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XII. Alma de Rochedo
O corpo do primeiro
homem era de argila. A sua alma, porém, um sopro de Deus. E Deus é imutável no
meio de tudo o que muda. Assim como o rochedo batido pelos vagalhões revoltos
do mar. Rochedo! Que coisa solene, grandiosa! As ondas se movem. Levantam-se. Bramem
enfurecidas. Açoitam desesperadas. O rochedo lá está. Imóvel. Soberano. Assim
são as almas que mais se aproximam de Deus. Entre as quais, em primeiro lugar,
a alma gloriosa de Maria: alma de Deus, já o vimos, portanto, alma de rochedo.
Sobre elas é que Jesus Cristo constrói as suas maravilhas. Pois não foi sobre
São Pedro, a grande Pedra, que Ele construiu a sua Igreja? Sobre o rochedo da
alma de Maria, Ele mesmo repousou e, tendo experimentado a sua firmeza,
descansou sobre ela a humanidade redimida. Alma de rochedo! Foi por isso que o
vento da soberba a não derribou, quando foi escolhida para a tremenda dignidade
de Mãe de Deus, nem se curvou à saudação grandemente honrosa de sua prima Santa
Isabel. Foi esta alma de rochedo que resistiu, quando lhe bateu de encontro a
profecia cruel de Simeão; ou, quando, tão jovenzinha ainda, teve que fugir para
o Egito, para lá esconder o seu tesouro. Nem sucumbiu quando lhe disseram que o
Filho Divino fora preso, esbofeteado, cuspido, julgado, condenado. Era o
rochedo sempre firme. E teve fortaleza ainda para afrontar — na rua da ignomínia
em busca de seu Filho — aquele mar revolto da populaça desvairada que esbravejava,
blasfemava, urrava, ameaçava... E ao
expirar a grande Vítima, quando o sol perdeu a sua luz, e o véu do templo se
rasgou, quando a terra toda tremeu e os rochedos se partiram, só um rochedo
ficou inabalado: foi o rochedo maravilhoso da alma de Maria. Admirável firmeza!
E não foi junto deste rochedo que se refugiaram os apóstolos, depois da morte
do Divino Mestre, com medo dos judeus?
Contra este rochedo os vagalhões da heresia e
da impiedade se têm arremessado com furor, no decorrer dos séculos. Mas em vão.
A alma gloriosa de Maria aí está. E o culto sincero que lhe rendem os fiéis se
torna cada vez mais profundo, mais universal.
Oh! Se houvesse no
mundo muitas almas assim. Almas fortes, almas de rochedo! Hoje em dia, a grande
preocupação é fortalecer os corpos, enrijar os músculos, para, como se diz,
aperfeiçoar a raça... Esquecem-se de que os homens não são animais que se
avaliam pelo tamanho do corpo e pela força que desenvolvem. Os homens se
avaliam pela força da alma. Esta, em primeiro lugar, é que é preciso enrijar,
fortalecer... Para que se não deixe vencer pelas paixões; para que não se abata
pela adversidade; para que não fraqueje pelo respeito humano; para que se não
abale pelo temor. Essas são as almas de rochedo. Não eram assim as almas de um
S. Tarcísio e de um S. Pancrácio? De uma Sta. Inês e de uma S. Catarina? Corpos
jovens, corpos fracos! Almas fortes, almas de rochedo! E é sobre tais rochedos
que Cristo constrói as maravilhas de sua graça.
TORRE de marfim,
Rainha dos Mártires, ó Maria, fortificai as nossas almas, para que resistamos
sempre aos assaltos da dor e da maldade, da carne e do demônio, firmes sempre e
imutáveis na graça e no serviço de Jesus Cristo. Assim seja!
Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição
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