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15/03 - Em honra a São José - excertos do livro

SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943


4.   O HOMEM SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS
Há um outro título que damos a São José: chamamo-lo “o homem segundo o coração de Deus”, “o homem da dextra de Deus”, isto é, o homem da Providência divina. E estes títulos convidam a estudar com mais minúcia as relações de São José com o Espírito Santo.

Com efeito, o Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho mediante a vontade ou o amor, representa, na Divindade, o amor ou o coração, símbolo do amor. E como não há nada mais ativo que o amor, o Espírito Santo representa também o princípio de todo movimento ordenado ao fim. Numa palavra, ele é o princípio diretor a que todas as criaturas devem obedecer para atingirem o seu destino eterno. O Espírito Santo, “O dedo de Deus”, que criou todas as coisas pela sua sabedoria, conduz todas as criaturas ao seu fim pela sua Providência, designando-lhes a sua vocação e tornando-as capazes de cumprir essa vocação.
Na sua qualidade de pai legal de Jesus e de chefe da Sagrada Família, São José teve uma vocação de grandeza e importância excepcionais: preparar o advento do Redentor neste mundo, preparar a redenção velando sobre a infância e juventude do Homem-Deus. Sob este aspecto, Ele era o instrumento do Espírito Santo. O Espírito Santo guiava, José obedecia e realizava o plano divino pela obediência. É instrutivo e edificante ver de que maneira José seguia a direção do Espírito Santo. Sob este ponto de vista achamos, na vida do santo patriarca, duas espécies de circunstâncias em que a sua conduta nos pode servir de modelo.
Primeira circunstância: — Deus quer alguma coisa de nós, chama-nos para fazermos uma escolha; mas não nos manifesta expressamente a sua vontade, guarda silêncio. São José achou-se neste caso provavelmente no momento do seu noivado com Maria, e depois quando teve de sofrer sob a dúvida cruel de que falamos, e enfim na época do regresso do Egito, quando se tratou de fixar em Belém ou em Nazaré a residência da Sagrada Família. Em semelhante conjuntura não há outro recurso senão tomar o conselho de outrem, ou inspirar-se na sua própria prudência, na própria consciência, ou enfim orientar-se pelos conhecimentos que podem levar a conhecer a vontade de Deus.
Assim, para o noivado com Maria, São José ter-se-ia resolvido em razão da declaração dos sacerdotes e dos chefes de família. Na dúvida relativa à virgindade de Maria, ele consultou sua consciência e a lealdade do seu próprio coração, sem se deixar influenciar pela voz da paixão, até que Deus revelasse a Sua vontade pela mensagem do anjo. Finalmente, para fixar em Nazaré a residência da Sagrada Família, ele se decidiu pelos conselhos da prudência, porque Arquelau era para temer tanto quanto seu pai Herodes; e, aí ainda, a escolha de José recebeu a confirmação divina.
Segunda circunstância: — Deus nos pede uma coisa, manifesta claramente a Sua vontade, mas nos deixa a escolha e a aplicação dos meios. Aqui, o que temos a fazer é desprender-nos de todo apego, triunfar de todo temor, de toda irresolução, para nos conformarmos sem reserva com a vontade de Deus. É o caso de São José, recebendo do céu a ordem de fugir para o Egito com o Menino. O fim estava claramente designado. Quanto aos meios, José teve de prover-lhes por si mesmo; e vimos a sua coragem e constância em obedecer. Que desapego de si mesmo, que docilidade em se conformar com uma ordem que o atira para longe, para a terra do exílio! Não é Ele, por essa própria obediência, a nuvem leve sobre a qual o Senhor queria mostrar-se no Egito (Is 19,1)?
Destarte mostra-nos ele em São José o nosso padroeiro em todas as decisões difíceis, e mais particularmente na escolha da vocação, escolha de tamanha importância para todas as almas. Quando, às vezes, é coisa tão delicada uma simples determinação a tomar no curso ordinário da vida, que dizer de uma escolha de que dependerá a vida inteira? Portanto, sigamos o exemplo de São José e imploremos-lhe o socorro. As reflexões seguintes poderão ajudar-nos em negócio tão grave.
Primeiramente. devemo-nos compenetrar bem deste grande princípio: que, numa decisão qualquer e, sobretudo,na escolha de uma vocação, não devemos procurar outra coisa senão a vontade de Deus para a salvação eterna de nossa alma, e não a nossa própria vontade ou as nossas preferências, a menos que elas coincidam com a vontade de Deus. Procurar e querer outra coisa, seria subverter a ordem; seria tentar dobrar a vontade de Deus à nossa própria vontade, e não reduzir a nossa vontade à de Deus. Seria fazer do fim o meio, e do meio o fim. Não seria querer ir a Deus, mas querer que viesse a nós. Tudo consiste, pois, em procurar conhecer a vontade de Deus sobre nós. Ele é nosso Senhor e Mestre. A nossa vida lhe pertence. A Ele é que compete dispor dela, é não a nós. A Ele é que cabe determinar como devemos servi-lo. Não é o homem que faz a sua vocação, é Deus quem lha dá.
Em segundo lugar, segue-se que devemos examinar o que pode ou não pode ser objeto de uma escolha. Evidentemente, nada de pecaminoso, nada de contrário à lei divina poderia ser posto em deliberação. Não teríamos aí nem a vontade de Deus nem um meio de chegar ao nosso fim. A escolha não pode versar senão sobre coisa moralmente boa, ou pelo menos sobre coisa indiferente em si mesma, mas podendo, na circunstância, tornar-se boa; sobre coisa, enfim, admitida na Igreja ou por ela tolerada. Não é, pois, necessário que o objeto da escolha seja uma coisa que se refira por si mesma à perfeição, por exemplo o sacerdócio ou o estado religioso. Deus tem caminhos para cada alma em particular e, todos os caminhos, contanto que não sejam maus, podem conduzir ao fim. Foi por isso que Ele estabeleceu na Igreja vocações diversas, e em cada uma dessas vocações pode-se, com o socorro de Deus, atingir a perfeição, porque a perfeição consiste essencialmente em amar a Deus acima de todas as coisas, em ser e em fazer o que Deus pede de nós. São José nos ensina pelo seu exemplo: Deus lhe pedia um modelo de perfeição mesmo no estado do matrimônio.
Estabelecidos estes princípios, trata-se, em terceiro lugar, de saber como podemos achar e reconhecer a vontade de Deus sobre nós, relativamente à nossa vocação ou à maneira por que devemos servi-lo e alcançar a nossa salvação. Sobre este ponto, há vários meios de chegar a uma certeza moral. O próprio Deus pode revelar-nos a sua vontade, como o fez muitas vezes com os santos, e em diversas circunstâncias com São José, enviando-lhe um anjo. A luz também nos pode ser dada pelas inspirações interiores e pelos movimentos da graça na oração, pelas inclinações naturais ou pelas qualidades que Deus nos deu e que correspondem a esta ou aquela vocação.
Enfim, podemos examinar seriamente e pesar com reflexão as vantagens e os inconvenientes que acharemos para a salvação de nossa alma nos diferentes caminhos que se abrem diante de nós. O que então nos parecer o melhor, quando todas as coisas forem assim discutidas sem nos deixarmos influenciar pelo nosso gosto natural, muito verossimilmente é a vontade de Deus e a vocação a que Ele nos chama. Podemos pois, tomar a nossa decisão definitiva. A escolha está, assim, terminada, e Deus não deixará de nos abençoar. Fervorosas orações, os conselhos de pessoas prudentes e tementes a Deus, uma séria introspecção em nós mesmos perguntando-nos o que aconselharíamos a um amigo em semelhante circunstância e o que nós mesmos queríamos ter feito, quando viesse o momento da morte — são outras tantas indicações utilíssimas para uma boa escolha.

Por conseguinte, quando tivermos de fazer uma escolha importante, vamos a São José:é um santo, é um pai, é o nosso conselheiro, é o nosso amigo. Dele, melhor ainda do que do ministro do Faraó, podemos dizer: — “Acharemos um homem que, como esse, seja cheio do espírito de Deus? Acharemos um sábio que lhe seja comparável?” (Gn 41,38). Não menos que o José que salvou o Egito e seu povo, São José é favorecido pelas luzes sobrenaturais e pelas comunicações divinas.Ele absolutamente não precisa de uma taça ou de um espelho (Gn 44,5) para reconhecer a vontade do céu e descortinar o futuro. Ele reina agora junto Daquele que foi seu filho na terra; lê no espelho da divina Sabedoria o que Deus quer e o que é bom para as almas. Lembremos-lhe as angústias que acompanharam a escolha da sua vocação. Lembremos-lhe aqueles três dias de cruel ansiedade, quando Jesus, na idade de doze anos, ficou em Jerusalém. Foi por causa de uma vocação que seu coração sofreu tanto. Tratava-se de revelar e de reparar a vocação do Homem-Deus, Daquele que era seu filho. E temos também aí um exemplo das tristezas de que muitíssimas vezes a vocação dos filhos é ocasião para os pais. São José conhece as alternativas de sofrimentos e de alegrias que acompanham uma vocação. Alguém disse: aqueles a quem a vontade de Deus chama ao estado do matrimônio, melhor não poderiam fazer do que recomendar-se a São José na escolha de um esposo ou de uma esposa. Ele encontrou Maria! Que graça e que fonte de bênçãos! “A mulher virtuosa é uma sorte feliz!” (Ecl 26,3); “A mulher santa e pudica é uma graça inestimável” (Ecl 26,19).

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