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IX. Alma Ativa
“O meu consolo, nesta
hora extrema, é pensar que não perdi o meu tempo, cá na terra”. Mais ou menos
assim disse a jovem belga Maggy, alma de apóstola, pouco antes de morrer. Era a
expressão de uma grande verdade. Pois ela desenvolvera uma atividade quase incrível
entre as crianças e os pobres operários. Nunca estava parada. A não ser para a
oração, que, afinal, é um modo de andar, de correr até, sem que ninguém o
perceba. Maria Santíssima não desenvolveu, está claro, uma atividade, assim,
que desse na vista. Outros eram os tempos; outras, as necessidades; outra, a
sua vocação! Entretanto que alma ativíssima, a alma gloriosa de Maria! E não
podia ser de outra maneira. A atividade, diríamos quase ser uma virtude de família
em Deus. Que é a mesma atividade, desde o Princípio, pois que é — na expressão teológica
— um Ato puríssimo. Por isso o Padre Meschler, S. J. ficava contrariado quando
os seus noviços lhe falavam de plena quietação no céu. “Não, não; no céu há atividade,
há movimento, há vida”. É esta, aliás, a doutrina de Jesus Cristo. “Meu Pai, dizia o Divino Mestre, opera sem
cessar e Eu também opero” (Jo 5, 17). — Ora, esta doutrina Nossa Senhora
via corporificada, a todo o instante, diante de seus olhos. Jesus trabalhava,
ajudando a ganhar o pão quotidiano que Ele bem podia — si o quisesse —
adquirir, como lá no deserto ou na montanha, de modo maravilhoso; José
trabalhava na sua oficina que era um verdadeiro templo onde habitava e operava
o Homem Deus; Maria trabalhava, também, solícita, em casa, no jardim. A vida em
Nazaré era portanto a lição mais perfeita do “Reza e trabalha” que se tornou
depois regra de tanta Ordem e de todas as almas que querem cumprir a sua
missão.
A alma ativa sabe
sempre vencer as dificuldades. Foi sempre assim a vida de Maria. Indo, obrigada,
a Belém; fugindo para o estrangeiro; de lá voltando, por ordem do Anjo,
encontrou, sem dúvida, não pequenas dificuldades domésticas e financeiras.
Teria desanimado e caído na miséria, se não fosse ativa. E quando Jesus sai,
com os apóstolos, para a sua missão, Maria, de certo, terá redobrado a sua atividade
para os ajudar com as outras piedosas mulheres, de que fala o Evangelho. Como
se revela, claramente, a feição ativa de sua alma lá nas bodas, onde faltou
vinho: pede a Jesus o milagre e logo põe os criados em movimento: que trabalhem
e obedeçam ao Mestre. Depois é a atividade heróica, procurando, corajosa, o
Filho Divino, nos grandes momentos da Paixão; assim como já O procurara, sem
descanso, nos três dias da perda angustiosa lá no Templo. E ainda falta
lembrarmo-nos da grande atividade que Ela desenvolveu, depois da ascensão de Cristo,
em favor da Igreja incipiente. Atividade que se não paralisou lá no céu, em
prol dos filhos que ainda por cá peregrinam, mas, pelo contrário — como estamos
vendo — desdobrou-se maravilhosamente. Ó alma ativa de Maria!... Não era estéril,
portanto, a sua solidão.
Nós somos indolentes.
Gostamos mais do sono do que do trabalho. Preferimos o repouso ao movimento. E
— quem sabe? — nos desculpamos até com a necessidade da solidão. Mas não nos
esqueçamos, existe uma solidão estéril, é aquela da figueira que Cristo mandou
cortar e lançar ao fogo... Eis a sorte dos ociosos, dos comodistas... Trabalhemos, operemos! Há tanto que fazer no
reino de Deus cá na terra... Digamos com aquele devoto de Maria, J. d’Arnoux: “Quero dois ritmos na vida: a suprema
intensidade no trabalho e o ardor contínuo, mas sereno, a todas as horas do
dia. — Meu Deus, dai-me horror aos minutos perdidos!”
Ó MARIA, ensinai-nos
a atividade santa, o trabalho bem intencionado, que não nos afaste de Deus,
Nosso Senhor, mas que nos aproxime Dele cada vez mais. Assim seja!
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Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição
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