Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 15

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)



DIA 15
3º sofrimento — Impotência de se acudirem a si próprias

O estado das almas do Purgatório, diz o Pe. Faber, é a impotência absoluta.
Não podem nem fazer penitência, nem merecer, nem satisfazer, nem ganhar uma indulgência, nem receber os sacramentos. Alguns teólogos asseguram que elas não podem nem orar por si. Estão mergulha­das nessa noite profunda de que fala S. João, durante a qual ninguém pode mais trabalhar.
Foram lançadas, nessas trevas exterio­res, em que só há lágrimas e gemidos.
Parecem-se com esse paralítico estendido à beira da fonte de Siloé, que não pôde fazer o menor movimento para ter um alívio… e ainda o paralítico podia chamar em seu socorro e tinha a esperança de ser ouvido. Mas, vós, pobres almas do Purgatório, vossa triste voz não pode chegar até nós sem uma permissão especial de Deus… e quando chega, por­ventura é sempre ouvida?
Elas veem na terra uma infinidade de graças, das quais uma só as aliviaria, as libertaria talvez, e não podem se aprovei­tar delas para si. É o suplício contínuo do faminto preso à pouca distância de uma mesa lauta, para a qual se dirige sem nunca chegar a alcançá-la. Na terra, quan­tas orações se dizem, quantas comunhões se fazem, quantas missas se celebram, quantas indulgências se ganham! Filhos pródigos, expiando sua fuga da casa pa­terna, dizem elas em pranto: Quantas ri­quezas na casa de nosso pai! e nós aqui transidas de fome!
Isto é talvez uma punição especial de Deus: esqueceram as almas do Purgatório enquanto viviam sobre a terra. — Deus permite que também sejam esquecidas.
Veem suas companheiras de infortúnio aliviadas, de tempos a tempos, recebendo os frutos de uma comunhão, o valor do sangue de Jesus Cristo, e elas… ficam esquecidas…
Vós que viveis na terra e que tão facil­mente vos comoveis ante o sofrimento e a ideia do abandono, ouvi as almas do Purgatório pedindo-vos uma migalha desse Pão dos Anjos que Deus vos dá com tanta abundância e generosidade, uma pequena parte de vossas orações, de vossas boas obras, de vossos sofrimentos!


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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 14

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943



DIA 14

 sofrimento — Pena do dano

A pena mais terrível do Purgatório é certamente a pena do dano, isto é, a se­paração forçada de Deus ou uma força irresistível que a cada instante afasta brus­camente de Deus a alma que a todo mo­mento; por instinto de sua natureza, corre a se unir com ele.
Pode-se fazer uma ideia dela pelo su­plício de uma mãe que, chamada pelo filho prestes a ser devorado por uma fera, fosse retida por uma força invencível no momento em que se precipitasse em seu socorro, e isso não uma só vez, porém dez, cem vezes.
Há neste suplício, dizem os santos, uma angústia mais sensível, de certo modo, que a do inferno. Os míseros condenados não amam a Deus, seu desejo insaciável e sem­pre renascente é ver a Deus aniquilado.
Mas as santas Almas do Purgatório amam ao Senhor, amam-No tanto quanto O conhecem, e porque O viram, compreenderam o amor que lhes tem, sentem quanto há sido bom para com elas, sabem quanto serão felizes perto Dele e em sua união… e, todavia, estão detidas longe Dele! nada podem, nada, para se lhe aproximarem! É uma sede sem fim, a qual nada é capaz de imitar. É uma fome sem limites, que não há nada que possa fartar: É um peso enorme que abafa, e do qual não é possí­vel desembaraçar-se.
Santa Teresa experimentou alguma coisa destas angustias misteriosas:
«Em vão, diz ela, tentaria eu explicar sua natureza. A alma, por vezes, sente um desejo irresistível de Deus que parece transportá-la a um deserto onde ela nada mais vê para poder descansar. Nenhuma consolação, nem do Céu, onde ainda não está, nem da terra a que já não pertence.»
«Ó Jesus, exclama a santa, quem po­deria fazer uma pintura fiel desse estado? É um martírio que a natureza custa a suportar; os ossos se separam e ficam como deslocados, as mãos tomam tal ri­gidez que se não podem juntar, e, até o seguinte dia, sente-se uma dor tão vio­lenta, como se todo o corpo estivesse desconjuntado; um só desejo nos consome: morrer! morrer! ir a Deus! — Esse esta­do, conclui a santa, é o das Almas do Purgatório.»
Oh! vós que amastes tanto na terra e que tanto sofrestes com a morte daqueles que amáveis, vós a quem a separação ain­da tortura, escutai, escutai o grito dessas almas que chamam a Deus e que nos di­zem : Vós no-lo podeis dar, oh dai-nos nosso Deus! fazei-nos dignos Dele!




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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 13

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)




SOFRIMENTO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO

DIA 13
1º sofrimento — Pena dos sentidos

Ó meus caros mortos, se para meu coração toda a pena fosse a da separação, seria cruel, por certo; mas o pensamento de comunicar convosco pela oração, e ainda mais a ideia de vos tornar a ver no Céu, e de vos tornar a ver mais santos e mais amantes, aliviaria esta dor; mas, ah! este mesmo pensamento que me dá a es­perança de vos tornar a ver, leva-me a contemplar-vos nas chamas do Purgatório, sofrendo e consternados.
Não escutarei a imaginação, que poderia levar-me além da realidade; quero ouvir os santos, e o que me dizem eles acerca do que vós sofreis, é bastante para excitar a minha compaixão, e obrigar-me a so­correr-vos.
«Reuni, diz Santa Catarina de Gênova, todas as penas que os homens têm sofri­do, sofrem e sofrerão, desde o principio do mundo até o fim dos tempos; juntai todos os tormentos que os tiranos e os algozes têm feito sofrer aos mártires; será uma pálida imagem dos tormentos do Purgatório; e, se às pobres encarceradas fosse permitida a escolha, prefeririam aqueles suplícios durante mil anos a fica­rem no Purgatório mais um dia; porque, diz S. Tomás, o fogo que os envolve é o mesmo que atormenta os condenados no inferno, e esse fogo, oh, é terrível!»
Deus, escolhendo o fogo, soube achar um reparador digno de sua justiça!
Não há dor, dizem os que têm estudado a natureza desse elemento, que iguale a que ele causa.
Não objeteis que o corpo não está no Purgatório: a dor, diz S. Tomás, não é o golpe que se recebe, mas a sensação dolorosa desse golpe. Quanto mais delicadeza há nessa sensação, mais viva é a dor, e a alma, ainda sendo ferida, ela so­zinha experimenta ao mesmo tempo a aflição que lhe fariam sofrer todos os membros do corpo atacados separada­mente.
Esse fogo do Purgatório, cuja natureza não conhecemos, dotado por Deus de uma espécie de inteligência para esmerilhar nos recessos da alma e consumir todas as manchas que lhe deixou o pecado, obra ao mesmo tempo sobre a imaginação e a memória, sobre o juízo e a vontade…
Não aprofundemos mais este ponto; po­rém, fixando a atenção, escutemos o grito pungente que, do fundo desse abismo de fogo, vem até nós: Eu sofro, sofro muito no meio destas chamas: uma gota d’água! uma prece, por piedade!



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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 12

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)



DIA 12
Esperança

 «Oh! Como desconhecemos nós o coração de Deus! Quando o homem está pres­tes a morrer, o homem que ele criou por suas mãos, sobre quem velou com ternura durante a vida, a quem seguiu passo a passo, a quem tocou e iluminou para chamá-lo a si e que não atendeu a nada disto; quando está à morte, Deus se pre­para para dar-lhe o derradeiro combate, o combate do amor, o combate supremo de uma mãe que, vendo o filho quase arre­batado, fica louca, terrível, chega ao paroxismo da indignação e do amor. Desce, por isso, esse Deus de bondade; inclina-se esse pai inquieto, para o leito de dor em que vai morrer um de seus filhos.
Apela para tudo o que havia já empre­gado com o fim de o vencer, luzes, graças, ternuras, benefícios: Eu vo-los dei às mãos cheias, tê-los-eis sem medida!
Se o enfermo rende-se aos primeiros as­saltos, vê-se o triunfo, e a religião ganha a conversão de um pecador. Mas, se o homem resiste e, antes de ter cedido, cai nas sombras que precedem a morte, nem por isso termina o combate. Ao contrario, redobra de esforço, e a vitória pode ainda ser de Deus, mesmo quando não há mais para os homens nenhum meio de o saber. Quando os olhos do enfermo ficam turba­dos; quando as extremidades ficam frias; quando para verificar se ainda vive precisa-se pôr a mão sobre seu coração: se a mão do homem fosse mais sensível, sentiria a luta que continua, a luta suprema. Trata-se de obter uma palavra, nada mais do que uma simples palavra, um alento, um leve movimento! Deus trabalha para isso com a obstinação do amor: e quem não com­preende que Deus, lutador hábil, há de consegui-lo muitas vezes?
Vós dir-me-eis: Que é que sabeis, ao certo, em tudo isso? onde encontrastes a história dessa luta? Respondo: Achei-a em vosso coração. Sois pai? Sois mãe? O que eu digo, não o faríeis vós?
Então, o coração de Deus não velará o vosso?! Tereis vós a gloria de fazer por vossos filhos mais do que Deus pelos seus? Impossível. É assim, ó religião di­vina, que não há dor alguma sem conso­lação: tu as refrigeras todas na esperança.»
« Minha luz divina, — dizia Nosso Senhor a Santa Gertrudes, que lhe pedia graças para um pobre pecador falecido sem sacramentos,— minha divina luz que pene­tra no futuro, manifestando-me que vós faríeis por ele esta oração, eu lhe des­pertei no coração boas disposições que o preparassem a gozar os efeitos da vossa caridade.»
Palavras de consolação! diz o padre Blot: Na previsão de nossas orações futu­ras, Deus se digna conceder ao pecador moribundo boas disposições que assegu­rem a salvação de sua alma!
Sim, palavras consoladoras, bem pró­prias para nutrir a esperança em nossa alma.


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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 11

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)



DIA 11
Esperança

Ainda algumas palavras de esperança sobre as almas de nossos mortos. Fala o padre Bougaud em sua obra: O Cristia­nismo e os tempos presentes.
«Quem poderá narrar as misericórdias de Deus no leito de morte de seus filhos? Aí nessas sombras confusas da hora úl­tima, em que o olhar do homem nada mais distingue, quem pode saber o que se passa entre Deus e uma alma? Quando o espí­rito paira nos lábios como um ligeiro so­pro, já não mais da terra, nem ainda do Céu: no momento: em que Deus se inclina para recolher essa alma, quem poderá di­zer o que se passa? Uma mãe repeliria seu filho, ainda mesmo sendo um ingra­to? não tentará ela por todos os meios trazê-lo de novo a si? Não irá sempre ao seu encontro, até o fim? Não esgotará todos os recursos para salvá-lo, a despeito de toda a obstinação dele em fugir-lhe? Ora, Deus é mais do que a mãe.
Vede o que fez Ele para tornar impossível a perda das almas! Não lhe bastou haver-nos envolvido nessa graça que nos previne, nos segue e nos banha como uma atmosfera. Foi pouco ter estabelecido sete sacramentos, isto é, sete rios de luz e de força que inundam a vida inteira e cada um de seus períodos, como tudo isso não satisfazia ainda seu coração de pai, vede e adorai a maravilhosa invenção de seu amor.
Estais enfermo: já sentis que sobre vós estende a morte suas negras asas. Acodem-vos à memória vossos pecados, vossas fraquezas, aquele ato do qual vos disse a consciência: Isto, incontestavelmente, é um mal. O sacerdote não chega a tempo de recolher vossa confissão, oferecê-la a Deus e vos perdoar em seu nome: que fazer? Vós tendes um coração: arrancai dele um alento, um grito, uma lágrima, uma palavra de arrependimento, um ato de amor, um só! Sereis logo absolvido: ficais purificado e perdoado.
Aquele homem, prestes a morrer, ainda há pouco blasfemava; o sacerdote veio, ele o repeliu: apresentaram-lhe o Crucifixo, ele o afastou com a mão. Foi seu derra­deiro movimento; seu último ato. Os socor­ros da religião não poderão chegar mais até sua alma já profundamente mergulha­da nas sombras da morte. Mas resta-lhe o coração, e, para ser salvo, perdoado, que será preciso? Um simples ato de amor, um só desejo, um só pesar, uma só pala­vra: Meu Deus, eu vos amo!
Homens cegos, que chorais de deses­pero em redor desse leito! talvez à mesma hora os anjos conduzam essa alma com gritos de alegria.
Ela salvou-se com esse ato de amor.
O Purgatório a recebeu.
Esse homem que acaba de suicidar-se cometeu um crime sinistro. A Igreja afas­ta-se com horror de seus restos mutilados, e faz bem. Mas ensinará ela que o mísero esteja perdido sem recurso? Não, absolutamente; pois quem sabe o que fez este alma no momento em que, lacerada, partiu desse mundo? Quem sabe o que ela viu ao clarão do tiro de morte? Que revelação teve ao disparar a arma fatal? Teve muito pouco tempo! direis vós. Ah! Que impor­ta? Uma palavra, um grito, um olhar, um transporte de amor a Deus, basta para que ela saia deste mundo purificada.»


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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia