31/05 - Consideração para a véspera do Mês do Sagrado Coração

Por um decreto de 3 de Maio de 1873, o Papa Pio IX de santa memória concedeu a todos os que fizerem o mês do Sagrado Coração, sete anos de indulgência* em cada dia do mês de Junho, e indulgência plenária em um dia do mesmo mês à vontade do fiel, observadas as condições ordinários.

MÊS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Consideração para a véspera do mês
A oração tem sido sempre as delicias das almas fervorosas. Estas delicias, querido leitor, o Sarado Coração vos convida  hoje a saborear. Mais aparentes do que reais são as dificuldades deste santo exercício. «Fazer oração mental ou meditação, diz Monsenhor Dechamps, é pensar nas verdades da fé, para se excitar no amor divino e na prática das virtudes, cuja graça será obtida pela oração. A meditação chama-se  oração mental, pois a oração ou suplica é a parte principal da meditação. Assim, fazer oração mental é pensar nas verdades da fé, por exemplo, na morte, no juízo, no céu, no inferno, na  eternidade, em Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho único de Deus, que desceu do céu, fez-se Homem por nosso amor no seio da bem-aventurada Virgem Maria, padeceu e morreu na cruz para nos alcançar o perdão de nossos pecados. Quando o cristão pensa numa das grandes verdades que a santa fé ensina, e pensa para se excitar a evitar o pecado, imitar a Jesus Cristo e  empregar para isto os meios que ele nos deixou, principalmente a oração e os sacramentos, que são os canais da graça, então faz a meditação ou oração mental.
Bem vedes que muitos cristãos que nunca ouviram talvez  pronunciar estas palavras, fazem contudo a oração, visto como pensam algumas vezes nas verdades da salvação, por exemplo, quando depois de ouvirem o sermão do domingo, pedem a Deus perdão dos pecados, tomam a resolução de confessar-se e lhe rogam a graça de vida melhor. Faz também oração mental aquele que se prepara para uma boa confissão, porque então, depois de ter orado e reconhecido suas faltas, excita-se à contrição pensando no inferno que mereceu, no céu e na graça de Deus que perdeu, em Jesus Cristo a quem nossos pecados fizeram chorar, padecer e morrer. Ainda faz oração mental, quem, depois de ter lido n’algum bom livro, para um pouco considerando um ponto que lhe diz respeito e mais o comove, o depois ora a Deus, a Jesus, a Maria, aos santos anjos, ou aos santos padroeiros, a fim de conseguir uma graça que deseja, ou cumprir uma coisa  que Deus exige dele. Em viagem e até no trabalho pode uma  pessoa fazer oração mental, pois ainda então pode pensar nas verdades da salvação, e dirigir-se a Deus em súplicas. Não se creia, pois, que este exercício, por difícil, seja raro. Não,quando se toma a peito o negócio da salvação eterna, nele se pensa todos os dias com tão boa vontade como os negociantes no seu comércio; e tão impossível é que nos saiamos bem no negócio de nossa salvação, sem nele pensarmos e nos resolvermos a empregar os meios necessários, como o é ao negociante prosperar, sem pensar nos meios de adquirir  fortuna. O mundo está cheio de pecados e o inferno de réprobos, afirma Santo Afonso, por que não se medita nas verdades eternas.
Por tanto, alma cristã, nada mais fácil que fazer oração mental. Santo Afonso torna sua prática extremamente simples, clara, fácil e não menos frutuosa; graças ao método que ele
ensina, este exercício indispensável a quem quer santificar-se, é posto com toda verdade ao alcance de todos: também seu desejo é que todos aprendam a meditar. Eis aqui o método de fazer a oração mental segundo o santo doutor: «A oração mental contem três partes: a preparação, a meditação e a conclusão.
I. Na Preparação fazem-se três atos:
1. Ato de Fé na presença de Deus.
Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e vos adoro.
2. Ato de humildade.
Eu deveria estar a esta hora no inferno; Senhor, eu me arrependo de vos ter ofendido.
3. Ato de petição de luzes.
Eterno Pai, por amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditação, para que tire proveito dela.
Uma Ave Maria à Mãe de Deus, e um Gloria Patri a S. José, ao anjo custódio e ao nosso santo protetor. Estes atos devem ser feitos com atenção, mas brevemente; depois faz-se a meditação.
II. Para a Meditação sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no começo, parando nas passagens que mais impressão nos fazem. S. Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor enquanto acham mel, e voam depois para outra.
Cumpre, além disto, saber que os frutos da meditação são três: afetos, súplicas e resoluções; nisto é que consiste o proveito da oração mental. Assim, depois de haverdes meditado uma verdade eterna, e ter Deus falado a vosso  coração, é mister que faleis a Deus:
1o. Pelos afetos, isto é, pelos atos de fé, agradecimento, humildade, esperança; mas repeti de preferência os atos de amor e contrição. Conforme Santo Tomás, todo ato de amor nos merece a graça de Deus e o paraíso. O mesmo se deve dizer do ato de contrição. Eis aqui exemplos de atos de amor:
Meu Deus, eu vos amo sobre todas as coisas. — Eu vos amo de todo o meu coração. — Quero fazer em tudo vossa vontade. — Muito me regozijo por serdes infinitamente feliz.
Para o ato de contrição basta dizer:
Bondade infinita, pesa-me de vos ter ofendido.
2o. É necessário também falar a Deus pelas súplicas,  pedindo-lhe as luzes que havemos mister, a humildade ou outra virtude, uma boa morte, a salvação eterna, mas principalmente seu amor e a santa perseverança. E si nossa alma está em grande aridez, basta repetirmos:
Meu Deus, socorrei-me. — Senhor, tende compaixão de mim. — Meu Jesus, misericórdia! — Ainda que nada mais fizéssemos, a oração seria excelente.
3o. E mister enfim falar a Deus pelas resoluções: antes de terminar-se a oração, cumpre tomar alguma resolução particular, por exemplo, fugir de tal ocasião, sofrer o que parece nos molestar em tal pessoa, corrigir-se de tal defeito, etc.
III. Enfim a Conclusão compõe-se de três atos:
1o. Meu Deus, eu vos agradeço as luzes que me destes.
2o. Proponho observar as resoluções que tomei.
3o. Peço-vos, por amor de Jesus e Maria, a graça de pô-las em prática.
Termina-se a oração por um Padre Nosso e uma Ave Maria, para recomendar a Deus as almas do purgatório, os prelados da  Igreja, os pecadores, parentes e amigos.
S. Francisco de Sales aconselha notar algum pensamento que mais impressão nos faz na oração, para o recordarmos de tempos a tempos durante o dia. Útil é referir aqui o que Santo Afonso escreveu a seus religiosos numa circular em data de 26 de Fevereiro 1771. «Recomendo-vos de preferência para meditação os meus livros: A Preparação para a morte, as Meditações sobre a Paixão, as Setas de fogo e as Meditações do Advento até a Oitava da Epifania. Digo isto, não para exaltar meus pobres escritos, mas, porque estas meditações estão entremeadas de pios afetos, e cheias, o que mais importa, de santas  súplicas, o que quase não se acha noutros livros. Recomendo,
pois, que se leia sempre, na meditação, a segunda parte que consiste nos afetos e súplicas
«Além da oração, diz Santo Afonso, é utilíssimo fazer também, cada dia, uma Leitura Espiritual por espaço de meia hora, ou ao menos de um quarto de hora, em algum livro que trate da vida dos santos, ou das virtudes cristãs.
Quantos há que foram convertidos e se tornaram grandes santos, por terem lido um livro de piedade! Aí estão S. João Colombini, Santo Inácio de Loyola, e muitos outros.»
[...]


__________ 
* indulgência parcial

Trecho do livro: O Sagrado Coração de Jesus segundo Santo Afonso de Ligório ou Meditações para o Mês do Sagrado Coração, A Hora Santa e a Primeira Sexta-Feira do Mês coligidas das Obras do Santo Doutor pelo Pe. Saint-Omer, Redentorista

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