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Capítulo XXX - Os outros

CENTELHAS EUCARÍSTICAS
 PEQUENA COLEÇÃO
DE
Pensamentos e afetos devotos
a
JESUS SACRAMENTADO


XXX
Os outros
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SERIA necessário que eu nunca os tivesse visto na igreja. Mostram um tal respeito, oram com tal recolhimento, que eu fico humilhada, e requer-se um grande esforço de boa-vontade para eu não deixar ali as minhas devoções e ir-me embora. Vede com que fervor aquela alma boa se põe a orar! Está toda fixa na Hóstia... Quase que nem move as pálpebras, nem parece respirar... Toda a sua vida parece concentrada sobre os lábios... Estes só têm um ligeiro movimento... Todo o resto da pessoa se imobiliza. Parece a estátua da oração.
Quem sabe quantas coisas belas diz a Jesus! E quem sabe quantas coisas Jesus lhe diz, também, por sua vez! Oh! Certamente, deve haver entre aqueles dois corações uma corrente de afetos, capaz de enamorar o Paraíso... Deve ser uma alma santa aquela; e eu, em vez... É inútil pensar e afadigar-me; jamais conseguirei orar assim.
E aquela outra... Vede como sorri a Jesus! Como lhe fala! Há já talvez uma hora que dura o colóquio e não dá sinais de acabar... Que bela coisa não sofrer distrações! Quantas delícias se gozam naqueles entretenimentos! Como aquela alma está de boa vontade ao pé do Tabernáculo! Quem sabe quantos privilégios não lhe terá concedido Jesus! Para mim está tudo acabado: é já muito poder eu, de vez em quando, ver estas coisas... Mas possuí-las...
E aquela outra... Oh! Como chora olhando a Jesus! Mas o seu pranto é um pranto de amor confidente, é a expansão de uma alma angustiada nos braços de um pai consolador. Vê-se bem que é uma alma cândida e pura... Porque certos movimentos nascem só nos corações inocentes... E depois basta observar-lhe o olhar para compreender o candor que está lá dentro. Ora, estas delícias não são para mim. E pensar que me faziam tão bem!
Todos estes que eu vejo a orar na igreja, são todos melhores e mais afortunados do que eu. Põem-se diante da Eucaristia e não pensam em mais nada.
Uma hora depois, ou ainda menos, saem contentes, com a respiração mais larga, com a fronte sorridente, com a alma em paz. Parece que Jesus os tenha acariciado ao coração...
Eu, em vez...
Tu, ó alma mesquinha, farias melhor se pensasses em ti mesma e não divagasses a observar o que fazem os outros. Que sabes tu do que se passa dentro daquelas almas, e entre elas e Jesus? Quem te disse que lá dentro não haja uma luta áspera e contínua contra as tentações e distrações? Quem te assegura de que aquela compostura externa não seja, mais que o efeito do recolhimento interno, um meio para subtrair-se às distrações exteriores? Depois, quem sabe se aquelas almas não serão chamadas a um grau de oração e de contemplação privilegiada?
Quando ores, e sobretudo quando fales com Jesus recolhe os teus olhos e atende ao que fazes. Se te sentes inferior a tantas almas que estão ao pé de ti, agradece a Jesus, mas agradece-lhe do coração; porque, quando Ele te abate, fá-lo para te fazer conquistar um pouco daquela virtude, que te falta talvez mais que as outras — a humildade.
Em vez, portanto, de, fazer confrontos, que acabam sempre por enfraquecer a tua esperança, olha para ti mesma, e quanto mais te reconheceres pobre, indigente, miserável, com maior humildade te deves lançar aos pés de Jesus e pedir-lhe que tenha piedade de ti. Ganharás muito mais deste modo do que a perder o teu tempo, olhando para os outros.
Se os pobres têm um pedaço de pão para entreter a sua fome, não é olhando e invejando que alguém se pode sentar a uma santa mesa, mas sim estendendo a mão ao rico e pedindo-lhe caridade.

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