Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
livro de 1943
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)
DIA 2
Lembrança dos mortos
“Não esqueçais vossos mortos, vós a quem eles
tanto amaram!” Vi estas palavras gravadas, na porta de um cemitério, aos
pés de um crucifixo, e me despertaram uma série de pensamentos de tristeza, de
confusão e de remorso!
Não
esqueçais vossos mortos, que tanto vos amaram! Estas palavras se deveriam
escrever, não só na porta do cemitério em que repousam seus corpos, aguardando
a ressurreição, mas ainda em cada um dos móveis que temos ao redor de nós e que
deles recebemos.
Neste
aposento. — Não foi ele, esse finado talvez já esquecido, esse pai que queria
tanto; não foi ele quem o dispôs tal qual está proporcionando-nos tantas
comodidades?
—
Não foi nesse leito que ele exalou o último suspiro, que nos disse o derradeiro
adeus e que nos deu a sua última benção?
Nestes
móveis. — Não foi essa mãe, de quem talvez já não nos lembrávamos, quem os
comprou para nós? Evoquemos nossas recordações: foi para a festa de nosso dia
de anos: ela fizera economias, condenara-se a privações para nos adquirir esses
objetos, porque uma vez lhe manifestamos vagamente o desejo de possuí-los.
Nesta
cadeira. — Não é a que ela ocupou em seus últimos dias, donde tanto nos
acariciava? Esse lugar junto à mesa não era o seu?
Neste
oratório. — Não era aquela boa irmã, menina tão piedosa, quem o ornava? Nós
vínhamos rezar ali com ela e, chamados por ela, vínhamos todos, pai, mãe, os
irmãos pequenos… e agora, está abandonado talvez… como a lembrança daquela que
já não pode mais orar conosco.
Neste
crucifixo que guardamos como uma relíquia, — Não recebeu ele os ósculos derradeiros
de um pai, de uma mãe, de um filho?
Ó
meus mortos mui queridos, com que dita eu acolho estas recordações que me
comovem, consolando-me? Com que prazer eu vos revejo em espírito e peço a Deus
vosso alívio, vossa paz, vosso repouso eterno!
Se
o tivésseis querido, Senhor, estes seres tão amados, viveriam ainda e estariam
junto a nós!
Eu
me resignei à vossa santa vontade: aceitai em atenção a esta resignação dolorosa,
mas submissa, recebei as orações que por eles faço hoje e quero fazer todos os
dias deste mês.
Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda - Salvador - Bahia
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