27 de Março - Mês Dedicado a São José

Desce a alma de São José ao Limbo: ressuscita gloriosamente com Cristo, e com ele sobre ao Céu em corpo e alma


            Honrando Cristo Senhor nosso, de muitos modos, em vida, a seu estimado Pai, continuou a honrá-lo também depois de morto, mandando logo aos Arcanjos São Miguel e Gabriel que conduzissem sua alma em companhia de muitos Coros de Anjos para o repouso do Limbo ou Seio de Abraão, onde esperavam as almas dos Patriarcas, Reis, Profetas e mais Justos pela redenção do gênero humano. Ali entrou o Bem-aventurado José com o especial caráter de legado e como precursor de Jesus Cristo, para os consolar e animar de novo suas esperanças.

            Que alegres festas fariam, contempla um Varão pio e douto, à puríssima alma de São José aqueles Santos Padres, que ali estavam, sabendo dos Anjos quem ele era, as dignidades e prerrogativas, que no mundo lograra? Como o cercariam todos, e lhe diriam contentes: Oh alma venturosa de tão ditoso corpo, cujos olhos mereceram ver e gozar o que nós há tanto tempo suspiramos; informai-nos, alma felicíssima, da vinda do Messias ao mundo e de suas perfeições e excelências. Dizei-nos se está já chegado o prazo e o fim deste nosso tão dilatado desterro. De tudo lhe daria o Santo Patriarca mui plena e exata informação.

            Nesta feliz menção sentia a alma de São José a ausência de Cristo, e tanto mais quanto amava a Jesus mais que todos; passando o tempo em contínuas súplicas, orando ao Céu que viesse o Senhor tirá-lo daquelas prisões, em que estava, até que o Redentor do mundo concluindo a redenção do gênero humano, triunfou da morte, e desceu glorioso ao Limbo, como Rei soberano e vitorioso.

            É crível que o Senhor depois que todos o adoraram, e ele abraçou a todos, tratasse a São José seu estimado Pai, com maior carinho e atenção. Ao entender do iluminado espírito de São Francisco de Salles, falaria assim a Cristo o venturoso São José: “Senhor, e Redentor meu, lembrai-vos, se é do vosso agrado, que, quando baixastes do Céu à terra, vos recebi em minha casa e em minha família, e que, depois que nascestes, vos recebi entre os meus  braços; agora que haveis de subir ao Céu, levai-me convosco. Eu vos recebi na minha família, recebei-me agora na vossa; e como eu tive cuidado de alimentar-vos, enquanto durou a vida mortal, cuidai agora de mim e conduzi-me à vida eterna”.

            Assim o fez o Senhor como Filho amantíssimo e agradecido, ressuscitando-o juntamente no dia da sua prodigiosa Ressurreição, em corpo glorioso. Diz o Evangelista São Mateus, no capítulo 27, que ressuscitaram como Jesus Cristo muitos corpos de Santos, os quais, levantando-se e saindo de suas sepulturas depois de Cristo ressuscitado, vieram à Santa Cidade de Jerusalém e apareceram a muitos; e, entre estes que ressuscitaram, não há outro, que com mais razão pudesse gozar deste privilégio que o glorioso São José.

            A razão é persuasiva; porque, sendo o fim deste prodígio testemunhar aos de Jerusalém que Jesus Cristo havia ressuscitado verdadeiramente, é crível que fossem aqueles justos, que pouco tempo antes tivessem falecido e fossem conhecidos em Jerusalém, e ninguém melhor que São José, o qual, na Cidade e em seus contornos se tinha feito conhecido de todos e era reputado por Pai de Jesus. Também é muito verossímil que os Justos, que ressuscitaram, fossem aqueles, que tinham maior conexão com Cristo ou por parentesco, ou por virtudes, e em nenhum outro se achavam mais unidas estas condições, que no gloriosíssimo Patriarca São José.

            É tradição da Igreja, recebida e celebrada por todos ou fiéis e Doutores sem controvérsia, que a primeira pessoa, a quem Cristo pareceu ressuscitado e glorioso, foi a sua Mãe Santíssima; porque, segundo a regra do Apóstolo, assim como tinha sido a primeira nas dores, o fosse também nas consolações; e, como na companhia do Senhor vinha São José, como piamente cremos, é indubitável que na Virgem seriam iguais os júbilos com a vista alegre do Filho e do Esposo ressuscitado. Então podemos dizer que também ressuscitará o esposo da Virgem Maria, assim como de Jacó diz a Escritura que ressuscitara, quando soube ser vivo seu filho José, que tinha chorado como morto.

            Nenhum Santo há que se atreva a declarar os extremos de alegria e gozo inefável, com que a cheia de graça foi também cheia de glória nestes dias de seu maior júbilo, dando e recebendo parabéns da Ressurreição do Filho e do Esposo. O Filho, para consolar inteiramente a Mãe do trabalhos passados com a glória presente, lhe diria que já era tempo de primavera festiva e alegre, que já nasciam e renasciam flores do mesmo sepulcro, trocando-se as suas chagas em lírios vistosos; e, entre as belas flores do ameno jardim de Nazaré resplandecentes e formosas, lhe mostraria o Senhor, em traje de jardineiro, a açucena cândida de seu felicíssimo Esposo, o sempre Virgem São José.

            Acrescenta São Bernardino de Sena, dizendo que Cristo Senhor nosso levara consigo ressuscitado a São José, cheio de grande glória, para que aliviasse a pena de sua Esposa Maria Santíssima, e que lho mostrara entre todos os Santos Padres com um especialíssimo diadema de ouro na cabeça em forma de Cruz, significando assim como era superior aos mais Santos, como o ouro aos outros metais.

             Não é pequena a controvérsia e mui debatida entre antigos e modernos sobre a natureza dos Justos, que ressuscitaram com Cristo, se foi no estado de vida mortal, como sucedeu a Lázaro, ou no de vida gloriosa para nunca mais morrer. De certo nada está decidido, e a respeito há duas opiniões. A primeira afirma que aqueles Santos ressuscitaram por pouco tempo, e para tornarem outra vez a morrer. Seguem-na Santo Agostinho, São Tomás.

            A segunda opinião, porém, é que aquela ressurreição dos Justos fora para vida imortal e gloriosa, e pela qual militam muitos Doutores. A razão é, porque de outra maneira ficariam aqueles Bem-aventurados em pior condição, do que quando estavam no escuro cárcere do Limbo, se ficassem na vida terrestre para morrerem outra vez. Das mesmas palavras do Evangelista, que diz apareceram a muitos esses Santos ressuscitados, e não a todos, se infere que eles tinham corpos glorificados, em cujo poder estava manifestar-se, ou ocultar-se, quando e como queriam, para confirmar a evidência da Ressurreição de Cristo.

            E, como este Senhor dizia que as suas delícias era estar com os filhos dos homens, é de crer, diz o grande Suares, que tivesse deles alguns companheiros de sua glória em corpo e alma, para que, assim como se manifesta a Divina Justiça havendo no Inferno alguns homens em corpo e alma, antes de geral ressurreição dos condenados, como Dathan e Abiron, Levitas sediciosos, assim convinha que, para demonstração da Divina misericórdia e Redenção copiosíssima de Jesus Cristo, recebesse no Céu alguns Justos glorificados em corpo e alma, antes da ressurreição universal dos Bem-aventurados.

            Assim sendo, faz-se crível que o Senhor, no dia da sua admirável Ascensão, levasse consigo para a Jerusalém Celeste o glorioso São José em corpo e alma, para gozar dos prêmios inefáveis da Bem-aventurança. Pregando isto em Pádua, São Bernardino de Sena, diz André de Soto que, quando o Santo discorria sobre o assunto, viu o auditório resplandecer sobre a cabeça do Santo um Cruz de ouro; e acrescenta Carthagena que nenhuma dificuldade tem em dar crédito a este prodígio, pois que o mesmo Santo dissera as seguintes palavras:

            “Piamente se há de crer que o piedosíssimo Filho de Deus honrasse com semelhante privilégio a seu Pai virginal, assim como honrou a sua Santíssima Mãe; e, assim como levou a Virgem gloriosa para o Céu em corpo e alma, assim também no dia, em que ressuscitou, levou consigo o Santíssimo José gloriosamente ressuscitado, para que, da mesma sorte que os membros da Sacra Família, Jesus, Maria e José viveram juntos na terra em vida trabalhosa e em união de graça, assim em amorosa glória reinem no Céu e corpo e alma; ou, como diz Riquelio, para que assim como há no Céu uma Santíssima Trindade de Pessoas na natureza Divina, Pai, Filho e Espírito Santo, houvesse também na terra outra adorável Trindade de Pessoas, a saber: Jesus, Maria, José”.

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 A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado - Livraria Francisco Alves, 1927

26 de Março - Mês Dedicado a São José

Da Felicíssima Morte do Glorioso Patriarca São José


                Não consta da Escritura quando falecera o venturoso São José.
            A opinião mais provável é dos que dizem que o Bem-aventurado São José falecera antes da Paixão de Cristo, e antes das Bodas de Caná da Galileia, não só porque nessa ocasião, havendo motivo, os Evangelistas já não falaram nele, mas porque, como desse tempo por diante começou Jesus Cristo a estabelecer e seguir outro modo de vida mais próprio para se manifestar não como Filho de São José, mas como verdadeiro Deus e Homem, e Redentor do mundo, cessava o fim do ministério de São José. Até ali quis o Senhor honrá-lo com o título tão glorioso, como era o de seu Pai, e gozar de sua companhia e da sombra, que faz um pai amoroso a um filho obediente.
            Chegando, pois, o tempo, em que Jesus Cristo quis dar a conhecer ao mundo que era o Messias prometido e promulgar a Lei Evangélica, e justamente evitar que seu pai legal visse com seus olhos as afrontas, que ele havia de padecer na sua Paixão, quis pô-lo em salvo, abreviando-lhe a vida, favor especial, fundado em piedade e amor. De sorte que o argumento de Santo Epifanio, em que mostra ser já falecido São José, quando Cristo padeceu, é racionável e convence, pois o Senhor não deixaria entregue e recomendada a Virgem a São João Evangelista, se estivesse ainda vivo seu amantíssimo Esposo São José.
            Em que idade falecesse, também não é uniforme o parecer de todos.
            O mais provável é que fosse aos setenta anos, porque o glorioso Santo esteve desposado com a Virgem trinta anos e a desposou com quarenta. O dia fixo e determinado da sua bem-aventurada morte padece igual incerteza, julgando a maior número que fosse em 19 de março.
            Quanto ao lugar, onde faleceu, parece ter sido Nazaré, donde depois se transladara seu corpo para o vale de Josafat.
            Somos propensos a crer que São José morresse set ter sofrido moléstia alguma. Porque, se Jesus Cristo Senhor não teve enfermidade alguma pela perfeita harmonia de sua individual natureza, e o mesmo a soberana Senhora, ou já pela igualdade e equilíbrio do seu admirável temperamento, ou por especial privilégio, para que havemos de tirar esta prerrogativa ao nosso ditosíssimo Santo, a quem os seus grandes merecimentos lhe granjearam as mais singulares graças e privilégios?
            Adquire maior força este parecer com a tradição, que havia entre os Católicos Orientais: “Envelheceu José, e chegou aos últimos dias da sua vida, porém seu corpo não estava debilitado em forças; conservava nos olhos a sua vista perfeita, e na boca todos os seus dentes. Em tanta idade tinha ainda todo o seu vigor, e tão robusto se considerava em seus membros sendo velho, como quando era moço. Chegou-lhe, enfim, o dia da morte, e, aparecendo-lhe o Anjo do Senhor, que era o seu mesmo Anjo da guarda, disse-lhe que cedo partiria deste mundo, e a sua alma iria, alegre, acompanhar os Santos Padres do Limbo. Caiu logo enfermo na cama, e, agravando-se-lhe a moléstia, lhe chegou a hora da morte”.
            A verdadeira enfermidade, de que morrera São José, fora a veemência do amor.
            O memorável Gerson chamou à morte de São José morte alegre, e só pode ser alegre e preciosa aquela morte, quando o amor tira a vida. É bem verdade que os Sagrados Intérpretes da Escritura não declaram de que gênero de morte falecera São José; cremos, porém, que o Santo acabara os seus dias pelo incêndio do amor, que lhe derreteu o coração, e que, à maneira de Elias abrasado em vivas chamas do amor Divino, fora arrebatado para o outro mundo.
            Não é para desprezar outra razão de congruência, porque menor graça é morrer à eficácia do amor intenso de Deus, do que ser predestinado para o ministério da união hipostática. Nós vemos que o felicíssimo São José ainda sem o aumento de graça, que depois teve, foi escolhido para Esposo da Virgem, e ministro daquela inefável união: logo parece que lhe devemos considerar, no fim da vida, a graça e o privilégio de morrer abrasado em amor de Deus, e ser este a causa, que o privou dos alentos vitais.
            Deve-se crer, piamente, que na morte de São José estivessem presentes Jesus Cristo e Maria Santíssima, sua Esposa. E com esta bem-aventurada assistência, que ilustrações, confortos, e esperanças da eterna felicidade não receberia São José de sua Santíssima Esposa e seu amado Filho!
            Bastava a presença, ou só de Cristo, ou só de Maria Santíssima para beatificar a morte de São José; e que faria nesta última hora a adorável assistência de ambos? É para admirar como pudera São José expirar, assistindo-lhe o Pai e a Mãe do Autor da mesma vida. A Virgem Maria com a sua Santíssima presença infundia elementos de vida a seu amantíssimo Esposo, e, por isso, a morte não se atrevia a chegar-se a sua cabeceira. No peito de São José, lutavam neste último transe as forças de duas vontades, a de não se apartar de Jesus e de Maria, e a de obedecer ao Divino beneplácito; e, porque toda a sua vida foi conformar-se com a vontade Divina, entendendo estar chegando aos seus dias o último período, cedeu às disposições do Altíssimo.
            Foi conveniente que a alma de São José se desatasse das prisões do corpo, para que não imaginasse o mundo que era mais que homem e de nenhuma sorte sujeito às leis da condição humana, caduca e mortal, o Pai virginal de Cristo, o Esposo verdadeiro da Mãe de Deus, o familiar dos Anjos, o Secretário dos Mistérios do Onipotente, e o primeiro Ministro econômico do Unigênito do Pai Eterno.
            Essa santíssima e respeitosa preferência de Jesus e da Virgem Maria causaram ao venturoso São José o singular privilégio, a poucos até agora concedido, que foi o não sentir, naquele último dos assaltos do demônio, nem o aspecto da sua vista horrorosa.
            Como seriam cheias de ternura e saudades aquelas últimas palavras, com que São José se despediria de Cristo e de sua Esposa! Dai-me vossos braços, Filho amado (diria São José ao Redentor do mundo), e, ainda que é ofício do Pai dar a benção, agora sou eu quem a peço, para que, amparado dela, não ofendam as fúrias do Inferno, e possa dormir descansado na vossa paz o sono da morte. Sinto muito ausentar-me de vós; morro, porém, contente, não só porque entendo ser disposição inevitável do Altíssimo, mas porque deixo já no mundo o tesouro infinito do seu remédio, com que se há de remir a culpa do primeiro homem. Naquelas antigas trevas esperarei a brilhante luz da vossa glória, e darei, entretanto, alegres novas aos Santos, que ali vos esperam, pois ordenais que eu vá adiante anunciar-lhe tão grande dita.
            E vós, Esposa minha muito amada, espelho de pureza, ficai-vos com Deus, que eu me vou para não vos tornar a ver mais nesta carne mortal. Muito vos devo, pois de todas as minhas felicidades fostes a causa e a intercessora, e assim será grande a minha glória, quando vos ver coroada Rainha do Céus. Ainda que vos falte desde hoje a minha companhia, ficais muito bem acompanhada, pois fica convosco o Filho de Deus como vosso verdadeiro e fiel amparo.
            Estas últimas e saudosas palavras de São José é crível que não ficariam sem agradecida resposta do Filho e da Esposa, e assim dando os últimos alentos no ósculo do Senhor, espirou São José felizmente nos braços de Jesus e de Maria Santíssima. Foi, na verdade, correspondência digna de amor de Cristo que nos seus braços morresse São José, pois que nos de São José viveu sempre Jesus Cristo.
            O Senhor lhe fechara os olhos depois que espirar, e juntamente com a Virgem choraram a morte do Santo; porque se Cristo, Bem nosso, chorou por ver a Lázaro morto, quanto mais piedosa causa era chorar a morte de São José, seu estimado Pai, acompanhado com suas lágrimas as que também por ele derramaria a Virgem, sua Esposa.
            Foram as lágrimas de Jesus e da Virgem Maria para o cadáver de São José mais precioso bálsamo, que aquele, com que se ungem os corpos dos Reis Soberanos; porque ainda que seja puro e excelente, com o tempo enfim se corrompe; porém com as lágrimas tão preciosíssimas de Cristo e da Virgem ficou incorrupto o adorável corpo do Santo, permanecendo intacto, até que, reunida nele a alma na Ascensão do Senhor, se vestia da eterna incorruptibilidade no Céu.
            Vendo a Virgem Maria a seu Esposo defunto, preparou seu corpo para a sepultura, e o vestiu conforme o costume, não consentindo que chegassem a ele outras mãos mais que as suas, e as dos Santos Anjos, que a ajudaram a amortalhar. Logo, com a assistência e acompanhamento dos parentes, conhecidos e outros muitos, e com especialidade de Cristo e sua Beatíssima Mãe, com grande multidão de Anjos, foi levado o sagrado corpo de São José a sepultura.
            Recebeu a Virgem Maria pêsames e pôs insígnias de luto, como naquele tempo se usava trazer pelos defuntos, que era vestido preto em sinal de tristeza, fazendo todos os ofícios fúnebres, que a piedade e costume havia introduzido naquele povo, porque a Virgem, pela razão de Esposa e Cristo pela de Filho, reputado na opinião do mundo, não podiam deixar de cumprir estas obrigações sem a censura de seus vizinhos e parentes, sendo que, como Maria Santíssima sabia que a alma bem-aventurada de seu Santo Esposo não tinha coisa que purificar, por isso lhe não fizera sufrágios.
            O lugar, onde foi sepultado, dizem ser no vale de Josafat que fica entre os montes de Sião e das Oliveiras. Acha-se hoje dentro da suntuosa Igreja, que a Rainha Santa Helena mandou edificar no mesmo sítio, e chama-se o sepulcro da Virgem, por ser também ali sepultada Maria Santíssima. Desce-se a esta Igreja, que é subterrânea, por cinquenta degraus repartidos em vários tabuleiros, ou lanços espaçosos. Da parte esquerda para quem desce, vê-se embutida na parede, uma pequena Capela, que dizem ser o sepulcro de São José, diante da qual arde, de contínuo, uma lâmpada, de que têm cuidado os Religiosos de São Francisco, os quais mandam todos os dias do Convento de São Salvador de Jerusalém a um Religioso sacerdote dizer ali Missa, e o Acólito, por obrigação, incensa também o Altar do sepulcro do Santo. Assim parecia justo que ambos os Divinos Esposos participassem do mesmo digno depósito, e que um próprio relicário guardasse as mesmas relíquias, que haviam de ser juntamente colocadas no supremo santuário do Céu.

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A vida de São José pela Associação de Adoração Contínua a Jesus Sacramentado. Livraria Francisco Alves, 1927

SERMÃO DO QUINTO DOMINGO DA QUARESMA ou DO DOMINGO DA PAIXÃO

 

Fontes Franciscanas
III
SANTO ANTÔNIO DE LISBOA
Volume I
Biografia e Sermões
Livro de 1998
Tradução: Frei Henrique Pinto Rema, OFM


Sermão do Quinto Domingo da Quaresma
ou
do Domingo da Paixão

SUMÁRIO
Evangelho no quinto domingo da Quaresma: Qual de vós me arguira de pecado? Divide-se em sete cláusulas.
Em primeiro lugar, um sermão aos pregadores ou prelados: Armai-vos de fortaleza, filhos de Benjamim.
1 - Um sermão acerca da Paixão de Cristo: Cristo, vindo como Pontíficie.
2 - Um sermão aqueles que ouvem e contra aqueles que não querem ouvir a palavra do Senhor: Levanta-te e desce; e: A quem falarei? e: E eis que eu farei cair.
3 - Um sermão sobre a guarda de Cristo a nosso respeito e sobre a sua paciência no meio das blasfêmias dos judeus: Que vês, tu, Jeremias? e: Ai de mim, minha mãe.
Um sermão sobre a glória e a ruína do primeiro pai: Uma oliveira fecunda.
4 - Um sermão sobre a mortificação do justo: foram dias de vida.
5- Um sermão acerca de Cristo glorificado: É o Pai quem me glorifica
6 - Um sermão para o Natal do Senhor: Naqueie dia sairá uma fonte da casa do Senhor.
Um sermão acerca dos quatro dotes do corpo glorioso: Ao terceiro dia ressuscitar-nos-á e acerca da propriedade do abutre e do grou.
7 - Um sermão contra os ingratos: Porventura lenho eu sido um deserto para Israel?

Exórdio. Sermão aos pregadores ou aos prelados

 1. Qual de vós me arguira de pecado? Se vos digo a verdade, porque não me credes1?
 Aos pregadores fala Jeremias2: Armai-vos de fortaleza, filhos de Benjamim, no meio de Jerusalém e fazei soar a trombeta em Técua e levantai o estandarte em Betacarém. Benjamim interpreta-se filho da direita3; Jerusalém, visão da paz4; Técua, trombeta5; Betacarém, casa estéril6. Armai-vos, portanto, de fortaleza e não temais, ó pregadores, filhos de Benjamim, isto é, da direita, ou seja, da vida eterna7, da qual se escreve nas Parábolas8:Na sua direita está uma larga vida. Armai-vos de fortaleza no meio de Jerusalém. Jerusalém é a Igreja militante, na qual há visão de paz, ou seja, a reconciliação do pecador9. E diz-se bem: no meio. O meio da Igreja é a caridade, que se estende ao amigo e ao inimigo. Para conseguir este meio deve o pregador armar de fortaleza os fiéis da Igreja. E fazei soar a trombeta da pregação em Técua, isto é, entre aqueles que, quando praticam alguma obra boa, como os hipócritas, tocam a trombeta diante de si10 – comprazem-se, como se diz no livro da Sabedoria11, em ter debaixo de si muitas nações –,para que, ao ouvir a trombeta, como diz Jeremias12, exclamem: Ai de nós, Senhor, porque pecamos. E em Betacarém, casa estéril daqueles que são áridos da umidade da graça, estéreis de boas obras, cuja terra, o entendimento, não recebe gota de sangue do corpo de Cristo13, levantai o estandarte da cruz, pregai a Paixão do Filho de Deus, porque chegou o tempo da Paixão, anunciai aos mortos que ressurjam na morte de Jesus Cristo, que afirma às turbas dos Judeus no Evangelho de hoje: Qual de vis me argüirá de pecado?

2.            Observa que neste Evangelho há sete pontos: Primeiro, a inocência de Jesus Cristo, ao dizer: Qual de vós me argüirá? Segundo, a atenta audição da sua palavra, ao juntar: Quem é de Deus ouve as palavras de Deusetc. Terceiro, a blasfêmia dos Judeus: Porventura não dizemos nós bem que tu és Samaritano e tens demônio?Quarto, a glória da vida eterna ao cumpridor da sua palavra: Em verdade, em verdade vos digo, se alguém guardar a minha palavra, não experimentará a morte eternamente. Quinto, a glorificação do Pai: É meu Pai quem me glorifica. Sexto, a alegria de Abraão: Abraão, vosso Pai, exultou ao ver o meu dia. Sétimo, a voluntária lapidação dos Judeus e a ocultação de Jesus Cristo: Pegaram em pedras para lhas atirarem etc14.

Nota ainda que neste domingo e no seguinte se lê Jeremias e se cantam os responsórios: Estes são os dias15, juntamente com os restantes, em que se não diz o Glória ao Pai.
 
I – A inocência de Jesus Cristo
 3. Assim fale o cordeiro inocente, que tirou o pecado do mundo16, que não pecou nem se encontrou engano na sua boca17, que tomou sobre si os pecados de muitos, como diz Isaías18, e intercedeu pelos pecadores.Qual de vós me arguira, isto é, acusará ou convencerá19, de pecado? Certo, ninguém. Como poderia alguém arguir de pecado quem viera perdoar os pecados e dar a vida eterna? Por isso, o Apóstolo refere na Epístola de hoje aos Hebreus20: Cristo intervém como pontífice dos bens futuros etc. Intervir significa ajudar ou obedecer. Cristo interveio, isto é, ajudou-nos21. Donde o Profeta22: Ajudou o pobre a sair da sua miséria. O gênero humano era pobre, porque espoliado dos dons gratuitos, vulnerado nos naturais23; estava sem o recurso e sem o auxílio de ninguém. Veio Cristo: assistiu-lhe, ajudou-o, quando lhe perdoou os pecados. Cristo também obedeceu a Deus Pai até à morte, e morte de cruz24. Nela ofereceu a Deus Pai, em reconciliação do gênero humano, não o sangue de bodes ou bezerros, mas o próprio sangue, para purificar a nossa consciência das obras mortas, para servir a Deus vivo25. Chama-se-lhe Pontífice dos bens futuros26. Pontífice é o que estabelece uma ponte27, para dar passagem aos viandantes28. Havia duas margens, a da mortalidade e a da imortalidade, entre as quais deslizava um rio intransponível, o rio das nossas iniqüidades e misérias. Delas escreve Isaías29: As vossas iniquidades abriram um abismo entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados esconderam de vós a sua face, para não vos ouvir.
 Veio, portanto, Cristo, como Pontífice; fez-se ponte que vai da margem da nossa mortalidade à margem da sua imortalidade. Por ele, como prancha de madeira lançada entre as duas margens, passaríamos a possuir os bens futuros. Esta a razão por que se diz Pontífice dos bens futuros, não dos presentes, que não prometeu aos seus amigos, antes diz: Haveis de ter aflições no mundo30. Cristo, portanto, intervém no perdão dos nossos pecados, como Pontífice dos bens futuros, para nos dar os bens eternos. Quem, portanto, o pode argüir de pecado? Que é o pecado senão a transgressão da Leo divina e a desobediência aos mandamentos celestes31? Quem, pois, o pode argüir de pecado, cuja vontade esteve na lei do Senhor32, que obedeceu, não só ao Pai celeste, mas ainda à Mãe pobrezinha? Qual de vós, portanto, me argüirá de pecado? Se eu vos digo a verdade, porque não me credes33? Não criam na verdade, porque eram filhos do diabo34, que é mentiroso e pai da mesma mentira35, por ele inventada36.
 
II – A audição da palavra de Cristo
 4. Segue o segundo. Quem é de Deus, ouve as palavras de Deus; vós não as ouvis porque não sois de Deus37. Deus, em hebraico, que dizer temor38. É de Deus aquele que teme a Deus; a quem teme a Deus, ouve as suas palavras. Por isso, diz o Senhor por Jeremias39: Levanta-te e desce à casa do oleiro, e ao ouvirás as minhas palavras. Levanta-te aquele que, tomado pelo temor, se arrepende de ter praticado o mal; e desce à casa do oleiro ao reconhecer-se lodo, temendo que o Senhor o quebre como vaso de barro40; e desta forma ouve aí as palavras do Senhor, porque é de Deus, porque teme a Deus. Diz S. Jerônimo41: É grande sinal de predestinação ouvir de bom grado as palavra de Deus e ouvir notícias da pátria celeste, como alguém que gosta de ouvir notícias da pátria terrena. E o contrário é sinal de obstinação. Por isso, ajunta-se: Vós não ouvis porque não sois de Deus, como se dissesse: Não ouvis as suas palavras porque não o temeis. Daí a fala de Jeremias42: A quem falarei eu? A quem conjurarei eu que me ouça? Eis que os seus ouvidos estão incircuncidados e não podem ouvir; eis que a palavra do Senhor se tornou para eles motivo de opróbrio, e não a receberão. E noutra parte refere43: Eis o que diz o Senhor: Farei apodrecer a soberba de Judá, isto é, dos clérigos, e o grande orgulho de Jerusalém, isto é, dos religiosos. Este povo perversíssimo, a saber, o povo dos leigos, não quer ouvir as minhas palavras e anda na maldade do seu coração. Acerca destes escreve ainda noutro sítio44: Engordaram e engrossaram, e transgrediram pervesissimanente os meus preceitos. Não defenderam a causa da viúva. Porventura não hei-de eu punir estes excessos, diz o Senhor? Ou a minha alma não se há-de vingar duma tal gente? E noutra passagem45: Eis que eu farei cair calamidades sobre este ovo, fruto dos seus desígnios, porque não ouviram as minhas palavras e rejeitaram a minha lei. Para que me trazeis vós incenso de Sabá e cana de suave cheiro de terra longínqua? Os vossos holocaustos não me são agradáveis, nem as vossas vítimas me agradaram, diz o Senhor.
 Sabá interpreta-se rede ou cativa. O incenso designa a oração46; a cana, a confissão do crime ou do louvor. Quem não ouve as palavras de Deus e não conhece a sua lei, que é a caridade, porque o amor é a plenitude da lei47, queima baldadamente o incenso da oração. O incenso vem de Sabá, vaidade do mundo. A vaidade retém o homem enredado e cativo. Traz ao Senhor ainda a cana da confissão, que é de suave cheiro, se for feita em caridade; trá-la de terra longínqua, isto é, da imundície do espírito, que separa o homem de Deus. Os vossos holocaustos, isto é, as vossas abstinências, não me são agradáveis; e as vítimas, isto é, as vossas esmolas,não me agradaram, diz o Senhor, porque lançastes fora a caridade. Que mais? Todas as nossas obras são inúteis para a vida eterna se não são condimentadas com o bálsamo da caridade.
 
III – A blasfêmia dos Judeus contra Cristo
 5. Segue o terceiro: Responderam os judeus e disseram-lhe: Não dizemos nós com razão que tu és um samaritano e que tens demônio? Jesus respondeu: Eu não tenho demônio, mas honro o meu Pai, e vós a mim desonrastes-me. E eu não busco a minha glória; há quem a busque e quem fará justiça48. Os samaritanos, transferidos pelos Assírios, adotaram em parte o rito dos Israelitas e em parte o rito dos gentios49 Os judeus não mantinham relações com eles50, por os reputarem impuros, por isso, a quem queriam insultar chamavam samaritano. Samaritanos interpretam-se guardas, por terem sido colocados pelos babilônios na guarda dos Judeus51. Dizem portanto: Não dizemos nós com razão que tu és um samaritano? Isto aceita o Senhor sem o negar, porque é guarda52. Não dorme nem dormita quem guarda a Israel53 e vigia sobre o seu rebanho54. Daí a afirmação do Senhor a Jeremias55: Que vês tu, Jeremias? E ele disse: uma vara vigilante, ou segundo outra tradução, uma vara de nogueira ou de amendoeira56, estou eu a ver. E disse-me o Senhor: Viste bem, e eu vigiarei sobre a minha palavra para a realizar.A vara, assim chamada de virtude ou verdura ou porque com ela os homens governam57, significa Jesus Cristo58, virtude de Deus59; plantada junto do curso das águas, isto é, junto da abundância das graças60, permanece verde, ou seja, imune de todo o pecado61. Ele de si próprio diz em S. Lucas62: Se fazem isto no lenho verde, que acontecerá no seco? A ele disse o Pai: Governa-os com vara de ferro63, isto é, com justiça inflexível64. Esta vara vigiou sobre a sua palavra para a realizar, porque mostrou com fatos o que pregou de palavra. Vigia sobre a sua palavra quem pratica o que prega por palavra.
 6. Ou então, Cristo chama-se vara vigilante, porque assim como o ladrão, desperto durante a noite, rouba objetos da casa dos qie dormem com uma vara munida de gancho, também Cristo, com a vara da sua humanidade e o gancho da santa Cruz roubou as almas ao diabo65. Por isso, disse: Quando for exaltado da terra, tudo atrairei a mim66, com o gancho da santa Cruz. De fato, o dia do Senhor virá como o ladrão durante a noite67. E no Apocalipse68 diz: Se não vigiares, virei a ti como o ladrão.
 Igualmente se chama Cisto vara de nogueira ou de amendoeira. Nota que na nogueira ou na amendoeira a amêndoa é doce, o caroço rijo, a casca amarga69. A amêndoa doce designa a divindade de Cristo; o caroço rijo, a alma; a casca amarga, a carne, que suportou a amargura da Paixão70. Vigiou sobre a palavra do Pai, que é chamada sua, porque faz um só com o Pai, para a realizar. Daí o dizer: Como o Pai me mandou, assim o faço71. portanto, não tenho demônio, porque cumpro as ordens do Pai. Por conseguinte, blasfemam em verdade os falsos judeus: Tens demônio. Desta blasfêmia contra a pessoa de Cristo refere Jeremias72: Ai de mim, minha mãe! Porque me geraste homem de rixa e de discórdia em toda a terra? Nunca lhes dei dinheiro a usura, nem a mim mo deu ninguém; todos me amaldiçoam, diz o Senhor.
 Nota que há um duplo ai: o da culpa e o da pena. Cristo teve o ai da pena, mas não o da culpa. Ai, portanto, de mm, minha mãe! Porque me geraste para tamanha pena homem de rixa e homem de discórdia? Rixa é o que se comente entre muitos73. Por isso, rixoso quer dizer ricto canino, porque sempre pronto a contradizer74. A discórdia quer dizer coração diverso. Discordar é possuir um coração diverso. Assim entre os judeus havia rixa por causa das palavra de Cristo. Com efeito, os judeus estavam sempre prontos a ladrar e a contradizer como se foram cães. Tinham opiniões diferentes. Alguns efetivamente diziam: é bom; outros, pelo contrário: Não é, mas seduz as multidões75. Nunca dei dinheiro a usura, nem a mim mo deu ninguém. Usurário chama-se não só o que empresta mas também o que recebe76. Cristo, portanto, não deu dinheiro a usura, porque não encontrou dentre os judeus a quem emprestasse o dinheiro da sua doutrina. E não lhe deu ninguém dinheiro a usura, porque não quiseram multiplicar com boas obras a moeda da doutrina77, antes todos o amaldiçoavam dizendo:És samaritano e tens demônio. Respondeu Jesus: Eu não tenho demônio. Refuta a calúnia, mas, paciente, não retorna a injúria. Honro o meu Pai, dando-lhe a honra devida78, atribuindo-lhe tudo79, e vós desonrastes-me.Por isso, na pessoa de Cristo diz Jeremias nos Trenos80: Estou feito objeto de escárnio para o meu povo ao longo de todo o dia. E noutro lugar81: Oferecerá a face a quem lhe bater, será saturado de opróbrios. Eu, porém, não procuro a minha glória, como os homens, que às afrontas sofridas retribuem com afrontas, mas reservo-a ao Pai. Donde ajuntar: Há quem a procure e quem faça justiça82. É o que diz em Jeremias83: Mas tu, Senhor dos exércitos, que julgas segundo a equidade e que sondas os afetos e os corações, faz que eu veja as vinganças que deles tomarás.
 E nota que há duplo juízo: um de condenação, do qual se escreve: O Pai não julga ninguém, mas confiou todo o juízo ao Filho84; outro de separação. Dele diz o Filho no Intróito da missa de hoje: Julga-,e, ó Deus, e separa a minha causa de uma gente não santa85 etc. É ainda neste sentido que ele diz: É o Pai quem procura a minha glória e separa a minha glória da vossa. Vós gloriais-vos segundo o século, não eu; a minha glória é aquela que tive junto do Pai antes que o mundo existisse, diferente do orgulho dos homens86.
 7. Sentido moral. Tens demônio. Demônio, do grego daimonion, quer dizer perito e conhecedor de fatos87. O vocábulo grego daimon88 significa muito ciente. Quando, portanto, alguém, por adulação ou aplauso, te diz: És perito e sabes muito, diz-te: Tens demônio. E tu imediatamente deves responder com Cristo: Eu não tenho demônio. De mim mesmo nada sei, nada tenho de bom, mas honro o meu Pai. A ele atribuo tudo; a ele dou graças; dele provém toda a sabedoria, toda a perícia e ciência. Eu não busco a minha glória. Diz com S. Bernardo89: Não me toques, palavra de vanglória, pois é só devida a glória a quem se reza: Glória ao Pai e ai Filho e ao Espírito Santo. Diz igualmente: O anjo, no céu, não busca do anjo a glória; e o homem, na terra, deseja ser louvado pelo homem90.
 
IV – Glória eterna para o servidor da palavra de Cristo
 8. Segue o quarto: Em verdade, em verdade vos digo: quem guardar a minha palavra, não verá a morte eternamente. Disseram-lhe, pois, os judeus: Agora reconhecemos que tens demônio. Abraão morreu e os Profetas, e tu dizes: Quem guarda a minha palavra não verá a morte eternamente. Porventura és maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? E os Profetas morreram. Que pretendes tu ser? Respondeu Jesus: Se eu me glorifico a mim mesmo, não é nada a minha glória91. Ámen significa: verdadeiramente, fielmente, ou faça-se. É vocábulo hebraico como aleluia. E assim como no céu S. João ouviu ámen e aleluia, conforme refere no Apocalipse92, assim na terra estas duas palavras foram entregues pelos Apóstolos para serem pronunciadas por todos os povos93: Em verdade, em verdade vos digo: quem guardar a minha palavra, não verá a morte eternamente. Morte vem da mordedura do primeiro homem, porque ao morder o pomo da árvore proibida incorreu na morte. Se tivesse guardado a palavra do Senhor: Come de toda a árvore do paraíso, mas não comas da árvore da ciência do bem e do mal94, não teria experimentado a morte eternamente; mas porque não a guardou, experimentou a morte e pereceu juntamente com toda a sua posteridade. Daí a fala de Jeremias95: O Senhor pôs-te o nome de oliveira fecunda, formosa, fértil, vistosa; à voz da sua palavra grandíloqua, acendeu-se nela o fogo e queimaram-se os seus ramos.
 A natureza humana antes do pecado foi oliveira na criação e criada no campo damasceno96, mas plantada, por assim dizer, no paraíso de delícias; fecunda nos dons gratuitos, formosa nos naturais, fértil no gozo da eterna felicidade, vistosa na sua pureza. Mas ai! à voz da sua palavra grandíloqua, isto é, da sugestão diabólica a prometer grandes coisas: Sereis como deuses97, acendeu-se nela o fogo da vanglória e da avareza e desta forma foram queimados os seus ramos, ou seja, toda a sua posteridade. Ó filho de Adão, não imiteis os vossos pais, que não guardaram a palavra do Senhor, e por isso pereceram, mas guardai-a: Em verdade, em verdade vos digo que se guardardes a minha palavra, não vereis a morte eternamente. Ver, neste lugar, é o mesmo que experimentar98.
 9. Segue. Disseram, pois, os judeus: Agora reconhecemos que tens demônio. Ó desatino de espírito imbecil! Ó perfídia de gente demoníaca! Não vos basta uma vez só blasfemar do inocente, imune de todo o pecado, de modo tão horrível, com ultraje tão ignominioso, senão que repetis segunda vez: Agora reconhecemos que tens demônio. Ó cegos, se conhecêsseis que ele não tinha demônio, mas crêsseis no Senhor Filho de Deus!
 Abraão morreu, não com aquela morte que o Senhor disse99, mas de morte corporal, da qual se escreve no Gênesis100: Foram os dias de Abraão cento e setenta e cinco anos; e faltando-lhe as forças, morreu numa ditosa velhice e em avançada idade e cheio de dias; e foi unir-se ao seu povo. E Isaac e Ismael, seus filhos, sepultaram-no na dupla caverna.
10. Sentido moral. Abraão significa o justo, cuja vida deve constar de cento e setenta e cinco anos. O número centenário, número perfeito, designa toda a perfeição do justo101; o septuagenário, que consta de sete e de dez, a infusão da graça septiforme e o cumprimento do decálogo102; no quinário, a vida limpa dos cinco sentidos103. Portanto, a vida do justo deve ser perfeita pela infusão da graça septiforme e pelo cumprimento do decálogo e pelo porte limpo dos cinco sentidos; e desta maneira abandonará o amor mundano e morrerá para o pecado, cheio, não vazio, de dias e reunido ao seu povo. Deste diz o Senhor em Isaías104: Os dias do meu povo serão como dias da árvore, isto é, de Jesus Cristo105, porque assim como ele viverá eternamente, também o meu povo viverá e reinará com ele sempiternamente106. Daí a palavra do Evangelho: Eu vivo, e vós vivereis107.
 E Isaa e Ismael, seus filhos, sepultaram-no na dupla caverna. Isaac interpreta-se gozo108, Ismael interpreta-se audição de Deus109. O gozo da esperança dos bens celestes e a audição dos divinos preceitos sepultam o justo na dupla caverna da vida ativa e contemplativa110, a fim de que, escondido da perturbação dos homens no secreto da face do Senhor, se proteja das línguas maldizentes111. Destas ainda se ajunta: Que pretendes tu ser? Segundo eles, pretendia passar por Filho de Deus, igual a Deus, como se o não fosse. Mas não se fazia: era-o verdadeiramente. Donde a afirmação do Apóstolo112: Não considerou ser rapina ao fazer-se igual a Deus.Por isso, não diziam: Que és, mas: Que pretendes tu ser? Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada. Contra o que dizem: Que pretendes tu ser?, refere a sua glória ao Pai. Dele é que tira o ser Deus113.
 
V – Cristo a glorificar pelo Pai
 11. Segue o quinto: É o Pai quem me glorifica, aquele que vós dizeis ser o vosso Deus; mas vós não o conhecestes; eu, porém, conheço-o; e se disser que o não conheço, serei mentiroso como vós. Mas eu conheço-o e guardo a sua palavra114. Nota que o Pai glorificou o seu Filho no nascimento, ao fazê-lo nascer duma Virgem; no rio Jordão e num monte115, quando disse: Este é o meu filho amado116. Glorificou-o ainda na ressuscitação de Lázaro, na Ressurreição e na Ascensão. Por isso, disse em S. João117: Pai, glorifica o teu nome. Veio, pois, uma voz do céu, dizendo: E glorifiquei-o, na ressurreição de Lázaro; e de novo o glorificareina Ressurreição e na Ascensão118. É, pois, o Pai quem me glorifica, o qual vós dizeis ser o vosso Deus. Aqui está abertamente um testemunho contra os hereges119, que afirmam ter sido dada a Lei a Moisés pelo deus das trevas. Mas o Deus dos judeus, que deu a Lei a Moisés, é o Pai de Jesus Cristo; portanto, o Pai de Jesus Cristo deu a Lei a Moisés120. E vós não o conheceis espiritualmente, quando servis os bens terrenos121. Eu, porém, conheço-o, porque sou um com ele. E se disser que não o conheço, quando o conheço122, serei mentiroso como vós, que dizíeis conhecê-lo, quando não o conheceis123. Mas eu conheço-o e guardo a sua palavra.Como Filho, exprimia a palavra do Pai; e ele mesmo era a Palavra do Pai, Ele que fala aos homens124. Guarda-se a si mesmo, isto é, guarda a divindade em si.
 
VI – A alegria de Abraão
 12. Segue o sexto. O vosso pai Abraão suspirou por ver o meu dia; viu-o e ficou cheio de gozo. Disseram-lhe, por isso, os Judeus: Tu ainda não tens cinqüenta anos e viste Abraão? Disse-lhe Jesus: Em verdade, em verdade vos digo, antes que Abraão fosse feito, eu sou125. Nota as três palavras: suspirou, viu e alegrou-se.Nota ainda que é triplo do dia do Senhor: o do Natal, o da Paixão e o da Ressurreição. Sobre o primeiro escreve Joel126: Naquele dia sairá uma fonte da casa do Senhor e irrigará uma torrente de espinhos. No dia de Natal, uma fonte, isto é, Cristo, sairá da casa de David, isto é, do útero da Santíssima Virgem, e irrigará uma torrente de espinhos, isto é, refrigerará a abundância das nossas misérias, com que todos os dias somos atormentados e feridos.
 Acerca do segundo, diz Isaías127: Meditou no seu espírito duro, para o dia da ardência. No dia da Paixão, em que o Senhor suportou a ardência128 dos trabalhos e da dor no seu espírito duro, enquanto pendia na cruz, meditou no modo de condenar o diabo e libertar de suas mãos o gênero humano.
 A respeito do terceiro, diz Oséias129: Ao terceiro dia ressuscitará, e nós viveremos na sua presença: entraremos na ciência do Senhor e o seguiremos a fim de o conhecer. Ao terceiro dia, Cristo, ressurgindo dos mortos, ressuscitou-nos juntamente com ele130, isto é, conformes com a sua ressurreição131, porque assim como ele ressuscitou, também nós acreditamos que havemos de ressuscitar na ressurreição geral132. E entãoviveremos, entraremos na sua ciência e o seguiremos, a fim de o conhecer. Nestes quatro verbos entendemos os quatro dotes do corpo glorioso: viveremos: eis a imortalidade; entraremos na sua ciência: eis a sutileza; o seguiremos: eis a agilidade; a fim e conhecermos o Senhor: eis a claridade.
 Abraão, pois, isto é, o justo, exulta no dia do nascimento do Verbo Encarnado; com a visão da fé, vê-o suspenso no patíbulo da cruz; com ele, já imortal, gozará no reino celeste.
 Disseram-lhe os judeus, olhando nele só para a idade da carne, sem considerar a natureza divina133: Ainda não tens cinqüenta anos e viste Abraão? Com trinta e um ou talvez trinta e dois anos, pro causa do demasiado trabalho e instância da pregação, o Senhor parecia ser mais velho. Disse-lhes Jesus: Antes que Abrão fosse feito, eu sou. Não disse: fosse. Mas: fosse feito, porque criatura; não disse, feito, mas: sou, porque criador134.
 
VII – A ocultação de Jesus dos Judeus que o queriam lapidar
 13. Segue o sétimo: Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus encobriu-se, e saiu do templo135. Os apedrejadores recorrem a pedras para lapidar a pedra angular. Em si juntou as duas paredes136: o povo judaico e o povo gentio, que vinham de parte contrária. Os judeus, imitadores da malícia de seus antepassados, quiseram lapidar o Senhor dos profetas. Seus pais apedrejaram o profeta Jeremias no Egito137. Por isso, diz-lhes o Senhor em S. Mateus138: Sois filhos daqueles que mataram os profetas, e vós enchei a medida dos vosso pais.

14. Sentido moral. Os falsos cristãos, filhos estranhos, filhos do diabo, que mentiram ao Senhor, violando o pacto feito no Batismo, apedrejam todos os dias, quanto deles depende, com as duras pedras dos seus pecados, o seu pai e Senhor Jesus Cristo, do qual tiraram o nome de cristãos139, e se esforçam por matá-lo, por matar a fé nele. Assemelham-se aos filhos do abutre, que deixam o pai morrer de fome. Não são como os filhos do grou, que se expõem à morte pelo pai, quando o abutre lhes persegue o pai; já envelhecido, alimentam-no140, por já não poder caçar. O nosso pai, como pai faminto, bate à porta, para que lha abramos e lhe demos, se não uma ceia, ao menos um bocado de pão. Eu, diz no Apocalipse141, estou à porta e bato; se alguém me abrir, entrarei na casa dele e cearei com ele e ele comigo. Nós, porém, filhos degenerados, como os do abutre, deixamos morrer de fome o nosso pai. Por isso, ele queixa-se de nós por boca de Jeremias142:Porventura tenho eu sido para Israel um deserto ou terra de trevas? Porque disse, pois, o meu povo: Nós nos retiramos, não tornaremos mais a ti? Porventura esquecer-se-á a donzela do seu ornato, ou a esposa da faixa que lhe cinge o peito? Mas o meu povo esqueceu-se de mim durante dias sem número. O Senhor não é deserto ou terra de trevas, que não dão fruto algum ou dão pouco fruto, mas é paraíso de delícias e terá de bênção, na qual recebemos o cêntuplo de tudo o que tivermos semeado.
 Qual a razão, pois, por que, miseráveis, nos afastamos dele e dele nos esquecemos por tão longo tempo? Mas a alma, esposa de Cristo, donzela pela fé e pela caridade, não pode esquecer-se do seu ornato, isto é, do amor divino, de que anda adornada, e da faixa que lhe cinge o peito, ou seja, da consciência pura, sob a qual vive segura.
 Sejamos, por favor, irmãos caríssimos, como os filhos do grou, a fim de que, se for necessário, afrontemos a morte pelo nosso pai, isto é, pela fé do nosso pai, e restauremos, com boas obras, este mundo, já envelhecido e que depressa cairá na ruína, para que não nos suceda o que se ajunta: Jesus, porém, encobriu-se e saiu do templo. E, por esta causa, dede o presente domingo, que se intitula Paixão do Senhor, nos responsórios não se diz Glória ao Pai. Todavia, não há completo silêncio, porque o Senhor ainda não fora entregue nas mãos dos lanistas143.
 Roguemos, portanto, e com lágrimas peçamos ao Senhor Jesus Cristo que não nos encubra a sua face e não saia do templo do nosso coração, e não nos argua de pecado no seu juízo; antes nos infunda a sua graça, para que diligentemente ouçamos a sua palavra; nos conceda paciência na injúria sofrida; nos livre da morte eterna; nos glorifique no seu reino, a fim de merecermos ver o dia da sua eternidade juntamente com Abraão, Isaac e Jacob. Ajude-nos ele mesmo, ao qual é devida honra e poder, decoro e império pelos séculos eternos. Diga toda a Igreja: Assim seja.

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1.Jo 8, 46 (Vg... dico vobis...).
2.Jer 6, 1 (Vg. muda)
3.Gen 35, 18.
4.Glo. Ord., Is 1, 1.
5.Glo. Int., Jer 1 c.
6.Betacarém interpreta-se “quinta da vinha” (Glo. Int., ibidem); outro étimo, o hebraico, dá-lhe o significado de “casa estéril”.
7.Cf. Glo. Ord., Prov 3, 16.
8.Prov 3, 16
9.Cf. Glo. Ord., Is 1, 1.
10.Cf. Mt 6, 2.
11.Cf. Sab 6, 3.
12.Cf. Lam 5, 16.
13.Cf. Lc 22, 44.
14.Cf. Jo 8, 46-49.
15.Breviário Romano, Domingo da Paixão, a Matinas, 1º responsório.
16.Cf. Jo 1, 29.
17.1Ped 2, 22 e Is 53, 9.
18.Is 53, 12 (Vg. Et ipse peccata...).
19.Cf. ISID., Diff. I, 19, PL 83, 12; cf. CÍCERO, Mur. 67. St. Antônio deve ter-se servido diretamente de Papias.
20.Heb 9, 11.
21.Cf. Glo. Int., ibidem.
22.Sl 106, 41.
23.Cf. p. lomb., Sent. II, dist. 25, 7, p. 432. “Antes dos escolásticos, o santo de Pádua usava a célebre fórmula que sintetiza os efeitos do pecado original”. Isto é o que escreveu DIOMEDE SCARAMUZZI, La figura intellecttuale di s. Antonio di Padova, Roma 1943, PP. 159 nota.
24.Fil 2, 8.
25.Cf. Heb 9, 13-14.
26.Heb 9, 11.
27.Cf. VARRÃO, De língua latina, IV; BERN., De moribus et officio Episcoporum, 3, 10, PL 182, 817. St. Antônio terá utilizado, ou VARRÃO (o original) ou florilégios, por exemplo, o texto de Pápias, que não propriamente São Bernardo, na opinião de ANNA BURLANI CALAPAJ, Le citazioni di s. Bernardo, in Actas 1981, p. 218.
28.ISID., Etym. VIII, 12, 13, PL 82, 291. Mas St. Antônio utilizou aqui diretamente o Vocabularium Latinum de PAPIAS.
29.Is 59, 2.
30.Jo 16, 33.
31.Esta é a definição de pecado, já lida em ST. AMBRÓSIO, De paradiso 8, 39, PL 14, 309; cf. P. LOMB., Sent. II, dist. 35, 1, p. 492.
32.Cf. Sl 1, 2.
33.Jô 8, 46.
34.Cf. Glo. Int., Jo 8, 46.
35.Jo 8, 44 (Vg. quia...).
36.Glo. Ord., ibidem.
37.Jo 8, 47.
38.Cf. ISID., Etym. VII, 1, 5, PL 82, 259-260: “Deus graece Théos dicitar, quase déos, idest Timor”. GUSTAVO CANTINI, De fontibus sermonum S. Antonii qui in editione Locatelli continentur, em Antonianum (Roma), 1931, p. 348, nota, afirma ser ela certametne uma leitura defeituosa. Propõe: “Deus, em hebraico Eloim, quer dizer temor”.
39.Jer 18, 2.
40.f. Sl 2, 9.
41.Os Editores não conseguiram identificar esta citação de São Jerônimo.
42.Jer 6, 10.
43.Jer 13, 9-10.
44.Jer 5, 27-29.
45.Jer 6, 19-21.
46.Cf. Glo. Ord. e Int., Is 60, 6.
47.Cf. Rom 13, 10.
48.Jo 8, 48-50 (V. ajunta, muda).
49.Cf. 4Reis 17, 24; 33, 41.
50.Cf. Jo 4, 9.
51.Cf. ISID., Etym. IX, 2, 54, PL 82, 333.
52.Glo. Int., Jo 8, 48.
53.Cf. Sl 120, 4.
54.Cf. Lc 2, 8.
55.Jer 1, 11-12 (V. muda).
56.Cf. Glo. Ord. e Int., Jer 1, 11. St. Antônio pensa ainda em São Jerônimo, aliás inspirador do Autor da Glossa.
57.Cf. ISID., Etym. XVII, 6, 18, PL 82, 608.
58.Cf. Glo. Ord., Jer 1 c.
59.Cf. 1Cor 1, 24.
60.Cf. Sl 1, 3 e Glo. Ord., ibi.
61.Cf. Glo. Ord., Lc 23, 31.
62.Lc 23, 31 (Vg... haec faciunt...).
63.Sl 2, 9.
64.Glo. Int., ibidem.
65.Cf. Glo. Int., Ex 7, 9-10.
66.Jo 12, 32.
67.Cf. 1Tess 5, 2.
68.Ap 3, 3 (Vg. Si ergo non...).
69.Cf. Glo. Ord., Jer 1, 11.
70.Cf. AGOST., Sermo 245 (por suposições) 5, PL 39, 2189; Glo. Int., Cant 6, 10.
71.Jo 14, 31.
72.Jer 15, 10-11.
73.ISID., Diff. I, 346, PL 83, 46.
74.ISID., Etym. X, 239, PL 82, 392.
75.Cf. Jo 7, 12.
76.ISID., Etym. X, 97, PL 82, 377.
77.Cf. Glo. Ord., Jer 15, 10.
78.Glo. Int., Jo 8, 49.
79.Glo. Ord., ibidem.
80.Lam 3, 14 (Vg. ajunta).
81.Lam 3, 30.
82.Glo. Ord., Jo 8, 50.
83.Jer 11, 20.
84.Jo 5, 22 (Vg. Neque enim Pater iudicat...).
85.Sl 42, 1.
86.Glo. Ord., Jo 8, 50.
87.ISID., Etym. VIII, 11, 15, PL 82, 315; cf. LACTÂNCIO, Institutiones, II, 15, PL 6, 331.
88.O primeiro significado de daimónion é divindade. Daimon pode traduzir-se por deus, destino, sorte, felicidade. Há quem lhe vá buscar a raiz ao verbo daio, repartir; para outros virá de daénai, saber. Esta é a origem seguida por St. Antônio, que foi colher ao Vocabularium Latinum de PAPIAS.
89.Cf. BERN., In festo omnium sanctorum, sermo 5, 7, PL 183, 479.
90.BERN., In Nativitate B. V. Mariae, 14, PL 183, 445.
91.Jo 8, 51-54 (Vg. muda).
92.Cf. Ap 19, 1. 3-4.
93.Cf. ISID., Etym. VI, 19, 20-21, PL 82, 253-254.
94.Gen 16-17.
95.Jer 11, 16 (Vg. muda).
96.Cf. Is 17, 1. CRISTIANO ADRICÔNIO diz-nos o seguinte sobre o campo damasceno: “Hic asserunt Adam a Deo plasmatum et hinc translatum in paradisum terrestrem, atque inde rursus ejectum peccato, quo se et nos omnes perdidit, huc relatum. Distat autem spatio quantum arcus jacit Ebron: ager u que adeo fertilis et speciosus, ut aliqui paradisum terrestrem intelligi hic debere crediderent. Habet terram rubram et mire tractabilem, quam Saraceni deferunt in Aegiptum, Indiam, Aethiopiam, care vendentes. Ferunt autem foveas revoluto anno adimpleri, habeturque; fama constanti terram hanc talis esse virtutis, ut eam gestantibus nulla incommoda noceant, unde et aliqui abuntuntur in varuas superstitiones”. Cf.Theatrum Terrae Sancte et biblicarum historiarum, Coloniae Agrippinae 1682, p. 45.
97.Gen 3, 5.
98.Glo. Ord., Jo 8, 51.
99.Glo. Int., Jo 8, 52.
100.Gen 25, 7-9 (Vg. ajunta).
101.Cf. Glo. Ord. e Int., Lc 8, 8.
102.Cf. GREG., Moralium XXXV, 16, 42, PL 76, 773.
103.Cf. GREG., In Ez II, hom 5, 5, PL 76, 987.
104.Is 65, 22.
105.Glo. Ord.¸ibidem.
106.Cf. Glo. Ord., ibi.
107.Jo 14, 19.
108.Glo. Int., Gen 21, 3.
109.Glo. Int., Gen 21, 11.
110.Glo. Int., Gen 25, 9.
111.Cf. Sl 30, 21.
112.Fil 2, 6 (Vg... esse se...).
113.Glo. Ord., Jo 8, 53-54.
114.Jo 8, 54-55 (Vg. Est Pater meus...).
115.Cf. Glo. Ord., Jo 8, 54.
116.Mt 3, 17/ 17, 5.
117.Jo 12, 28 e Glo. Int., ibi.
118.Glo. Int., ibidem.
119.O Santo alude aqui à falsa teoria dos cátaros. Renovando no século XII o dualismo maniqueu, ensinavam que o Autor do Velho Testamento foi um princípio mau, o qual é ainda o “príncipe deste mundo”, enquanto o Novo Testamento tem por Autor o Deus bom. Contra estes tais, o Doutor Evangélico prova que é um e o mesmo o Deus do Velho e do Novo Testamento. Cf. DIOMEDE SCARAMUZZI, La figura intellettuale di s. Antonio di Padova, p. 170, nota 3.
120.Cf. Glo. Ord., Jo 8, 54; AGOST., In Joannis evangelium tractatus 44, 5, PL 35, 1711.
121.Glo. Ord., Jo 8, 55.
122.Glo. Int., ibidem.
123.Glo. Int., ibidem.
124.Glo. Int., ibidem.
125.Jo 8, 56-58 (Vg. junta, omite).
126.Joel 3, 18 (Vg. ajuda, muda).
127.Is 27, 8.
128.Cf. Glo. Ord., ibidem.
129.Os 6, 3.
130.Glo. Int., ibidem.
131.Cf. Glo. Ord., ibidem.
132.Glo. Ord., ibidem.
133.Glo. Int., Jo 8, 57.
134.Jo 8, 59.
135.Jo 8, 59.
136.Cf. AGOST., De Scripturis sermo 4, 17, 18, PL 38, 42.
137.Cf. Heb 11, 37; P. COMESTOR, Historia Scholastica, Liber Tobiae, 3, PL 198, 1440.
138.Mt 23, 31-32.
139.ISID., Etym. VIII, 14, 1, PL 82, 294.
140.O que se refere aqui da cegonha aparece em ARIST., De hist. an., IX, 13, 615b23-27;ISID., Etym. XII, 7, 17, PL 82, 461; SOLINO, Polyhistor, 53 e AMB., Hexameron, V, 15, 55, PL 14, 243.
141.Ap 3, 20 (Vg. ajunta).
142.Jer 2, 31-32 (Vg. ajunta, muda).
143.Em sentido próprio, o vocábulo latino lanista significa mestre ou chefe de gladiadores. No presente contexto assume o sentido de malfeitor.