Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
DIA 14
2º sofrimento — Pena do dano
A
pena mais terrível do Purgatório é certamente a pena do dano, isto é, a separação
forçada de Deus ou uma força irresistível que a cada instante afasta bruscamente
de Deus a alma que a todo momento; por instinto de sua natureza, corre a se
unir com ele.
Pode-se
fazer uma ideia dela pelo suplício de uma mãe que, chamada pelo filho prestes
a ser devorado por uma fera, fosse retida por uma força invencível no momento
em que se precipitasse em seu socorro, e isso não uma só vez, porém dez, cem
vezes.
Há
neste suplício, dizem os santos, uma angústia mais sensível, de certo modo, que
a do inferno. Os míseros condenados não amam a Deus, seu desejo insaciável e
sempre renascente é ver a Deus aniquilado.
Mas
as santas Almas do Purgatório amam ao Senhor, amam-No tanto quanto O conhecem,
e porque O viram, compreenderam o amor que lhes tem, sentem quanto há sido bom
para com elas, sabem quanto serão felizes perto Dele e em sua união… e,
todavia, estão detidas longe Dele! nada podem, nada, para se lhe aproximarem! É
uma sede sem fim, a qual nada é capaz de imitar. É uma fome sem limites, que
não há nada que possa fartar: É um peso enorme que abafa, e do qual não é possível
desembaraçar-se.
Santa
Teresa experimentou alguma coisa destas angustias misteriosas:
«Em
vão, diz ela, tentaria eu explicar sua natureza. A alma, por vezes, sente um
desejo irresistível de Deus que parece transportá-la a um deserto onde ela nada
mais vê para poder descansar. Nenhuma consolação, nem do Céu, onde ainda não
está, nem da terra a que já não pertence.»
«Ó
Jesus, exclama a santa, quem poderia fazer uma pintura fiel desse estado? É um
martírio que a natureza custa a suportar; os ossos se separam e ficam como
deslocados, as mãos tomam tal rigidez que se não podem juntar, e, até o
seguinte dia, sente-se uma dor tão violenta, como se todo o corpo estivesse
desconjuntado; um só desejo nos consome: morrer! morrer! ir a Deus! — Esse estado,
conclui a santa, é o das Almas do Purgatório.»
Oh!
vós que amastes tanto na terra e que tanto sofrestes com a morte daqueles que
amáveis, vós a quem a separação ainda tortura, escutai, escutai o grito dessas
almas que chamam a Deus e que nos dizem : Vós no-lo podeis dar, oh dai-nos
nosso Deus! fazei-nos dignos Dele!
__________
Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia