Leitura Indulgenciada - A Alma Gloriosa de Maria - 27

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XXVII. ALMA SUPLICANTE
Maria possui, de fato, uma alma de rainha, mas de rainha que sabe compadecer-se de seu povo. Assim como a rainha Esther, diante de Assuero, suplicou pelo povo judaico que, deste modo, foi salvo, assim Maria suplica, de continuo, diante do trono de Deus, pelo seu povo cristão. E como estas súplicas são ouvidas sempre e sempre se transformam em graças, Maria é chamada pelos santos de omnipotentia supplex. Onipotência suplicante!

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XXVI. ALMA DE RAINHA
Entre os verdadeiros peregrinos de Cristo, que passaram por este mundo sem se apegarem a nada, demandando, cheios de fervor, a Pátria celestial, se encontram também rainhas, como Santa Clotilde, Santa Cunegundes, Santa Isabel de Portugal e tantas outras: a maior de todas, porém, foi a Rainha do Universo, a Bem Aventurada Virgem Maria, gloriosa soberana nossa.

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XXV. ALMA PEREGRINA

E vemos uma estrada comprida, sem fim, quase... O peregrino cansado, coberto de poeira, apoiado ao seu bordão. Sacola ao lado, com pão e livros de sua fé. E caminha sempre. Lá, ao longe, sobre a montanha, divisa, o santuário... Onde há paz, frescor e harmonia. E ele se anima e caminha sempre avante. E vai fazendo o bem. Reparte de seu farnel aos que têm fome. E serve de arrimo aos que não têm bordão. E de olhos aos que são cegos. E canta e reza pelos que são mudos. E ama pelos que não têm coração. E caminha, caminha sempre... Lá, em cima, o santuário, onde a grande paz e o descanso...
Nada de fantasia. Foi, exatamente, assim, a alma gloriosa de Maria em sua peregrinação terrestre.
Ela corporificou, perfeitamente, a doutrina de Jesus Cristo e que S. Paulo soube tão bem repetir: que nós, nesta terra, não temos morada permanente, mas que demandamos a futura, e que, enquanto peregrinamos por cá, a nossa missão é ir distribuindo o bem a todos os que encontramos no caminho. Como Jesus Cristo, que passou por este mundo, fazendo o bem.
O divino Mestre costumava dizer que não tinha onde reclinar a cabeça, apesar de as raposas terem as suas tocas e as aves do céu, os seus ninhos. É esta a virtude principal do verdadeiro peregrino: o desprezo das coisas que o cercam, o desapego de tudo o que é terreno. Ele segue a sua rota, sem se prender a nada do que vai encontrando; do contrário, não chegaria ao lugar de seu descanso. Sempre avante! E se ele deve ser desapegado, deve ser também muito animoso e confiante, para vencer as dificuldades, lembrando-se sempre do fim que o espera. Foi assim a alma gloriosa de Maria: alma desapegada e alma animosa! Portanto, uma alma verdadeira de peregrina. O seu grande desapego se vê na sua pobreza voluntária, desde a vida no Templo até à morte, pobreza que é desapego dos bens materiais; e se vê, também, na sua profunda humildade, que é desapego, desprezo, até, de louvores e de honrarias. O seu ânimo e coragem, nós o vemos na sua atitude resoluta de quem avança, ou melhor, de quem sobe, sobe sempre, vencendo todas as dificuldades e todos os empecilhos. Não se prende a lugar algum, nem à paz de sua habitação. Vai às montanhas de Hebron, vai a Belém e vai para o Egito. Lá, então, na terra estrangeira, na terra pagã, ela era duplamente peregrina, cheia de saudades das duas pátrias distantes...
E volta para Nazaré, a cuja paz doméstica ela sempre renuncia, sem demora, quando era preciso, para suas visitas de religião e de caridade.
E de Nazaré — onde passara os anos mais felizes e tranquilos com Jesus e São José — vai para Jerusalém — onde o trecho mais doloroso de sua peregrinação — e de Jerusalém para Éfeso, percurso dos suspiros e das saudades, mas última passagem, antes de chegar à Pátria, o grande Santuário de Deus, para onde ela peregrinara, sem repouso, a vida inteira já...  Agora sim, era o descanso, o frescor do templo, a paz, as harmonias...
Quer o queiramos, quer não, nós somos peregrinos. Mas seguimos o exemplo de Maria? E a rota, traçada por Cristo, no seu Evangelho? Desapegados das coisas do mundo? Cheios de ânimo e alegria para vencer as dificuldades? Ou nos arrastamos de má vontade, presos a mil ninharias que nos rodeiam? Sejamos prudentes; façamos como aquele escudeiro de S. Wenceslau da Boêmia. Sem o fervor do rei, sentia muito as caminhadas longas e feitas sobre a neve em demanda de algum santuário. Estava por desanimar e atirar-se, sem forças, sobre a estrada, quando o Soberano, voltando-se para trás, disse: “Trata, amigo, de pisar justamente nas minhas pegadas e não sentirás nem cansaço, nem frio!” O resultado foi maravilhoso — Pisemos nós, também, exatamente, nas pegadas de Maria, e chegaremos sem desfalecimentos, ao santuário do céu... Façamos como S. Francisco de Assis, que tão bem pôs em prática esta doutrina da peregrinação...

Ó MARIA, Virgem prudente e fiel, fazei que nos lembremos sempre de que somos peregrinos e de que, desapegados de tudo e alegres e animosos, devemos demandar, continuamente, a Pátria celeste. Assim seja!


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Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição

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XXIV. ALMA EUCARÍSTICA
Ser uma alma eucarística não significa, apenas, comungar todos os dias ou fazer, de vez em quando, uma hora de adoração.
São Luiz Gonzaga comungava uma vez por semana; nós, talvez, comungamos todos os dias. Entretanto, não pretenderemos ter uma alma eucarística como a sua, que durante os três primeiros dias da semana dava contínuas ações de graças pela comunhão recebida e nos três últimos se preparava, fervorosamente, para a comunhão que havia de receber. Era uma alma eucarística!

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XXIII. ALMA HUMANA
A santidade não é a destruição da natureza. Que sim o seu aperfeiçoamento e a sua elevação. Por isso, quanto mais santo é um homem, mais homem ele é, mais natural, mais perto de nós. O exemplo clássico, por excelência, é Jesus Cristo, Senhor Nosso, cuja vida foi a melhor glorificação da verdadeira humanidade. Logo depois, vem a vida de Maria Santíssima. Vida tão santa e, justamente, por isso, tão simples, tão humana. Que há nela de extraordinário, a não ser o seu amor? Que ações grandiosas ela realizou, a não ser a grandiosa singeleza e perfeição com que executava todas as suas ações, até as mais humildes?