SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943
5. OS
SANTOS REIS MAGOS
Após
a apresentação de Jesus no templo, José voltou a Nazaré com Maria e o Menino
(Lc 2,39). Mas logo, sem dúvida, a Sagrada Família tornou a Belém para ali se
estabelecer de vez. Na realidade, Belém era a pátria de Jesus, o lugar do seu
nascimento. Belém ficava próxima de Jerusalém e, a mais de um título, essa
proximidade oferecia vantagens. Sabe-se que, posteriormente, na volta do Egito,
José cogitou de fixar-se em Belém.
Podia
haver um ano que a Sagrada Família residia em Belém quando, subitamente, uns
Magos vindos do oriente chegaram a Jerusalém.
—
“Onde está o rei dos judeus que acaba de
nascer?” — perguntaram. — “Vimos a
sua estrela no oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,2).
Essa
pergunta, feita abertamente, perturbou Herodes e alvoroçou toda a cidade.
Embaraçado, mas fingido, Herodes não achou nada melhor do que informar-se,
junto aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, do lugar, onde devia nascer
o Messias. Disseram- lhe que era em Belém. Herodes transmitiu a resposta aos
Magos, recomendando-lhes informarem-se exatamente acerca do Menino e fazerem-no
saber quando o achassem, dizendo: “afim
de que eu também vá adorá-lo” (Mt 2,8). Guiados pela estrela que, para sua
grande alegria, lhes apareceu de novo ao saírem da cidade, os Magos chegaram a
Belém.
Os
Magos vinham de uma região situada ao oriente da Judeia. Eram personagens
nobres, sábios, talvez príncipes de sangue real. Ao que parece, conheciam os
Livros Sagrados. Uma inspiração do alto lhes fizera saber que, ao aparecimento
de uma estrela extraordinária no céu eles deveriam procurar o Rei-Messias para
adorá-lo.
Essa
estrela apareceu na hora do nascimento ou um pouco mais tarde e, desde então, eles
o tomaram como um dever seguir essa indicação. É o que podemos inferir do seu
aparecimento junto ao presépio do Salvador. Vieram, pois, a Belém e acharam a morada
do Menino-Deus. Sem dúvida, pararam no khan da cidadezinha, com seu séquito, e
mandaram perguntar à Sagrada Família se podiam apresentar-se, acrescentando que
pela indicação de uma estrela, tinham vindo para adorar o Menino. São José
recebeu os enviados com a sua cortesia habitual.
Por
seu turno os Reis Magos apareceram com seus servos trazendo, em cestas e
caixinhas, preciosas dádivas, pois no oriente ninguém se aproxima de um
príncipe sem lhe oferecer algum rico presente.
Maria
acolheu os nobres visitantes com graciosa simplicidade. Jesus repousava-lhe nos
braços. A mista dele, eles se lhe prostraram aos pés, peneirados de fé viva e
profunda humildade. Adoraram-no com amor, ofereceram-se-lhe sem reserva. Em
verdade, Eles eram sábios e eram reis! A sabedoria do seu espírito, a real
grandeza do seu coração não se escandalizaram ao verificar que o Menino-Deus
era desconhecido em Jerusalém. Não os desconcertaram a simplicidade e a pobreza
da habitação de Belém. Sem julgar pelas aparências, eles seguiram as inspirações
do seu coração e creram no que, Deus lhes revelava.
Tomando
então dos presentes que os servos carregavam envoltos em tapetes preciosos,
ofereceram a Jesus ouro, incenso e mirra —dádivas misteriosas a simbolizarem os
sentimentos do seu coração, — a fé, o amor, a adoração — assim como a
divindade, a realeza e a missão redentora do Menino.
Jesus
aceitou essa homenagem, cuja significação conhecia. Em retribuição, derramou na
alma dos Santos Reis a abundância de suas graças. Abençoou neles as primícias e
os precursores dos gentios. Sem dúvida, conversaram os reais peregrinos em
seguida com Maria e José, que, com nobre simplicidade, relatavam as
circunstâncias do advento do Salvador. Pela primeira vez, Maria instruiu
representantes do mundo pagão e José tomou parte nesse apostolado: tornados
cristãos, os Magos levaram a fé para o seio do seu povo.
Todavia,
não passaram por Jerusalém. “Recebendo,
em sono, um aviso do céu para que não fossem ter com Herodes”, que resolvera
perder o Menino, “Eles voltaram para a
sua terra por outro caminho” (Mt 2,12) — o caminho que, ao sul, vai atravessar
o Jordão.
A
maravilhosa visita dos Magos foi uma alegria imensa para Maria e José. O nosso
santo folgou de encontrar-se com aqueles piedosos personagens cujos sentimentos
tinham mais de uma analogia com os seus. Mas sobretudo se alegrou pela grande
honra feita a Maria e a Jesus. A sabedoria do oriente viera prestar homenagem à
Divina Sabedoria daquele humilde Menino. Que magnífica revelação da realeza do
Salvador! Apenas nascido, começa Ele a reinar. É pobre, e depositam-lhe aos pés
o ouro e as riquezas. Das regiões longínquas, Ele chama a si servos e
adoradores. O céu e a terra lhe obedecem. Seus inimigos tremem ao simples
anúncio do seu advento.
O
mistério da adoração dos Magos é, por assim dizer, o Tabor da santa infância de
Jesus. Na sua alegria, José podia ter antecipado as palavras de São Pedro: — “É bom estar aqui; levantemos aqui três
tendas”. Finalmente, como não ver nesse mistério da vocação dos gentios um
prenúncio do papel de São José em relação às Missões entre os infiéis? Um dia,
com efeito, a Igreja proclamá-lo-ia Padroeiro das Missões.
Um
antigo mosaico de Notre-Dame de Paris (século XIII) indica otimamente a parte
tomada por São José nesse mistério e o lugar importante que ele aí ocupa: o
santo está debaixo de um baldaquim; apoia-se no seu bordão; observa, e parece
esperar a homenagem dos reis visitantes. Mais tarde, Fra Angélico mostra-nos
São José conversando com um dos Reis Magos, cuja fé, sem dúvida, ele esclarece;
ou então abrindo uma caixinha que encerra um dos ricos presentes trazidos, afim
de oferecê-lo ao Menino-Deus em nome dos gentios. Não é já o Padroeiro das
Missões?
Nenhum comentário:
Postar um comentário