Leitura Indulgenciada - A Alma Gloriosa de Maria - 8

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VIII. Alma de Solidão
O Espírito de Deus disse outrora às almas pela boca do profeta Oséias: “Levar-vos-ei à solidão, onde vos hei de falar intimamente”. Desde esse dia são legião as almas que se enamoraram deste isolamento beatífico. Almas grandes! Porque as almas pequenas não o suportam. Querem o convívio, o barulho, a multidão. Onde procuram esconder ou disfarçar a sua pequenez e miséria. Mas donde saem, quase sempre, menores e mais miseráveis ainda. Confirmando, assim, a frase de um pagão: “toda a vez que estive entre os homens, sempre menos homem deles me afastei”.
Naturalmente, à vanguarda das almas que ouviram o convite do Espírito de Deus, devia estar a alma gloriosa de Maria. Ela é a mulher prodigiosa do Apocalipse, que o Apóstolo viu fugindo para o deserto (Apoc. 12, 6) e que quando aparece faz o Esposo perguntar maravilhado: quem é esta que vem do deserto? (Ct 8, 5). Alguém já disse que haverá sempre solidão na terra para os que dela são dignos. “Quem mais digno do que Maria, e quem nos terá dado mais belo e consolador exemplo de soledade?” pergunta o P. Perroy. Maria saboreou, desde pequenina, as doçuras da solidão. Primeiro, na casa suavemente austera de seus santos pais Joaquim e Ana, almas de oração e recolhimento que amavam o silêncio e a lição das Escrituras; depois na clausura do Templo, onde se entregava à oração e ao trabalho, pois que a solidão não é fim, mas meio para nos aproximarmos de Deus e operar nas suas intenções.
O painel que extasiou o próprio Papa Pio IX, no convento do Sacre Coeur em Roma, é bem uma imagem da alma amante da solidão: muito jovem, sentada, sob um pórtico que olha para um prado luminoso, Maria, com as mãos cruzadas sobre a linha do fuso, tendo aos pés o cestinho de costura, onde se vê um livro espalmado... parece que interrompeu o trabalho, para gozar toda a doçura da sua soledade...  Os olhos tem-nos modestamente baixos... mas o lírio a seu lado, imagem de sua alma, procura as alturas como o incenso...  E a gente, contemplando a beatitude e força deste isolamento, tem vontade de fugir para longe das criaturas... Depois da solidão do Templo é a solidão rude, mas sempre proveitosa do exílio, lá no Egito; depois, a tão reconfortante da casa de Nazaré. E quando Jesus começa a pregação, faz-se em torno de Maria a solidão dolorosa, que se repetirá com mais trevor ainda lá, em Éfeso. Cada vez, porém, mais fecunda também.
Amamos a solidão? Há esperança, então, de sermos grandes diante de Deus. Fugimos da solidão? Nunca sairemos, então, de nossa mediocridade vulgar. O beata solitudo, o sola beatitudo! exclamava São Bernardo. Ó feliz solidão, ó única felicidade! E os desertos se povoavam, a esta exclamação mágica. E surgiram as Cartuxas, os Carmelos, as Trapas...  redutos de almas superiores, postos todos eles sob a proteção especial de Maria. Como é significativa a legenda, à porta do Convento das Carmelitas, em Petropolis: “Aqui é o reino da Mãe de Deus!” — Mas, não nos esqueçamos — como diz Ruisbrock, o Admirável — que a solidão é principalmente um ato interior. O justo vive na praça pública como em uma igreja ou uma cela.
Vençamos a multiplicidade de pensamentos, fantasias, planos, temores que nos perseguem...  a solidão espiritual surgirá de per si.
ALMA de solidão, Maria Santíssima, estabelecei-nos na verdadeira e fecunda solidão... onde ouviremos a voz do Espírito... que nos levará à santidade. Assim seja!

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Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição

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