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XVIII. ALMA QUE CANTA
Uma boa mãe deve
saber cantar, ao menos para, com suas toadas, embalar e fazer dormir os seus
filhinhos. E, quantas vezes, ela canta, escondendo as lágrimas de suas dores.
Maria, nossa boa Mãe, também cantou. E cantou um canto admirável que, com sua melodia
suavíssima, acalmou, alegrou e transformou até boa porção de filhos seus. O
canto começa assim: Engrandece, minha
alma, ao Senhor! (Lc 1, 46). Os primeiros privilegiados que ouviram este canto
maravilhoso foram São José, Santa Isabel, Zacarias e, sobretudo, o grande João
Batista, que, ao escutá-lo, exultou no seio materno. Mas, por graça de Deus, as
montanhas de Hebron não guardaram, ciumentas, a melodia celeste, mas deixaram que
os ventos espalhassem os seus ecos por toda a vastidão da terra. E é com eles que
se têm embalado os filhos de tão boa Mãe, em todas as idades.
E o canto assim continua: O meu espírito se alegrou por extremo em Deus, meu Salvador! Por Ele
ter posto os olhos na baixeza de sua escrava; eis por que, de hoje em diante,
me chamarão bem-aventurada todas as gerações; porque fez em mim grandes coisas
o que é poderoso, e santo o seu nome. E a sua misericórdia se estende de
geração em geração sobre os que o temem. Ele manifestou o poder de seu braço:
dissipou os que no fundo de seu coração formavam altivos pensamentos. Depôs do
trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os que tinham fome e
despediu vazios os que eram ricos. Tomou debaixo de sua proteção a Israel, seu
servo, lembrado de sua misericórdia. Assim como tinha prometido a nossos Pais,
a Abrahão, e à sua posteridade para sempre. — Que mãe jamais cantou assim?
— “Primeiro — diz Bossuet — são os transportes de uma alma ardente, depois a
paz de um murmúrio celeste”. Por isso escreveu A. Nicolas: “o canto do Magnificat tem a força de converter os
ateus”. E não foi para eles, também, que a Virgem cantou? Pois não é ela Mãe de
todos os homens? Mas como se alegram ao escutar a voz materna, principalmente
os pequeninos, os pobres, os famintos, ouvindo que o seu canto glorifica os
humildes, os desprezados, os que têm fome... E as grandes almas, enlevadas pela
sua música, procuram, cada vez mais, somente em Deus a sua felicidade e, com
São Paulo exclamam: “Que só Deus seja glorificado em todas as coisas!” ou com
Francisco de Assis “Meu Deus e meu tudo” ou com o Cardeal Newman: “Só Deus
basta aos corações que Ele criou”. Eis os efeitos maravilhosos do canto materno
de Maria! — Bossuet pergunta extasiado: “Que direi eu deste canto sublime? sua
simplicidade e sua elevação me convidam mais ao silêncio do que a falar. Ó
Deus, se Vós quereis que eu diga sobre ele, inspirai, Vós mesmo, as minhas
palavras”. E o grande Cornélio a Lápide: “é o cântico mais esplendido de toda a
Sagrada Escritura”. E o melífluo S. Bernardo: “Oh! o Magnificat! é o êxtase da humildade de Maria”. Por isso a Igreja
quer que os seus clérigos o recitem todos os dias; e, em sinal de respeito e de
jubilo, sempre de pé. E nas Vésperas solenes, enquanto os sons maravilhosos do
cântico de nossa Mãe sobem ao céu, sobem com eles as nuvens perfumadas do turíbulo
da incensação: que símbolo encantador!
Diz um ditado cristão: -“quem canta reza duas
vezes”. Mas quantas vezes rezará quem canta como Maria? Deus não ouve a nossa
voz, mas a alma que lhe dá vida. Seja a nossa alma melodiosa — pela paz, pela
gratidão, pelo amor — que importa seja desafinada a nossa voz? Oh! Cantemos,
cantemos sempre, nos dias de sol e nos dias sombrios... É sinal de fé; é sinal
de que estamos contentes com o tratamento que Deus nos dá, seja qual for.
Cantemos com Maria e com todos os seus filhos. Cantemos a vida inteira — é sinal
de gratidão — talvez, então, se poderá de nós dizer, um dia, o que se diz do
grande patriarca São Francisco: “cantando recebeu a morte!”
MÃE amável, Mãe admirável,
ó Maria, tornai cantante a nossa alma como a vossa, para que ensaiemos nesta
terra o que havemos de fazer por toda a eternidade: cantar — com amor e
gratidão — os louvores do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Assim seja!
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Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição
Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição
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