Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
livro de 1943
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)
DIA 18
DIA 18
6º sofrimento — Incerteza do
tempo a sofrer no purgatório
«Um homem, diz o padre
Felix, gemia, há tempos, numa prisão célebre. Certo dia, cansado de sofrer,
concebeu a ideia de livrar-se. Nessa época existia uma senhora de alto
valimento que podia bastante para quebrar as algemas do preso e pôr termo a
seus sofrimentos.
Eis aqui, reza a história,
em que termos eloquentes o mísero lhe dirigiu sua súplica; «Senhora, a 25 do
corrente de 1760, faz cem mil horas que eu peno, e ainda me restam duzentas mil
a sofrer.» Não sei que despacho teve esta petição. O coração desta mulher teve
a dureza de resistir a esta eloquência? Não sei, mas parece-me impossível dizer
mais em tão poucas palavras! Há cem mil horas que sofro, tenho ainda que sofrer
duzentas mil!… Há cem mil horas… Portanto, ele as tinha contado?! Sim, como vós
podeis contar, uma a uma, as pancadas de um relógio durante uma noite longa e
triste em que o sofrimento vos faz perder o sono. Ora, se é assim com os presos
da terra, que dizer desses encarcerados do mundo invisível (o Purgatório)? Quem
nos dirá o que é para esses padecentes de além mundo a passagem de seu prazo de
tormento? A duração para nós não é o tempo que passa, é o que sentimos passar;
e a lentidão dessa passagem cresce para os que sofrem, na proporção de sua angústia.
É isto o que, em relação às almas do Purgatório, dá a extensão de longos dias
aos minutos, a de anos inteiros aos dias, e aos anos a de séculos que parece
nunca se acabarem!
Um Religioso, aparecendo,
depois de morto, a um de seus Irmãos, lhe revelou que três dias passados no
Purgatório lhe haviam parecido mais longos do que centenas de anos. Outro,
havendo experimentado numa visão o suplício do Purgatório, desde as matinas
somente até a aurora, persuadiu-se de que sofria há mais de um século. Um
homem, que fazia desprezo das penas do Purgatório, viu aparecerem-lhe dois moços
que rapidamente o transportaram a esse triste lugar; depois de um quarto de
hora de sofrimento, ele já clamava: «Retirai-me, retirai-me, há tanto tempo
que eu sofro.» Assim os encarcerados do Purgatório, muito mais do que os
presos da terra, contam essas horas intermináveis que tanto custam a passar e
que o suplício parece tornar eternas!
Se, ao menos, soubessem
essas almas a hora do resgate, poderiam dizer: depois de tantos mil e mil
minutos, meu suplício terminará e eu subirei ao Céu! — Mas não. Sabem
perfeitamente — e é tal a esperança e o amor de Deus, vivo e ardente em seus
corações, que, dizem os teólogos, distinguem o Purgatório do Inferno — sabem
com certeza que há de soar a hora do seu livramento; mas quando soará essa hora
suspirada?
Ignoram-no, e até o momento
marcado por Deus, parece-lhes ouvir cada vez que perguntam: Quando será? uma
voz terrível que lhes responde: Ainda não! Ainda há muito que expiar!
Este pensamento deve atuar
em nós para continuarmos sempre em nossas orações pelos mortos. «Eu temo, diz
S. Francisco de Sales, temo do bom conceito que meus amigos têm feito de mim;
entendendo que eu já estou no Céu, sem querer me deixarão ficar no
Purgatório.»
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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia
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