Solenidade da Epifania do Senhor

Vidimus enim stellam eius in oriente, et venimus adorare eum
“Vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorá-Lo”
Matth. 2, 2



Sumário. Jesus, apenas nascido, quis começar a comunicar-nos as graças da Redenção. Por meio de uma estrela chama os Magos, e na pessoa destes a todos nós, a fim de O venerarem. Os santos Reis põem-se logo a caminho, entram na gruta, adoram o santo Menino e oferecem-Lhe as suas ofertas místicas. Adoremo-Lo nós também, em união com os santos Reis, e ofereçamos-Lhe pelas mãos de Maria os nossos corações arrependidos e amantes.

I. Jesus nasce pobre numa lapinha: os anjos do céu, é verdade, reconhecem-No por seu senhor, mas os homens da terra deixam-No abandonado. Vêm apenas uns poucos pastores para O adorar. O Redentor, porém, já quer começar a comunicar-nos a graça da Redenção, e por isso começa a manifestar-se aos gentios que menos O conheciam. Manda uma estrela iluminar os santos Magos, para que venham conhecer e adorar o seu Salvador. Foi esta a primeira e também a maior graça que Jesus nos deu: a vocação à fé, à qual sucede a vocação à graça, de que os homens se achavam privados.

Sem demora os Magos se põem a caminho; a estrela acompanha-os até à gruta, onde está o santo Menino. Chegados ali, entram, e o que acham? Invenerunt Puerum cum Maria (1) — “Acharam o Menino com Maria”. Eles acham uma donzela pobre e um menino pobre envolto em paninhos, sem ninguém para o servir ou assistir. Mas como? Ao entrarem naquela humilde gruta, os santos peregrinos sentem uma alegria nunca antes experimentada; sentem seu coração atraído para aquele Menino pequenino. Aquela palha, aquela pobreza, aqueles vagidos de seu pequeno Salvador, ah! Que setas de amor para seus corações, que chamas felizes de amor neles se acendem! O Menino acolhe-os com sorriso amável, demonstrando assim o afeto com que os aceita entre as primeiras presas da sua Redenção.

Os santos Reis olham depois para Maria, que queda silenciosa, mas com semblante no qual reluz uma doçura celeste, acolhe-os e agradece-lhes o terem vindo os primeiros a reconhecer-lhe o Filho por seu soberano Senhor. Eis que os santos varões, silenciosos pelo respeito, adoram o Filho da Virgem e reconhecem-No como Deus, beijando-Lhe os pés e oferecendo-Lhe os seus presentes; ouro, incenso e mirra. Em união com os santos Magos, adoremos o nosso pequenino Rei Jesus e ofereçamos-Lhe todo o nosso coração.

II. Ó amável Menino Jesus, ainda que Vos veja nessa gruta, deitado sobre a palha, tão pobre e tão desprezado, a fé ensina-me que sois meu Deus, descido do céu para a minha salvação. Reconheço-Vos por meu soberano Senhor e meu Salvador, mas nada tenho para Vos oferecer. Não tenho ouro de amor, porque amei as criaturas e os meus caprichos, e não Vos amei a Vós que sois infinitamente amável. Não tenho incenso de oração, porque até hoje vivi miseravelmente esquecido de Vós. Não tenho mirra de mortificação, porquanto tantas vezes tenho desgostado a vossa infinita bondade. — Que poderei eu oferecer-Vos? Ofereço-Vos este meu coração, imundo e pobre como é; aceitai-o e transformai-o. Viestes sobre a terra exatamente para, com o vosso sangue, purificar os corações humanos do pecado e assim transformá-los de pecadores em santos. Dai-me Vós mesmo o ouro, o incenso e a mirra que desejais. Dai-me o ouro de vosso santo amor; dai-me o espírito da santa oração; dai-me o desejo e a força para me mortificar em todas as coisas que Vos possam desagradar. Estou resolvido a obedecer-Vos e a amar-Vos; mas Vós conheceis a minha fraqueza, dai-me a graça de Vos permanecer fiel.

Ó Virgem Santíssima, Vós acolhestes com tamanha benignidade e consolastes os santos Magos, acolhei-me e consolai-me também, agora que venho adorar vosso Filho e consagrar-me inteiramente a Ele. Minha Mãe, tenho confiança absoluta em vossa intercessão. Recomendai-me a Jesus. Em vossas mãos deposito a minha alma e a minha vontade; ligai-a para sempre ao amor de Jesus.

“E Vós, ó meu Deus, que por meio de uma estrela manifestastes no dia presente vosso Unigênito aos gentios: concedei propício, que visto já Vos conhecermos pela fé, cheguemos também a contemplar a beleza de vossa majestade. Fazei-o pelo amor desse mesmo Jesus Cristo, vosso Filho.” (2) (II 377.)

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1. Matth. 2, 11.
2. Or. Festi.

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Santo Afonso Maria de Ligório - Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 122 - 124

Ano Mariano no Brasil

Papa Francisco concede indulgência plenária aos fiéis


Por ocasião do Ano Nacional Mariano, em comemoração pelos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida no rio Paraíba do Sul, o Papa Francisco autorizou a concessão de indulgência plenária aos fiéis, conforme indicações apresentadas pela Penitenciária Apostólica.

 Para alcançar a indulgência plenária, é preciso cumprir com as condições habituais, que são a confissão sacramental, a comunhão eucarística e a oração na intenção do Santo Padre.

Além disso, documento enviado pela Penitenciária Apostólica explica que poderão obter a indulgência os fiéis que “verdadeiramente penitentes e impulsionados pela caridade, se em forma de peregrinação visitarem a Basílica de Aparecida ou qualquer Igreja paroquial do Brasil, dedicada a Nossa Senhora Aparecida”.

No local, explicam, os peregrinos deverão “devotamente participar das celebrações jubilares ou de promoções espirituais ou ao menos, por um conveniente espaço de tempo, elevarem humildes preces a Deus por Maria”.

Em seguida, a conclusão deverá acontecer com a Oração Dominical, pelo Símbolo da Fé e pelas invocações da Beata Maria Virgem, em favor da fidelidade do Brasil à vocação cristã, impetrando vocações sacerdotais e religiosas e em favor da defesa da família humana.

O documento estabelece ainda condição especial para os devotos impedidos de realizar peregrinação, especificamente os idosos e enfermos. Estes poderão lucrar a indulgência plenária se “assumida a rejeição de todo pecado, e com a intenção de cumprir onde em primeiro lugar for possível as três condições, espiritualmente se dedicarem diante de alguma pequena imagem da Virgem Aparecida, a funções ou peregrinações jubilares, ofertando suas preces e dores ao Deus misericordioso por Maria”.

Além disso, apresenta algumas orientações aos sacerdotes responsáveis pelo cuidado pastoral da Basílica de Aparecida e de paróquias dedicadas à Padroeira do Brasil. A estes, afirma que deverão ““com animo pronto e generoso” se oferecer para a celebração da Penitência e muitas vezes administrar “a Sagrada Comunhão aos enfermos”.

Ano Mariano

O Ano Nacional Mariano foi convocado pela presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), estabelecido como um tempo para celebrar, fazer memória e agradecer pelos 300 anos do encontro da imagem da Padroeira do país. Esta iniciativa foi aprovada pela 54ª Assembleia Geral da CNBB, teve início no dia 12 de outubro de 2016 e segue até o dia 11 de outubro de 2017.

Por sua vez, o Arcebispo emérito de Aparecida (SP), Cardeal Raymundo Damasceno Assis, solicitou a concessão da indulgência plenária durante o Ano Nacional Mariana.

O Purpurado explicou que durante o tempo jubilar na Igreja no Brasil serão realizadas “várias celebrações sagradas e peregrinações em honra da celeste Padroeira do Brasil não só na Basílica Nacional Santuário de Aparecida, mas também em todas as igrejas paroquiais dedicadas em honra dela”, para que cresça nos fiéis “piedoso afeto para com a ‘Virgem Aparecida’ e assim se tornem mais fortes nos veneradores dela a fé, a esperança e a caridade, e eles próprios, refeitos pelos sacramentos, sejam mais e mais estimulados a conformarem a vida ao Evangelho”.
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XXI de Novembro - Festa da Apresentação de Maria Santíssima

Por Santo Afonso Maria de Ligório


En dilectus meus loquitur mihi: Surge, propera, amica mea, columba mea, formosa mea, et veni: — «Eis aí o meu amado que me diz: Levanta-te, apressa-te, amiga minha, pomba minha, formosa minha, e vem»
(Cant 2, 10).


Sumário. Afiguremo-nos ver a santa Menina que, acompanhada dos seus pais e de numerosos anjos, se põe a caminho de Jerusalém. Chegada que é aos degraus do templo, beija, de joelhos, as mãos de São Joaquim e de Santa Ana, pede-lhes a bênção, e, sem mais olhar para trás, despede-se do mundo e consagra-se irrevogavelmente ao seu Deus. Felizes de nós, se pudéssemos oferecer hoje ao Senhor os primeiros anos da nossa vida! Ofereçamos-lhe ao menos os poucos que ainda nos restam; pois, melhor é começar tarde do que nunca.


I. A santa Menina Maria, apenas chegada à idade de três anos, rogou a seus santos pais, que, conforme a sua promessa, a levassem a encerrar-se no templo. Quando chegou o dia marcado, eis que parte de Nazaré a imaculada Virgenzinha com São Joaquim e Santa Ana e com uma multidão de anjos, que acompanham a santa Menina destinada a ser a Mãe do seu Criador. Vai, pois, lhe diz São Germano, vai, ó Virgem santa, vai à casa do Senhor, e espera a vinda do Espírito Santo, que te fará Mãe do Verbo Eterno.


Chegada que foi a santa comitiva ao templo de Jerusalém, a santa Menina se volta para seus pais, e, de joelhos, beijando suas mãos, pede-lhes a bênção, e depois, sem mais olhar para trás, sobe os degraus do templo, e, despedindo-se então do mundo, e renunciando a todos os bens que o mundo lhe podia prometer, oferece-se e consagra-se inteiramente ao Criador.


A vida de Maria no templo não foi senão um ato contínuo de amor e de consagração de si mesma ao Senhor: ela ia crescendo de hora em hora, ou antes, de instante em instante, nas santas virtudes, auxiliada, sim, pela graça divina, mas também trabalhando com todas as suas forças para cooperar com a graça. — Ela mesma se mostrou um dia à virgem Santa Isabel e lhe disse: «Pensas, porventura, que obtive as graças e as virtudes sem fadiga? Sabe que não obtive graça alguma de Deus sem grande trabalho, oração contínua, desejo ardente e muitas lágrimas e penitências».




II. A vida da virgenzinha Maria no templo foi uma oração contínua. Vendo o gênero humano perdido e em inimizade com Deus, orava principalmente pela vinda do Messias, com o desejo de ser serva da virgem feliz que viria a ser Mãe de Deus. — Imaginemos que então alguém lhe tivesse dito: Ó santa Menina, sabe que movido pelas tuas preces o Filho de Deus já se apressa a vir e remir o mundo; e sabe que é tu a bendita, escolhida para ser sua mãe.

Ó Maria, Filha amadíssima de Deus, Menina santa, que rogais por todos, rogai também por mim. Vós vos consagrastes inteiramente desde criança ao amor do vosso Deus; oh! não poder eu do mesmo modo, neste dia, oferecer-vos as primícias da minha vida e dedicar-me inteiramente ao vosso serviço, ó minha santa e dulcíssima Soberana! Não é mais tempo disto, pois, desgraçadamente, perdi tantos anos servindo o mundo e os meus caprichos, sem pensar em vós nem em Deus. Maldigo o tempo em que não vos amei! Mas é melhor começar tarde do que nunca. Eis-me aqui, ó Maria; apresento-me hoje a vós e me ofereço inteiramente ao vosso serviço, para o resto de minha vida; como vós, renuncio a todas as criaturas, e me dedico sem reserva ao amor do meu Criador. Consagro-vos, pois, ó minha Rainha, o meu espírito para pensar sempre no amor que mereceis, a minha língua para vos bendizer, o meu coração para vos amar.
Acolhei, ó Virgem santa, a oferta que vos faz um miserável pecador; acolhei-a, eu vos suplico pelo prazer que experimentou o vosso coração, no momento em que vos dáveis a Deus no templo. Se tarde começo a servir-vos, justo é que redima o tempo perdido redobrando o meu zelo e o meu amor. — «E Vós, ó Deus, que no dia presente quisestes que no templo fosse apresentada a Bem-Aventurada sempre Virgem Maria, digna morada do Espírito Santo: concedei-me que pela sua intercessão mereça ser apresentado no templo da vossa glória»[1]. Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo. (*I 344)

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[1] Or. festi.



Retirado do livro: Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima Semana depois de Pentecostes até ao fim do Ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p.393-395.

O Dogma do Purgatório - Parte I

Trechos do Livro
Como evitar o Purgatório
Pe. Francisco Xavier Schouppe, S.J.
Edição de 1973



O Pe. Francisco Xavier Schouppe S.J., missionário jesuíta que viveu em fins do século XIX e início do XX, foi um profícuo autor de obras de caráter teológico e exegético bíblico. Deixou vários livros populares, dentre os quais destaca-se um sobre o Purgatório, do qual extraímos os textos abaixo. Das obras que escreveu, esta é a mais conhecida e recomendada.


O Dogma do Purgatório é muito esquecido pela maioria dos fiéis; a Igreja Padecente — onde há tantos irmãos para socorrer, e para onde sabem que um dia devem ir —, parece-lhes terra estranha.
Esse verdadeiramente deplorável esquecimento constituía um grande sofrimento para São Francisco de Sales: “Hélas”, disse esse pio Doutor da Igreja, “nós não nos lembramos suficientemente de nossos caros falecidos; sua memória parece esvanecer-se com o som fúnebre dos sinos”.
As principais causas disso são ignorância e falta de fé; nossas noções sobre o Purgatório são muito vagas, nossa fé é muito fraca.
Então, para que nossas idéias se tornem mais precisas e nossa fé vivificada, devemos olhar mais de perto essa vida além túmulo, esse estado intermediário das almas justas ainda não dignas de entrar na Celeste Jerusalém.

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O Purgatório ocupa um importante lugar em nossa santa Religião: forma uma das principais partes da obra de Jesus Cristo, e representa um papel essencial na economia da salvação do homem.
Lembremo-nos de que a Santa Igreja de Deus, considerada como um todo, é composta de três partes: a Igreja Militante [nesta Terra], a Igreja Triunfante [no Céu] e a Igreja Padecente ou Purgatório. Essa tríplice Igreja constitui o Corpo Místico de Jesus Cristo, e as almas do Purgatório não são menos seus membros que os fiéis na Terra e os eleitos no Céu. .... Essas três igrejas-irmãs mantêm incessantes relações entre si e uma contínua comunicação, que denominamos a Comunhão dos Santos.

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Rezar pelos falecidos, fazer sacrifícios e sufrágios por eles, forma parte do culto cristão, e a devoção pelas almas do Purgatório é a que o Espírito Santo infunde com caridade nos corações dos fiéis. “Santo e salutar pensamento é rezar pelos mortos”, diz a Sagrada Escritura, “para que sejam purificados de seus pecados” (II Mac. 12, 46).
A Justiça de Deus é terrível, e pune com extremo rigor mesmo as faltas mais triviais. A razão é que tais faltas, leves a nossos olhos, não o são diante de Deus. O menor pecado desagrada-O infinitamente, e, por causa da infinita Santidade que é ofendida, a menor transgressão assume enorme proporção e exige enorme expiação. Isso explica a terrível severidade das penas da outra vida, e deveria nos penetrar de santo temor.

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Fonte do texto: Revista Catolicismo

O Purgatório - Parte II

Trechos do Livro
Como evitar o Purgatório
Pe. Francisco Xavier Schouppe, S.J.
Edição de 1973


Na primeira parte o Pe. Schouppe mostrou a importância de lembrarmo-nos do purgatório; nesta parte II, discorre ele sobre o duplo sentimento que nos suscita aquele lugar: a justiça que pune e a misericórdia que perdoa.
O Purgatório ocupa um importante papel em nossa santa Religião; forma uma das principais partes da obra de Jesus Cristo, e tem uma função essencial na economia da salvação das almas.

Lembremo-nos de que a Santa Igreja de Deus, considerada como um todo, está composta de três segmentos: a Igreja Militante (na Terra), a Igreja Triunfante (no Céu) e a Igreja Padecente (no Purgatório). Essa tríplice Igreja constitui o Corpo Místico de Jesus Cristo, e as almas do Purgatório não são menos seus membros do que os fiéis na Terra e os eleitos no Céu. No Evangelho, a Igreja é ordinariamente chamada Reino do Céu; o Purgatório, tanto quanto as Igrejas celestial e terrena, é uma província desse vasto reino.
As três Igrejas irmãs mantêm incessantes relações entre si, uma contínua comunicação a que chamamos de Comunhão dos Santos. Essas relações não têm outro objetivo senão conduzir almas para a eterna glória, o termo final para o qual todos os eleitos tendem. [...]
Preces pelos falecidos, sacrifícios e sufrágios pelos mortos formam uma parte do culto cristão, e a devoção pelas almas do Purgatório é uma devoção que o Espírito Santo infunde com a caridade nos corações dos fiéis. É um pensamento santo e salutar fazer um sacrifício expiatório pelos mortos, para que eles sejam livres de suas faltas, diz a Sagrada Escritura.(1)
Temor e confiança
Para ser perfeita, a devoção às almas do Purgatório deve ser animada por um espírito tanto de temor quanto de confiança. De um lado, a santidade de Deus e sua justiça inspira-nos um salutar temor. De outro, sua infinita misericórdia dá-nos uma confiança sem limites. [...]
A justiça de Deus é terrível, e pune com extremo rigor até as faltas mais triviais. Isso porque essas faltas, leves a nossos olhos, não o são de nenhum modo aos de Deus. O menor pecado desagrada a Deus infinitamente. Em relação à infinita santidade que é ofendida, a mais ligeira transgressão toma proporções enormes e pede enorme reparação. Isso explica a terrível severidade das penas da outra vida, e deveria penetrar-nos de um santo temor.
O temor do Purgatório é um temor salutar; seu efeito é não só nos inclinar a uma caridosa compaixão para com as pobres almas sofredoras [do Purgatório], mas também ter um zelo vigilante por nosso próprio interesse espiritual. Pensa no fogo do Purgatório, e empenhar-te-ás em evitar as mais leves faltas; pensa no fogo do Purgatório e farás penitência de modo a satisfazer a divina justiça neste mundo, em vez de reparares [teus pecados] no outro.
Guardemo-nos, entretanto, do temor excessivo, e não percamos a confiança. [...]
Caso estejamos animados desse duplo sentimento, se nossa confiança na misericórdia de Deus é igual ao temor que sua justiça nos inspira, teremos o verdadeiro espírito de devoção às almas do purgatório.
Esse duplo sentimento surge naturalmente do dogma do Purgatório retamente entendido — um dogma que contém o duplo mistério da justiça e da misericórdia: da justiça que pune, da misericórdia que perdoa.

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1. II Mac. 12, 46.

Fonte do texto: Revista Catolicismo