Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 21

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)



DIA 21
Terceiro motivo: — As principais virtudes que assim praticamos

— Socorrendo as almas do Purgatório, praticamos a caridade em toda a sua exten­são. «A devoção às almas do Purgatório, diz S. Francisco de Sales, encerra todas as obras de misericórdia, cuja prática, ele­vada ao sobrenatural pelo espírito de fé, nos há de merecer o Céu.»
Descer ao meio desses fogos devoradores, levar às almas prostradas em seu leito de chamas a esmola de nossas orações, não é, de algum modo, visitar os enfer­mos?
Não é dar de beber aos que têm sede, chover o doce orvalho de graça celeste so­bre as almas que ardem na sede de ver a Deus face a face?
Adiantar para elas o momento em que hão de entrar na posse da bem aventurança, do Céu, de Deus, do qual estão mais famintas do que o mendigo o está do pedaço de pão que lhe estendemos: é, em verdade, alimentar os que nos pedem de comer.
Nós remimos cativos, pagando o resgate das santas almas prisioneiras da justiça divina, despedaçando as cadeias que as retêm longe do Céu, e que cadeias!
Vestimos com magnificência os que es­tão nus, abrindo, com a nossa penitência, aos mortos a mansão de glória em que o Senhor lhes tem preparado uma túnica de luz de eternos esplendores.
Que admirável hospitalidade exercemos, introduzindo-as na Jerusalém celeste, na cidade triunfante dos espíritos bem aven­turados!
Poderíamos acaso comparar o mérito do sepultar corpos dados em pasto aos ver­mes, com a inapreciável felicidade de fazer subir ao Céu almas imortais?» Sufragando as almas do Purgatório, exercitamos a gra­tidão. Certamente não são estranhos aos que imploram socorro, são os nossos: pai, mãe, amigos…
Esses corações dedicados que outrora tanto trabalharam e sofreram, que, por nossa causa talvez — por nos amarem com excesso, —cometeram essas faltas, em cuja expiação sofrem agora; — esses corações que muitas vezes ferimos com a nossa in­diferença, com as nossas queixas, com recriminações mesmo: hoje que não pal­pitam mais na terra, não é verdade que sentimos remorsos de não lhes haver tes­temunhado bastante a nossa afeição? Pois bem, nós podemos reparar tudo, orando por eles! Muitas vezes os deixamos sós: vamos pensar neles; muitas vezes lhes desobedecemos: escutemos suas súplicas e façamos por eles tudo o que nos pedem; — faltamos-lhes à complacência e à afabilidade, preferimos nosso prazer à sua fe­licidade: privemo-nos de alguns momentos de distração para consagrá-los a orar por eles.
Ó meus queridos mortos, sereis con­tentes daquele que tanto se arrepende de vos haver penalizado na terra: eu vo-lo prometo.

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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 20

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)



DIA 20
Segundo motivo: O serviço que prestamos a nós mesmos

1º. Adquirimos um protetor certo no Céu. A alma que nossas orações tiverem libertado, contraiu para conosco, só pelo fato de seu resgate, uma estrita obriga­ção de reconhecimento; primeiro, diz o padre Faber, pela glória da qual lhe ante­cipamos a hora; depois, em razão dos horríveis sofrimentos aos quais a arran­camos; assim, é para ela um dever obter-nos incessantes graças e bênçãos. No Céu também se ama e se é reconhecido!
E não é somente essa alma que fica re­conhecida, é seu anjo da guarda também, é a Santíssima Virgem a quem essa alma era consagrada, é o próprio Jesus que a nossas orações deve o glorificá-la mais cedo. — E o anjo da guarda, e Maria e Jesus, também eles nos testemunham sua alegria com benefícios novos.
2º. — Constituímos no Céu um repre­sentante nosso que, em nosso nome, adora, louva e glorifica o Senhor. — Aquele que serve a Deus na terra, nunca está satis­feito; não sabe, não pode amar como de­seja e sente a necessidade de fazê-lo; mas, se libertou uma alma do Purgatório, oh que alegria, que consolação a de poder dizer: Uma alma santa que ama perfeita­mente a Deus, foi amá-lo por mim; e, enquanto eu estou na terra ocupado, nas funções e trabalhos da vida, talvez até esquecendo-me de Deus, lá no Céu ela, talvez muitas, sem interromperem um só momento seu cântico de amor indizível, adoram, glorificam a majestade e a beleza do Altíssimo, e fazem-no em meu nome!
3º. — Constituímos protetores nossos as almas por quem oramos. O ensino comum dos teólogos é que, não podendo as al­mas do Purgatório orar eficazmente por si, podem, todavia, alcançar graças para nós, «São santas, diz Suarez, caras a Deus; a caridade leva-as a nos amar… Por que não intercederão conosco, mesmo quando expiam por si? É o que se dá conosco sobre a terra, pois que, embora devedores em relação a Deus, não hesi­tamos nunca em rogar pelo próximo.»
Pode-se, portanto, invocá-las nas necessidades, nos perigos, nas inquietações. Os fiéis o praticam habitualmente e há pou­cas almas piedosas que não possam dizer: Quando tenho pedido alguma graça pelas almas do Purgatório, é raro que não a tenha alcançado.



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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 19

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


ALÍVIO ÀS ALMAS DO PURGATÓRIO
Motivos que nos determinam a socorrer às almas do Purgatório

DIA 19
Primeiro motivo: — O serviço que prestamos a Deus e a gloria que lhe proporcionamos

É verdade que nós, frágeis e míseras criaturas, podemos prestar serviço a Deus, podemos realmente lhe ser úteis? Sim, diz Bourdaloue, cuja doutrina é sempre se­gura, sim, podemos. O Purgatório é um estado de violência para o próprio Deus. Ali, vê Deus almas a quem quer com um amor sincero, terno e paternal, almas que sofrem e às quais todavia não pode Ele acudir, — almas cheias de mérito, de san­tidade, de virtude, mas a quem não pode Ele ainda remunerar, — almas que são suas escolhidas, suas esposas, e que Ele é forçado a ferir e castigar… Pois bem! Nós podemos, nós, pobres criaturas, fazer cessar esse estado de violência, dando à justiça divina tudo o que ela pede…
Não me é dado compreender o que se passa no coração do Senhor, quando com as minhas orações e boas obras eu tiro uma alma do Purgatório, e essa alma, numa espécie de delírio de alegria, vai lançar-se no seio de Deus, dizendo-lhe: Meu pai! meu pai! — mas imagino o que ex­perimentaria o coração de uma mãe que, tendo conhecimento de que seu filho foi condenado à prisão por muitos anos, o visse, de repente, trazido por um amigo que o houvesse libertado. Oh que alegria! oh que amplexo! — e que reconhecimento pelo salvador desse filho.
É esta alegria, esta felicidade a que eu proporciono a Deus! é esse reconheci­mento o que obtenho em seu coração.
E, além da alegria que ocasiono a Deus, concorro também para sua gloria, essa gloria de que Deus é tão cioso. Ouçamos ainda Bourdaloue: «Nós admiramos, diz ele, esses homens apostólicos que, leva­dos pelo espírito de Deus, atravessam os mares e vão aos países bárbaros ganhar a Deus os infiéis, mas compreendeis que a devoção das almas do Purgatório para seu alivio e livramento é uma espécie de zelo que, em relação a seu objeto, não cede ao da conversão dos pagãos e até o vence de certo modo. É que, sendo as almas confirmadas na graça, hão de ser incom­paravelmente mais nobres aos olhos de
Deus que as dos pagãos elas estão, mor­mente na ocasião, num estado muito mais apto para glorificar a Deus que as dos infiéis.»
Qual de nós recusar-se-á a contribuir assim para a felicidade e glória de Deus?


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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 18

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 18

6º sofrimento — Incerteza do tempo a sofrer no purgatório

«Um homem, diz o padre Felix, gemia, há tempos, numa prisão célebre. Certo dia, cansado de sofrer, concebeu a ideia de livrar-se. Nessa época existia uma senhora de alto valimento que podia bastante para quebrar as algemas do preso e pôr termo a seus sofrimentos.
Eis aqui, reza a história, em que termos eloquentes o mísero lhe dirigiu sua sú­plica; «Senhora, a 25 do corrente de 1760, faz cem mil horas que eu peno, e ainda me restam duzentas mil a sofrer.» Não sei que despacho teve esta petição. O coração desta mulher teve a dureza de resistir a esta eloquência? Não sei, mas parece-me impossível dizer mais em tão poucas palavras! Há cem mil horas que sofro, tenho ainda que sofrer duzentas mil!… Há cem mil horas… Portanto, ele as tinha contado?! Sim, como vós podeis contar, uma a uma, as pancadas de um relógio durante uma noite longa e triste em que o sofrimento vos faz perder o sono. Ora, se é assim com os presos da terra, que dizer desses encarcerados do mundo invisível (o Purgatório)? Quem nos dirá o que é para esses padecentes de além mundo a passagem de seu prazo de tormento? A duração para nós não é o tempo que passa, é o que sentimos passar; e a lentidão dessa passagem cresce para os que sofrem, na proporção de sua an­gústia. É isto o que, em relação às almas do Purgatório, dá a extensão de longos dias aos minutos, a de anos inteiros aos dias, e aos anos a de séculos que parece nunca se acabarem!
Um Religioso, aparecendo, depois de morto, a um de seus Irmãos, lhe revelou que três dias passados no Purgatório lhe haviam parecido mais longos do que cente­nas de anos. Outro, havendo experimen­tado numa visão o suplício do Purgatório, desde as matinas somente até a aurora, persuadiu-se de que sofria há mais de um século. Um homem, que fazia desprezo das penas do Purgatório, viu aparecerem-lhe dois moços que rapidamente o transpor­taram a esse triste lugar; depois de um quarto de hora de sofrimento, ele já cla­mava: «Retirai-me, retirai-me, há tanto tempo que eu sofro.» Assim os encarce­rados do Purgatório, muito mais do que os presos da terra, contam essas horas in­termináveis que tanto custam a passar e que o suplício parece tornar eternas!
Se, ao menos, soubessem essas almas a hora do resgate, poderiam dizer: depois de tantos mil e mil minutos, meu suplí­cio terminará e eu subirei ao Céu! — Mas não. Sabem perfeitamente — e é tal a es­perança e o amor de Deus, vivo e ar­dente em seus corações, que, dizem os teólogos, distinguem o Purgatório do In­ferno — sabem com certeza que há de soar a hora do seu livramento; mas quando soará essa hora suspirada?
Ignoram-no, e até o momento marcado por Deus, parece-lhes ouvir cada vez que perguntam: Quando será? uma voz terrí­vel que lhes responde: Ainda não! Ainda há muito que expiar!
Este pensamento deve atuar em nós para continuarmos sempre em nossas ora­ções pelos mortos. «Eu temo, diz S. Fran­cisco de Sales, temo do bom conceito que meus amigos têm feito de mim; enten­dendo que eu já estou no Céu, sem querer me deixarão ficar no Purgatório.»



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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 17

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 17
5º sofrimento — O olvido em que caem

Ver-se esquecido na terra, esquecido por aqueles a quem se amou e que nos amaram, é uma dor pungente para o coração — mas ver-se esquecido, quando, se está no Purgatório, quando o coração é mais sensível e nada de exterior o distrai dessa ideia, deve ser um golpe ainda mais cruel.
Oh! como são justas as queixas que um Religioso ouviu desses pobres corações abandonados!
«Ó irmãos! ó irmãos! ó amigos! Pois que há tanto tempo vos aguardamos, e vós não vindes; vos chamamos, e não respondeis; sofremos tormentos que não têm iguais, e não vos compadeceis; gememos, e não nos consolais!
Ai de nós! todos os que amamos na terra com toda nossa afeição, nos aban­donaram; choramos no meio desta noite escura, e não há quem nos console.
Ah! tudo se acabou, acabou-se para sempre! esqueceram-me e já nem mais uma lembrança me prende à terra!…
Em toda a parte está o esquecimento: sobre minha vida inteira que nenhuma palavra lembra mais, sobre meu nome que já ninguém pronuncia, sobre meu túmulo que ninguém visita, sobre minha morte que não há mais quem chore; na terra só tenho o esquecimento em todos e em tudo!
A despeito dos adeuses tão sentidos, a despeito dos protestos tão afetuosos, a despeito dos juramentos tão ardentes, eis em que dá tudo entre os vivos, no total esquecimento dos mortos.
Ninguém para rezar, ninguém sequer para lembrar-se deles!…»
Ninguém?! oh! Vós vos enganais, al­mas queridas! Há na terra um coração que nunca esquece, um coração a toda hora disposto a vir em socorro dos mor­tos olvidados: é o coração da Igreja ca­tólica, coração de uma mãe!
Ela pede para vós, todos os dias, o repouso, o refrigério, a luz. E nós, seus filhos, como vós: nós, vossos irmãos que tanto vos temos esquecido, queremos des­de já associar-nos a todas as suas ora­ções e todas as suas obras…


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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia