Os Sete Sacramentos - MATRIMÔNIO

Retirado do
Catecismo Maior de São Pio X
Quarta Parte
Dos Sacramentos


§ 1º - Natureza do Sacramento do Matrimônio

826) Que é o Sacramento do Matrimônio?
O Matrimônio é um Sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, que estabelece uma união santa e indissolúvel entre o homem e a mulher, e lhes dá a graça de se amarem um ao outro santamente, e de educarem cristãmente seus filhos.

827) Por quem foi instituído o Matrimônio?
O Matrimônio foi instituído pelo próprio Deus no Paraíso terrestre; e no Novo Testamento foi elevado por Jesus Cristo à dignidade de Sacramento.

828) Tem o Sacramento do Matrimônio alguma significação especial?
O Sacramento do Matrimônio significa a união indissolúvel de Jesus Cristo com a Santa Igreja, sua esposa e nossa Mãe amantíssima.

829) Por que se diz que o vínculo do Matrimônio é indissolúvel?
Diz-se que o vínculo do Matrimônio é indissolúvel, isto é, que não se pode quebrar senão pela morte de um dos cônjuges, porque assim o estabeleceu Deus desde o começo, e assim o proclamou solenemente Jesus Cristo, Senhor Nosso.

830) No Matrimônio cristão, poder-se-ia separar o contrato do Sacramento?
Não. No Matrimônio entre cristãos o contrato não se pode separar do Sacramento, porque para eles o Matrimônio não é outra coisa senão o mesmo contrato natural, elevado por Jesus Cristo à dignidade de Sacramento.

831) Então, entre os cristãos não pode haver verdadeiro Matrimônio que não seja Sacramento?
Entre os cristãos não pode haver verdadeiro Matrimônio que não seja Sacramento.

832) Que efeitos produz o Sacramento do Matrimônio?
O Sacramento do Matrimônio:
1º dá um aumento da graça santificante;
2º confere a graça especial para se cumprirem fielmente todos os deveres matrimoniais.

§ 2º - Ministros, cerimônias e disposições para o Matrimônio

833) Quem são os ministros do Sacramento do Matrimônio?
Os ministros deste Sacramento são os mesmos esposos, que reciprocamente conferem e recebem o Sacramento.

834) De que maneira se administra este Sacramento?
Este Sacramento, porque conserva a natureza de contrato, é administrado pelos mesmos contraentes, declarando na presença do próprio pároco, ou de outro Sacerdote devidamente autorizado, e de duas testemunhas, que se unem em matrimônio.

835) Para que serve então a bênção que o pároco dá aos esposos?
A bênção que o pároco dá aos esposos não é necessária para constituir o Sacramento, mas é dada para sancionar em nome da Igreja a sua união, e para atrair sempre mais sobre eles as bênçãos de Deus.

836) Que intenção deve ter quem contrai Matrimônio?
Quem contrai Matrimônio deve ter intenção:
1º de fazer a vontade de Deus, que o chama a tal estado;
2º de procurar nele a salvação da própria alma;
3º de educar cristãmente os filhos, se Deus lhos der.

837) De que maneira se devem dispor os esposos para receber com fruto o Sacramento do Matrimônio?
Os esposos, para receber com fruto o Sacramento do Matrimônio, devem:
1º encomendar-se de todo o coração a Deus, para conhecer a sua vontade e para alcançar dEle as graças que são necessárias em tal estado;
2º consultar os próprios pais, antes de chegar ao noivado, como o exige a obediência e o respeito devido aos mesmos;
3º preparar-se com uma boa confissão, até mesmo geral, se for necessário, de toda a vida;
4º evitar toda a familiaridade perigosa de trato e de palavras, ao conversarem mutuamente antes de receberem este Sacramento.

838) Quais são as principais obrigações das pessoas unidas em Matrimônio?
As pessoas unidas em Matrimônio devem:
1º guardar inviolada a fidelidade conjugal, e proceder sempre cristãmente em tudo;
2º amar-se mutuamente, suportando-se um ao outro com paciência, e viver em paz e harmonia;
3º se têm filhos, cuidar seriamente de prover às suas necessidades, dar-lhes educação cristã, e deixar-lhes a liberdade de escolher o estado de vida a que Deus os chamar.

§ 3º - Condições e impedimentos do Matrimônio

839) Que é necessário para contrair validamente o Matrimônio cristão?
Para contrair validamente o Matrimônio cristão é necessário estar livre de qualquer impedimento matrimonial dirimente, e dar livremente o próprio consentimento ao contrato do Matrimônio na presença do próprio pároco ou de um Sacerdote devidamente autorizado, e de duas testemunhas.

840) Que é necessário para contrair licitamente o Matrimônio cristão?
Para contrair licitamente o Matrimônio cristão, é necessário estar livre dos impedimentos matrimoniais impedientes, estar instruído nas verdades principais da religião, e estar em estado de graça. Não estando em estado de graça, cometer-se-ia um sacrilégio.

841) Que são os impedimentos matrimoniais?
Os impedimentos matrimoniais são certas circunstâncias que tornam o matrimônio ou inválido ou ilícito. No primeiro caso chamam-se impedimentos dirimentes, no segundo impedimentos impedientes.

842) Dai-me alguns exemplos de impedimentos dirimentes.
Impedimentos dirimentes são, por exemplo, a consanguinidade até ao terceiro grau, o parentesco espiritual, o voto solene de castidade, a diversidade de culto entre batizados e não batizados etc.

843) Dai-me algum exemplo de impedimento impediente.
Impedimento impediente é, por exemplo, o voto simples de castidade etc.

844) São os fiéis obrigados a manifestar à autoridade eclesiástica os impedimentos matrimoniais que conhecem?
Os fiéis são obrigados a manifestar à autoridade eclesiástica os impedimentos matrimoniais que conhecem; e é por isso que os párocos fazem as publicações, isto é, leem os pregões dos que se vão casar.

845) Quem tem o poder de estabelecer impedimentos matrimoniais, de dispensar deles, e de julgar da validade do Matrimônio cristão?
Só a Igreja tem o poder de estabelecer impedimentos e de julgar da validade do Matrimônio entre os cristãos, como só a Igreja pode dispensar daqueles impedimentos que Ela estabeleceu.

846) Por que só a Igreja tem o poder de estabelecer impedimentos e de julgar da validade do Matrimônio?
Só a Igreja tem o poder de estabelecer impedimentos, de julgar da validade do Matrimônio e de dispensar dos impedimentos que Ela própria estabeleceu, porque não se podendo separar no matrimônio cristão o contrato do Sacramento, também o contrato cai sob a alçada da Igreja, porque só a Ela conferiu Jesus Cristo o direito de promulgar leis e decisões acerca das coisas sagradas.

847) Pode a autoridade civil dissolver, com o divórcio, o vínculo do Matrimônio cristão?
Não. O vínculo do Matrimônio cristão não pode ser dissolvido pela autoridade civil, porque esta não pode ingerir-se em matéria de Sacramentos, nem separar o que Deus uniu.

848) Que é o matrimônio ou casamento civil?
O casamento civil não é mais que uma formalidade prescrita pela lei para os cidadãos, a fim de dar e de assegurar os efeitos civis aos casados e aos seus filhos.

849) Pode um cristão celebrar somente o casamento ou contrato civil?
Um cristão não pode celebrar somente o contrato civil, porque este não é Sacramento, e portanto não é um verdadeiro matrimônio.

850) Em que condições se encontrariam os esposos que convivessem juntos, unidos somente pelo casamento civil?
Os esposos que convivessem juntos, unidos somente pelo casamento civil, estariam em estado habitual de pecado mortal, e a sua união seria sempre ilegítima diante de Deus e da Igreja.

851) Deve fazer-se também o contrato civil?
Deve fazer-se também o contrato civil, porque, embora não seja ele Sacramento, serve, no entanto, para garantir aos casados e a seus filhos os efeitos civis da sociedade conjugal; eis porque, como regra geral, a autoridade eclesiástica não permite o casamento religioso, quando não se cumprem as formalidades prescritas pela autoridade civil.

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Retirado do Catecismo Maior de São Pio X 

Os Sete Sacramentos - ORDEM


811) Que é o Sacramento da Ordem?
A Ordem é o Sacramento que dá o poder de exercitar os ministérios sagrados que se referem ao culto de Deus e à salvação das almas, e que imprime na alma de quem o recebe o caráter de ministro de Deus.

812) Por que se chama Ordem?
Chama-se Ordem porque consiste em vários graus, uns subordinados aos outros, dos quais resulta a sagrada Hierarquia.

813) Quais são estes graus?
Supremo entre eles é o Episcopado, que contém a plenitude do Sacerdócio; em seguida o Presbiterado ou Sacerdócio simples; depois o Diaconado e as Ordens que se chamam menores.

814) Quando Jesus Cristo instituiu a Ordem Sacerdotal?
Jesus Cristo instituiu a Ordem Sacerdotal na Última Ceia, quando conferiu aos Apóstolos e aos seus sucessores o poder de consagrar a Santíssima Eucaristia. E no dia da sua ressurreição conferiu aos mesmos o poder de perdoar e de reter os pecados, constituindoos assim os primeiros Sacerdotes da Nova Lei em toda a plenitude do seu poder.

815) Quem é o ministro deste Sacramento?
O ministro deste Sacramento é só o Bispo.

816) É então grande a dignidade do Sacerdócio cristão?
A dignidade do Sacerdócio cristão é muito grande, pelo duplo poder que lhe conferiu Jesus Cristo sobre o seu Corpo real e sobre o seu Corpo místico, que é a Igreja,e pela divina missão, confiada aos Sacerdotes, de conduzir todos os homens à vida eterna.

817) É necessário o Sacerdócio católico na Igreja?
O Sacerdócio católico é necessário na Igreja, porque sem ele os fiéis estariam privados do Santo Sacrifício da Missa e da maior parte dos Sacramentos; não teriam quem os instruísse na fé, e ficariam como ovelhas sem pastor à mercê dos lobos; em suma, não existiria a Igreja como Cristo a instituiu.

818) Então não acabará nunca o Sacerdócio católico sobre a terra?
O Sacerdócio católico, não obstante a guerra que contra ele move o Inferno, há de durar até o fim dos séculos, porque Jesus Cristo prometeu que as potências do Inferno não prevaleceriam jamais contra a sua Igreja.

819) Será pecado desprezar os Sacerdotes?
É pecado gravíssimo, porque o desprezo e as injúrias que se dirigem contra os Sacerdotes recaem sobre o próprio Jesus Cristo, que disse aos seus Apóstolos: Quem a vós despreza, a Mim despreza.

820) Qual deve ser o fim de quem abraça o estado eclesiástico?
O fim de quem abraça o estado eclesiástico deve ser unicamente a glória de Deus e a salvação das almas.

821) Que é necessário para entrar no estado eclesiástico?
Para entrar no estado eclesiástico é necessário, antes de tudo, a vocação divina.

822) Que deve fazer o cristão para conhecer se Deus o chama ao estado eclesiástico?
Para conhecer se Deus o chama ao estado eclesiástico, o cristão deve:
1º pedir fervorosamente a Nosso Senhor que lhe manifeste qual é a sua vontade;
2º tomar conselho com o próprio Bispo ou com um diretor sábio e prudente;
3º examinar com diligência se tem a aptidão necessária para os estudos, para os ministérios e para as obrigações desse estado.

823) Quem entrasse para o estado eclesiástico, sem vocação divina, faria mal?
Quem entrasse para o estado eclesiástico, sem ser chamado por Deus, faria um mal muito grave e colocar-se-ia em risco de se perder.

824) Fazem mal os pais que, por motivos temporais, induzem os filhos a abraçar o estado eclesiástico sem vocação?
Os pais que, por motivos temporais, induzem os filhos a abraçar o estado eclesiástico sem vocação, cometem também culpa gravíssima, porque com isto usurpam o direito que Deus reservou exclusivamente para Si de escolher os seus ministros, e porque põem os filhos em risco de condenação eterna.

825) Quais são os deveres dos fiéis para com aqueles que são chamados às ordens sacras?
Os fiéis devem:
1º deixar aos seus filhos e subordinados plena liberdade de seguir a vocação divina;
2º pedir a Deus que se digne conceder à sua Igreja bons Pastores e ministros
zelosos; e até foram instituídos para este fim os jejuns das Quatro Têmporas;
3º ter um respeito singular a todos aqueles que, por meio das Ordens, são consagrados ao serviço de Deus.


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Os Sete Sacramentos - EXTREMA-UNÇÃO

Retirado do
Catecismo Maior de São Pio X
Quarta Parte
Dos Sacramentos



805) Que é o Sacramento da Extrema-Unção?
A Extrema-Unção é o Sacramento instituído para alívio espiritual e também temporal dos enfermos em perigo de vida.

806) Que efeitos produz o Sacramento da Extrema-Unção?
O Sacramento da Extrema-Unção produz os seguintes efeitos:
1º aumenta a graça santificante;
2º apaga os pecados veniais e também os mortais que o enfermo arrependido já não possa confessar;
3º tira a fraqueza e languidez para o bem, que fica, ainda depois de se ter alcançado o perdão dos pecados;
4º dá força para suportar pacientemente o mal, para resistir às tentações, e para morrer santamente;
5º ajuda a recuperar a saúde do corpo, se isso for útil à salvação da alma.

807) Em que tempo se deve receber a Extrema-Unção?
A Extrema-Unção deve receber-se quando a doença é grave, e, se puder ser, depois de o enfermo ter recebido os Sacramentos da Penitência e da Eucaristia; e deve procurar-se que o enfermo a receba quando está ainda com plena consciência e com alguma esperança de vida.

808) Por que é bom que o enfermo receba a Extrema-Unção quando está em plena consciência e com alguma esperança de vida?
É bom receber a Extrema-Unção quando o enfermo está ainda com plena consciência e com alguma esperança de vida, porque recebendo-a com melhores disposições poderá obter maior proveito; e além disso, como este Sacramento dá a saúde do corpo, se convém à alma auxiliando as forças da natureza, não se deve estar à espera de que se desespere da cura.

809) Com que disposições se deve receber a Extrema-Unção?
As principais disposições para receber a Extrema-Unção são: estar em estado de graça, confiar na eficácia do Sacramento e na misericórdia divina e resignar-se à vontade de Deus.

810) Que sentimento deve experimentar o enfermo à vista do Sacerdote?
À vista do Sacerdote, o enfermo deve experimentar sentimentos de gratidão para com Deus, por lho ter enviado, deve recebê-lo de boa vontade e pedir, se puder, por si mesmo, os confortos da Religião.

Próxima Postagem: Ordem


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Retirado do Catecismo Maior de São Pio X

Os Sete Sacramentos - PENITÊNCIA - Parte II

Retirado do
Catecismo Maior de São Pio X
Quarta Parte
Dos Sacramentos


§ 6º - Da acusação dos pecados ao confessor

740) Depois de vos terdes disposto bem para a confissão com o exame, com a dor e com o propósito, que haveis de fazer?
Depois de me ter disposto bem com o exame, com a dor e com o propósito, irei fazer ao confessor a acusação dos meus pecados, para receber a absolvição.

741) De que pecados somos obrigados a confessar-nos?
Somos obrigados a confessar-nos de todos os pecados mortais; é bom, porém, confessar também os veniais,

742) Quais são as qualidades que deve ter a acusação dos pecados, ou confissão?
As qualidades principais que deve ter a acusação dos pecados são cinco: deve ser humilde, íntegra, sincera, prudente e breve.

743) Que querem dizer as palavras: a acusação deve ser humilde?
A acusação deve ser humilde, quer dizer que o penitente deve acusar-se diante do seu confessor sem altivez de ânimo ou de palavras, mas com sentimentos de um réu que reconhece a sua culpa, e comparece diante do juiz.

744) Que quer dizer: a acusação deve ser íntegra?
A acusação deve ser íntegra, quer dizer que se devem confessar, com as suas circunstâncias e no seu número, todos os pecados mortais cometidos desde a última confissão bem feita, e dos quais se tem consciência.

745) Quais são as circunstâncias que se devem dizer para que a acusação seja íntegra?
Para que a acusação seja íntegra, devem acusar-se as circunstâncias que mudam a espécie do pecado.

746) Quais são as circunstâncias que mudam a espécie do pecado?
As circunstâncias que mudam a espécie do pecado são:
1º aquelas pelas quais uma ação pecaminosa de venial se torna mortal;
2º aquelas pelas quais uma ação pecaminosa contém a malícia de dois ou mais pecados mortais.

747) Dai-me um exemplo de uma circunstância que faça tornar mortal um pecado venial?
Quem, para se desculpar, dissesse uma mentira da qual resultasse dano grave para o próximo, deveria manifestar esta circunstância, que muda a mentira, de oficiosa em gravemente nociva.

748) Dai-me agora exemplo de uma circunstância pela qual uma e a mesma ação pecaminosa contém a malícia de dois ou mais pecados?
Quem tivesse roubado uma coisa sagrada, deveria acusar esta circunstância, que acrescenta ao furto a malícia do sacrilégio.

749) Se uma pessoa não tiver a certeza de ter come tido um pecado, deve confessá-lo?
Se uma pessoa não tiver a certeza de ter cometido um pecado, não é obrigada a confessá-lo; se porém o quiser acusar, deverá acrescentar que não tem a certeza de o ter cometido.

750) Quem não se lembra exatamente do número dos seus pecados, que deve fazer?
Quem não se lembra exatamente do número dos seus pecados, deve acusar o número aproximado.

751) Quem deixou de confessar por esquecimento um pecado mortal, ou uma circunstância necessária, fez uma boa confissão?
Quem deixou de confessar por esquecimento um pecado mortal, ou uma circunstância necessária, fez uma boa confissão, contanto que tenha empregado a devida diligência no exame de consciência.

752) Se um pecado mortal esquecido na confissão volta depois à lembrança, somos obrigados a acusá-lo noutra confissão?
Se um pecado mortal esquecido na confissão volta depois à lembrança, somos obrigados, sem dúvida, a acusá-lo na primeira vez que de novo nos confessarmos.

753) Quem por vergonha, ou por outro motivo culpável, cala voluntariamente na confissão algum pecado mortal, que comete?
Quem, por vergonha, ou por qualquer outro motivo culpável, cala voluntariamente algum pecado 'mortal na confissão, profana o Sacramento e por isso torna-se réu de gravíssimo mo sacrilégio.

754) Quem ocultou voluntariamente algum pecado mortal na confissão, como há de conciliar a própria consciência?
Quem ocultou culpavelmente algum pecado mortal na confissão, deve expor ao confessor o pecado ocultado, dizer em quantas confissões o ocultou, e repetir todas as confissões, desde a última bem feita.

755) Que deve considerar quem se vir tentado a calar algum pecado na confissão?
Quem se vir tentado a calar um pecado grave na confissão, deve considerar:
1º que não teve vergonha de pecar na presença de Deus, que vê tudo;
2º que é melhor manifestar os próprios pecados ao confessor em segredo, do que viver inquieto no pecado, ter uma morte infeliz, e ser por isso envergonhado no dia do Juízo universal, em face do mundo inteiro;
3º que o confessor é obrigado ao sigilo sacramental, sob pecado gravíssimo, e com a ameaça de severíssimas penas temporais e eternas.

756) Que significam estas palavras: a acusação deve ser sincera?
A acusação deve ser sincera, significa que é necessário declarar os pecados como eles são, sem os desculpar, sem os diminuir e sem os aumentar.

757) Que significam estas palavras: a confissão deve ser prudente?
A confissão deve ser prudente, significa que, ao confessar os pecados, devemos servir-nos dos termos mais modestos, e que devemos guardar-nos de descobrir os pecados alheios.

758) Que significam estas palavras: a confissão deve ser breve?
A confissão deve ser breve, significa que não. devemos ir falar de coisas inúteis ao confessor.

759) Mas o dever de confessar a outro homem os próprios pecados, não será muito custoso, sobretudo se são muito vergonhosos?
Ainda que confessar a outro homem os próprios pecados possa ser penoso, é necessário fazê-lo, porque é de preceito divino; e de outro modo não se pode obter o perdão dos pecados cometidos; além disso, a dificuldade de se confessar é compensada por muitas vantagens e grandes consolações.

§ 7º - Do modo de se confessar

760) Como vos apresentareis ao confessor?
Ponho-me de joelhos aos pés do confessor, e digo: Abençoai-me, Padre, porque pequei.

761) Que fareis enquanto o confessor vos der a bênção?
Inclino-me humildemente para receber a bênção, e faço o sinal da Cruz.

762) Depois de feito o sinal da Cruz, que direis?
Depois de feito o sinal da Cruz, direi: Eu me confesso a Deus todo-poderoso, à bem-aventurada sempre Virgem Maria, a todos os Santos, e a vós, Padre, porque pequei.

763) E depois, que direis?
Depois direi: Confessei-me em tal tempo; por graça de Deus recebi a absolvição, cumpri a penitência, e fui à Comunhão. Em seguida faz-se a acusação dos pecados.

764) Terminada a acusação dos pecados, que direis?
Direi: Acuso-me ainda de todos os pecados da vida passada, especialmente contra tal ou tal virtude, por exemplo, contra a pureza, contra o quarto Mandamento, etc.

765) Depois desta acusação, que direis ainda?
Direi: De todos estes pecados e de todos aqueles de que não me lembro, peço perdão a Deus de todo o meu coração; e a vós, Padre, peço a penitência e a absolvição.

766) Concluída assim a acusação dos pecados, que mais resta a fazer
Concluída a acusação dos pecados, é necessário ouvir com respeito o que disser o confessor; aceitar a penitência com sincera vontade de cumpri-la; e, enquanto ele dá a absolvição, renovar o ato de contrição.

767) Depois de recebida a absolvição, que há ainda a fazer?
Depois de recebida a absolvição, é preciso agradecer a Nosso Senhor, cumprir quanto antes a penitência, e pôr em prática os avisos do confessor.

§ 8º - Da absolvição

768) Devem os confessores dar sempre a absolvição àqueles que se confessam?
Os confessores devem dar a absolvição somente àqueles que julgam bem dispostos a recebê-la.

769) Podem os confessores diferir ou negar alguma vez a absolvição?
Os confessores não só podem, mas devem diferir ou negar a absolvição em certos casos, para não profanar o Sacramento.

770) Quais são os penitentes que se devem considerar mal dispostos, e aos quais se deve ordinariamente diferir ou negar a absolvição?
Os penitentes que se devem considerar mal dispostos são principalmente:
1º aqueles que não sabem os mistérios principais da fé, ou não se importam de aprender os pontos da Doutrina Cristã, que são obrigados a saber, conforme o seu estado;
2º aqueles que são gravemente negligentes em fazer o exame de consciência ou não dão sinais de dor e arrependimento;
3º aqueles que não querem restituir, podendo, as coisas alheias ou a reputação roubada;
4º aqueles que não perdoam de coração aos seus inimigos;
5º aqueles que não querem empregar os meios para se corrigir dos seus maus hábitos;
6º aqueles que não querem fugir das ocasiões próximas de pecado.

771) Não há excessivo rigor da parte do confessor em diferir a absolvição ao penitente que ele não julga ainda bem disposto?
Não. Não há excesso de rigor no confessor que difere a absolvição do penitente, porque não o julga ainda bem disposto; há antes caridade, pois procede como um bom médico, que tenta todos os remédios, ainda os desagradáveis e penosos, para salvar a vida ao doente.

772) Deverá desesperar ou afastar-se inteiramente da confissão o pecador a quem se difere ou se nega a absolvição?
O pecador a quem se difere ou se nega a absolvição não deve desesperar ou afastar-se inteiramente da confissão; mas deve humilhar-se, reconhecer o seu estado deplorável, aproveitar os bons conselhos que o confessor lhe dá, e assim pôr-se quanto antes em estado de merecer a absolvição.

773) Que deve fazer o penitente quanto à escolha do confessor?
O verdadeiro penitente deve encomendar-se muito a Deus para escolher um confessor piedoso, douto e prudente, e deve depois entregar-se às suas mãos, e submeter-se a ele como a seu juiz e médico.

§ 9º - Da satisfação ou penitência

774) Que é a satisfação?
A satisfação, que também se chama penitência sacramental, é um dos atos do penitente, com o qual ele dá uma certa reparação à justiça divina pelos pecados cometidos pondo em prática aquelas obras que o confessor lhe impõe.

775) É obrigado o penitente a aceitar a penitência que o confessor lhe impõe?
O penitente é obrigado a aceitar a penitência que o confessor lhe impõe, se a pode cumprir, e, se não a pode cumprir, deve dizê-lo humildemente ao mesmo confessor, e pedir-lhe outra.

776) Quando se deve cumprir a penitência?
Se o confessor não marcou tempo, a penitência deve cumprir-se quanto antes, e deve fazer-se a diligência por cumpri-la em estado de graça.

777) Como se deve cumprir a penitência?
A penitência deve cumprir-se na sua integridade e com devoção.

778) Porque na confissão se impõe uma penitência?
Impõe-se uma penitência porque de ordinário, depois da absolvição sacramental que perdoa a culpa e a pena eterna, resta uma pena temporal a pagar neste mundo ou no Purgatório.

779) Por que razão quis Nosso Senhor perdoar no Sacramento do Batismo toda a pena devida aos pecados, e não no Sacramento da penitência?
Nosso Senhor quis perdoar no Sacramento do Batismo toda a pena devida aos pecados, e não no Sacramento da Penitência, porque os pecados depois do Batismo são muito mais graves, visto serem cometidos com maior conhecimento e ingratidão aos benefícios de Deus, e também para que a obrigação de satisfazer por eles sirva de freio para não se recair no pecado.

780) Podemos nós, com as nossas forças, dar satisfação a Deus?
Não; com nossas forças, não podemos dar satisfação a Deus; mas nós o podemos unindo-nos a Jesus Cristo que, com os merecimentos da sua Paixão e morte, dá valor às nossas ações.

781) É sempre bastante a penitência dada pelo confessor para pagar a pena que ainda resta, devida aos pecados?
A penitência que dá o confessor, de ordinário não é bastante para pagar a pena devida pelos pecados; por isso deve-se fazer a diligência por suprir com outras penitências voluntárias.

782) Quais são as obras de penitência?
As obras de penitência podem reduzir-se a três espécies: à oração, ao jejum, à esmola.

783) Que se entende por oração?
Por oração entende-se toda a espécie de exercícios de piedade.

784) Que se entende por jejum?
Por jejum entende-se toda a espécie de mortificação.

785) Que se entende por esmola?
Por esmola entende-se toda e qualquer obra de misericórdia espiritual e corporal.

786) Qual é a penitência mais meritória: a que dá o confessor, ou a que nós fazemos por nossa escolha?
À penitência que nos dá o confessor é mais meritória, porque, sendo parte do Sacramento, recebe maior virtude dos merecimentos da Paixão de Jesus Cristo.

787) Vão logo para o Céu os que morrem depois de ter recebido a absolvição, mas antes de terem satisfeito plenamente à justiça de Deus?
Não; eles vão para o Purgatório, para ali satisfazerem à justiça de Deus e se purificarem inteiramente.

788) Podem as almas que estão no Purgatório ser aliviadas por nós nas suas penas?
Sim, as almas que estão no Purgatório podem ser aliviadas com orações, com esmolas, com todas as demais obras boas e com as indulgências, mas sobretudo com o Santo Sacrifício da Missa.

789) Além da penitência, que mais deve fazer o penitente depois da confissão?
O penitente, depois da confissão, além de cumprir a penitência, se danificou injustamente o próximo nos bens ou na honra, ou se lhe deu escândalo, deve, o mais breve e na medida em que for possível, restituir-lhe os bens, reparar-lhe a honra e remediar o escândalo.

790) Como se pode reparar o escândalo que se causou?
Pode-se reparar o escândalo que se causou fazendo cessar a ocasião dele, e edificando com as palavras e com o bom exemplo aqueles que se tenha escandalizado.

791) De que maneira devemos satisfazer o próximo quando o tivermos ofendido?
Devemos satisfazer o próximo quando o tivermos ofendido, pedindo-lhe perdão ou dando-lhe alguma outra reparação conveniente.

792) Que frutos produz em nós uma boa confissão?
Uma boa confissão:
1º perdoa-nos os pecados cometidos, e dá-nos a graça de Deus;
2o restitui-nos a paz e o sossego de consciência;
3º reabre-nos as portas do Paraíso, e comuta a pena eterna do inferno em pena temporal;
4º preserva-nos das recaídas, e torna-nos capazes de ganhar indulgências.

§ 10º. - Das indulgências

793) Que é a indulgência?
A indulgência é a remissão da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, remissão que a Igreja concede fora do Sacramento da Penitência.

794) De quem recebeu a Igreja o poder de conceder indulgências?
Foi de Jesus Cristo que a Igreja recebeu o poder de conceder indulgências.

795) De que maneira nos perdoa a Igreja a pena temporal por meio das indulgências?
A Igreja perdoa a pena temporal por meio das indulgências, aplicando-nos as satisfações superabundantes de Jesus Cristo, da Santíssima Virgem e dos Santos, as quais formam o que se chama o tesouro da Igreja.

796) Quem tem o poder de conceder indulgências?
O poder de conceder indulgências pertence ao Papa em toda a Igreja, e ao Bispo, na sua diocese, na medida em que lhe é concedido pelo Papa.

797) Quantas espécies há de indulgências?
Há duas espécies de indulgências: a indulgência plenária e a indulgência parcial.

798) Que é a indulgência plenária?
A indulgência plenária é a que perdoa toda a pena temporal devida pelos nossos pecados. Por isso, se alguém morresse depois de ter recebido esta indulgência, iria logo para o céu, inteiramente isento das penas do Purgatório.

799) Que é a indulgência parcial?
A indulgência parcial é a que perdoa só uma parte da pena temporal, devida pelos nossos pecados.

800) Qual é a intenção da Igreja ao conceder as indulgências?
A intenção da Igreja ao conceder as indulgências é auxiliar a nossa incapacidade de expiar neste mundo toda a pena temporal, fazendo-nos conseguir por meio de obras de piedade e de caridade cristã aquilo que nos primeiros séculos Ela obtinha com o rigor dos cânones penitenciais.

801) Em que apreço devemos ter as indulgências?
Devemos ter as indulgências em muito grande apreço, porque com elas se satisfaz a justiça de Deus e mais depressa e mais facilmente se alcança a posse do céu.

802) Quais são as condições requeridas para se ganharem as indulgências?
As condições para se ganharem as indulgências são:
1º o estado de graça, pelo menos ao cumprir a última obra, e o desapego mesmo das culpas veniais cuja a pena se quer apagar;
2º o cumprimento das obras que a Igreja prescreve para se ganhar a indulgência;
3º a intenção de ganhá-las.

803) Podem as indulgências aplicar-se também às almas do Purgatório?
Sim, as indulgências podem aplicar-se também às almas do Purgatório quando quem as concede declara que se lhes podem aplicar.

804) Que é o Jubileu?
O Jubileu, que ordinariamente se concede todos os vinte e cinco anos, é uma indulgência plenária, à qual estão anexos muitos privilégios e concessões particulares, como o poder de obter-se a absolvição de alguns pecados reservados e de censuras, e a comutação de alguns votos.


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Retirado do Catecismo Maior de São Pio X