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Capítulo XXV - Morrer bem

CENTELHAS EUCARÍSTICAS
 PEQUENA COLEÇÃO
DE
Pensamentos e afetos devotos
a
JESUS SACRAMENTADO


XXV
Morrer bem
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É um dos sonhos mais belos da minha alma; é um sonho que se torna cada vez mais vivo, à medida que os anos passam e as forças me vão faltando. Principalmente quando me encontro com Jesus sorri-me a idéia de uma santa morte. Figuro-me, então, estar estendida sobre o leito da agonia, a poucos minutos de distância da eternidade, com todos os adeuses já feitos aos meus parentes, com o coração desapegado já das coisas mundanas, com o Paraíso aberto aos meus olhos, e os anjos que me sorriem do alto, e Maria que me convida, e Jesus que me estende a mão para tomar-me e conduzir-me lá cima... Pensando em tudo isto eu choro um pouco, mas o meu pranto deixa-me a alma contente.
Este morrer bem, de que falam tantos livros e tantos pregadores, não será porventura mais que um sonho? Seria um engano atroz, se uma vida passada em amar a Jesus devesse acabar numa ilusão!... Isto é verdade; mas conseguirei eu ter também uma santa morte? Que muitos morram santamente, demasiado o sei, e tenho visto mais de uma vez com os meus próprios olhos; mas que uma sorte tão bela esteja também reservada para mim, é disto que eu queria assegurar-me.
E nisto penso muito quando faço a Comunhão... Quem sabe se entre tantas partículas, estaria alguma reservada para mim? Eu sempre digo a Jesus, que toda a Comunhão, que faço em vida, desejo que sirva de preparação para a última, que espero fazer na hora da morte... Digo-lhe que espero muito na infinita bondade do seu Coração, e que, depois de ter-me ajudado a suportar e vencer tantas batalhas durante a vida, não me abandonará quando combater a última e a mais decisiva de todas... Digo-lhe que não quero morrer sem Ele e que é absolutamente no seu Coração que quero expirar a minha alma... Digo-lhe... Em suma, digo-lhe tantas coisas, e muitas outras, que não sei dizer-lhe, sabe Ele lê-las no íntimo do meu coração... E certas vezes toda a Comunhão se passa em tratar somente da morte.
Penso, também, durante a Missa... O sacrifício de Jesus sobre o lenho da cruz recorda-me aquele que eu farei também quando a morte me der o último repelão. Ah! Se eu pudesse então sentir correr-me pela alma o Sangue do Calvário!... Se eu pudesse ouvir aquelas palavras: hoje estarás comigo no Paraíso!... Se pudesse morrer com Ele!... Parece-me que não me importaria de morrer sobre um leito de pedras, quando fossem as do Calvário; com a cabeça apoiada sobre uma almofada de lenho, quando fosse o lenho da Cruz; e de me sentir até esmagada por uns pés, quando esses fossem os de Jesus... Porque então eu beijaria aquelas pedras e aquele lenho banhados por um sangue divino, e sobre as chagas daqueles pés eu deporia com um ósculo a minha alma a fim de que, subindo por entre as veias do meu Amor, chegasse até o seu Coração, e nele repousasse para sempre, amando... Amando...
Penso, também, nisto quando faço a visita... Então lanço um olhar a Jesus, e figurando-me ser uma filha de Jairo, ou o filho único da viúva de Naim, ou ainda o seu amigo Lázaro, fico observando se Ele me lança também um olhar, se se enternece por mim, se deixa cair uma lágrima de compaixão ou de amor, se se aproxima, se me toca, se me chama... E certas vezes parece-me mesmo que Jesus me queira bem como a um daqueles privilegiados, e que me chame à vida, não à do tempo, mas à do Paraíso... E então eu lhe agradeço, digo-lhe um Te Deum, digo-lhe que o amo deveras com todo o coração, e que me venha buscar quando eu morrer para conduzir-me ao Paraíso. Penso nisto quando... Quando o coração me dói e os olhos destilam pranto. E em que coisa posso eu pensar em certas horas senão naquela que será a última do meu sofrer?
Vaguear esperanças quando se sofre, é um multiplicar-se sofrimentos, é um acumular-se desenganos sobre desenganos... Portanto? Portanto, para suavizar as dores da vida não há nada melhor que pensar nas consolações da morte.
Ah! Que alegria viva, profunda, sublime, receber a Jesus, apertá-lo fortemente ao coração, e depois, esquecido tudo que é terrenal, pregostar as doçuras de morrer entre os atrativos do seu sorriso, entre as melodias da sua voz, entre as palpitações do seu coração, entre as chamas da sua caridade...
Mas, para morrer, assim, para morrer com Jesus, o que é necessário?
Basta viver com Jesus!

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