MARIA MODELO DA MULHER NOS SEUS DEVERES DE ESPOSA


Tais foram as virtudes de MARIA que a sua vida pode servir de regra a todas as vidas
S. Ambrósio
PRIMEIRO COLÓQUIO
A esposa em face de Deus
Missus est ad virginem desponsatam viro cui nomen Joseph.
0 anjo Gabriel foi enviado a uma virgem cujo esposo se chamava José.
Mudando de condição, Maria não muda de sentimentos. Esposa do casto José, continua a ser em Nazaré o que era no templo no meio das jovens virgens suas companheiras, a serva fiel do Senhor. Eis o vosso modelo, esposas cristãs que vos decidistes a contrair uma união que só a morte poderá romper. Fazei calar a vossa imaginação, ponde de lado os vossos sonhos de donzela, não vades julgar-vos destinada a tornar-vos uma das mulheres sempre adoradas e sempre adoráveis, segundo a frase de Fénelon, que são muito numerosas nos romances. Lembrai-vos, pelo contrário, de que o caminho da cruz é o único que leva à vida. Recordai-vos de que se todos os homens devem pagar neste mundo o seu tributo de sofrimentos e de submissão, o cristianismo fez dele, sobretudo o apanágio especial da mulher; escutai os avisos que vos dá uma mulher que parece haver expressamente escrito para vós as palavras seguintes: 1 
Desde os primeiros dias do seu casamento, a esposa cristã deve aplicar-se a compreender e a encarar a sua posição no seu conjunto, e ocupar-se em harmonizar as suas exigências com as da fé. Colocar-se sob um ponto de vista assaz baixo para aperceber detalhadamente os deveres multiplicados e minuciosos, cujo conjunto forma o seu dever, e assaz elevado para isolar-se desse aparato de seduções que a cerca, e compreender que esta espécie de nuvem de poesia, cujos vapores se espalham por sobre ela, se diluirão a breve trecho numa realidade vulgar e prosaica.
Obreira precoce e madrugadora lançai a mão à charrua e não olheis para trás. Esquecei os sonhos da vossa infância, olvidai as delícias da vossa despreocupação de donzela, e essa vida de repouso e de prazeres que já talvez vos encontrasse muito difícil, ou, se vós vos recordais que isto seja para dizer como S. Paulo: Quando eu era criança, falava como criança, julgava como criança, raciocinava como criança; mas, tornando-me homem, acho-me desapossado de tudo o que tinha da infância. E dizei isto sem pensamento reservado, com a resolução sincera de não recuar diante de nenhum sacrifício ou de nenhuma fadiga, de não recuar mesmo diante da humilhação, nem diante da obediência; dizei-o com uma determinação franca e tenaz de caminhar sempre para a frente, apesar das insinuações da preguiça. Dizei-o, enfim, com a intenção generosa de nada recusardes a Deus, nem mesmo a vossa vontade, nem mesmo os gozos mais puros das vossas legítimas afeições.
Haveis de mostrar assim que realmente vos tornastes homem; o homem de Deus, seu vassalo devotado e sempre fiel. Certamente, aquele que vos fez o que sois, diz Santo Agostinho, tem bem o direito de exigir que sejais todas dele.
Não há dúvida, pois, que deveis sempre pertencer-lhe, mas trata-se d’ora avante de uma doação mais completa e mais reflexa. Éreis dele, em criancinha, quando não o conhecendo ainda, os vossos gritos o imploravam sem o saber. Éreis dele, em menina, quando, gozando alegremente os vossos primeiros dias belos, interrompíeis os vossos jogos e brinquedos, ao sinal d’uma mãe, para erguer as mãos e rezar; mas não o servíeis senão sem o saber, e ao levar-vos a ele, a vossa mãe fazia apenas um ato reflexo. Éreis dele, na adolescência, quando pela primeira vez quis habitar dentro em vós; oh! nesse belo dia vós pertencíeis inteiramente a Deus. Contudo, cheia ainda da inconstância da vossa idade, revestida tanto da sua leviandade como da sua inocência, tendes sentido mais as doçuras do dom de Deus que compreendido as obrigações que vos eram impostas; talvez mesmo tenhais esquecido depois estas doçuras e estas obrigações.
Éreis de Deus, quando donzela, pois que, dando os primeiros passos no meio do mundo cujo aspecto vos seduzia, vós prometíeis constantemente nunca o preferir a Jesus Cristo; mas tínheis antes a confiança presunçosa d’uma inocência não experimentada do que a força do devotamento; éreis de Deus, em donzela, quando, não obstante as seduções das aparências e as revoltas internas tão frequentes na idade juvenil continuastes a servi-lo e a amá-lo; mas então, abrigada debaixo da asa materna rodeada de conselhos e de vigilância, a vossa virtude estava especada de todos os lados, e tinha as suas raízes mais em santos costumes do que em solidas resoluções. Éreis de Deus, em donzela, quando, tremendo à ideia d’uma mudança de posição, vos lançastes nos seus braços para lhe pedir socorro e luz; mas então a grandiosidade da empresa, o assombro do vosso coração vos faziam assaz sentir não só a vossa fraqueza mas também a necessidade do seu apoio.
Mas d’ora avante, deveis ser de Deus não somente em virtude do seu soberano domínio sobre toda a criatura, não somente como a criança que lhe reza sem o conhecer, e não por hábito ou por capricho, nem por fraqueza ou por medo; deveis ser dele por uma doação voluntária e total, com o conhecimento inteiro dos vossos deveres e dos vossos perigos, como com uma firme confiança no seu amor e na sua bondade.
Já não é o sinal d’uma mãe que deveis esperar para o servir e rezar-lhe; mas à vossa voz agora, outras deverão aprender a fazê-lo. Não é somente nos momentos de fervor e de pesar que deveis pensar nele; mas é sempre, porque sempre, se ele não estiver ao vosso lado, sentir-vos-eis fraquejar debaixo do peso da cruz e da pressão d’uma enorme responsabilidade.
Já não é exclusivamente nos solenes instantes das decisões difíceis que é preciso abandonar-vos à sua direção, e entregar-lhe as chaves do império cujo cetro vós possuís; mas é todos os dias, é a cada conduta e a cada passo, porque todos os vossos dias estão semeados de dificuldades, porque os vossos passos, e as vossas condutas tem adquirido um certo grau de importância de que vós não podeis encarregar-vos sozinhas; ficai-o então sabendo, não cessamos de vo-lo dizer, tendes precisão de Deus.
Desde os primeiros dias da vossa união, ponde-vos de joelhos, pela manhã e à noite; é mister que o vosso marido saiba bem que sois cristã, a omissão das vossas preces seria para ele uma causa de admiração, e mais tarde havia de servos difícil prosseguir as práticas que haveis interrompido.
Durante o dia, subtrai alguns desses instantes, tantas vezes desperdiçados no mundo, para vos recolher, escutar a voz de Deus, e responder-lhe. Conservai os vossos piedosos costumes de donzela; dai a esta oração, cujo incenso sobe direito para Deus, para tornar a descer em chuva de graças, as primícias do dia. E haveis de ver como todas as vossas ações serão abençoadas em seguida; como as horas que se seguirem serão impregnadas dos perfumes queimados pela manhã; como a vossa alma cem paz com Deus estará mais facilmente com todos; como a sua recordação vos seguirá docemente para inspirar-vos a força, aonde a força for necessária, e ensinar-vos a descendência no ponto aonde a condescendência se tornar útil.

PRÁTICA
Recordai que a nossa condição pode mudar, mas que o dever de servir a Deus não varia nunca.

ORAÇÃO
Oh Maria! Vós, a quem eu sou feliz por chamar Minha Mãe, amai-me sempre como vosso filho, velai por mim no meio dos perigos que me cercam, amparai-me no cumprimento dos meus deveres, protegei-me contra a minha própria fraqueza, obtende-me a graça de perseverar até à morte no vosso amor e no amor do vosso Divino Filho.
Assim seja.

RAMO ESPIRITUAL
A Santa Escritura representa-nos a SS. Virgem sob o emblema de um jardim fechado, hortus conclusus.
Sim, diz S. Bernardo, Maria é esse florido canteiro fechado ao espírito impuro, cheio de divinos aromas, cultivado por uma Mão Celeste e ornado das flores deleitáveis de todas as virtudes; entre as mais belas, três sobretudo nos arrebatam de admiração e enchem a casa do Senhor do mais suave perfume: a violeta da humildade, o lírio da virgindade, e a rosa da caridade.
Esposa cristã, possais vós aparecer aos olhos de Deus como aos olhos do mundo, ataviada de todas as virtudes, a exemplo de Maria; é assim que vós glorificareis o vosso Pai celeste.

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1 - Mulher Cristã, por Mme. M. de M.

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Excertos do livro: A Mulher na Escola de Maria, 1903 - M.J. Larfeuil

As pessoas que desejarem servir-se deste livro para os exercícios piedosos do mês de Maria, devem ler no primeiro dia a instrução transcrita AQUI


O tempo é um tesouro que só se acha nesta vida

Valor do tempo


Fili, conserva tempus.
Filho, aproveita o tempo (Sr 4,23)

PONTO I

Diligencia, meu filho, — diz o Espírito Santo, —  em empregar bem o tempo, porque é a coisa mais preciosa, riquíssimo dom que Deus concede ao homem mortal. Até os próprios gentios tinham conhecimento de seu valor. Sêneca dizia que nada pode equivaler ao valor do tempo. Com maior estimação ainda o apreciaram os Santos. Afirma São Bernardino  de Sena  que um só momento vale tanto como Deus,  porque nesse instante, com um ato de contrição ou de amor perfeito, pode o homem adquirir a graça divina e a glória eterna.
O tempo é um tesouro que só se acha nesta vida, mas não na outra, nem no céu, nem no inferno. É este o grito dos condenados: Oh! Se tivéssemos uma hora!... Por todo o preço comprariam uma hora a fim de reparar sua ruína; porém, esta hora jamais lhes será dada. No céu não há pranto; mas se os bem-aventurados pudessem sofrer, chorariam o tempo perdido na sua vida mortal, o qual lhes poderia ter servido para alcançar grau mais elevado na glória; porém, já se passou a época de merecer. Uma religiosa beneditina, depois da morte, apareceu radiante de glória a uma pessoa e lhe revelou que gozava plena felicidade, mas, se algo pudesse desejar, seria unicamente voltar ao mundo para sofrer mais e assim alcançar maior mérito. Acrescentou que de boa vontade sofreria até ao dia do juízo a dolorosa enfermidade que a levou à morte, contanto que conseguisse a glória que corresponde ao mérito de uma só Ave-Maria.
E tu, meu irmão, em que empregas o tempo?...  Por que sempre adias para amanhã o que podes fazer hoje? Reflete que o tempo passado desapareceu e já não te pertence; que o futuro não depende de ti.
Só dispões do tempo presente para agir... Ó infeliz! — adverte São Bernardo, — por que ousas contar com o vindouro, como se Deus tivesse posto o tempo em seu poder?”. E Santo Agostinho disse:  Como te podes prometer o dia de amanhã, se não dispões de uma hora de vida? “Daí conclui Santa Teresa: “Se não estiveres preparado hoje para morrer, teme morrer mal...

PONTO II

Nada há mais precioso que o tempo e não há coisa menos estimada nem mais desprezada pelos mundanos. Isto deplora São Bernardo, dizendo: "Passam rapidamente os dias de salvação, e ninguém reflete que esses dias desaparecem e jamais voltam”. Vede aquele jogador que perde dias e noites na tavolagem. Perguntai-lhe o que fez e responderá: “Passar o tempo”. Vede o ocioso que se entretém horas inteiras na rua a ver quem passa, ou a falar em coisas obscenas ou inúteis. Se lhe perguntam o que está fazendo, dirá que não faz mais do que passar o tempo. Pobres cegos, que assim vão perdendo tantos dias, dias que nunca mais voltam! Ó tempo desprezado! tu serás a coisa que os mundanos mais desejarão no transe da morte... Queremos então dispor de mais um ano, mais um mês, mais um dia; mas não o terão, e ouvirão dizer que já não haverá mais tempo (Ap 10,6). O que não daria então cada um deles para ter mais uma semana, um dia de vida, a fim de poder melhor ajustar as contas da alma!... Ainda que fosse para alcançar só uma hora — disse São Lourenço Justiniano — dariam todos os seus bens. Mas não obterão essa hora de trégua... Pronto, dirá o sacerdote que o estiver assistindo, apressa-te a sair deste mundo; já não há mais tempo para ti.
Por isso, exorta o profeta a que nos lembremos de Deus e procuremos sua graça antes que a luz se nos extinga (Ecl 12,1-2). Que apreensão não sentirá um viajante ao notar que se transviou no caminho, quando, por ser já noite, não lhe é possível reparar o engano!... Tal será a mágoa na morte do que tiver vivido muitos anos sem empregá-los no serviço de Deus. “Virá a noite em que ninguém poderá fazer mais nada” (Jo 9,4). Então o momento da morte será para ele o tempo da noite, em que nada mais poderá fazer. “Clamou contra mim o tempo” (Lm 1,15). A consciência recordar-lhe-á todo o tempo que teve e que empregou em prejuízo de sua alma; todas as graças que recebeu de Deus para se santificar e de que não quis aproveitar; e ver-se-á depois privado de todos os meios de fazer o bem. Por isso exclamará gemendo: Como fui insensato!... Ó tempo perdido, em que podia ter-me santificado!... Mas não o fiz e agora já não é tempo de o fazer... De que servem tais suspiros e lamentações, quando a vida está prestes a terminar e a lâmpada se vai extinguindo, vendo-se o moribundo próximo do solene instante de que depende a eternidade?

PONTO III

Devemos caminhar pela via do Senhor enquanto temos vida e luz, porque esta logo desaparece na morte (Lc 12,40). Então já não é tempo para preparar-se, mas de estar pronto (Jo 12,35). Quando chega a morte, não se pode fazer nada: o que está feito está feito... Ó Deus! Se alguém soubesse que em breve se decidiria a causa de sua vida ou morte, ou de toda a sua fortuna, com que ardor não procuraria um bom advogado, diligenciaria para que os juízes conhecessem nitidamente as razões que lhe assistem, e trataria de empregar os meios para obter sentença favorável!... O que fazemos nós? Sabemos com certeza que muito brevemente, no momento em que menos o pensamos, se há de julgar a causa do maior negócio que temos, isto é, do negócio de nossa salvação eterna... e ainda perdemos tempo? Dirá talvez alguém: “Sou ainda moço; mais tarde me converterei a Deus”. Sabe — respondo — que o Senhor amaldiçoou aquela figueira que achou sem frutos, posto que não fosse estação própria, como observa o Evangelho (Mc 11,13). Com este fato quis Jesus Cristo dar-nos a entender que o homem, em todo tempo, sem excetuar a mocidade, deve produzir frutos de boas obras, senão será amaldiçoado e nunca mais dará frutos no futuro. Nunca jamais coma alguém fruto de ti (Mc 11,14). Assim falou o Redentor àquela árvore, e do mesmo modo amaldiçoa a quem ele chama e lhe resiste... Circunstância digna de admiração! Ao demônio parece breve a duração de nossa vida, e é por isso que não deixa escapar ocasião de nos tentar. “Desceu a vós o demônio com grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo” (Ap 12,12). De sorte que o inimigo não perde nem um instante para desgraçar-nos e nós não aproveitamos, o tempo para nos salvar! Outro dirá: Qual é o mal que faço?... Ó meu Deus! E já não é um mal perder o tempo em jogos e conversações inúteis, que de nada servem à nossa alma? Acaso nos dá Deus esse tempo para que assim o percamos? Não, diz o Espírito Santo: Particula boni doni non te praetereat (Ecl 14,14). Aqueles operários de que fala São Mateus não faziam nenhum mal; somente perdiam o tempo, e é por isso que o dono da vinha os repreendeu: “Que estais aqui todo o dia ociosos?” (Mt 20). No dia do juízo, Jesus Cristo nos pedirá conta de toda palavra ociosa. Todo o tempo que não é empregado para Deus, é tempo perdido. E o Senhor nos diz: “Qualquer coisa que possa fazer tua mão, fá-la com instância; porque nem obra, nem razão de sabedoria, nem ciência haverá no sepulcro, para onde caminhas célere” (Ecl 9,10). A venerável irmã Joana da Santíssima Trindade, filha de Santa Teresa, dizia que na vida dos Santos não há dia de amanhã; só o há na vida dos pecadores, que dizem sempre “mais tarde, mais tarde” e é assim que chegam à morte. “É agora o tempo favorável” (2 Cor 6,2). “Se hoje ouvirdes a sua voz, não queirais endurecer vossos corações” (Sl 94,8). Hoje Deus te chama a fazer o bem; faze-o hoje mesmo, porque amanhã talvez já não terás tempo, ou Deus não te chamará.
E, se por desgraça na vida passada empregaste o tempo em ofender a Deus, procura agora expiar essa falta no resto de tua vida mortal, como resolveu fazer o rei Ezequias: “Repassarei diante de ti todos os meus anos com a amargura de minha alma” (Is 38,15). Deus te prolonga a vida para que resgates o tempo perdido: “Recobrando o tempo, pois que os dias são maus” (Ef 5,16); ou ainda, segundo comenta Santo Anselmo: “Recuperarás o tempo se fizeres o que descuidaste de fazer”.
São Jerônimo diz de São Paulo que, não obstante ser o último dos apóstolos, tornou-se o primeiro em méritos pelos seus trabalhos depois da vocação. Consideremos ao menos que em cada instante podemos ganhar maior cópia de bens eternos. Se nos cedessem a propriedade do terreno que pudéssemos percorrer num dia, ou o dinheiro que pudéssemos contar num dia, que de esforços não faríamos! Pois, se podemos adquirir em um instante tesouros eternos, por que havemos de mal gastar o tempo? O que podes fazer hoje não diga que o farás amanhã, porque o dia de hoje se perderá e não mais voltará.
Quando São Francisco de Borja ouvia falar das coisas mundanas, elevava o coração a Deus com tão santos afetos que não sabia responder quando lhe perguntavam qual era o seu sentir acerca do que haviam dito. Repreenderam-no por isso, e ele contestou que antes preferia parecer homem rude do que perder futilmente o tempo.

 Santo Afonso Maria de Ligório




1 Cor 7, 29
"O que quero dizer é que o tempo é curto..."


"Quando penso no modo como tenho empregado 'o tempo de Deus', temo não me queira dar sua eternidade, pois ele a reserva para aqueles somente que fazem bom uso do tempo" (São Francisco de Sales)

Santa Joana de Chantal consagrara-se a Deus e era tão avara do tempo que, quando lhe perguntaram um dia por que não se dava algum repouso, respondeu: "Porque o tempo não é meu; consagrei-o a Deus, e não posso perder nem um minuto sem cometer uma injustiça contra Aquele a quem pertence".

"O mundo inteiro não é digno de um só pensamento do homem, porque só a Deus ele é devido; assim qualquer pensamento posto fora de Deus é um roubo que se lhe faz" (São João da Cruz, Ditos de Luz e Amor, 114).

"Compreendo perfeitamente aquela exclamação que São Paulo escreve aos de Corinto: 'O tempo se fez curto!' (1 Cor 7, 29), que breve é a nossa passagem pela terra! Para um cristão coerente, estas palavras soam, no mais íntimo do seu coração, como uma censura à falta de generosidade e como um convite constante a ser leal. Realmente é curto o nosso tempo para amar, para se doar, para desagravar. Não é justo, portanto, que o malbaratemos, nem que atiremos irresponsavelmente este tesouro pela janela fora. Não podemos desperdiçar esta etapa do mundo que Deus confia a cada um de nós" (São Josemaría Escrivá - Amigos de Deus, n° 39).

"O tempo vale tanto como o céu, como o Sangue de Jesus Cristo, como o mesmo Deus, porque, bem empregado, põe-nos na posse d'Ele" (São Bernardo de Claraval).

"Nada há mais precioso que o tempo e não há coisa menos estimada nem mais desprezada pelos mundanos" (Santo Afonso Maria de Ligório).

Santo Tomás de Vilanova, arcebispo de Valência e, em geral os santos todos, consideravam a perda do tempo como um furto feito a Deus

A brevidade da vida terrena (cfr. Rm 13, 11-14; 2 Pd 3, 8; 1 Jo 2, 15-17)


Março - Mês de São José - Dia 31



TRIGÉSIMO PRIMEIRO DIA

Oremos para que nos conceda uma grande devoção a São José.
São José estava constantemente ocupado.
Os Santos têm sempre alguma coisa a fazer e fazem-na sem precipitação e também sem indolência. Feliz por ter de ganhar todos os dias o pão de Jesus e de Maria, José não teria perdoado a si a mínima perda de tempo e este pensamento: Eles não teriam o que precisam, ativava-lhe a coragem e dobrava-lhe as forças. A morte o surpreendeu no trabalho e morreu, com o sorriso nos lábios escutando estas palavras de Jesus: "Empregaste bem a tua jornada: vai servo bom e fiel, vai repousar!"
Ó Jesus, assisti-me na hora da minha morte e dizei-me, como a José, essas dulcíssimas palavras de esperança que me esforçarei por merecer, empregando em vossa glória os dias que me concederdes.

EXEMPLO

A 26 de Janeiro de 1856, deu entrada no hospital das religiosas de São Carlos de Virieux-Pelussin, no Loire, uma moça, em estado quase mortal; perdera o uso de todos os membros e de todas as faculdades físicas. Dispensaram-lhe todos os cuidados e depois de oito dias de cruéis sofrimentos, manifestou pequena melhora, porém continuava ainda surda e muda. Veio nesse Ínterim o mês de São José, e a jovem o fez com as outras enfermas. No derradeiro dia, após a oração habitual e no meio do mais profundo silêncio, quando se passava a recitar a ladainha de São José, ouviu-se a jovem enferma agradecer e invocar a São José lastimando não tê-lo conhecido por tanto tempo. Repentinamente abre os olhos e diz: "Ó, meu Deus, eu vejo!" E, um instante depois, exclama: "eu ouço!" Recobrava sucessivamente o uso dos sentidos. Toda a casa acudiu aos gritos de surpresa e alegria que soltaram as pessoas presentes: "Milagre! Milagre!" Dois dias depois, a doente levantou-se perfeitamente curada.
Roguemos todos os dias ao nosso glorioso Protetor que os nossos olhos nunca se fechem à luz da divina graça, e que os nossos ouvidos se abrem dóceis às palavras de vida e de salvação!



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Retirado do livro: Mês de São José por Mons. Dr. José Basílio Pereira

Março - Mês de São José - Dia 30



TRIGÉSIMO DIA

Oremos por nossos benfeitores, a fim de que Deus lhes retribua todo o bem que nos fazem.
São José era reconhecido
O santo Patriarca se havia habituado a ver a mão benfazeja do Senhor abrir-se a cada instante para dar-lhe alguma cousa. A luz de que gozava, o ar que respirava, o pão que ganhava, as forças que possuía; sabia que tudo isso vinha de Deus, e lhe agradecia a todo instante. Essa elevação incessante de seu coração reconhecido conservava-o numa alegria contínua... - Como ele, não recebemos nós tudo de Deus? Oh! se os nossos olhos se abrissem, como abrir-se-ão no céu, veríamos a Providência atenta em nos assegurar o bem estar, a paz, a alegria...
Demos-lhe graças hoje e não lhe desagrademos em coisa alguma. Ousaríamos cometer uma falta no momento mesmo em que Deus nos faz tanto bem?

EXEMPLO

Nos dias nefastos em que Napoleão I perseguiu a Igreja e teve prisioneiro o Sumo Pontífice Pio VI, decretou-se, entre outras coisas, que a igreja de São José, chamada da "Scala," na cidade de Lucca, fosse demolida. Um pedreiro ímpio, ao seguir com outros para a dita igreja, a executar o indigno decreto disse mofando: "Vou agora fazer a barba a São José". E escalando as paredes já fendidas do templo, começou a obra da destruição, descarregando fortes pancadas que repercutiam dolorosamente no coração dos fiéis que a curiosidade e o assombro tinham atraído. Uma pequena trave, de cuja extremidade saía um grande prego pontiagudo, se desprendeu e caiu do teto já abalado; e o prego foi cravar-se violentamente na cabeça do desgraçado sacrílego, que veio ao chão e foi logo um cadáver.
Ofereçamos homenagens e reparações a São José por todas as irreverências e desacatos cometidos contra a sua santa imagem.

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Retirado do livro: Mês de São José por Mons. Dr. José Basílio Pereira


Março - Mês de São José - Dia 29



VIGÉSIMO NONO DIA

Oremos para que Deus nos faça generosos, sempre na intenção de agradar-lhe.
São José dava com abundância
Dar aos pobres é aproximar-se de Deus. Oh! Como se havia de praticar a esmola na casinha de Nazaré! Não era do supérfluo que se dava, mas do necessário em que se faziam cortes, todos os dias. Quando, ao fim do dia, chegava a hora do repouso: "Ainda um pouco de trabalho pelos pobres!" Dizia Jesus e José voltava a faina, ajudado por Jesus e Maria; e depois desse labor suportado com alegria, repousavam todos mais felizes, pensando em que, no dia seguinte, os pobres, teriam um quinhão maior.
Se tendes pouco, daí pouco; se tendes muito, dai muito, mas daí sempre, depositais a juros, para o céu, tudo o que distribuis entre os pobres.
Darei hoje as esmolas que puder, ainda que para isso seja preciso privar-me de alguma coisa.

EXEMPLO

"Ó Propagador da devoção a São José,” em seu fascículo de Julho de 1886, publica a seguinte comunicação:
"Uma piedosa senhora tinha em seu gabinete uma imagem do Santo Patriarca e, dedicando-lhe muita devoção, não saia de casa sem fazer-lhe alguma oração ou dizer-lhe ao menos, quando não dispunha de mais tempo: “Meu bom São José, abençoai-me e guardai esta casa!" Em Agosto de 1885, em sua ausência, um malfeitor, quebrando as vidraças da janela, penetrou no interior e foi até a alcova. Armário, gavetas, pequenas caixas, tudo foi revolvido. Chegando, porém, ao guarda-roupa que estava entreaberto e que também foi visitado, não tocou numa caixa de chapéu onde a senhora deixara naquele dia perto de 700 francos as suas economias de alguns anos. Malogrado em seus cálculos e impacientes retira-se e entra do mesmo modo em casa de um professor, onde arromba um cofre fechado e rouba 760 francos. Certa de que devia a conservação de seu pecúlio a São José, que assim justificava a grande confiança com que era invocado a fervorosa devota vinha dar um público testemunho de seu reconhecimento em honra do Santo Patriarca e remeteu uma pequena esmola para auxílio da obra de resgate dos escravos nas terras da África."
Roguemos a São José que nos guarde sempre contra as ciladas e assaltos de quaisquer inimigos desconhecidos e ocultos.

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Retirado do livro: Mês de São José por Mons. Dr. José Basílio Pereira