SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943
11. CONCLUSÃO
A
Sagrada Escritura nos ensina que o povo de Deus, ao sair do Egito, levou
consigo os ossos de José, por gratidão para com aquele que seu benfeitor (Ex
13, 19). Devem os cristãos menos gratidão a São José? Por certo, lhe devemos
muito mais. Paguemos a nossa dívida por uma filial devoção ao nosso glorioso
benfeitor.
Vejamos
como se pode praticar essa devoção. Os fiéis servos de São José não deixam
passar nenhum dia sem honrá-lo por um ato de piedade, sem invocá-lo e sem se
porém debaixo de sua proteção. Em cada semana, um dia, a quarta-feira, lhe é
especialmente consagrado. Este costume data de meados do século XVII; nasceu
num convento de beneditinos, em Châlons. — Com esse intuito pode-se recitar o
pequeno ofício das Alegrias e Dores de São José. Os Papas Pio VII, Gregório XVI
e Pio IX concederam indulgências a essa recitação.
No
curso do ano eclesiástico, temos três festas em honra do nosso santo: a festa
propriamente dita de São José a 19 de março, instituída pelo Papa Sixto IV, no
século XV; a festa dos Desposórios a 23 de janeiro, celebrada desde o século
XVI nos conventos dos franciscanos e dominicanos, e depois estendida à Igreja
inteira pelo Papa Inocêncio XI, desde o reinado do imperador Leopoldo I; por
fim, a festa do Patrocínio de São José, no terceiro domingo depois da Páscoa
(*) prescrita por Pio IX em 1847. Já dissemos que o mês de março foi consagrado
a São José pelos Papas Pio IX e Leão XIII. Além disso, cada uma das festas
acima lembradas pode ser precedida ou seguida de uma piedosa novena.
Na
série das festas eclesiásticas, larga parte é, pois, dedicada à devoção de que
falamos e não temos senão que atender aos convites da Igreja. Mas, além disso,
as circunstâncias pessoais, as nossas necessidades, dificuldades e provações de
cada dia oferecem- nos continuamente ensejo de praticar essa devoção, de
recorrer à São José, de reclamar-lhe a assistência.
É
ainda uma excelente prática o solicitar cada dia três graças por intercessão dele:
a graça de amar sempre mais a Jesus e a Maria; a graça de saber, a seu exemplo
seu, unira vida interior à exterior; e a graça preciosa de uma boa e santa
morte. Não é esse, aliás, o tríplice caráter da vida de São José? E parece que ele
tem juto a Deus um crédito especial para nos alcançar essas mesmas graças.
A
guisa de conclusão resta-nos lembrar alguns dos motivos que nos devem inspirar
uma devoção confiante em São José. Primeiramente São José merece as nossas
homenagens pela sua eminente santidade. Ele nos toca de perto, interessa-se por
nós, e sabemos de que benefícios lhe somos devedores. Como vimos,ele se liga às
próprias origens do cristianismo, visto ser o pai legal do Nosso Senhor Jesus Cristo.
O Senhor reconheceu-lhe esse título, foi-lhe submisso, quis depender dele,
santificou-o pela sua presença durante longos anos. Entre as santas relíquias
consagradas pelo contato do Verbo Encarnado, haverá uma só que tenha
participação mais dessa consagração? Seus olhos contemplaram tantas vezes o
Salvador, suas mãos o tocaram, seus braços o carregaram! Seu coração pulsou ao contato
do Coração do Menino-Deus. O que São José fez por Jesus, faz por nós.
Provemos-lhe, pois, a nossa gratidão! Nunca lhe testemunharemos tanta gratidão
como ele merece efetivamente.
Em
segundo lugar, São José tem direito às nossas homenagens em razão do caráter
todo amável da sua santidade. Ele é o esposo de Maria, seu protetor e arrimo. É
o anjo da guarda da santa infância de Jesus. Aparece com Jesus Menino, e
desaparece após a infância do Salvador. Por isso, o símbolo da sua missão
especial e do seu papel no plano divino não é outro senão o próprio Jesus:
representa-se São José segurando Jesus nos braços ou estreitando-o ao coração.
Amáveis
são também as virtudes do nosso santo: pureza, fidelidade, abnegação,
humildade, sabedoria, caridade; e cada uma dessas virtudes convida-nos a
escolhê-lo para o nosso conselheiro, protetor e pai; a dar-lhe por nossa vez toda
a confiança que Jesus e Maria lhe testemunharam.
Em
terceiro lugar, São José merece as nossas homenagens e a nossa confiança por
ser — permita-nos a expressão — um santo “prático”,
particularmente em condições de nos auxiliar em todas as nossas necessidades. A
sua vida passou por todas as alternativas da existência humana. Conheceu as
alegrias e as provações desta. Como Leão XIII o faz notar numa encíclica,
parece que Deus quis assim dar-nos em São José um modelo em todas as
circunstancias que podem ser as nossas, um protetor tanto mais útil quanto
maior a sua experiência. São José sabe, porque o experimentou, o quanto pode
ser pesada e difícil a missão de um chefe de família, quando está a braços com
a pobreza ou com a perseguição. Conhece, por experiência, o que é mandar ou
obedecer. Em toda realidade, ele santificou por sua vida o estado conjugal e o estado
da virgindade, a vida no mundo e a vida religiosa, a vida ativa e a vida
contemplativa. Coroou a sua vida pela mais santa das mortes.
A
sua experiência estende-se a tudo. A sua proteção não exclui nada. É em
particular nas circunstâncias cotidianas de existência, nas cruzes e nas
provações da vida ordinária, que ele parece aproximar-se ainda mais de nós e
assegurar-nos um socorro eficaz. Ele foi colocado sobre toda a casa do Senhor,
é o Pai da grande família do Salvador. A sua caridade, a sua autoridade
tornam-no, pois, acessível às necessidades de todos. Foi dito de José, filho de
Jacó, que tudo lhe prosperava nas mãos (Gn39,3). Apalavra aplica-se melhor
ainda ao nosso santo patriarca. Seu nome é invocado em toda parte. Seus
clientes são inúmeros. Mas o seu crédito e a sua caridade nunca se esgotam.
Enfim,
São José não é só um santo “prático”,
é um modelo singularmente apropriado à nossa época. É um santo “moderno”. Toda época tem seus perigos e
suas necessidades particulares e, no seu amor e na sua infinita sabedoria, Deus
opõe a esses perigos e a essas necessidades o remédio de que necessitam. Desde
alguns anos, um novo poder firmou-se na nossa sociedade: o temível poder dos
trabalhadores, dos operários. Não falamos daqueles que trabalham como Deus quer
que se trabalhe, que trazem ao seu labor os sentimentos cristãos do dever
cumprido, da confiança guardada apesar de tudo. Desses, nada há a temer. O
trabalho assim compreendido é tão antigo como o mundo, é o apanágio de todos os
filhos de Adão, é uma honra para o homem. Esse trabalho, Deus o abençoou, santificou,
por assim dizer, o divinizou em Nosso Senhor Jesus Cristo. Falamos do trabalho
suportado sem trégua, sem resignação, sem o menor pensamento em Deus, sem
nenhum sentimento sobrenatural. É uma fonte de egoísmo, de cupidez, que, em vez
de apagar, acende a sede dos gozos. É um princípio de orgulho, é o homem a
divinizar-se a si mesmo. É a aspiração à independência. É a loucura de querer
criar por si mesmo e de, para chegar a esse fim, subverter a antiga ordem das coisas,
afim de, sobre as ruínas amontoadas, suscitar uma sociedade sem Deus e sem religião.
No fundo, temos aí o materialismo, a anarquia, o ódio das raças e das classes.
Onde
está o remédio que Deus preparou para tantos males? Onde está o homem novo?
Onde a autoridade nova que tomará a defesa do direito, da honra devida a
Deus,do verdadeiro progresso da humanidade?Esse homem é aquele, cuja vida foi
uma vida de sacrifícios no dever, de obediência, de confiança em Deus, de humildade,
de trabalho. Esse homem é São José, o homem do silêncio, nobre pelo nascimento,
humilde por sua escolha. É aquele que, salvando a Sagrada Família, já uma vez
salvou a Igreja dos seus perseguidores. E compreendemos como e porque, mormente
desde o último século, Deus inspirou à sua Igreja multiplicar as honras prestadas
a São José. Compreendemos como e porque, precisamente no momento em que a crise
temível irrompia, São José foi proclamado Padroeiro da Igreja universal. É a ele
que estão confiados os destinos da Igreja. Tenhamos confiança nele: ele sabe
proteger-nos.
Terminemos
por estas palavras de Santa Teresa (Livro da vida, cap. VI), feitas para nos
inspirarem, em todas as circunstâncias, a mais inteira confiança em São José.
—
“Tomei por advogado e senhor ao glorioso
São José, e encomendei-me muito a ele... Não me recordo de lhe haver, até esta
hora, suplicado graça que tenha deixado de alcançar. Coisa admirável são as
grandes mercês que Deus me há feito por intermédio desse grande santo, e os
perigos de que me há livrado, tanto corporais como espirituais. A outros santos
parece ter dado o Senhor graça para socorrerem numa determinada necessidade;
quanto ao glorioso São José, sei por experiência de que socorre em todas. Quer
o Senhor dar a entender que, como lhe foi sujeito na terra —- pois São José na
qualidade de pai, embora adotivo, podia mandar- lhe — assim no céu atende a
todos os seus pedidos. O mesmo, por experiência, viram outras pessoas a quem eu
aconselhava que se encomendassem a ele; e hoje há muitas que lhe são devotas e
que verificam cada dia esta verdade.
...De alguns
anos para cá, parece-me que sempre, no dia de sua festa, lhe peço alguma coisa
e nunca deixei de a ver cumprida. Se o pedido não é muito razoável, ele o
endireita para o meu maior bem. Não conheço pessoa que deveras dele seja devota
e lhe renda particulares obséquios, que não medre na virtude, porque muitíssimo
ajuda ele às almas que se encomendam ao seu patrocínio... Só peço, por amor de
Deus, que o experimente quem não me crer; e verá por experiência o grande bem
que faz encomendar-se a este excelso Patriarca e ter-lhe amor. Em particular as
pessoas de oração sempre deveriam ser-lhe afeiçoadas. Não sei verdadeiramente
como se pode pensar na Rainha dos Anjos, no tempo que passou com o Menino Jesus,
sem dar graças a São José pelo auxilio que lhes prestou. Quem não encontrar
mestre que lhe ensine, tome este glorioso santo por mestre,e não errará no
caminho”.
__________
(*) Atualmente, na 4ª feira após o 3º domingo.
Realmente, achei belíssima e muito oportuna a publicação: "São José na Vida de Cristo e da Igreja. Acompanhei e copiei todo o conteúdo, para reler e meditar. Desconhecia que o Santo do meu nome, José, é infinitamente benéfico, em todos os sentidos. Parabéns pela publicação. (José Alves).
ResponderExcluirSalve Maria, Sr. José!
ExcluirSão José é um intercessor muito querido por nós!!!!
Vou disponibilizar o livro completo para download no Alexandria, assim poderás guardar o arquivo para reler e meditar com mais facilidade.
Cordiais Saudações!