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X. ALMA DE SILÊNCIO
"O silêncio é o
segredo das grandes almas" já escreveu alguém. As grandes almas são raras.
Por isso há pouco silêncio no mundo. Mas muito barulho. Muita confusão. Muitas
palavras. Já não se ouvem, por isso, as discretas admoestações da consciência.
Nem o perpassar dulcíssimo da graça. Nem os convites suaves para as boas
resoluções. O barulho a tudo sufoca. Dispersando forças. Enfraquecendo
energias. Mirrando as almas. Tornando-as mesquinhas também. Pois “é no silêncio
que as almas crescem’’ diz a Imitação de Cristo. O silêncio é força. “O silêncio
é vida — escreveu a santa carmelita Ir. Marie Aimée — ele é que forja os
santos, trabalha-os, aperfeiçoa-os”. O Eterno Pai é vida. Por isso Ele diz uma
só palavra: o Verbo Eterno. E por meio deste único Verbo criou todas as
maravilhas do Universo. — Maria, melhor do que ninguém, compreendeu toda a força
e todo o encanto do silêncio.
E a ele se entregou ciosamente. Eis por que
são tão raras as palavras que dela se leem nos santos Evangelhos, palavras de
humildade, palavras de amor. E, justamente, por causa deste seu silêncio, se
diz dela uma sentença profunda: Maria conservava
todas estas palavras em seu coração (Lc 2, 19), meditando-as, refletindo
sobre elas, o que é um dos mais belos frutos do silêncio. E a seu esposo
castíssimo, S. José, dá-se o nome de “Santo silencioso”, oh! que admirável silêncio
não havia de reinar então na casinha de Nazaré. Mas não era um silêncio de cemitério,
silêncio infrutífero, mas sim realizador e produtivo, assim como o silêncio das
águas nos grandes reservatórios que, saindo de sua concentração, desenvolvem
energias prodigiosas, produzindo força, produzindo luz. Eis a missão do silêncio.
E um dos silêncios mais admiráveis de Maria é o grande silêncio ao pé da cruz.
Nada de frases, de exclamações, de lamentos... mas o silêncio dos heróis. Foi
este sempre o seu procedimento. Silêncio que a acompanhou pela vida em fora... Silêncio
de humildade: nunca falando sobre si mesma; silêncio de caridade: nunca
entristecendo o próximo; silêncio de obediência: nunca murmurando; silêncio de
resignação: nunca se queixando; silêncio de prudência: nunca dizendo uma
palavra demais; silêncio de recolhimento: nunca dizendo palavras ociosas; silêncio
de fé: nunca ofendendo a Deus presente... Era assim o silêncio da alma gloriosa
de Maria!
Eis por que todos os quadros
marianos, de pintores célebres, nos mostram o rosto amavelmente sério de quem
sabia medir suas palavras. Como são silenciosas, por exemplo, as Madonas de Rafael e de Murilo!... Nem se
pode imaginar de outro modo aquela que andava a escutar, continuamente, o Verbo
Eterno Humanado.
Se nós aprendêssemos
o silêncio de Maria!... Silêncio que é
amor, que é adoração! Se nós soubéssemos nos calar, como cresceriam depressa as
nossas almas! Mas nós gostamos de muitas palavras, de muita dissipação. É conhecida
e bem verdadeira a frase antiga: muitas vezes, me arrependi de ter falado,
nunca de me ter calado. E quando nos calamos exteriormente, quem sabe, quantos
diálogos e discursos no nosso interior! Se queremos, pois, ter forças para a ação,
forças para o amor e forças para o sacrifício, amemos o silêncio. Ele é de
tanta utilidade que todos os Fundadores de Ordens o puseram em suas regras e,
quanto melhor observado ele é, mais florescem todas as virtudes. E o apóstolo
São Thiago escreve que é varão perfeito somente aquele que pratica o silêncio
(1 Jb 3, 2).
VRGEM prudentíssima,
Vaso insigne de devoção, ó Maria, estabelecei-nos num grande silêncio exterior
e interior, em espírito de fé, de adoração e de amor para com a Santíssima
Trindade, na qual vivemos, nos movemos e estamos” (Act 17, 28). Assim seja!
Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição
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