CENTELHAS EUCARÍSTICAS
As impressões
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GRANDE consolação
sentiria estando com Jesus a meditá-lo, a orar-lhe, a amá-lo! Mas, uma vez
que me ponho em sua presença para tratar com Ele, mil divagações me assaltam e
me arrastam para longe...
Se me examino um pouco, se entro um
instante no tenebroso labirinto da minha alma, concluo que eu sou vítima de tantas
impressões que recebo. Uma palavra que me desagrade ou me desgoste, qualquer
consolação ou qualquer desprazer, um projeto na mente ou um temor no coração, a
consciência de ser enfermiça, a esperança de curar-me ou a certeza de ficar
sempre a mesma, uma pessoa encontrada depois de longo tempo, um dever insólito
a cumprir durante o dia, a recordação dum recente desgosto ou de uma alegria...
E mil outras coisas de pouca ou nenhuma importância, bastam para deixar-me na
alma uma impressão, que me dura dias e até meses: e uma só destas impressões
basta certas vezes para inutilizar todo aquele pouco de bem que eu porventura
faço.
Pobre de mim! Quando recebo uma
impressão quase não dou por isso, mas apenas me quero recolher com Jesus, ei-la
que se torna viva e, de tal modo se engrandece, que basta para obscurecer toda
a minha vida de piedade. Se leio, se
medito, se oro, se ouço uma predica, se assisto a uma Missa, se faço a
Comunhão, se faço uma visita, eis reaparece aquela impressão, que parecia
esquecida, a absorver todos os meus pensamentos. Bem posso eu dissimular,
combatê-la, mas aquela bagatela vista ou ouvida, aquela coisa de nada põe-se
diante de mim, e não há maneira de a afugentar. Pobres Comunhões as minhas! Que
Missas as que eu ouço!
E, todavia, como hei de eu fazer para
subtrair-me a esta vexação? Mesmo que me retirasse para um deserto, eu levaria
comigo o meu temperamento, e mesmo ali bastaria uma estrela, um hálito de
vento, um grão de areia para me impressionarem de maneira a perturbar-me, dia e
noite, todas as vezes que eu quisesse entreter-me com Jesus. É possível que as
criaturas, mesmo as mais vis, tenham tanta eficácia sobre
mim? É possível que eu me tenha
tornado tão impressionável? Mas tudo isto, por quê?
É inútil perder tempo à procura dum
porquê, que ninguém pode dar-mo. Sou assim feita e assim serei provavelmente
até à morte. Portanto, só me resta resignar-me com a minha sorte, e tratar a
Jesus da melhor forma que puder...
Contudo, não haveria um meio para
viver toda com
Jesus e de Jesus, mesmo com o temperamento impressionável que tenho?
Ó Jesus, a ti me encomendo: não
poderias tu com a tua graça onipotente fazer-me voar e demorar no teu coração
com as próprias asas da minha impressionabilidade? Perdoa-me, ó Jesus, se ouso
dar-te um alvitre; mas, bem o vês, este meu
alvitre é também uma súplica, e a súplica
dos pobres agrada-te tanto... Portanto, já que eu tão facilmente retenho as
impressões recebidas, faze-me esta
caridade: com um teu sorriso, com um sinal, com uma queixa, com uma promessa,
com um sentimento, com um dos teus espinhos, com um filamento da tua cruz, com
uma flâmula do teu coração, por qualquer meio que mais te aprouver, manda-me
uma impressão sobre a
fantasia, sobre o
coração, sobre a
alma, sobre alguma
ou sobre todas
as minhas
potências, mas uma impressão forte, viva, potente, durável, suave ou dolorosa,
conforme o teu beneplácito, contanto que eu a sinta sempre viva, de dia e de
noite, quando oro, quando trabalho, quando gozo e quando sofro, sempre e em toda
a parte... Em suma, eu te peço que
seja por ti impressionada de tal maneira, que não possa jamais esquecer-te...
Peço muito? Mas, no fim de contas, nada mais desejo, senão conservar a paz,
quando quero estar contigo...
Em conclusão, ó Jesus: tu queres que
eu ore bem, e eu estou de acordo,
quero orar bem; mas eu sou perturbada pelas impressões que recebo de fora, e
não consigo superá-las; portanto, ou dissipá-las tu da minha alma com a tua
graça, ou superá-las e vencê-las com outras impressões, que venham diretamente
da tua piedade e do teu amor.
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