Virgem por um modo que lhe mostrasse uma segurança de amante Esposo, e lhe tivesse um reverente respeito de pessoa estranha?
            Basta dizer que chegou a tanto o seu prudentíssimo trato que pode enganar o próprio demônio.
            Desta forma, reduzido ao mais puro exemplar de candura, dispôs-se o venturo São José a viver na companhia de sua puríssima Esposa com uma união sociável a mais perfeita e excelente. Oh que amor tão doce, tão verdadeiro e inseparável, unido com o maior vínculo do amor divino! Guardaram-se neste santo Matrimônio os ápices da perfeição, e esta união de pensamentos e semelhança de virtudes e costumes foi a primeira base em que o Espírito Santo estabeleceu a vida conjugal dos santíssimos Esposos com as consequências que pondera São Bernardino de Sena, dizendo:
            “Por atenção e respeito à Santíssima Virgem, foi preciso que este Varão fosse de maravilhosa graça e virtude, principalmente em três coisas: na união matrimonial, convivência contínua e administração solícita”.
            “O certo é que a honra, que o ditosíssimo José recebia da Rainha do céu, foi tão grande, que a podiam cobiçar os Serafins, segundo a veneração com que o tratavam, como a quem Deus havia constituído cabeça e príncipe da sua casa, chamando-lhe Senhor, do que admirado o devotíssimo Gerson exclamou: “Ó admirável alteza tua, José! Ó dignidade incomparável! Que a Mãe de Deus, a Rainha do céu, e Senhora do mundo não julgasse coisa indigna da sua grandeza chamar-te Senhor!”.
            Diz um cronista da Virgem que, “não obstante ser São José santo e reto, depois que se desposou com a soberana Princesa, se deixava respeitar e servir dela, guardando em tudo a autoridade de cabeça e de varão, ainda que a temperava com a rara humildade e prudência, à imitação dos Padres antigos e Patriarcas, de quem não devia degenerar, para que as mulheres fossem obedientes e sujeitas a seus maridos. E a Senhora – conclui – o servia com incomparável respeito e prontidão, e muitas vezes de joelhos. Servia-o à mesa, dava-lhe o lugar para se assentar, trazia-lhe a comida, administrava-lhe a bebida, e depois disso lhe mandava São José que se assentasse”.
            Ó incomparável regalia de São José! Como dignos exemplares dos bons esposos, eram ambos solícitos no trabalho, tudo fazendo por suas mãos, não só para não comer o pão ocioso, mas para que, à custa do seu suor, pudessem remediar a pobreza. De todos os bens, que herdaram de seus pais, e de seu patrimônio fizeram depositário os pobres e herdeiro a Deus, reservando unicamente para si a casa, em que a Virgem havia nascido e seus pais lhe deixaram, com alguns pobres móveis, sem os quais não se podem acomodar à vida comum de família.
            Estava a humilde, porém ditosa casa, habitação dos dois Esposos, repartida em três aposentos: em um dormia São José, que talvez, para imitar o rigor de seu bisavô Jacó, repousasse sobre a dura terra com uma pedra à cabeceira; em outro trabalhava e tinha os instrumentos de seu ofício; no terceiro assistia e dormia a Rainha dos céus em uma cama feita pelas mãos do Santo, e, sem criado ou serva, derribavam esses valorosos desposados, com dois golpes, o poder do reino da carne e do mundo, desprezando deleites e riquezas, para voarem, sem embaraços, pelo caminho das virtudes; e porque haviam de ser pais de Cristo, que foi pobre e elegeu os pobres, ganhavam o alimento com o trabalho de suas mãos em uma honestíssima pobreza. Desta maneira, ainda que Nazaré admirava as resplandecentes virtudes dos virginais Esposos, ignorava, contudo, o tesouro encoberto, que possui neles.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado. Livraria Francisco Alves. 1927

7 de Março - Mês Dedicado a São José

Como São José conheceu a misteriosa
Conceição do Verbo na Virgem, e não a quis receber em Matrimônio;
Declaração do Anjo ao mesmo Santo
            De volta a Nazaré, foram se acentuando os sinais da maternidade na Virgem Maria. Como Deus salvaria a honra de sua virgindade, perante os homens e aos olhos de São José? Este pensamento teve a Virgem Maria, mas o que teria sido uma angústia para uma alma de natureza vulgar, preocupada consigo mesma, não podia perturbar a serenidade daquela que tinha dito: “Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra”. – Os que se reconhecem instrumentos de Deus e se entregam a Ele na plenitude da fé, põem n’Ele toda sua confiança. Maria, diz Bossuet, entregou-se a Deus e permaneceu em paz.
            São José que não tinha sido iniciado no mistério do qual a Virgem Maria, por humildade e reserva, guardara o segredo, percebeu o seu estado. As aparências levariam a crer na infidelidade, mas o respeito à sua virtude afastava toda a suspeita. Não podendo penetrar nos desígnios de Deus, ele estava perplexo e na dúvida de recebê-la em matrimônio, isto é, de recebê-la em sua casa, para conviver com ela. Em sua justiça humana, tomou o partido que lhe pareceu melhor, qual o de afastar-se da cidade, fugindo daquele lugar para não denunciá-la, o que era obrigado a fazer pela lei.
            São José, em vez de fazer juízo temerário, via e ouvia o que se passava, sem dizer coisa alguma contra a Virgem Maria, tornando-se por isso o defensor da boa reputação, entre os cristãos.
            Versado como era nas sagradas escrituras e com a ciência infusa, lembrou-se que os Profetas asseguraram que uma Virgem seria a Mãe do Messias e então, em sua humildade, pensara: Ah! Que sou indigno; é preferível que me afaste secretamente por causa da minha indignidade e que não habite em sua companhia.
            Deus, porém, não quis deixá-lo neste estado por muito tempo. Uma noite, o Anjo do Senhor, o mesmo que lhe ordenou que comparecesse ao Templo e aceitasse a Virgem Maria como esposa, apareceu-lhe durante o sono e lhe disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por tua mulher: porque o que nela se passa é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e o chamará – Jesus (Salvador) – porque Ele há de salvar o seu povo dos seus pecados”.
            E tudo isto aconteceu, para que se cumprisse o que disse o Senhor pelo profeta: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho. E chamarão o seu nome Emmanuel, que quer dizer: Deus conosco”.
            Certificado assim São José pela revelação do Anjo na evidência do mistério, despertou com o espírito sereno e cheio de incomparável júbilo, conheceu, manifestamente, a excelência de sua puríssima esposa, a quem reputou por Mãe verdadeira do mesmo Deus, dispondo-se, com o mais profundo desvelo e afeto, a servi-la e venerá-la, e nela ao mesmo Senhor, que trazia em seu virginal seio! Logo convocando os seus amigos e parentes, para a celebração das cerimônias externas a que os judeus chamavam casamento, recebeu-a como sua esposa; e viveram sempre como irmãos.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado. Livraria Francisco Alves. 1927.

6 de Março - Mês Dedicado a São José

Encarnação do Verbo Divino e Visita da Virgem Maria à Sua Prima Santa Isabel
                        Corria o quarto mês depois dos Desposórios, quando o Senhor, encontrando na puríssima Virgem todas as virtudes heroicas correspondentes ao seu agrado, quis estender o braço da Onipotência à maior de suas obras, dispondo a Encarnação inefável do Verbo Divino no virginal seio de Maria Santíssima.
            Para isto, entrando já o tempo alegre da primavera, a 25 de Março, enviou Deus o Arcanjo São Gabriel por embaixador de tão alto mistério, o qual por sua natural sutileza, penetrando a clausura da porta, apareceu, em forma humana e refulgente, à ditosíssima Virgem, que estava só e recolhida, orando no cubículo interior da sua pobre casa de Nazaré. Saudou-a com uma profunda veneração e com termos mui novos e especiais, como a sua Rainha e Senhora, em quem adorava os mistérios altíssimos de seu Criador. Deu-lhe a saber que o Verbo Divino tinha resolvido tomar a forma de homem para remir e salvar a humanidade e a tinha escolhido para sua Mãe augusta, ficando sem detrimento, antes muito mais pura, a sua virginal integridade, concorrendo para isso a virtude do Espírito Santo, que também era a do Altíssimo.
            Ouvindo a Virgem o que lhe anunciava o Anjo, se turbou, e ele, para alentar a sua humilde modéstia e corroborar a sua fé na Onipotência divina, lhe advertiu que sua prima Isabel também havia concebido um filho sem embargo de a ter posto a natureza em esterilidade e os anos em velhice.
            Confortada a Virgem com as palavras do Anjo, e esperando este pela sua resposta e consentimento, pôs a Rainha dos céus os joelhos em terra e, erguendo o coração e as mãos a Deus, aniquilando-se diante dele, disse, com profunda humildade: Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra; e no mesmo instante, por virtude do Espírito Santo, concebeu Maria Santíssima em seu puríssimo seio ao Filho de Deus, dignando-se o Verbo eterno, sem horror, de trocar o seio celestial do Pai pelo sagrado seio virginal de sua Mãe, passando a Virgem Maria de consorte de um pobre carpinteiro a ser Esposa do Arquiteto do Céu, como ponderou Santo Agostinho.
            Há dúvida com relação à hora em que se realizou essa divina embaixada, se pela manhã, ao meio dia ou à tarde, nascendo daí o louvável costume que a Igreja tem em dizer àquelas horas a saudação angélica da Ave Maria. Pensam alguns que fora à meia noite em ponto.
            Executado o profundo mistério da Encarnação do Verbo, e certificada a soberana Virgem pela embaixada do Anjo de que Santa Isabel, sua prima, havia já seis meses, gozava a milagrosa fortuna da fecundidade, concebendo também um filho, que seria grande diante de Deus e dos homens, resolveu, inspirada pelo Espírito Santo, ir visitá-la imediatamente, porque entendeu ser este o beneplácito do Altíssimo, o qual, com a presença do Verbo eterno, queria santificar esse filho, sendo esse um dos principais intentos desta visita.
            A Virgem Maria partiu, pois, a 28 de Março para a cidade de Karem, onde residia sua prima, indo acompanhada de alguma parenta ou amiga, ou fazendo parte de alguma caravana, tendo de percorrer trinta léguas até as montanhas da Judéia, por caminhos ásperos e fragosos.
            Chegada à casa de Santa Isabel foi recebida por ela com a saudação: “Bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre. Donde me vem a honra de ser visitada pela Mãe do meu Senhor. Porque mal a vossa saudação me feriu os ouvidos, a criança que eu trago, estremeceu. E bem-aventurada sois vós que crestes, porque se hão de cumprir aquelas coisas que vos foram ditas da parte do Senhor”.
            A Virgem Maria, ao ouvir a saudação de Santa Isabel, deixa transbordar seu coração e entoa esse admirável cântico de profissão de fé, hino de humildade de gratidão, profecia do futuro – o Magnificat.
            Sucedeu esta misteriosa visita poucos dias depois da Encarnação do Verbo, pelos fins de Março, ou princípios de Abril, mas a Igreja determinou que se celebrasse esse mistério a 2 de Julho, porque, realizando-se a festa da Encarnação em tempo de Quaresma, em que a Igreja está toda ocupada em celebrar a Paixão de Jesus Cristo, não era próprio, nem justo celebrar com galas esse acontecimento.  A estada da Virgem Maria em casa de sua prima Santa Isabel foi de perto de três meses, e os documentos evangélicos levam a crer que não assistira ao nascimento de São João Batista por dizer São Lucas que ai estivera perto de três meses e não três meses como seria preciso para completar os nove da gestação de Santa Isabel, e por mencionar sua volta a Nazaré antes do nascimento de São João Batista e mesmo pelo decoro e pudicícia da Santa Virgem.


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Fonte: A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado. Livraria Francisco Alves. 1927.

5 de Março - Mês Dedicado a São José

Desposórios Misteriosos do Bem-Aventurado São José com a Puríssima Virgem Maria

            Estando próximo o feliz tempo da Redenção humana, ardentemente suspirado por tão dilatados séculos, ordenou Deus que Maria Santíssima tivesse por esposo a São José. Convinha que assim fosse por muitas razões misteriosas e oportunas, referentes ao crédito do Verbo Divino, à nossa utilidade e a outros fins ocultos.
            Havia onze anos que a Santíssima Virgem estava consagrada a Deus no Templo de Jerusalém, para onde fora desde o terceiro ano de sua idade. Apresentada por seus ditosos pais Joaquim e Santa Ana, ali se havia despedido de todo o comércio humano, transformada no amor casto e puro daquele Sumo bem, que nunca desfalece, e a quem de todo o coração só desejava ter por Esposo, repetindo para esse fim o voto expresso de castidade inviolável, que, antecipadamente, lhe havia feito; porém, a tão impensado preceito resignada a prudentíssima donzela na mais heroica obediência, suspendeu o seu juízo, e só o teve em esperar e crer melhor, que o Patriarca Abraão, na esperança contra a esperança. Era costume e instituição do Templo que ao chegarem as Virgens que nele se educavam, à idade competente de poderem casar, serem mandadas aos Sacerdotes ou para casa de seus pais para tomarem estado, ou do mesmo Templo, com o seu consentimento, saírem casadas; e, como à Santíssima Virgem lhe haviam falecido seus ditosos pais, e ela já contava quatorze anos, idade competente para o matrimônio, consultaram os Sacerdotes com os seus parentes o que deviam fazer e, por inspiração divina, escolheram a São José para seu Esposo. Ao mesmo tempo que a Virgem Santíssima se ocupava em suplicar a Deus, falara o Altíssimo ao interior do Sumo Sacerdote Abiathar, mandando-lhe que se ocupasse com o casamento da Virgem Maria, filha de São Joaquim e Santa Ana, por quem tinha especial cuidado e grande amor. O Sumo Sacerdote já havia intimado a Virgem a cumprir o uso do Templo e costume do povo, mas pela reposta que lhe dera a incomparável donzela, de ter feito voto de perpétua virgindade, e estar por seus pais consagrada para servir a Deus naquela clausura sem limitação de tempo, se achava embaraçado e confuso; pois, de um lado, estava a obrigação do voto e, de outro, o receio de quebrar o antigo costume fundado na Lei.
            Nesta colisão, ordenou orações a Deus, para que inspirasse o que se devia fazer e a Virgem não cessava de pedir ao Senhor que a conservasse no estado virginal, tendo aviso do céu que o se propósito estava a cargo de Deus e que fizesse o que o Sumo Sacerdote ordenasse.
            Nesta mesma ocasião, ouviu-se uma voz que saiu do Propiciatório (lâmina de ouro na Arca do Testamento, donde se ouvia a voz de Deus) do Templo que dizia assim: É tempo que se realize o oráculo de Isaías: “Sairá uma haste da raiz de Jessé e uma flor desabrochará desta haste. Que todos os membros da família de Davi deponham uma haste de amendoeira no Templo. Aquele a quem pertencer a haste que florir e sobre o qual o Espírito de Deus vier repousar sob a forma de pombo, deverá ser o esposo da Virgem”. A ordem do Senhor foi publicada por arautos, ao som da trombeta sagrada, por todo o país de Judá, e todos os jovens da família de Davi (em número de 23) se apresentaram. Depois que cada um colocou a vara no altar do Propiciatório, foram oferecidos sacrifícios a Deus que fez florescer a vara de Aarão, para que renovasse esse prodígio.
            O Sumo Sacerdote saiu do Santo dos Santos e declarou que nenhuma das varas florescera, a não ser a de Agabo que, por meio de mágicas, fizera florescer a sua, cujas flores logo se estiolaram, mas que faltava um dos descendentes de Davi, chamado José, e ordenou que o fossem buscar.
            Habitava São José só numa pequena casa em Tiberíades, na margem do lago e, estando construindo um oratório, o Anjo lhe apareceu e disse que interrompesse o trabalho e que, como outrora tinha Deus confiado o seu homônimo, o patriarca José, a administração do trigo do Egito, assim o celeiro que continha a colheita da salvação lhe seria confiado.
            São José não compreendeu essas palavras e continuou a orar pelo advento do Messias, quando foi chamado ao Templo.
            São José, em vista do seu voto de virgindade, não queria comparecer e só o fez depois que o Senhor, aquém implorara, manifestou a sua vontade no sentido de se apresentar, aceitando a mão da Virgem Maria e tornando-se o guarda de sua inviolável virgindade. Comparecendo São José, a prova foi renovada e sua haste floresceu e, ao ser-lhe entregue, um pombo esvoaçou por sobre sua cabeça. São José era um varão de quarenta anos, formoso como vimos e duma disposição corpórea muito elegante.
            Foi santificado antes de nascer, nunca tendo pecado mortalmente, era virgem e tinha feito voto de virgindade, que o Espírito Santo lhe certificou que não perderia, por ter Maria Virgem também feito.
            Assim a desposou só para a servir, e por obediência a Deus. Ao saberem do voto um do outro, ambos ficaram muito alegres e, no dia seguinte, foram celebrados os esponsais, tendo a Virgem quatorze anos e São José quarenta.
            O ato era solene e constava de três cerimônias. A primeira consistiu em São José entregar à sua divina Esposa, como era costume entre os noivos, em sinal de estreita união de seus corações, um anel, no qual estava engastada uma pedra preciosa e provavelmente também esculpida em hebraico a palavra Mazal, que quer dizer – boa fortuna, ou boa estrela, e nunca mais bem verificada que em semelhante desposório.
            Na segunda cerimônia foi o glorioso Santo cobrir com parte de sua capa, reverentemente, a beatíssima Virgem, como fórmula e rito daquele ato, em demonstração de mútua fidelidade e proteção recíproca dos desposais. A terceira cerimônia se colige do Livro de Tobias, onde, no capítulo 7º, se escreve que Raquel, quando entregara sua filha Sara a Tobias para sua esposa, pegando Raquel na mão direita da filha e na de Tobias, disse: O Deus de Abraão, e o Deus de Isaac, e o Deus de Jacó seja convosco, ele vos ajunte e lance sobre vós a sua benção; de cujo texto e cerimônia usada entre os hebreus é crível e provável que os Sacerdotes do Templo se servissem nos felicíssimos desposórios do casto Esposo com a puríssima Virgem. Sendo dada finalmente a benção sacerdotal, segundo o costume hebraico, partiram os felicíssimos Esposos para Nazaré, pátria de ambos, indo a Virgem para a casa que herdara de seus venturosos pais, onde permaneceu um ano separada de São José, ocupando-se na confecção de seu enxoval até se realizar o matrimônio judaico que consistia na vida em comum dos esposos.
            Os judeus distinguiam no enlace matrimonial a promessa, os esponsais e o casamento. A primeira fazia-se nos primeiros encontros, seguindo-se depois os esponsais, que duravam um ano, durante o qual a jovem preparava seu enxoval e reunia seu dote, sendo finalmente recebida em casa do esposo pelo matrimônio. Tinham, portanto, significações diferentes das que chamamos casamento, e o que eles chamavam casamento era apenas uma solenidade externa, uma formalidade legal da habitação conjunta do casal.
            Celebrado tão misterioso ato, se contraiu entre os Santos Esposos, São José e a Virgem Maria, não só um verdadeiro e legítimo casamento, porém o mais perfeito e quase celeste, sem que o voto de virgindade, que havia entre os contraentes, prejudicasse a essência do vínculo daquelas duas vontades mais puras unidas em um só querer; pois, como diz o Doutor Angélico, foram ambos os Esposos certificados por Deus de sua perseverança e integridade do voto; e acrescenta São Francisco de Salles que, sendo São José vigilantíssimo em guardar suas virtudes debaixo da chave da humildade, tinha um particular cuidado em ocultar a preciosa pérola da sua virgindade, e que por isso consentira no Desposório com o fim de que nenhuma pessoa a pudesse conhecer e ficar assim mais oculta. Neste sagrado e estreito vínculo, é certo que Maria Santíssima recebeu um Esposo, que foi o Custódio e o Protetor da sua honra e da sua pureza; um Esposo o mais idôneo, que entre todos os filhos de Israel escolheu o Altíssimo com vigilante cuidado: um fidelíssimo guarda da Joia mais preciosa, particularmente engastada no coração do Senhor; sendo o ditoso São José elevado à mais sublime fortuna e suprema dignidade, que se pode imaginar neste mundo. Recebeu São José por sua legítima Esposa a Virgem Maria, Senhora tão incomparável e excelente, que só Deus é maior que ele. Não pode haver elogio, por maior que seja, que comparado com esta dignidade, não seja muito diminuto. Mais alta nobreza adquiriu São José desposando-se com a Santíssima Virgem, que toda a que herdara de seus régios e ilustres progenitores; pois, sendo a Senhora rainha dos céus, da terra e de todos os santos, São José foi diretamente promovido às grandezas, honras e títulos supremos, a que a fortuna régia costuma elevar. Basta dizer que o bem-aventurado São José desposou a imaculada Virgem Maria, Rainha e Senhora soberana de todas as criaturas, para se verificar nele a participação de toda a enchente de virtudes e felicidades. Oh que divina união (exclama São Francisco de Salles) entre a Virgem Maria e o Glorioso São José! União, que bastou, para que o Bem dos bens eternos, Cristo Senhor nosso, pertencesse a São José, assim como pertenceu à sua Esposa, segundo a graça que o fez participante de todos os bens de sua amada.
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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927

4 de Março - Mês Dedicado a São José

Das Virtudes e Prendas de São José
nos Seus Primeiros Anos
             Dotado desde o berço o felicíssimo São José com as mais doces bênçãos do céu, devia ter sentido pouco as contingências da infância. Logo ao terceiro ano de sua idade lhe concedeu o Senhor perfeito uso de razão com a ciência e luz infusa das coisas naturais e morais; de maneira que, quando aos sete anos ou mais anos chega aos outros o uso da razão, já São José era um homem perfeito nela e na santidade, participando dentro dos limites e capacidade natural de um entendimento humano sobrenaturalmente ilustrado, quanto era necessário e conveniente para a perfeita inteligência das Escrituras, para penetrar os mistérios da fé e para o completo conhecimento das coisas.
            O Senhor, diz São Bernardo, predestinando ao gloriosíssimo São José para ser na terra o depositário dos seus mais sacratíssimos arcanos, o esposo da Mãe de Deus, o defensor da sua virgindade, o pai reputado da Sabedoria eterna, é para considerar qual seria o apuro de sua virtude, qual o agregado de seus dons sobrenaturais, a sua prudência, a sua sabedoria.
            Nele, como em epílogo, se acharam coletivamente unidas todas as virtudes e perfeições, que aos mais Santos foram comunicadas separadamente; por isso o Evangelho lhe dá o título de Justo, atendendo à perfeita posse de todas as virtudes e bondade.
            Quadra-lhe propriamente o emblema com que foi representado, como uma colméia de abelhas com a epígrafe: Ex omnibus unus, porque de todas as flores das singulares virtudes, em que os Santos floresceram, fabricou São José um favo dulcíssimo no interior de seu peito.
            Nele reluziu a mais exata pureza e no grau mais sublime não só dos sentidos, mas até dos afetos. Uma humildade tão profunda, que, não ignorando a sublime Família, que governava, e as incomparáveis honras, a que o onipotente Senhor o tinha elevado, nem por isso deixou de buscar o sustento com o trabalho de seu humilde ofício, conspícuo de humildade. Nele se viu a mais distinta caridade e amor de Deus, pois foi o primeiro que começou a padecer, por amor de Cristo, com ânimo e tolerância tão constante com que o dotou o Espírito Santo para sofrer em seu lugar aquelas afrontas e calamidades, que ele havia de padecer na qualidade de esposo de Maria. Brilhou nele, como em espelho puríssimo, uma fortaleza e domínio sobre as paixões tão grande que chegara a tal grau de mortificação, que vivia inteiramente insensível a qualquer atrativo terreno. Na resignação e obediência foi admirável; na fidelidade e pureza de intenção foi exímio; na prudência foi quase divino, tinha uma ciência vastíssima e eminente, penetrara os mais profundos mistérios da Escritura.
            A sabedoria de São José crescia sempre mais que em qualquer outro justo, logrando em sumo grau as virtudes teologais e cardeais, e os dons do Espírito Santo, em tudo mostrando que Deus habitava em seu coração. O principal emprego de sua mocidade foram os exercícios da mais exata observância da Lei, uma contínua e elevada contemplação do Altíssimo, a que jamais chegou criatura alguma, depois de Maria Santíssima. Com todas estas ilustrações do Espírito Santo, que foi o seu Mestre e Diretor, como é possível que a sua pureza virginal sofresse o sacrilégio ou a sombra da mais levíssima culpa? Ela foi confirmada no grau da mais alta graça correspondente ao seu elevado ministério. A ele se concedeu o especial indulto de ter ao menos ligadas, quando não extintas, as desordens da concupiscência, a quem chamam fames peccati, pois jamais sentiu delas movimento impuro por toda a vida, sem nunca ter cometido culpa venial com advertência.
São José, filho de Jacob e de Estha (ou de Abigail – alegria do pai) – nasceu em Nazaré. Seu avô Nathan possuía grande fortuna. Jacob tinha seis filhos, dos quais São José era o terceiro. Sua educação, bem como a de seus irmãos, fora confiada a um velho israelita. São José distinguira-se por sua inteligência, aplicação nos estudos e extraordinária virtude. Isso era motivo para terem dele muita inveja e molestá-lo por todos os meios.
Além das lições de seu preceptor, freqüentava as aulas de Hillel, sábio e virtuoso israelita; possuindo, aliás, ciência infusa. Tendo Jacob dado a cada um dos filhos um pequeno jardim para tratar, o de São José era o mais bem cultivado, apesar dos estragos que seus irmãos faziam muitas vezes e que ele, com a maior paciência, recompunha, sem nunca pensar em vingar-se. A sua humildade exasperava-os ainda mais. Muitas vezes, ajoelhado em seu jardim orando, ficava em êxtases, sendo interrompido por seus irmãos que lhe davam pancadas e o atiravam ao chão. Caluniado junto a seus pais, era pelo menos repreendido muitas vezes, sem que se defendesse.
São José, aos 12 anos, fizera o voto de virgindade e, para fugir aos maus tratos e censuras que sofria, foi habitar com os Essênios que residiam em grutas cavadas nos rochedos, onde passavam vida religiosa e se ocupavam em educar meninos. Todos os dias ele ia à oficina de um velho carpinteiro e com ele aprendeu o ofício, no qual se tornou exímio, pelos conhecimentos de geometria que adquirira.
Sabendo seus pais e irmãos onde se achava São José, obrigaram-no a voltar para casa, o que fez por obediência. Em seu aposento tinha o hábito de prostrar-se com o rosto por terra, com os braços estendidos, e, levantando-se, procurar um lugar retirado e aí, em êxtases, erguer-se do chão. Nessas ocasiões, quando visto por seus irmãos, sofria toda a sorte de insultos e até pancadas.
Os vexames contínuos levaram São José, com 18 anos de idade, a abandonar, secretamente, a casa paterna, não levando sequer os vestuários indispensáveis. Um piedoso vizinho, sabendo de sua resolução, forneceu-lhe o necessário para vestir-se. Dirigiu-se para Lebonah, na Samaria, e empregou-se como ajudante de um modesto carpinteiro.
Seus parentes pensaram, a princípio, que ele tivesse sido levado por bandidos, e, mais tarde, descobrindo-o, quiseram obrigá-lo a voltar para casa, dizendo que estava desonrando o nome da família, São José não cedeu e retirou-se para Taonach, onde, de novo, se empregou como carpinteiro. Circunstâncias levaram-no a Tiberíades onde permaneceu e soube da morte de seus pais e da indigência de seus irmãos.
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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado Livraria Francisco Alves, 1927