Capítulo II - O Dileto

CENTELHAS EUCARÍSTICAS
 PEQUENA COLEÇÃO
DE
Pensamentos e afetos devotos
a
JESUS SACRAMENTADO


II
O Dileto
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QUEM O chamou assim não foi um simples mortal, mas o próprio eterno Deus, quando Jesus se humilhava sobre as margens do Jordão e se transfigurava nos cimos do Tabor. E eu ouço ainda agora essa voz divina, que me diz: Este é o meu Filho dileto em quem pus todas as minhas complacências. Como, pois, deve ser belo Jesus! Que beleza na sua inteligência! Que beleza na sua vontade! Que beleza mesmo no seu corpo!... E eu vou procurando belezas terrenas... E deixo-me distrair e enganar... Mas se tenho aqui no Tabernáculo Aquele que eu procuro, Aquele que pode saciar a minha fome de beleza, Aquele que me pode contentar... Porque ando divagando pelas criaturas? Às vezes julgo ser ainda alguma coisa sobre a terra, mas agora vejo realmente que sou uma louca.
Como devem ser belos os sorrisos de Deus quando contempla a Jesus! Como deve estar em festa todo o paraíso quando vê a beleza de Jesus! E ao passo que Deus e o paraíso contemplam extáticos a Hóstia, eu quase me aborreço e espero o momento de me ir embora... É verdade que os meus olhos não vêem nada desta beleza; mas a minha fé não verá também nada? Ah! Esta minha pobre fé como deve estar adormentada!
Jesus agrada tanto a seu Pai, e a mim agrada-me tão pouco! Como explicar este absurdo? É preciso confessar que o meu paladar está completamente pervertido e que também eu amo mais as cebolas do Egito que o maná do deserto; e afinal se alguma doçura verdadeira há neste mundo é no maná eucarístico e não em outra parte...
Ora, esta falsidade e perversão de gosto não virão porventura de eu ter um conhecimento muito imperfeito acerca da Eucaristia?
Portanto, irei à escola do Tabernáculo, ouvirei as lições do Mestre e conservarei no coração as suas palavras de vida eterna... Mas, a propósito de coração: não seria melhor pedir ao próprio Jesus que desça ao meu coração e estabeleça nele a sua cátedra de verdade? E uma vez que o tenha no meu coração, não seria bom fazer Ele uma troca: que depois de se demorar um pouco no meu, vá eu habitar o seu coração? Não é talvez lá que se aprendem tantas coisas divinas? Não é lá que os gostos se apuram e se tornam santos?... De resto, uma vez que Jesus esteja no meu coração e eu esteja no d'Ele, não gozarei também eu um pouco das complacências divinas? Daquela bela palavra, Este é o meu Filho dileto, não me tocará também um pouco a mim?
Ser eu a dileta do Eterno! E porque não? Uma vez que eu seja uma só coisa com Jesus, que o seu Sangue corra pelas minhas veias, que o seu Corpo se confunda com o meu, que a sua Alma esteja unida à minha, que a sua divindade penetre todo o meu ser, uma vez que Jesus esteja contente de estar comigo, porque não hei de ser eu também a dileta de Deus?
Amanhã de manhã farei a Comunhão o melhor que puder; e quando Jesus descer ao meu coração, voarei com o pensamento até o Céu, prostrar-me-ei diante do trono de Deus, lançar-lhe-ei um olhar sorridente de amor, e perguntar-lhe-ei: Ó grande Deus, estás contente comigo? Agrado-te agora? E com a maior atenção esperarei a resposta que Ele me há de dar.

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