CENTELHAS EUCARÍSTICAS
PEQUENA COLEÇÃO
DE
Pensamentos e afetos devotos
a
A Santidade
(Assunto
de Adoração)
__________
ADORAÇÃO. — Encontro-me
neste momento em presença do Senhor e Deus dos santos, da própria santidade.
Que honra para o meu nada!... Jesus a santidade... Eu a miséria e a culpa!...
Contudo, não me fulmina com o seu
rigor; antes, tolera-me com a sua misericórdia, chama-me com o seu amor, para
que me resolva finalmente a adorar o que até agora desprezei.
A santidade! Que bela coisa? Quantas
vezes a tenho admirado nos outros, quantas vezes a tenho desejado para mim!
Pois bem, esta santidade está aqui diante de mim naquela Hóstia... E é mesmo
dali que ela brota para difundir-se pelo mundo e operar prodígios de virtude.
Ali está a humildade... Está a paciência... A castidade... O sacrifício... A
caridade... Às vezes leio na vida dos Santos e fico edificada... Oh! Se eu
soubesse ler na Hóstia!... Desejo muitas vezes ir para o Paraíso para ver
certos santos... Mas que paraíso não seria o meu se pudesse ver a santidade
oculta, mas presente, na Hóstia!... Se um, um só dos Santos do Paraíso descesse
à terra, me passasse de perto, e se firmasse um só minuto diante de mim, eu me
inclinaria com a fronte por terra para venerá-lo... Mas, aquela Hóstia o que é?
Não é a santidade por essência?
Ó Jesus,
eu sinto a necessidade
angélica de adorar-te... E adoro-te. Oh! Pudesse eu cancelar da minha alma a
vergonha de haver quase adorado as criaturas! Pudesse cancelá-la, adorando
durante a vida inteira a tua Hóstia, ó Jesus! Pudesse eu chamar e recolher em
volta de mim as
humanas gerações e fazê-las cantar e glorificar a tua santidade! Pudesse
quebrar todos os ídolos da terra,
e com os seus destroços edificar um templo às virtudes da Hóstia eucarística!
*
* *
Agradecimento. —
A santidade
de Jesus
não fica fechada dentro da Hóstia,
como dentro dum livro de sete
selos, mas corre largamente como um
rio, levando a toda a
terra as suas
ondas benditas de salvação.
Jesus da Eucaristia tomou-me
de mira,
e desde que eu
nasci me
enriqueceu sempre com os
tesouros da
sua santidade. Apenas eu apareci sobre a terra santificou-me com a onda
purificadora do Batismo; e, depois, não cessou um só dia de derramar sobre a
minha alma a chuva da santidade
com os sacramentos... Com a sua palavra... Com as inspirações... Com os bons
exemplos... Quem me proporciona a ocasião de ver perto de mim, de ver passar
debaixo de meus olhos certas almas vestidas de santidade? E o que são as
resoluções que às vezes faço a sós comigo de corrigir-me, de melhorar-me, de
acabar com certas paixões? É Jesus que quer chamar-me a si com a fascinação da
santidade.
Sobretudo com a Comunhão... Oh!
Aquela Hóstia que me desce ao coração!... Com a Hóstia eu possuo toda a
santidade com que se embeleza o céu e a terra... Possuo-a toda...
Mas, bem pouco assimilo!...
Se é verdade que Satanás e o mundo me
assediam com tentações e escândalos, não é menos certo que Jesus me assedia com
a beleza e a graça da santidade; e se muitas vezes me entibio, não é pelos
excessivos males que presencio, mas talvez pela abundância de virtudes que
observo.
Mil graças, ó Jesus! Que seria hoje
de mim, se te não tivesse tido tão vizinho, se te não tivesse recebido tantas
vezes? Sem Tabernáculo, sem missas, sem comunhões, aonde teria eu ido acabar?
Mil graças, ó Jesus, pelas santas
inspirações recebidas aqui... Pela náusea que me fizeste sentir pelo mundo...
Pelo horror que me inspiraste ao pecado. Mil graças pelas horas felizes
transcorridas aos teus pés e que tanto me ajudaram a ser-te fiel!
Mil graças pelos chamamentos e pelas
admoestações que me fizeste ouvir e que tanto me
ajudaram a levantar-me da culpa! Ah! Aqueles dias tristes, que eu passei a
meditar no inferno, jamais os esquecerei! Mas muito menos esquecerei a visão da
santidade, que me mostraste na Hóstia, e que foi para
mim a calamite do paraíso.
*
* *
Reparação. —
Perante a santidade
de Jesus surge o contraste da minha
ingratidão e insensatez. Se em vez
de estar no inferno estou ainda aqui,
não é por efeito da minha virtude, mas, sim, da sua misericórdia. Pesa sobre o
meu coração o remorso de ter descurado a santidade de Jesus
na Eucaristia. Atingi naquela
fonte algumas gotas apenas... Mas
quantas ondas, quantas torrentes
foram por mim desprezadas!...
Via aquela
Hóstia passar diante de mim, ou
conduzida em procissão, ou comungada por almas melhores que a minha, e não lhe
dizia sequer uma palavra! Estava nas margens da Probática, e se não mergulhava
naquelas águas salutares, não era por falta do anjo, mas por minha culpa.
Quantas missas e comunhões descuradas! Quantas visitas omitidas! Quantas boas
inspirações sufocadas! Quantas riquezas perdidas!
Jesus estava ao meu dispor, pronto a
santificar-me, bastando que lho pedisse; e eu passava o tempo da visita, da
missa e um pouco até da comunhão a pensar em outra coisa.
Não me resta, ó Jesus, senão invocar
a tua misericórdia e esperar o teu perdão. Conforta-me o pensamento de tantas
almas que, depois de tantos anos vividos na culpa, mercê da tua graça, se
levantaram do lodo e conseguiram ainda deixar sobre a terra traços luminosos de
santidade.
Ó Jesus! Quantas vezes não tomaste
precisamente o lodo da
terra para formar criaturas à tua imagem e semelhança?
Ó Jesus, eu espero que esqueças as
minhas ingratidões passadas, e que sejas sempre para mim o
Jesus dos dias mais belos da minha
inocente juventude... Quando me amavas tanto... Quando também eu te amava
tanto, tanto...
Escuta, ó meu bom Jesus, eu
conservarei sempre no meu coração a amargura de uma santa compunção, por ter
descurado e ofendido a tua santidade; mas tu conservas também no teu um pouco
de doçura, para a dares à minha pobre alma, quando a vires desanimada do
passado e desconfiada do futuro; e esta doçura, que invoco, seja a vingança
sublime que tome a tua santidade das amarguras com que eu a contristei.
*
* *
Súplica. —
Se Jesus me chama à sua presença, se
me desce amiúde ao coração, é porque
quer que eu seja santa. Portanto também eu posso aspirar à santidade... Também
eu posso voar tão alto, que me perca na luz divina de Jesus... Oh! Como seria
feliz se o assemelhasse ao menos um pouco! Mas, faltam-me as forças, e sozinha
nada posso. Poderei, talvez, desejar esta santidade; mas atingi-la será sempre
um belo sonho, enquanto Jesus me não dá a sua mão e não me ajuda.
É preciso, pois, que eu me una e
adira a Ele como um ramo à videira; e então os vigores da santidade me correrão
pela alma e a tornarão fecunda das mais belas virtudes... Portanto, devo
identificar-me com a Hóstia divina... Porque as almas mais santas são sempre as
almas mais eucarísticas... E é inútil aspirar à santidade, sem frequentar o
Tabernáculo e recolher-se dentro para viver sempre de Jesus e com Jesus.
Ó Jesus meu, eis-me, pois, aos teus
pés, junto do teu coração! Estou sitibunda e esfomeada de santidade... dá-me um
pouco... dá-ma toda!
Estende a tua mão e afugenta os inimigos da minha alma! Esconjura aquele feio
Satanás que sempre me insidia e me tenta... Vem ao meu coração e trabalha-o tu,
conforme o teu gosto; purifica-o segundo as exigências da tua santidade;
embeleza-o como convém à tua majestade divina; fá-lo tornar um coração belo e
santo... Eu o ponho nas tuas mãos; faze d'Ele o
que quiseres.
Não te custa nada santificar uma alma! Basta um fiat, um ato simplicíssimo da tua vontade; portanto... Vê, eu estou
aqui como o caos,
tudo
trevas e confusão... Ó Jesus pronuncia uma só palavra e eu terei logo o desejo de fazer-me santa
verdadeiramente; e porei mãos à obra; e conseguirei ser santa; e tornar-me-ei uma glorificação vivente da tua
eucarística santidade.
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