SÃO JOSÉ
Na Vida de Cristo e da Igreja
Na Vida de Cristo e da Igreja
Pe. Maurício Meschler, S.J.
Edição de 1943
9. O
PADROEIRO DA BOA MORTE
Numerosos
são os males, múltiplos os sofrimentos do homem neste mundo. Entre esses
sofrimentos, um há a que ninguém escapa: todos nós devemos morrer, porque todos
nós pecamos. A morte é o estipêndio do pecado.
A
morte é um sofrimento duro e amargo para a nossa pobre natureza. É, antes de
mais nada, o termo da nossa vida física. A íntima união do corpo e da alma,
união que constitui a vida, é quebrada pela morte. A separação é dolorosa. O
corpo vai reduzir-se a pó. A alma é forçada a abandonar essa caduca morada. A
separação (é humilhante porque é o castigo do pecado, uma espécie de execução
que separa um do outro, o corpo e a alma, como dois réus e cúmplices, para entregar
a alma à eternidade e o corpo à terra, onde ele se dissolve aos poucos para se
tornar o que já não tem nome em língua alguma.
Mas
a morte não é só o termo da nossa vida terrena. É também o começo da nossa vida
no além, a entrada na eternidade, a hora que nos fixa para sempre uma
recompensa ou um castigo cuja grandeza excede todo pensamento. Enfim, a morte
põe-nos em presença de Deus. Faz-nos comparecer perante Ele para sermos
julgados, punidos ou recompensados, com justiça e irrevogavelmente. Numa palavra:
a morte é a solidão, o abandono, a dor, a angústia. Então ninguém nos pode vir
em auxílio. A luta suprema trava-se dentro de nós mesmos. O homem é impotente.
Só do céu pode vir o socorro.
Importa,
pois, nessa hora decisiva, termos um bom padroeiro para nos assistir e
consolar; para nos ajudar a ter uma boa morte, calma, suave e edificante. Que
padroeiro melhor do que São José, já que morte nenhuma foi mais bela que a sua?
Tudo se reuniu para tornar feliz e consolado na hora do trânsito. No passado, ele
vê uma vida inocente e pura, consagrada à prática das mais nobres virtudes; vê
serviços sem número prestados a Jesus, a Maria, à Igreja, à humanidade toda; uma
vida de trabalhos e sofrimentos aceitos com paciência, em espírito de fé e caridade.
O passado nada lhe deixa, pois, a lamentar, nada a temer; só lhe oferece
motivos de esperança.
O
presente? Já vimos como São José deixou esta vida. Aqui ainda, tudo concorre
para lhe tornar a morte não somente boa, mas consoladora e doce. Ele expira nos
braços de Jesus, seu Filho e seu Deus, e nos braços de Maria. E Jesus e Maria,
nessa hora suprema, recompensam por graças especialíssimas tudo o que devem ao
amor de José. Amparam-no e consolam-no; confortam-lhe e alegram-lhe o coração pelas
graças mais doces. O Espírito Santo verte-lhe na alma a paz e a alegria.
O
futuro? Para José, após uma curta espera no Limbo, onde os santos da Lei
repousam em paz, é a alegria de tornar a ver Jesus ressuscitado, é o reino da
felicidade eterna, onde o Pai Celeste o acolherá para estabelecê-lo sobre todos
os seus bens (Lc 12,37), aquele que tão dignamente o representou junto ao
Salvador e que se mostrou um servo bom e fiel. A morte de São José tem a beleza,
a calma e a majestade de um tranquilo ocaso. Na verdade, a morte de um santo é
obra-prima da graça, um doce perfume diante do Senhor! (Sl 115,15).
A
morte de São José foi, pois, maravilhosamente bela e desejável. Ele pode
ajudar-nos a alcançar morte semelhante. Pode-ode uma tríplice maneira.
Primeiramente, seu exemplo incentiva-nos a não temer a morte em Jesus Cristo e
com Jesus Cristo, em sentimentos de fé, de confiança e de caridade. As graças celestes
que o assistiram e consolaram na sua hora derradeira, a Igreja põe- nas à nossa
disposição, e oferece-nos, mui particularmente, o próprio Salvador no Santo Viático.
Jesus está lá para nos sustentar na luta suprema. Unamos ao seu sacrifício o
nosso sacrifício derradeiro. Ele o acolherá com misericórdia.
Em
segundo lugar, São José ajuda-nos pelo exemplo da sua bela vida, que nos ensina
a melhor maneira de nos assegurarmos uma morte feliz. Como todas as coisas em
nossa vida, a morte deve ter a sua preparação. Não há nada mais certo do que a
nossa morte; e nada é mais importante, desde que a morte decide da nossa
eternidade. Cumpre, pois, fazermos da nossa vida uma preparação para essa hora
decisiva. A morte não é só o termo da vida; é o resultado e, por assim dizer, o
eco da vida. E não basta prepararmo-nos para morrer; devemo-nos manter sempre
prontos, porque a morte vem rápida e imprevista, e vem só uma vez. E em que
consiste essa preparação, vemo-lo pela vida de São José, pela sua pureza, pela
sua piedade, pela sua infatigável dedicação, pelo seu amor a Jesus e Maria.
Em
terceiro lugar, a devoção a São José é um excelente meio para nos alcançar uma
boa e santa morte. De maneira geral, as nossas devoções são uma espécie de
aliança, que durante a vida contraímos com os santos. Mas é sobretudo na hora da
morte que colhemos a recompensa. Portanto, frequente e diariamente, recomendemos
a São José a nossa hora derradeira. Ele não nos abandonará se nos tivermos
colocado debaixo da sua proteção. Felizes seremos nós se São José nos fechar os
olhos!
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