SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943
9.A MORTE DE SÃO JOSÉ
9.A MORTE DE SÃO JOSÉ
A
tranquila ventura dessa vida em Nazaré foi interrompida pelo falecimento de São
José. Nada sabemos de certo sobre as circunstâncias dessa morte. Parece que
José já deixara esta terra quando o Salvador, na idade de cerca de trinta anos,
principiou a sua vida pública. Não o achamos entre os convidados das bodas de
Caná. É que provavelmente já havia morrido, do contrário seria mencionado com Jesus
e Maria. Não está também entre os que, no Calvário, rodeiam o Salvador
crucificado; do contrário, não teria Jesus confiado Maria aos cuidados de São
João. Pode-se admitir que José morreu quando o Homem-Deus, chegado à idade adulta,
ficou em condições de cuidar de si mesmo e de sua Mãe.
Não
foi, por conseguinte, o Santo testemunha das maravilhas da vida pública de Jesus.
Apenas pôde imaginá-la de acordo com as profecias ou, talvez, também, através
das revelações que o Salvador foi servido fazer-lhe.
Assim
como outrora Moisés, na montanha, saudou de longe a Terra Prometida sem nela
poder entrar, assim também José entreviu no futuro as glórias de Jesus. Tal
como, em breve, São João Batista, o precursor, deveria desaparecer diante do
Messias, assim também José, no plano de Deus, devia retirar-se depois de
cumprida a sua missão de pai de criação do Salvador, de protetor da santa
infância. Por outro lado, após as glórias do apostolado do seu bem-amado Jesus,
quanto não teria sofrido o coração de José com as perseguições suscitadas pelos
judeus, com o ódio dos fariseus, com a cruenta tragédia do Calvário!
Ignoramos
tanto a época como o lugar da morte de São José, e as circunstâncias que o
acompanharam. Teve ele, como Jesus e Maria, o privilégio de ser isento dos
incômodos da doença, de estar sujeito somente aos males da natureza humana
tomados em geral, como a fadiga, a morte, etc.? Quem o dirá? Geralmente se
admite que sua morte causa da pela doença, mas sobretudo pelo ardor do seu amor
a Jesus, a seu Deus.
Como
vimos, os laços que uniam José ao Verbo Encarnado eram de natureza especial. A
intimidade que deles resultava permitia àquele coração inocente, generoso e fiel
compreender lições que Ele aproveitava tão bem para progredir maravilhosamente
em todas as virtudes e, particularmente, na caridade.
Para
nos servirmos de comparações empregadas pela Sagrada Escritura, São José era em
verdade a palmeira plantada nos átrios do Senhor, o cipreste que cresce no
monte Sião, a árvore que cresce à beira das águas da vida eterna e haure a vida
na própria fonte divina.
Aliás,
Deus é grato. Se o Salvador recompensou magnificamente os pastores, os Reis
Magos, Simeão, Ana e outros mais, por terem sabido honrá-lo quando, por alguns
instantes rapidíssimos, os favoreceu com a sua presença, como não recompensaria
São José que, durante tantos anos, viveu na sua intimidade? Quando o Senhor
considera como feita a si mesmo a menor das coisas que empreendemos por um
sentimento de caridade para com o próximo, se dá o céu por um copo d’água, que
fará com São José que, em toda verdade, deu asilo ao Salvador, que o alimentou,
vestiu e consolou, que pôs ao seu serviço todas as suas forças físicas e toda a
dedicação do seu coração, que lhe sacrificou seu repouso e, no meio das
dificuldades e à custa de tantas privações, lhe testemunhou um amor
incomparável?
Deus
contraiu com São José uma dívida por assim dizer pessoal, e destarte
compreende-se que a tenha pago concedendo ao santo graças sempre maiores, e
sobretudo um progresso contínuo na caridade, que é o melhor e o mais perfeito
dos seus dons. Crescendo incessantemente no coração de São José, essa caridade,
pelo seu ardor, quebrou as amarras de um corpo mortal, impotente para lhe
conter as aspirações. O amor daquele Menino, de seu Deus, consumiu-lhe a vida.
À medida que a gravidade e a majestade do homem sucediam em Jesus às graças
encantadoras do menino, o terno amor de José se recolhia, por assim dizer, ao
mais profundo do seu coração, absorvendo-lhe as forças, até que enfim a alma,
rompendo-lhe os últimos laços, se exalou num supremo surto de caridade.
O
amor e a gratidão de um filho tão ternamente amado deviam, por certo,
mostrar-se magnificamente nessa hora derradeira, e fazer da morte de São José a
morte mais bela, mais edificante, mais consoladora.
E
assim foi. O Senhor da vida, Aquele que tem nas mãos nosso corpo e nossa alma,
Aquele que pela unção de sua graça sabe fazer das ânsias da morte e da própria
morte uma alegria e um consolo — Jesus, ao lado de Maria, que é a “esperança e a doçura” de todos os filhos
de Adão, assistiu José moribundo. A única coisa de que o nosso santo podia ter
saudades em deixando este mundo era da presença pessoal de Jesus. Mas, ao pesar
da separação sucederia, em breve, a alegria de se reverem na glória, no dia da
ressurreição. O aresto que marcou o termo da sua vida foi um novo testemunho do
amor e da gratidão do Salvador. No ósculo desse amor foi que José expirou. — “Servo bom e fiel, entra na alegria do teu
Senhor!” “Ainda hoje estarás comigo
no paraíso!” Esta palavra do Senhor a todos os servos fiéis, essa promessa
que, na cruz, o Salvador faria ao ladrão penitente — não terá sido idêntica
promessa que José, o pai de Jesus, ouviu então da boca de seu filho?
A
alma do santo patriarca desceu ao limbo. E, para os patriarcas e profetas, para
todos os justos que ali aguardavam que o céu se abrisse, foi como que a aurora
de um belo dia, visto que era o anúncio do advento do Salvador.
Ignora-se
onde foi sepultado o corpo de São José, se em Nazaré, se em Jerusalém,naquela
mesma cidade onde, mais tarde, Jesus e, consoante a tradição, também Maria,
acharam seu túmulo. Nesta última hipótese, esses três corações que se haviam tão
santamente amado nesta terra, ainda teriam sido aproximados até na sepultura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário