CENTELHAS EUCARÍSTICAS
PEQUENA COLEÇÃO
DE
Pensamentos e afetos devotos
a
JESUS SACRAMENTADO
VI
Adeus,
Jesus
__________
CAIU a noite sobre a terra e vai
também caindo sobre a minha alma. Em breve ficarei sepultada num sono profundo...
Não pensarei em ninguém e ninguém pensará em mim... Ninguém? Mas que fará Jesus
no Tabernáculo? Para quem estará Ele ali? Ele que nunca dorme, que sempre ama,
não pensará em mim?
Eu dormirei como uma criança, e Jesus
me olhará como uma mãe... Talvez sorrindo, talvez chorando... Quantas razões
não tem Ele para chorar sobre a minha alma? Hoje, por exemplo, só pensei em
fazer duas coisas: em honrá-lo com alguma homenagem, e em pungir-lhe o Coração
com alguns espinhos... Eu sou uma perene contradição vivente: quero amar a Jesus,
digo-lhe que o amo, e amo-o realmente, se não muito, ao menos um pouco... E
depois, se a paixão me sugestiona um tanto, já não tenho coragem de lhe
resistir... Olho então para Jesus, e vejo-o triste...
Eis me, pois, chegada ao fim deste
dia, que passou entre carícias e
indelicadezas, entre incensos e vilipêndios... Como posso repousar tranquila? E
se Jesus, em vez de assistir-me, me viesse chamar a contas?
Eu conheço bem a Jesus: amou-me
sempre, mesmo quando eu era pior que hoje... Não me há de amar mais agora, que
o amo mais do que nunca? Ainda que tivesse de morrer repentinamente, Jesus me
recusaria a graça duma contrição perfeita?... Se me esperou tanto tempo, quando
eu andava longe, agora que lhe estou tão vizinha, me voltará às costas no
momento de maior necessidade?
Caro Jesus, certos receios fazem-me
muito mal, e enregelam-me o coração... E eu que tanta necessidade e tanto
desejo tenho de inflamá-lo! Não! Eu vou repousar tranquila; fiz o ato de
contrição o melhor que pude... Pertence-te a ti o ter misericórdia da minha
alma.
Adeus, Jesus: até amanhã pela manhã. Enquanto
eu durmo, enquanto a minha alma não é perturbada pelas paixões, tu que sempre
velas e sempre amas, encosta-te a ela e cura-a de todas as suas enfermidades,
infunde-lhe aquelas energias que a façam operar galhardamente o bem...
Transforma-a enfim numa santa...
Como serei feliz se, ao despertar de
madrugada, me vir toda outra do que sou agora... É verdade que isto é um sonho,
quase um delírio... Que importa? Jesus
vê que tenho, se não mais, ao menos um pouco de boa vontade.
E quando foi, ó Jesus, que
desprezaste os bons desejos duma alma, que te ama?
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