Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
livro de 1943
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)
DIA 11
Esperança
Ainda algumas
palavras de esperança sobre as almas de nossos mortos. Fala o padre Bougaud em
sua obra: O Cristianismo e os tempos presentes.
«Quem poderá
narrar as misericórdias de Deus no leito de morte de seus filhos? Aí nessas
sombras confusas da hora última, em que o olhar do homem nada mais distingue,
quem pode saber o que se passa entre Deus e uma alma? Quando o espírito paira
nos lábios como um ligeiro sopro, já não mais da terra, nem ainda do Céu: no
momento: em que Deus se inclina para recolher essa alma, quem poderá dizer o
que se passa? Uma mãe repeliria seu filho, ainda mesmo sendo um ingrato? não
tentará ela por todos os meios trazê-lo de novo a si? Não irá sempre ao seu
encontro, até o fim? Não esgotará todos os recursos para salvá-lo, a despeito
de toda a obstinação dele em fugir-lhe? Ora, Deus é mais do que a mãe.
Vede o que fez
Ele para tornar impossível a perda das almas! Não lhe bastou haver-nos
envolvido nessa graça que nos previne, nos segue e nos banha como uma
atmosfera. Foi pouco ter estabelecido sete sacramentos, isto é, sete rios de
luz e de força que inundam a vida inteira e cada um de seus períodos, como tudo
isso não satisfazia ainda seu coração de pai, vede e adorai a maravilhosa
invenção de seu amor.
Estais enfermo:
já sentis que sobre vós estende a morte suas negras asas. Acodem-vos à memória
vossos pecados, vossas fraquezas, aquele ato do qual vos disse a consciência:
Isto, incontestavelmente, é um mal. O sacerdote não chega a tempo de recolher
vossa confissão, oferecê-la a Deus e vos perdoar em seu nome: que fazer? Vós
tendes um coração: arrancai dele um alento, um grito, uma lágrima, uma palavra
de arrependimento, um ato de amor, um só! Sereis logo absolvido: ficais
purificado e perdoado.
Aquele homem,
prestes a morrer, ainda há pouco blasfemava; o sacerdote veio, ele o repeliu:
apresentaram-lhe o Crucifixo, ele o afastou com a mão. Foi seu derradeiro movimento;
seu último ato. Os socorros da religião não poderão chegar mais até sua alma
já profundamente mergulhada nas sombras da morte. Mas resta-lhe o coração, e,
para ser salvo, perdoado, que será preciso? Um simples ato de amor, um só
desejo, um só pesar, uma só palavra: Meu Deus, eu vos amo!
Homens cegos, que
chorais de desespero em redor desse leito! talvez à mesma hora os anjos
conduzam essa alma com gritos de alegria.
Ela salvou-se com
esse ato de amor.
O Purgatório a
recebeu.
Esse homem que acaba
de suicidar-se cometeu um crime sinistro. A Igreja afasta-se com horror de
seus restos mutilados, e faz bem. Mas ensinará ela que o mísero esteja perdido
sem recurso? Não, absolutamente; pois quem sabe o que fez este alma no momento
em que, lacerada, partiu desse mundo? Quem sabe o que ela viu ao clarão do tiro
de morte? Que revelação teve ao disparar a arma fatal? Teve muito pouco tempo!
direis vós. Ah! Que importa? Uma palavra, um grito, um olhar, um transporte de
amor a Deus, basta para que ela saia deste mundo purificada.»
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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia
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