Capítulo XXXI - A Santidade (Assunto de Adoração)

CENTELHAS EUCARÍSTICAS
 PEQUENA COLEÇÃO
DE
Pensamentos e afetos devotos
a
JESUS SACRAMENTADO


XXXI
A Santidade
(Assunto de Adoração)
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ADORAÇÃO. Encontro-me neste momento em presença do Senhor e Deus dos santos, da própria santidade. Que honra para o meu nada!... Jesus a santidade... Eu a miséria e a culpa!... Contudo, não me fulmina com o seu rigor; antes, tolera-me com a sua misericórdia, chama-me com o seu amor, para que me resolva finalmente a adorar o que até agora desprezei.
A santidade! Que bela coisa? Quantas vezes a tenho admirado nos outros, quantas vezes a tenho desejado para mim! Pois bem, esta santidade está aqui diante de mim naquela Hóstia... E é mesmo dali que ela brota para difundir-se pelo mundo e operar prodígios de virtude. Ali está a humildade... Está a paciência... A castidade... O sacrifício... A caridade... Às vezes leio na vida dos Santos e fico edificada... Oh! Se eu soubesse ler na Hóstia!... Desejo muitas vezes ir para o Paraíso para ver certos santos... Mas que paraíso não seria o meu se pudesse ver a santidade oculta, mas presente, na Hóstia!... Se um, um só dos Santos do Paraíso descesse à terra, me passasse de perto, e se firmasse um só minuto diante de mim, eu me inclinaria com a fronte por terra para venerá-lo... Mas, aquela Hóstia o que é? Não é a santidade por essência?
Ó Jesus, eu sinto a necessidade angélica de adorar-te... E adoro-te. Oh! Pudesse eu cancelar da minha alma a vergonha de haver quase adorado as criaturas! Pudesse cancelá-la, adorando durante a vida inteira a tua Hóstia, ó Jesus! Pudesse eu chamar e recolher em volta de mim as humanas gerações e fazê-las cantar e glorificar a tua santidade! Pudesse quebrar todos os ídolos da terra, e com os seus destroços edificar um templo às virtudes da Hóstia eucarística!

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Agradecimento. A santidade de Jesus não fica fechada dentro da Hóstia, como dentro dum livro de sete selos, mas corre largamente como um rio, levando a toda a terra as suas ondas benditas de salvação.
Jesus da Eucaristia tomou-me de mira, e desde que eu nasci me enriqueceu sempre com os tesouros da sua santidade. Apenas eu apareci sobre a terra santificou-me com a onda purificadora do Batismo; e, depois, não cessou um só dia de derramar sobre a minha alma a chuva da santidade com os sacramentos... Com a sua palavra... Com as inspirações... Com os bons exemplos... Quem me proporciona a ocasião de ver perto de mim, de ver passar debaixo de meus olhos certas almas vestidas de santidade? E o que são as resoluções que às vezes faço a sós comigo de corrigir-me, de melhorar-me, de acabar com certas paixões? É Jesus que quer chamar-me a si com a fascinação da santidade.
Sobretudo com a Comunhão... Oh! Aquela Hóstia que me desce ao coração!... Com a Hóstia eu possuo toda a santidade com que se embeleza o céu e a terra... Possuo-a toda... Mas, bem pouco assimilo!...
Se é verdade que Satanás e o mundo me assediam com tentações e escândalos, não é menos certo que Jesus me assedia com a beleza e a graça da santidade; e se muitas vezes me entibio, não é pelos excessivos males que presencio, mas talvez pela abundância de virtudes que observo.
Mil graças, ó Jesus! Que seria hoje de mim, se te não tivesse tido tão vizinho, se te não tivesse recebido tantas vezes? Sem Tabernáculo, sem missas, sem comunhões, aonde teria eu ido acabar?
Mil graças, ó Jesus, pelas santas inspirações recebidas aqui... Pela náusea que me fizeste sentir pelo mundo... Pelo horror que me inspiraste ao pecado. Mil graças pelas horas felizes transcorridas aos teus pés e que tanto me ajudaram a ser-te fiel!
Mil graças pelos chamamentos e pelas admoestações que me fizeste ouvir e que tanto me ajudaram a levantar-me da culpa! Ah! Aqueles dias tristes, que eu passei a meditar no inferno, jamais os esquecerei! Mas muito menos esquecerei a visão da santidade, que me mostraste na Hóstia, e que foi para mim a calamite do paraíso.

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Reparação. Perante a santidade de Jesus surge o contraste da minha ingratidão e insensatez. Se em vez de estar no inferno estou ainda aqui, não é por efeito da minha virtude, mas, sim, da sua misericórdia. Pesa sobre o meu coração o remorso de ter descurado a santidade de Jesus na Eucaristia. Atingi naquela fonte algumas gotas apenas... Mas quantas ondas, quantas torrentes foram por mim desprezadas!...
Via aquela Hóstia passar diante de mim, ou conduzida em procissão, ou comungada por almas melhores que a minha, e não lhe dizia sequer uma palavra! Estava nas margens da Probática, e se não mergulhava naquelas águas salutares, não era por falta do anjo, mas por minha culpa. Quantas missas e comunhões descuradas! Quantas visitas omitidas! Quantas boas inspirações sufocadas! Quantas riquezas perdidas!
Jesus estava ao meu dispor, pronto a santificar-me, bastando que lho pedisse; e eu passava o tempo da visita, da missa e um pouco até da comunhão a pensar em outra coisa.
Não me resta, ó Jesus, senão invocar a tua misericórdia e esperar o teu perdão. Conforta-me o pensamento de tantas almas que, depois de tantos anos vividos na culpa, mercê da tua graça, se levantaram do lodo e conseguiram ainda deixar sobre a terra traços luminosos de santidade.
Ó Jesus! Quantas vezes não tomaste precisamente o lodo da terra para formar criaturas à tua imagem e semelhança?
Ó Jesus, eu espero que esqueças as minhas ingratidões passadas, e que sejas sempre para mim o Jesus dos dias mais belos da minha inocente juventude... Quando me amavas tanto... Quando também eu te amava tanto, tanto...
Escuta, ó meu bom Jesus, eu conservarei sempre no meu coração a amargura de uma santa compunção, por ter descurado e ofendido a tua santidade; mas tu conservas também no teu um pouco de doçura, para a dares à minha pobre alma, quando a vires desanimada do passado e desconfiada do futuro; e esta doçura, que invoco, seja a vingança sublime que tome a tua santidade das amarguras com que eu a contristei.

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Súplica. Se Jesus me chama à sua presença, se me desce amiúde ao coração, é porque quer que eu seja santa. Portanto também eu posso aspirar à santidade... Também eu posso voar tão alto, que me perca na luz divina de Jesus... Oh! Como seria feliz se o assemelhasse ao menos um pouco! Mas, faltam-me as forças, e sozinha nada posso. Poderei, talvez, desejar esta santidade; mas atingi-la será sempre um belo sonho, enquanto Jesus me não dá a sua mão e não me ajuda.
É preciso, pois, que eu me una e adira a Ele como um ramo à videira; e então os vigores da santidade me correrão pela alma e a tornarão fecunda das mais belas virtudes... Portanto, devo identificar-me com a Hóstia divina... Porque as almas mais santas são sempre as almas mais eucarísticas... E é inútil aspirar à santidade, sem frequentar o Tabernáculo e recolher-se dentro para viver sempre de Jesus e com Jesus.
Ó Jesus meu, eis-me, pois, aos teus pés, junto do teu coração! Estou sitibunda e esfomeada de santidade... dá-me um pouco... dá-ma toda! Estende a tua mão e afugenta os inimigos da minha alma! Esconjura aquele feio Satanás que sempre me insidia e me tenta... Vem ao meu coração e trabalha-o tu, conforme o teu gosto; purifica-o segundo as exigências da tua santidade; embeleza-o como convém à tua majestade divina; fá-lo tornar um coração belo e santo... Eu o ponho nas tuas mãos; faze d'Ele o que quiseres.
Não te custa nada santificar uma alma! Basta um fiat, um ato simplicíssimo da tua vontade; portanto... Vê, eu estou aqui como o caos, tudo trevas e confusão... Ó Jesus pronuncia uma só palavra e eu terei logo o desejo de fazer-me santa verdadeiramente; e porei mãos à obra; e conseguirei ser santa; e tornar-me-ei uma glorificação vivente da tua eucarística santidade.

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