CENTELHAS EUCARÍSTICAS
PEQUENA COLEÇÃO
DE
Pensamentos e afetos devotos
a
JESUS SACRAMENTADO
XXX
Os outros
__________
SERIA necessário
que eu nunca os tivesse visto na igreja. Mostram um tal
respeito, oram com tal recolhimento,
que eu fico humilhada, e requer-se um grande esforço de boa-vontade para eu não
deixar ali as minhas devoções e ir-me embora. Vede
com que fervor aquela alma boa se põe
a orar! Está toda fixa na
Hóstia... Quase que nem move as pálpebras, nem parece respirar...
Toda a sua vida parece concentrada sobre
os lábios... Estes só têm um
ligeiro movimento... Todo o resto da pessoa se imobiliza. Parece a estátua da
oração.
Quem sabe quantas coisas belas diz a
Jesus! E quem sabe quantas coisas Jesus lhe diz, também, por sua vez! Oh!
Certamente, deve haver entre aqueles dois corações uma corrente de afetos,
capaz de enamorar o Paraíso... Deve ser uma alma santa aquela; e eu, em vez...
É inútil pensar e afadigar-me; jamais conseguirei orar assim.
E aquela
outra... Vede como
sorri a Jesus! Como lhe fala! Há já talvez uma hora que dura o colóquio e não
dá sinais de acabar... Que bela coisa não sofrer distrações! Quantas delícias
se gozam naqueles entretenimentos! Como aquela alma está de boa vontade ao pé
do Tabernáculo! Quem sabe quantos privilégios não lhe terá concedido Jesus!
Para mim está tudo acabado: é já muito poder eu, de vez em quando, ver estas
coisas... Mas possuí-las...
E aquela outra... Oh! Como chora
olhando a Jesus! Mas o seu pranto é um pranto de amor confidente, é a expansão
de uma alma angustiada nos braços de um pai consolador. Vê-se bem que é uma
alma cândida e pura... Porque certos movimentos nascem só nos corações
inocentes... E depois basta observar-lhe o olhar para compreender o candor que
está lá dentro. Ora, estas delícias não são para mim. E pensar que me faziam
tão bem!
Todos estes que eu vejo a orar na
igreja, são todos melhores e mais afortunados do que eu. Põem-se diante da
Eucaristia e não pensam em mais nada.
Uma hora depois, ou ainda menos, saem
contentes, com a respiração mais larga, com a fronte sorridente, com a alma em
paz. Parece que Jesus os tenha acariciado ao
coração...
Eu, em vez...
Tu, ó alma mesquinha, farias melhor
se pensasses em ti mesma e não divagasses a observar o que fazem os outros. Que
sabes tu do que se passa dentro daquelas almas, e entre elas e Jesus? Quem te
disse que lá dentro não haja uma luta áspera e contínua contra as tentações e distrações?
Quem te assegura de que aquela compostura externa não seja, mais que o efeito
do recolhimento interno, um meio para subtrair-se às distrações exteriores?
Depois, quem sabe se aquelas almas não serão chamadas a um grau de oração e de
contemplação privilegiada?
Quando ores, e sobretudo quando fales
com Jesus recolhe os teus olhos e atende ao que fazes. Se te sentes inferior a
tantas almas que estão ao pé de ti, agradece a Jesus, mas agradece-lhe do
coração; porque, quando Ele te abate, fá-lo para te fazer conquistar um pouco
daquela virtude, que te falta talvez mais que as outras — a humildade.
Em vez, portanto, de, fazer
confrontos, que acabam sempre por enfraquecer a tua esperança, olha para ti
mesma, e quanto mais te reconheceres pobre, indigente, miserável, com maior
humildade te deves lançar aos pés de Jesus e pedir-lhe que tenha piedade de ti.
Ganharás muito mais deste modo do que a perder o teu tempo, olhando para os
outros.
Se os pobres têm um pedaço de pão
para entreter a sua fome, não é olhando e invejando que alguém se pode sentar a
uma santa mesa, mas sim estendendo a mão ao rico e pedindo-lhe caridade.
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