SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943
8. O
PADROEIRO DAS ALMAS ATRIBULADAS
Tudo
neste mundo está sujeito à lei do sofrimento. Não há ninguém que não tenha de
sofrer. A dor prendeu-se ao homem; segue-o por toda parte. No fundo, a história
da humanidade não passa de uma grande tragédia em que o sofrimento, sob mil
formas diversas, representa o papel principal. O sofrimento começou com o
pecado; só termina com a morte. Cumpre, pois, que assim seja: Deus,
infinitamente bom e infinitamente sábio, viu um bem na provação. Pelo sofrimento
é que fomos remidos; é pelo sofrimento que colhemos os frutos da Redenção.
Muitos homens são levados à compreensão e salvos, só mesmo pelo sofrimento. A
cruz é, pois, a partilha de todas as almas. Os santos não escapam a essa lei.
São
José conheceu, pois, o sofrimento. Conheceu-o tanto mais quanto estava mais
estreitamente unido ao Salvador. Todos os mistérios da vida de Jesus são mais
ou menos mistérios dolorosos. Mesmo Nazaré e Belém tiveram sua cruz. Por toda
parte, onde o Salvador repousa a cabeça, deixa os vestígios da sua coroa de
espinhos. São José viveu longos anos com Jesus. Muitíssimas vezes segurou-o nos
braços, estreitou-o ao coração; — não podia, pois, deixar de encontrar a cruz!
Carregou
continuamente a cruz do trabalho. A pobreza era-lhe uma cruz, menos para ele
mesmo do que em atenção ao Salvador e a Maria, cuja penúria lhe era um
sofrimento. Nem sempre ele achou um abrigo para si e para a Sagrada Família.
Homens de coração insensível recusaram-lhe asilo, cruéis perseguidores
ameaçaram-no naquilo que ele tinha de mais caro. As próprias cruzes domésticas
não lhe foram poupadas. Testemunha isso a sua angústia numa circunstância
penosa; testemunha isso a sua dor quando Jesus ficou no templo. Será mister,
além disso, lembrar a circuncisão do Salvador, a imposição do nome de Jesus que
pressagiava tantos sofrimentos, a profecia do velho Simeão, a fuga para o
Egito? Esses mistérios e outros mais foram, de alguma sorte, o Calvário de São
José.
Juntemos
a isso os sofrimentos que não deixavam de causar ao seu coração os pecados, a
ignorância e a ingratidão de seu povo. Se bem que essas dores estejam longe de
igualar o inenarrável martírio de Maria ao pé da cruz, foram no entanto
infinitamente amargas para S. José porque se referiam a Jesus, a seu Deus, e
porque ele amava esse Deus com o amor mais profundo.
Os
sofrimentos de José são, pois, nobres e belos em razão da sua causa — já que
essa causa está nos sofrimentos do próprio Salvador — e em razão da maneira
como ele suportou essas provações. O supremo triunfo da arte, dizem, é
representar o sofrimento de maneira a mostrá-lo belo e sublime. Bem mais
difícil ainda é suportá-lo cristãmente. José oferece-nos, aqui, um exemplo
admirável. Nem uma só queixa, nem uma só palavra de impaciência lhe escapa. É
um grande silencioso. Dele, o Evangelho não nos conservou nenhuma palavra. Ele
se fecha na sua fé, na sua humildade, na sua inalterável confiança, na sua
ardente caridade, e suporta tudo com alegria, em companhia de Jesus e de Maria,
contente de poder sofrer com eles.
Por
seu lado, Deus nunca o abandona na provação. Está sempre lá, dirigindo todas as
coisas. E os sofrimentos passam, deixando após si a consolação. Está José
perturbado a respeito de Maria? Uma mensagem do céu tranquiliza-o e lhe restitui
a felicidade. As provações de Belém são consoladas pelo nascimento do Salvador,
pela adoração dos pastores e dos Magos. À fuga para o Egito sucede a alegria do
regresso. Jesus desaparece e, durante três dias, o coração de José é cruelmente
angustiado. Mas Jesus é achado no templo, e seguem-no então os tranquilos anos
da vida em Nazaré.
Parece
que, pelo exemplo do Santo, Deus quis ensinar-nos de maneira palpável que a
vida neste mundo é continuamente de dias bons e dias maus, e que, portanto, é
de mister achar em uns consolação para os outros. Ordinariamente, os dias de
alegria e de paz sobrepujam. Acaso o óleo não sobrenada na água? Não esqueçamos
isto, e aceitemos com gratidão tudo o que Deus nos envia. Suportemos os dias
maus por gratidão pelos dias felizes que nos foram concedidos e, na felicidade,
preparemo-nos para o sofrimento. Grande arte é saber aceitar, como convém, a
alegria e o sofrimento. Sem esta ciência, a provação lançar-nos-á na impaciência,
na dúvida ou no desespero. A alegria e a prosperidade acarretarão a presunção e
a dissipação; expor-nos-ão ao temível perigo de nos esquecermos de Deus. A
exemplo de São José, permaneçamos sempre os mesmos na ventura e no sofrimento.
Deus não nos leva a mal que a ventura nos dê alegria e que a cruz nos cause
dor. Tal é a nossa natureza. Mas tomemos tudo em espírito de fé, com
sentimentos de confiança e gratidão para com Deus. Na eternidade bem-aventurada
nada nos dará mais alegria do que os sofrimentos que tivermos suportado neste
mundo, a exemplo de São José, com paciência e por amor a Jesus e Maria.
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